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Córpus de Aprendizes

2.3 Tipologia de Erros para as Línguas Próximas Portu guês e Espanhol

Devido ao aumento no número de hispano falantes interessados na apren- dizagem do português como L2, as pesquisas dedicadas a procurar métodos mais eficientes para a aprendizagem do português por nativos do espanhol têm aumentado nos últimos anos (Carvalho et al., 2010; Henriques, 2004; Gran- nier e Carvalho, 2001; Durão, 1999), juntamente com as iniciativas para a cri- ação de recursos que auxiliem a aprendizagem desse grupo de usuários. Um exemplo dessas iniciativas é o projeto Portuguese for Spanish Speakers12, de-

senvolvido na Universidade de Arizona e comentado por Carvalho et al. (2010). Outra iniciativa acontece no Celin - Centro de Línguas e Interculturalidade13,

da Universidade Federal do Paraná. O Celin é um espaço representativo para o desenvolvimento de práticas no campo de aquisição e aprendizado de lín- guas estrangeiras por nativos de diversas nacionalidades. Essas instituições, que oferecem cursos de português para estrangeiros, estabelecem dois tipos de cursos: um dirigido para estrangeiros de qualquer nacionalidade e outro dirigido, especificamente, para nativos do espanhol. Essa divisão das turmas ocorre porque vários autores (Da Silva, 2010; Mohr, 2007; Gomes, 2002; Fur- toso e Gimenez, 2000; Santos, 1999) concordam que, devido à similaridade entre o português e o espanhol, os falantes do espanhol possuem caracterís- ticas diferenciadas em relação aos demais aprendizes da língua portuguesa.

Na literatura, a similaridade entre o português e o espanhol apresenta-se como um elemento positivo, que muitas vezes tem se convertido em um obstá- culo, devido ao fato da semelhança e da proximidade ocultarem muitas vezes as diferenças entre as línguas e impedirem frequentemente o domínio das mesmas, mantendo, tanto na fala quanto na escrita da língua portuguesa, as interferências da língua nativa, o espanhol (Gomes, 2002; Furtoso e Gimenez, 2000). De fato, as interferências do espanhol têm sido os aspectos mais en- fatizados pela literatura que trata da produção escrita dos hispano falantes

12http://www.portspan.cercll.arizona.edu/atividades/atividades.htm 13http://www.celin.ufpr.br/

(Mohr, 2007; Scaramucci e Rodrigues, 2004). Contudo, segundo Scaramucci e Rodrigues (2004) as produções escritas pelos hispano falantes também apre- sentam outros problemas, comuns a estrangeiros falantes de outras línguas e a brasileiros escrevendo na sua língua materna: o português.

Henriques (2004) apresenta um experimento para estimar a proximidade entre o léxico do espanhol e do português. No experimento, a autora fez uma seleção de vários textos científicos curtos para quantificar a frequência de vá- rios tipos de palavras tais como: cognatos, não cognatos e falsos cognatos. De um total de 1.198 palavras que foram analisadas, 1.087 (90,8%) palavras foram identificadas como cognatos (com ortografia idêntica e não idêntica), 56 (4,7%) palavras análogas etimologicamente (porém com algumas divergências semânticas), 27 empréstimos de outras línguas (2,3%), 19 (1,6%) falsos cog- natos e 9 (0,76%) termos científicos. Desta forma, Henriques (2004) conclui que todo o conhecimento que o aprendiz/falante transfere, com acerto, da sua língua nativa, o espanhol, para a segunda língua (ou língua estrangeira), o português, facilita o processo de aquisição/aprendizagem e a compreensão (oral e/ou escrita).

Os resultados apresentados por Henriques (2004) mostraram que existe um alto grau de intercompreensão entre os falantes de português e de espa- nhol, em relação à:

1. compreensão de textos (desde que os falantes usem estratégias de infe- rência lexical para ajudá-los na compreensão global do texto);

2. tradução (já que existe um alto índice de palavras cognatas com ortogra- fia idêntica ou similar) e

3. inferência de itens lexicais (com a ajuda de estratégias de vocabulário e de gramática).

Contudo, existe uma percentagem de palavras (falsos cognatos, marcado- res discursivos e expressões idiomáticas) de difícil inferência, mesmo com a ajuda do contexto em que ocorrem, em qualquer tipo de texto e sem previsão de ocorrência. Com esses resultados, Henriques (2004) considera que em eta- pas iniciais de aprendizagem é recomendável focar em aspectos relacionados com:

• falsos cognatos ou interferências no nível semântico que afetam a coe- rência do texto;

• marcadores discursivos, que comprometem a coesão e, consequente- mente, a coerência do texto;

• expressões idiomáticas e, finalmente,

• outros aspetos relacionados com o discurso: organização de ideias, es- truturação do texto, ponto de vista e progressão temática.

