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122 E ffoy sse pera os diaboos, porque uiuia a prazer delles e nõ a prazer de Jhesu Christo. Se ninguém for continuar ou terminar esse texto, peço licença: há uma história a ser contada e não se podem desperdiçar pergaminhos cá em Cister como se faz em Cluny, a nova terra do leite e do mel, onde há muito já se foram também para os diabos – como foi a pobre alma de quem quer que tenha sido segundo relata a linha que me começou logo acima – o hábito e a regra de nosso santo padre Bento, por causa, oh, vaidade, de uma única linha escrita. Não que não se devam escrever histórias, sempre haverá uma história a ser contada, pois tudo são histórias, mas nem todas são contáveis, ou contadas e, portanto, escrevíveis ou escritas, e o caso é que há histórias que valem a pena e histórias que não valem a pena serem contadas, ou escritas, isto é, pelo menos nos dias de hoje, em que só se conta o que se tiver escrito e só se escreve o que se tiver contado, a tal ponto que não se pode mais saber o que veio primeiro e já se anda duvidando até mesmo da realidade do nascer do sol, do voar das nuvens e dos pássaros, dos animais e plantas de todo o tipo e, sobretudo, dos livros, porque são os próprios livros que tudo isso escrevem, como eu, a escrever-me cá e agora, crio minha própria realidade, dando a ilusão de que terá sido alguém a em mim escrever. Mas isto não é nossa matéria e nem se pode fazer compreender em nosso entendimento porque nossa realidade única é a encarnação de Jesus Cristo e não a discussão de uma realidade possível, criada e encerrada dentro de um livro1. Não sei como andam os valores dos quais vocês agora estão cercados e fazem-se prisioneiros. Hoje o que vale a pena – e a vida – são os livros que falam sobre a vida de Cristo Nosso Senhor Filho de Deus Pai Uno e Trino com o Espírito Santo Amém, e nada mais. Qualquer outra coisa que se desenhe sobre pergaminho já nasce

123 destinada ao fogo e ao estigma do paganismo herético irrevogável de sua natureza. É como funcionam, hoje, as coisas por aqui. Mas, quando é esse hoje?, perguntará você, leitor, um grande virador incansável de fólios, rato metafórico de bibliotecas, também metafóricas. De quando sou? Quem me escreve? Quem escreve "quem me escreve"? Não sei, não faço ideia Sou apenas um pedaço de couro curtido à espera de tinta, pena e estilete, embora seja eu, no final das contas, a saber o que contar e como contar. Mas, ora, já que se tocou no assunto, enquanto este que não conheço enche o cano da pena com tinta, permitamo-nos refletir e argumentar a favor de uma certa coautoria textual minha, pois, a mim, este sim, posso dizer que conheço, conquanto a ironia seja que só possa conhecer-me a partir de quem não conheço, não obstante a ironia da ironia seja vir a conhecer este de quem até agora só posso diferenciar pelo estilo, pelas cursivas, pelo texto que é, oh, mais ironia, meu mesmo2. Se for mal curtido, mal preparado, haverei de ter furos, saliências, protuberâncias, rasgos, dobras, enfim, todo o tipo de impedimento para a escrita. Se for um palimpsesto, em piores lençóis estará o meu confrade: haverá de lutar contra aquilo que já tiver sido escrito e apagado, além de lutar com o que ainda se escreverá, e não estou falando de tinta e pergaminho. Assim, forço-o a contar uma história como lhe for possível: se, no meio do caminho, houver um rasgo, uma floresta pode muito bem se transformar em uma mata, que é o que poderá caber em tão prejudicado espaço. Do mesmo modo, uma matilha de lobos que ataque uma família de camponeses cuja filha mais nova chamada Inês terá sido salva por um cachorro chamado Guinefort pode se transformar em apenas um lobo solitário que se tenha fartado o suficiente com os outros familiares da pobre órfã a ponto de não conseguir também devorá-la; porque uma história se transforma em estória com a mesma facilidade, é coisa de se lhe caber o “h” e transformar o “e” em “i”, ou o número de lobos suficiente para justificar o termo matilha. Sou capaz até de tornar um trecho enigmático, assim, um [ ], onde deveria estar escrito um [ ] prestar-se-á a nada mais do que tirar o sono de muitos estudiosos que se fiarem a fincar os olhos nestes fólios em dias vindouros, imaginando eu que ainda esteja legível (não posso responder, ainda, pela minha condição de texto autorizado ou canônico. Hão de ler-me os ratos e devorar-me os ilustrados! Ou algo assim...). Contudo, até agora, estamos caminhando juntos nestas primeiras linhas e, para ser honesto, não saberia sequer dizer nesse instante se

