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4 MÉTODO

4.1 TIPO DE PESQUISA

Foi utilizada, neste estudo, uma pesquisa do tipo qualitativa. De acordo com Minayo (2004), a pesquisa qualitativa permite que se busque uma visão ampliada da realidade, a partir de uma leitura entre as relações dos processos e fenômenos estudados, permitindo-se chegar a elaborações e conclusões de modo profundo e reflexivo.

Na pesquisa qualitativa, o pesquisador lida com ações e fatos relacionados ao comportamento, onde as palavras, gestos e outros fatores estão cheios de simbolismo. Portanto, significa dizer que os dados são interpretados de forma particular e não podem ser quantificados (MELO, 2001), tanto que neste tipo de pesquisa aceitam-se influências de crenças, valores, escolha de tópicos de pesquisa sobre o próprio método e interpretação dos resultados (GÜNTHER, 2006).

De acordo com os pesquisadores Flick, Von Kardorff e Steinke (2004), surgem alguns pressupostos teóricos sobre a abordagem qualitativa, uma vez que apresentam quatro bases teóricas: a) a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados; b) a ênfase no caráter processual e na reflexão; c) as condições objetivas de vida tornam-se relevantes por meio de significados subjetivos; d) o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa.

A pesquisa qualitativa aqui proposta, se apoiou no material da transcrição produzido pelas falas de um grupo de análise das práticas conduzido por três pesquisadoras e uma aluna de iniciação científica1. Os encontros do grupo foram gravados e transcritos. Após transcrição do material discursivo, processou-se a leitura flutuante e respectiva sistematização, com a proposição de analisar o discurso do grupo de professores sobre o trabalho docente junto aos adolescentes, na perspectiva da análise das práticas docentes.

A pesquisa no campo das práticas docentes, segundo Cardoso et al. (2011), contribui para o desenvolvimento do educador-pesquisador, onde “não se trata” de

1 Profª. Drª. Katia Tarouquella Brasil; Profª. Drª. Alessandra Rocha Arrais e Profª Msc. Thais Sarmanho e pela aluna de iniciação Científica Débora Mendes.

uma simples aquisição de conhecimentos, mas de uma transformação do sujeito, envolvendo mecanismos psicológicos mais amplos em despertar no professor o desejo, a vontade de atualizar-se e de buscar novos conhecimentos.

Blanchard-Laville (2009) demonstra, em suas pesquisas, que o acompanhamento grupal tem sua força na perspectiva de contribuição para análise reflexiva das práticas profissionais. Para tanto, a autora afirma que é importante o relato de situações pessoais e profissionais, onde possam ser avaliados aspectos de dimensão psíquica relacionados ao seu desempenho profissional. Em seus quinze anos de pesquisa no campo profissional de professores, enfatiza que estes profissionais precisam passar por um processo de reaprendizagem da escuta de si mesmos, já que a formação profissional não está dissociada da ideia do que sentem e do que são.

O espaço de fala em grupo, para os professores, pretende proporcionar uma análise dos aspectos profissionais dos participantes, a partir da implicação deste profissional no espaço grupal. O grupo de fala possibilita aos participantes relatarem o modo como o trabalho docente mobiliza esses profissionais e permite-lhes encontrar, no grupo, um espaço de escuta e de elaboração dos desafios do trabalho docente (BLANCHARD-LAVILLE, 2009).

A análise das práticas docentes pretende gerar um espaço de troca entre os professores, amparado por um ambiente de respeito, compreensão e de compartilhamento. O ambiente instaurado no grupo deve ser o de criar e estimular a cooperação e a troca entre os integrantes do grupo. O coordenador responsável por conduzir o grupo preocupa-se em demonstrar a linha de trabalho desde o início, quando suas intervenções se situam no ritmo induzido pelos participantes, evitando futuros conflitos, cooperando para que, progressivamente, haja uma integração entre o grupo e a manutenção do bom clima grupal (BLANCHARD-LAVILLE; NADOT, 2004). A autora relata que o coordenador entra no continente psíquico, de modo que capte os movimentos emocionais dos participantes para ajudá-los no processo de transformação, uma vez que os professores apresentam dificuldade de expressar ou de se deixar ser afetado pelo grupo.

Golse e Missonnier (2005) contribuem para essa constatação, quando afirmam que as emoções vividas em grupo podem ser transformadas no prazer em construir um pensar compartilhado e em um prazer de co-construir, de maneira interativa, dentro do grupo, a partir de um novo relato, quer dizer de uma espécie de

co-narratividade. Portanto, Blanchard Laville (2005) considera este tipo de trabalho grupal de suma importância para um pensar reflexivo dos participantes sobre sua prática docente, redimensionando, assim, sua ação educativa para uma educação de melhor qualidade.

O dispositivo de grupo de acompanhamento clínico, que pode ser registro do relato das falas dos professores, onde são avaliados os obstáculos à ação desejada, ou ao modo como as suas intenções didáticas os induzem a agir, encontra-se focado nas implicações psicológicas da prática deste professor. A exploração da dinâmica dos encontros acontece através do relato dos participantes do grupo sobre os incidentes que ocorrem em suas práticas cotidianas. Os encontros dos professores são regulares e cada sessão dura em torno de duas a três horas, dependendo das circunstâncias contextuais.

Nos encontros grupais de análise de práticas docentes, não existe algo padronizado; os professores vêm aos encontros sem nada preparado ou escrito. Faz-se necessário que haja uma presença assídua, assim como a participação de cada um. As discussões tomam seu próprio ritmo, crescendo a cada momento que o participante sente a necessidade de dar uma continuidade, de alimentar o debate, através de exemplos ou críticas.

De acordo com Blanchard-Laville (2005), é de grande relevância que haja uma mobilização do desejo e apreensão dos participantes, para que os mesmos possam contribuir para o avanço, os recuos, os amadurecimentos e evoluções dos encontros.

O objetivo do trabalho com o grupo de professores é permitir que haja uma identificação dos vínculos educativos, de modo que possa haver uma interação entre os próprios participantes e o coordenador.

Os encontros do grupo ocorrem em períodos determinados no contrato que será feito entre o coordenador e os participantes. A finalidade desses encontros consiste em permitir ao docente melhor compreensão acerca do que fazer e de que maneira, ou seja, idealiza-se proporcionar total desprendimento e facilitar a atividade laboral desse profissional. O ideal é que esses encontros se constituam em importante elemento para o entendimento da prática docente, não apenas no sentido de subsidiar ações dos participantes, mas permitir a estes melhor compreender sua atividade, em uma perspectiva mais ampla, buscando entender e solucionar os conflitos inerentes ao cotidiano da atividade laboral. Para tanto, é imprescindível que

haja participação de um coordenador nos encontros do grupo, pois este acompanhará o desenvolvimento da dinâmica, esclarecendo dúvidas acerca do saber pedagógico e, por consequência, aquelas relacionadas às dificuldades presentes atualmente no cotidiano escolar.

Dessa forma, os encontros auxiliam os participantes em orientações necessárias para o desenvolvimento profissional, que começa no espaço grupal para, em seguida, inserir-se na relação entre o docente e seus alunos.

Portanto, diante de tal situação, esta pesquisa se apoiou na análise das falas produzidas no grupo, por entender que a composição dos grupos, pelo critério de compartilhamento do mesmo local de trabalho, favorece o relato de experiências, necessidades, valores e crenças, os quais interagem na temática em foco, além de possibilitar entender o estreitamento em relação ao tema, no cotidiano.

4.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS: A FORMAÇÃO DO GRUPO E

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