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Textos nos museus: o que tem sido analisado?

No documento Moluscos nos espaços expositivos (páginas 88-91)

existe uma receita?

5. Textos nos museus: o que tem sido analisado?

JACOBI é um dos autores que mais trabalhou a questão dos textos e em especial dos painéis, nas exposições de ciências. Em seu trabalho de 1989, propõe alguns princípios simples para condução de uma análise de painéis em exposições científicas guiando-se tanto em pesquisas semio-lingüísticas centradas nos textos e imagens de documentos de divulgação, quanto em observações e avaliações de exposições científicas temporárias e permanentes. São alguns dos princípios citados pelo autor: a estrutura (dividida em suporte e mensagem); o texto como um todo e seu léxico; a ilustração e sua relação com o texto; o tipo de discurso empregado. Com relação ao seu segundo princípio, o texto como um todo, o autor levanta alguns pontos de análise como a dimensão dos caracteres, a presença de hierarquia na distribuição do texto no painel (define categorias como gancho, texto, paratexto e infratexto), presença de elemento de ligação entre um painel e outro. Já com relação ao léxico, o autor sugere a análise de diferentes estratégias utilizadas pelos redatores a fim de aproximar o leitor não especializado da terminologia científica.

Ainda trabalhando com painéis, mas agora tratando de um exemplo concreto, SIMONNEAUX & JACOBI (1997) discutem a questão da seleção de informações a serem apresentadas nas exposições e da linguagem utilizada na composição dos painéis. Neste trabalho, os autores expõem, passo a passo, sua experiência na concepção e teste de painéis sobre o tema da biotecnologia e, em especial, da clonagem, na reprodução bovina. Uma análise dos textos de referência é exposta indicando conseqüências de algumas escolhas feitas pelos próprios cientistas quando da redação de textos para pares ou para divulgação

– são exemplos: o tempo verbal escolhido, tipo de analogias feitas, o uso ou não de conectores. Também são apresentadas as escolhas dos autores com relação à diagramação, à estrutura e ao léxico na concepção dos painéis por eles elaborados.

Com relação às escolhas que fazem os redatores, MARANDINO

(2002), ao estudar os textos nas bioexposições, busca entender como se dá o processo de recontextualização pelo qual passam os textos na construção do discurso expositivo. Assim, analisa a presença de elementos característicos do discurso científico e do discurso de divulgação. A autora aponta em sua conclusão elementos - como o tempo que o visitante despende para ler, espaço e tipo de suporte dedicado aos textos na exposição, objetos ao qual o texto é associado - que devem ser levados em conta quando da elaboração destes textos. Estes mesmos elementos poderiam ser levados em conta quando de uma análise.

JACOBI (1998) expõe que são raros os estudos lingüísticos que tratam dos textos dos museus. O trabalho de POLI (1992) é um destes poucos e propõe que, além da análise do conteúdo explícito, ou seja, da informação contida nos textos e das estratégias de comunicação (tamanho dos caracteres, número de palavras por linha, etc.), a análise dos textos nos museus se volte para o conteúdo implícito. A autora entende que para tanto, a leitura dos textos deve ser feita com olhos para os mecanismos lingüísticos adotados o que inclui o vocabulário, os tipos de oração, as estruturas gramaticais empregadas. Para tanto propõe duas estratégias: uma que seria intertextual (comparação de diversos textos sobre um mesmo conceito) e a outra intratextual (análise das modalidades de formulação de um conceito em um mesmo texto) (POLI, 1992).

Diferentemente da maioria dos trabalhos até aqui apresentados, que enfocam os textos nos painéis com função de explicação de conceitos e fenômenos, na pesquisa publicada em 2000, JACOBI & LACROIX se interessam aos textos de sinalização espacial e conceitual aos visitantes, tomando como exemplo o Museum national d’histoire naturelle em Paris. Expõem e discutem a importância e as implicações

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Moluscos nos espaços expositivos

do uso deste tipo de recurso para a otimização do aproveitamento da visita pelo público, especialmente o que vem pela primeira vez. Descrevem e analisam então, a denominação e sua contribuição para atrair e informar o visitante quanto ao conteúdo oferecido; os sistemas de terminologia e grafismo nas sinalizações externas e internas; e por fim, os principais métodos utilizados na descrição e análise das sinalizações, bem como algumas propostas para aumentar de sua eficiência.

CARTER (1999), por sua vez, descreve em seu trabalho dois

testes de legibilidade para avaliar a compreensão de textos. O primeiro teste apresentado é o “Fry test” que avalia matematicamente a faixa etária à qual o texto analisado está adaptado segundo a complexidade das frases e palavras empregadas (medida em extensão). Vale ressaltar que a faixa etária de leitura não é idêntica à idade física ou mental. Já o “Cloze test” avalia a compreensibilidade do texto pelo público e é realizado com base em questionários – texto onde palavras são omitidas e devem ser adivinhadas pelos entrevistados. O autor acrescenta que existem muitos outros testes, inclusive alguns na forma de softwares, mas ressalta que testes devem ser utilizados cautelosamente, uma vez que podem mascarar outros problemas –

“uma curta frase mal escrita pode ser menos compreensível do que uma longa frase bem escrita”.

Dois outros autores olham para a interação entre o público e o texto. SAMSON (1992), ao discutir o uso de pré-avaliação na

composição dos textos para exposições, expõe a questão do caminho que o visitante segue durante sua leitura, ou seja, ao ficar frente a frente com um painel, em que ordem o visitante lerá os diferentes itens que compõem este painel? O autor comenta ainda que se o idealizador não deixar claro qual o caminho a ser adotado, pode até induzir o visitante a incorrer em erros conceituais. Em 2000, o autor, após breve retrospecto sobre a produção de textos para exposições e pesquisa a eles referente, retoma a questão de se estudar e avaliar o percurso de leitura e o tempo a ela dedicado pelo visitante. Defende ainda a importância de tais pesquisas por permitir o entendimento da

recepção dos textos pelo público, facilitando, talvez, a elaboração de novos elementos (SAMSON, 2000).

Também olhando para o público, MCMANUS (2000) expõe a importância que os textos têm no aproveitamento da visita. A autora, repetidas vezes, analisou o comportamento de visitantes, sozinhos e/ou em grupos, frente aos textos, observando trocas e interações, a fim de tentar entender o impacto que os elementos textuais podem ter na percepção da exposição. A autora apresenta ainda em seu trabalho três avaliações de textos de exposições realizadas por visitantes.

Como visto, não tão raros são os trabalhos que se dedicam à análise dos textos nos museus. Estes trabalhos enfocam, no geral, o discurso empregado na composição dos diferentes elementos textuais e/ou a diagramação, mas, mesmo nestes, é possível perceber uma preocupação com a relação entre público e texto.

No documento Moluscos nos espaços expositivos (páginas 88-91)

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