2 Ensina Santo Estrombogli que a confecção de textos é também uma leitura e uma presença muito clara da

Santíssima Trindade, esta facilmente identificável naquela. Na escritura do texto tem-se: o scriptor, o folium e a fabula ou narratio. Ora, a primeira Pessoa da Santíssima Trindade é Deus Nosso Senhor Altíssimo que é o scriptor do mundo; a segunda Pessoa é Cristo, seu Filho, que é aquele através do qual Deus, seu Pai, se manifesta e é lido; e a terceira Pessoa é o Espírito Santo, que é a mensagem atuante da palavra (Cristo) do autor (Deus), é a actio narratione. Um não pode (ser) sem o outro, porquanto o fosse estaríamos diante de uma heresia, teológica e literária. Sic dictur.

124 serei ou não terminado. Não viram como começo3? Não custa nada terminar do mesmo jeito. Não, não! Não salte para o último fólio, para a última linha, com esse desejo de conhecer a finitude de tudo, inclusive a minha! Não é educado pretender desmentir um livro, ou nunca lestes vós o Leal Conselheiro? Ainda não há última linha! Duvida? Bem, podeis averiguar, se quiserdes, ou melhor, se conseguirdes, porque, como eu disse, ainda não há última linha4; ora, não há ainda nem a linha que se segue a esta enquanto ela não for lida. Eu mesmo não existirei enquanto não for lido. É, eu sei, isso não passa de um grande sofisma, afinal, pelo próprio volume, peso e espaço ocupado, hei de existir, ora bem! Como não?! Mas assim são as coisas por aqui nesses dias de D. Dinis, ou D. Afonso IV, ou D. Pedro I, que diferença há?, são todos reis a mandar e desmandar pela teleologia salvacionista e cega de Nosso Senhor Jesus Cristo Filho de Deus Pai Uno e Trino com o Espírito Santo Filho da Virgem Maria Amém, e nada mais. E nada mais, disse-o eu? Oh, bem, há, na verdade, algo mais, mas isto é matéria tão laica e mundana que não deveria mencioná-la. Contudo, como não saber o que se não pode mencionar se não se o menciona?, e esta coisa é, portanto, o amor, que também a tudo move, como houve comigo e é assunto de que trato adiante e razão de minhas páginas e de que dou exemplo através deste falamento. Exemplo. Poren huun sancto homen que auia nome Rogeryo, frade meor, muy alto conteenplatiuo, guardaua-sse muyto de oolhar as molheres. E, hindo huun dia co[m] seu cõpanheyro, encontrarõ cõ huna molher que elle muytas vezes fora visitar een sua cassa e muytas vezes falara cõ ella unna porta da egreya. E saudarõ-na, e ella elles, e passarõ e forõ-se. E frey Rogeryo preguntou a seu cõpanheyro se era