Nas Seções 2.3.1 e 2.3.2 são apresentadas duas tipologias, cujo foco prin- cipal foi levantar os principais problemas que hispano falantes enfrentam quando estudam português. Essas pesquisas combinaram as análises AC e a AE para especificar os principais erros dos hispano falantes. Esses estudos tentaram compreender as origens dos diferentes erros, propondo tipologias de erros baseadas na natureza dos problemas. As tipologias de Grannier e Carva- lho (2001) e Durão (1999) foram construídas com a finalidade de aprimorar o processo de ensino/aprendizagem do português. Outra tipologia interessante foi apresentada por Rojas (2006), porém ela não será detalhada, pois se propôs a analisar erros que ocorrem na fala dos hispano falantes e foge do interesse desta pesquisa.

2.3.1 Tipologia de Grannier e Carvalho (2001) - Problemas que Hispano Falantes Enfrentam na Escrita em Português

Grannier e Carvalho (2001) realizaram um levantamento dos principais er- ros que nativos do espanhol cometem quando escrevem em português. O con- junto de erros foi identificado após a análise de 15 provas escritas do exame CELPE-Bras do ano 2000. As provas foram distribuídas em três grupos de acordo com o grau de proficiência do candidato (básico, intermediário e avan- çado). Os textos são de gêneros diversos e os erros identificados foram classi- ficados utilizando critérios puramente linguísticos.

Os autores classificaram os erros seguindo as categorias:

1. erros lexicais, que reúnem aqueles que incidem em algum aspecto da seleção lexical (na sua forma ou na sua adequação semântica);

2. erros morfossintáticos, são aqueles que afetam a estrutura interna da palavra e seus vínculos com outras palavras, tais como erros de regência e de gênero;

3. erros sintáticos, tais como erros de ordem dos constituintes ou dos co- nectivos;

4. erros léxico-sintático-semânticos, são erros que incidem em dois ou mais itens lexicais em pelo menos uma das duas línguas e envolvem diferenças de recorte semântico e/ou uso em variadas estruturas sintáticas e

5. inadequações de registro e de estruturas14.

Na Tabela 2.3, são mostradas as quatro primeiras categorias de erros, além de alguns exemplos que evidenciam a ocorrência de determinados problemas. A última categoria, Inadequação de registro, é apresentada na Tabela 2.4. A seguir, são detalhados os problemas que ocorreram com maior frequência, inclusive em aprendizes com nível de proficiência avançado. Esses erros mais frequentes foram considerados pontos críticos ou erros reiterativos. Na tipo- logia apresentada por Grannier e Carvalho (2001) apontam-se os significados dos erros mais frequentes, assim como em que momento do processo de en- sino/aprendizagem podem ser aproveitados ou indicados. O terceiro tipo de erro, dentro da categoria Lexicais (1.3) foi um erro recorrente. Nessa categoria de erros, os autores classificaram produções em que os aprendizes combina- ram regras do espanhol com regras do português, como no exemplo da Tabela 2.3. Grannier e Carvalho (2001) consideram que esse erro é um bom indicador para revelar o desenvolvimento do processo de aquisição ou aprendizagem da nova língua.

Dentro da categoria de erros morfossintáticos, foram observados vários problemas relacionados com regência verbal ou uso de preposição em com- plementos diretos ou em complementos preposicionais. Tanto a falta da pre- posição quanto o emprego equivocado de uma preposição em lugar de outra foram aspectos frequentemente identificados. Segundo Grannier e Carvalho (2001), esses últimos erros são úteis para identificar os pontos em que o na- tivo do espanhol consegue se conscientizar das igualdades e diferenças das duas línguas. Erros da categoria léxico-sintático-semântica também foram identificados, sendo que Grannier e Carvalho (2001) acreditam que esses es- tão relacionados com as distribuições em estruturas diferentes e/ou recortes semânticos com algumas diferenças de uma língua para outra.

A seguir, é apresentada outra tipologia de erros de hispano falantes quando escrevem em português. Essa tipologia também foi obtida após a análise de produções escritas em um ambiente educacional.

Tabela 2.3: Categorização dos erros que hispano falantes cometem quando escrevem em português (Grannier e Carvalho, 2001).

Tipos de Erros

1 Lexicais 2 Morfossintáticos

1.1 Uso da forma em espanhol Usos de preposições

Compartir 2.1 Regência verbal

(E: compartir; P:compartilhar) aprender deles (P:aprender com eles) precios (E: precios; P:preços) descordar com (P: discordar de)