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PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO

3.2. TIPO DE ESTUDO: PARADIGMA, MÉTODO E NÍVEL DO ESTUDO 70

É reconhecido que as competências que constituem um profissional de enfermagem podem ser organizadas em categorias centradas na dimensão pessoal, científica, técnica, sócio-afectiva, relacional, comunicativa e ético-social (Phaneuf, 2005). Dada a multidimensionalidade que se identifica no fenómeno em estudo e no sentido de incrementar a riqueza dos dados, a abordagem que será feita e que se considerou mais oportuna, será uma abordagem em que coexistirão ambas as metodologias, tanto a qualitativa como a quantitativa.

A investigação qualitativa é uma forma de estudo da sociedade que se centra na forma como as pessoas interpretam e dão sentido às suas experiências e ao mundo em que elas vivem. As abordagens qualitativas são utilizadas pelos investigadores para explorar o comportamento, as perspectivas e as experiências das pessoas que eles estudam. Esta metodologia privilegia a realidade vivida como fonte directa dos dados e permite enriquecer novos elementos da compreensão dos fenómenos e explorar novas áreas de investigação. Baseadas noutro paradigma, as abordagens quantitativas têm por base a colheita e análise de factos objectivos, de acontecimentos e de fenómenos.

Na vertente qualitativa, existem vários tipos de métodos. Após reflexão cuidada, e tendo em conta a finalidade do nosso estudo, optámos pela Fenomenografia. Este é um método da abordagem qualitativa e empírica, relativamente recente, que se revela profícua quando pretendemos a compreensão da experiência das pessoas. “É uma abordagem empírica que procura a diversidade de formas sob as quais as pessoas vivenciam o mundo à sua volta (Marton e Booth, 1997, citado por Fernandes, 2005,p.4). Torna-se relevante na investigação em enfermagem quando se pretende enfatizar as diferenças entre como as pessoas experienciam a sua situação (Santos, 2009).

Barnard et al. (1999), assumindo que a fenomenografia se preocupa em descrever a forma como as pessoas geram os vários semblantes do seu mundo (citando Marton, 1986), referencia que este método de investigação se relaciona com pesquisas direccionadas para a teoria e prática dos cuidados de saúde, onde se revela fundamental o reconhecimento das diferentes formas como um fenómeno é vivenciado e compreendido (apud Fernandes, 2005). Outros autores defendem a fenomenografia como um método de “avaliar a qualidade na perspectiva do consumidor” (Schembrin&Sandberg, 2002, citado por Fernandes, 2005,p.8). Esta corrente tem em conta a caracterização da mente colectiva, o sentido colectivo, mas tendo por base as

semelhanças e diferenças como cada um vê, vivencia e compreende o mesmo fenómeno, pelo que ser declara com muita utilidade na investigação em enfermagem e consequente melhoria dos cuidados de enfermagem que este grupo profissional oferece aos cidadãos, fornecendo às disciplinas de enfermagem e à formação em enfermagem “conhecimentos sobre a variação da forma como os doentes e estudantes pensam” (Strõmberg, 1997, citado por Fernandes, 2005,p.8) e contributos sobre “os aspectos estruturais e de conteúdo, como os fenómenos são vivenciados nas situações de cuidados de enfermagem” (Idem).

A escolha de uma abordagem mista foi a via encontrada para responder ao desafio inerente a este estudo, que relaciona paradigmas teóricos a estratégias e métodos para colher dados subjacentes a ambas as abordagens, facilitando a percepção das experiências dos utentes, captando as suas percepções, expectativas acerca das práticas de cuidar e dos enfermeiros. Na medida em que se pretende compreender um fenómeno profissional multidimensional, considerou-se este tipo de estudo o mais adequado a esta problemática, pela capacidade de incrementar a abordagem às várias dimensões que se considerou importantes nos constructos da identidade percebida e imagem social que os utentes possuem dos enfermeiros e do seu campo de intervenção, pela triangulação de informação quantitativa e qualitativa. Pese embora, a tónica dominante estará na abordagem qualitativa, tendo em conta a finalidade do estudo.

A investigação utilizando métodos mistos é relativamente recente nas ciências sociais e humanas, assumida como uma técnica distinta de fazer investigação e o seu desenvolvimento deve-se à necessidade sentida de, em muitos estudos, reunir dados qualitativos e dados quantitativos; pelo que a técnica de métodos mistos envolve a colheita e análise das duas formas de dados num único estudo. Pretender-se-á a colheita de dados tanto de informações numéricas, como de informações de texto, para que o banco de dados final represente tantas informações qualitativas como quantitativas. (Creswell, 2007).

Os dados qualitativos e quantitativos serão colhidos concomitantemente, em simultâneo no percurso de investigação, procurando-se que possibilite a obtenção de uma análise ampla do problema de pesquisa.

Far-se-á a triangulação de métodos, neste caso a nível da colheita de dados. Este será um estudo descritivo. Os estudos descritivos têm como objectivo “descriminar os factores determinantes ou conceitos que, eventualmente, possam estar associados ao fenómeno em estudo” (Fortin, 1999, p. 162).

O estudo descritivo satisfará ao objectivo de descrever as percepções que os utentes possuem da profissão de enfermagem, bem como as vivências experimentadas por estes ao serem receptores de cuidados de enfermagem. A opção por um estudo descritivo é a que se revela mais pertinente, uma vez que tem como objectivo o levantamento de opiniões e atitudes, tão livres quanto possível de pressupostos não examinados (Gil, 1991; Spiegelber; cit. por Streubert e Carpenter, 2002).

Pela utilização do tipo de pesquisa descritiva, pretendemos expressar como este fenómeno se manifesta, medindo, avaliando e colhendo dados sobre diversos aspectos, dimensões ou componentes do fenómeno em estudo. Do ponto de vista científico, descrever é colher dados – medir (para os estudos quantitativos) e – colher informações (para os estudos qualitativos), procurando especificar propriedades e características importantes de qualquer fenómeno em análise (Sampieri, Collado e Lucio, 2006).

A descrição do fenómeno, sendo uma abordagem mista, está baseada na colheita de dados e de informação sobre o atributo e o seu contexto.