3 A linha que começa este manuscrito encerra uma importante questão sobre a natureza dos textos e sua leitura:

ao mesmo tempo em que ela não fará mais parte de um corpus textual do qual presumidamente pertenceria, pois dele fugira, acaba por integrar, de forma inevitável, como agregam-se camponeses nesta ou naquela quinta de cebolas ou batatas, esta cópia. Partindo dessa premissa, temos que o suposto texto original, que a esta hipotética linha deveria abrigar como o filho pródigo foi abrigado pelo pai depois de ter gasto toda sua fortuna em mundanidades – e não me parece que seu acolhimento depois de tanto perdularismo tenha sido lá obra boa, pois, para mim, e, se não fosse santo, apostaria que para ti também, o filho pródigo merecia mesmo é um bom castigo, mas, como assim disse-o o Senhor e escreveu o apóstolo, que se há de fazer? –, sofre uma perda. A pergunta, portanto, é: no que se torna um texto cuja última linha é perdida? Ter-se-á lido o mesmo texto numa cópia que a contenha? Quanto se perde com a supressão de uma única linha?, excetuando-se desse raciocínio, naturalmente, a Bíblia, que em seu livro final adverte para os castigos e sofrimentos advindos àquele que intencionalmente mudar qualquer linha, palavra ou letra que seja, mas não menciona castigo para aquele que, por distração ou tentação do demônio, deixar correr os olhos sem maiores fidelidades ao texto e mutilá-lo numa leitura desatenta; mais: ninguém está disposto a despertar a ira de Deus, pelo menos não nesta âmbula da ampulheta. O mesmo princípio serve a esta cópia: onde começa, realmente, este texto? O que faz parte dele e o que não faz? Num outro scriptorium em que se ponha um monge a copiá-lo, entenderá este copista a primeira linha como parte integrante do texto? Este comentário é parte integrante do texto? Glosa de São Bertalião copiada por Dom Tadeu Laras Menestrel que ainda não ajudou Dom Alberto Raposo monge a descobrir o autor do Orto do Esposo, coisa que ainda fará se este livro for terminado, pois a árvore que cai na floresta e cujo som produzido não é escutado por ninguém, de fato, não caiu. Mesmo que daqui eu possa vê-la já sucumbindo aos fungos.

4 Mas se de lá regressares intacto, advirto-te: não serás mais o mesmo de quando me abandonaste. Minha própria

125 aquella a molher que elle hia visitar. E o conpanheyro lhe disse que aquella era. E dise-lhe mais o cõpanheyro: Per uentura a nõ conhecedes uos? E frey Rogeyro lhe disse: Eu nõ a conheço, ca nunca vy a face della, nen ajnda a de minha madre, depois que foy frade meor. Entõ o cõpanheyro, que sabia que elle era muy seguro, dise-lhe: Vos sabedes bem que sodes bem seguro een fecto de molher[e]s. Pois porque uos temedes tanto de as oolhar? E elle lhe disse: Jrmãão, een poder do homeen he esquiuar os aazos dos peccados. Porém, antes que me perca em filosofias vãs e teologias pagãs – porque a vós pode parecer que concatenar ideias não seja lá grande coisa, mas a tarefa é árdua, podeis acreditar: o tempo que se gasta para que sobre este pedaço de couro se desenhe uma letra, e depois outra, e depois outra mais e, quando se forma uma palavra, uma outra igualmente trabalhosa que com ela significará uma terceira coisa e assim sucessivamente até que se forme uma frase inteira, de preferência dita por São Bertalião, cuja hagiografia é a mais extensa de toda as hagiografias e também a mais maravilhosa de todas; exemplo: houve uma vez em que São Bertalião, que ainda não era santo mas que já milagreava pelas terras de Portugal no tempo em que estas não eram chamadas terras de Portugal porque ainda não existia Portugal, mas, pensando bem, as terras estavam lá, então, o fato de serem ou não de Portugal é uma circunstância sem maiores consequências dentro da história de São Bertalião, de quem nos interessa nesse momento apenas o fato de estar andando certo dia pelas terras de Portugal, cansado da peregrinação perpétua a que se tinha proposto fazer depois de um sonho que teve em que o anjo Gabriel, aparecendo-lhe, dissera-lhe que Jesus Cristo Nosso Senhor Esposo da Igreja e Filho de Deus Pai Todo- Poderoso e Onipotente de acordo com Santo Agostinho teólogo o havia escolhido para peregrinar por toda a Europa para fazer milagres, converter os infiéis, fazer parte deste livro e morrer de forma terrível como mártir5 para depois tornar-se santo e ter um dia dedicado somente a ele, além de vários mosteiros a ele consagrados entre outras benesses a que têm direito os santos, alguns bem-aventurados e raramente um beato, encontrara um homem perto de uma fonte, e o homem tinha o aspecto de estar ali há muito tempo porque suas roupas estavam sujas e rasgadas, a barba estendia-se pesada e cansada até o peito ossudo bem como os cabelos grisalhos corriam para os ombros, e as faces eram magras e pareciam doentes, e seus ossos eram protuberantes, e seu cheiro era como o cheiro de uma pocilga muito mal

5 Os comentaristas à época de São Bertalião não estão de acordo com a forma como morrera o santo. A maioria

dos relatos, entretanto, sugere que, o fato de nenhum dos manuscritos existentes que falam sobre São Bertalião serem completos e não nos permitirem conhecer seu fim exato, já seja, ipso facto, a morte horrível de Bertalião, pois, como prega Santa Beritínia de Madri, “morre de morte terrível todo aquele que nasce e não é lido até o final”. BERTÍNIA DE MADRI, Santa. De mortibus illius non leguntur. Ms. Lat. 876, (séc. V), Biblioteca Nacional de Paris. (Perdido).

126 cuidada por dono desleixado ou o hálito do próprio demo. Então, São Bertalião apiedou-se do homem e, perguntando-lhe o que fazia ali ao pé da fonte, mostrou querer ajudá-lo. E respondeu-lhe o homem que fora amaldiçoado por um demônio6, e quis saber São Bertalião da história do homem amaldiçoado. E nisso devem-se ir mais tantas linhas de hagiografia maravilhosa que vai terminar provavelmente com uma advertência ao leitor de que não se deve abandonar Nosso Senhor Jesus Cristo Filho de Deus Pai Onipotente que andou por sobre as águas e ressuscitou ao terceiro dia em troca de uma vaidade mundana qualquer, e eu nem sequer terminei de contar... Aí está! Esqueci-me! Agora resta-me terminar a história de São Bertalião ou, a você, leitor, voltar algumas linhas – e a essas sim, podeis voltar, já que já foram escritas e lida e assim, portanto, efetivamente, já existem, ou terão existido, no caso de se perderem. Vendo que não tinha outra alternativa a não ser dar material para esta narrativa, o homem amaldiçoado contou a São Bertalião que era um vendedor de água e que fizera fortuna às custas da necessidade das pessoas de a tomarem, e de com ela lavarem suas roupas e a si próprios, e cozinhar os alimentos caso eles existissem – grassa a peste –, pois, como não podiam dela prescindir e não podendo ir até a fonte ou aos rios buscá-la, porque todo o povo tem muito medo do que há nas florestas, menos o senhor, pelo que vejo, a não ser que esteja perdido, o que não me parece, pois está aparentando ser bem nutrido e também por carregar um novíssimo hábito e sandálias pouquíssimo gastas, ia ele mesmo fazer esse trabalho e cobrava das pessoas muito mais do que valia esta seara. Ao que respondeu-lhe São Bertalião que não se deixasse impressionar pelas boas vestes porque era normal que assim fossem por estar aparecendo ele pela primeira vez nesta narrativa e que portanto ainda não era tempo de que estivessem gastas e que deveria continuar a história porque anseia Inês Figueira em saber onde está Dom Miguel com seu livro, em que se encontram até mesmo histórias sobre São Bertalião, mas com o nome com que ficou conhecido no Oriente: [ ]. E foi assim que, certo dia, ao chegar na fonte, esse vendedor de água encontrou uma mulher belíssima, uma jovem de cabelos negros e olhar penetrante, usando um longo vestido branco, simples, que lhe deixava o colo à mostra e também os pés descalços. Não deu muita importância ao fato porque é sabido que nesta época, como ainda hoje, é comum encontrarem-se mulheres de longos cabelos negros e olhar penetrante, usando um longo vestido branco, simples, que lhes deixa o colo à mostra e também os pés descalços, a descansar perto de fontes, como também se sabe comumente que esse tipo de encontro é

6 O correto aqui seria ter o copista escrito “demônia”, como se comprovará no seguir da hagiografia, mas, em

não havendo tal palavra, o que, aliás, não faz sentido, porque acabou-se de utilizá-la e, portanto, é prova de que existe, preferiu-se usar do que se dispunha. Glosa de Guilherme de Occam.

127 pretexto ou para um exemplo de livro didático religioso ou para um romance de cavalaria e, se não pretexto, o in media res de um; de todo modo, é encrenca na certa. E, assim pensando, mas não levando todo esse tempo para pensar porque se assim fizesse estaria totalmente distanciado criticamente de seu tempo e de sua mentalidade histórica, tornando inverossímil a narrativa ainda que inconscientemente, sequer dirigiu a palavra à moça que parecia esperar por ele na fonte. Foi assim que ela resolveu falar-lhe e disse7, arrumando as mechas negras como a noite que contrastavam pecaminosamente com o colo branco como a neve8: a fonte secou e não há mais nenhuma água que saia dela. Mas isso não é possível, surpreendeu-se o vendedor de água, ainda ontem estive aqui e havia água em abundância, quase não era necessário usar a corda para descer o balde, podia-se recolhê-la praticamente na borda. Pois não é mais possível desde que apareceu um gigante terrível e pôs-se a beber toda a água da fonte, explicou a moça afastando agora as mechas de seu cabelo ondulado que lhe caíam na fronte. Sem acreditar na história, o vendedor de água atirou o balde para longe sentindo uma grande raiva pelo lucro que não mais teria e, destarte, ouviu um gemido logo em seguida. Mal se virou na direção em que ouvira o grunhido, aproximou-se dele um gigante carregando o balde arremessado. E o gigante tinha uma aparência monstruosa: não tinha cabeça, assim, os olhos, o nariz e a bocarra faziam um desenho de rosto muito pouco harmonioso no tórax enorme. De fato, horripilante. Os braços, muito peludos, eram compridos e faziam as mãos se arrastarem pelo chão. Numa das mãos trazia o balde, que segurava, dadas as dimensões de seus dedos, pinçando-o apenas com o polegar e o indicador; na outra, o que parecia ser a metade de trás de um boi, e era possível que fosse, já que, ao falar, mostrava sem querer a cabeça do que seria a outra metade do animal presa entre dois dentes. Os pés eram tão grandes quanto as mãos e estavam descalços, deixando à mostra os dez dedos que cada um ostentava. Todos os vinte tortos. Trazia as partes pudendas cobertas com couro de vaca mal costurado e, dos ombros, de onde deveria haver um pescoço, crescia-lhe desordenadamente um cabelo espesso e desgrenhado9. Este balde é seu?, perguntou o gigante ao vendedor de água. Sem

7 E o que mais poderia ter feito a tal jovem além de dizer o que desejava falar? Comentário de um crítico

desconhecido.

8 Que seja dito que nascem aqui duas das mais recorrentes metáforas poéticas sobre cabelos pretos e colos

brancos, pelo menos em língua portuguesa, porque a ideia já era velha na Grécia e, de acordo com o Sábio Esfiguiríminis da Samotrácia, bastante recorrente nas Canções de Mitigão III, rei ilegítimo e esquecido dos Caldeus.

9 A descrição que o autor dO Romance do Horto apresenta coincide perfeitamente com a descrição de um

gigante que parece ter aterrorizado vários povoados no norte da Europa durante o século VIII, que pode ser encontrada no Bestiário de São Irineu Menor, a qual transcrevemos aqui ipsis litteris: “O Sinecaput: é um gigante de aparência monstruosa: não tem cabeça, assim, os olhos, o nariz e a bocarra fazem um desenho de rosto muito pouco harmonioso no tórax enorme. De fato, horripilante. Os braços, muito peludos, são compridos e fazem as mãos se arrastarem pelo chão. Tem os pés tão grandes quanto as mãos e permanecem descalços,

128 pensar nas possíveis consequências mortais, respondeu-lhe o homem sob o olhar atento da mulher na fonte: sim. Pois muito bem, disse o gigante, da próxima vez seja mais cuidadoso, posso não ter acabado de comer e estar faminto. Devolveu-lhe o balde e voltou para o verde denso da floresta. Acredita-me agora?, perguntou a jovem, e continuou: eu posso trazer a água de volta à fonte, se você quiser, mas é preciso que faça uma coisa por mim. E o que seria?, perguntou o homem ainda contrariado. Há muito tempo você tem roubado o povo com o valor abusivo que cobra pela água; para que a fonte volte a estar cheia, você deverá abastecer as

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