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Córpus de Aprendizes

5.1 Uso de pronome átono em texto informal

Tem que faze-lo agora (P: deve fazê-lo agora/ tem que fazer isso agora)

5.2 De estrutura

(a) Uso de relativa por estrutura com possessivo

Em relação à natureza, não devemos esquecer que a qualidade mais importante que tem é [...]

(P: [...] à natureza, não devemos esquecer que a (sua) qualidade mais importante)

(b) Uso de relativa por estrutura com infinitivo

Em relação à natureza, [...] a qualidade mais importante que tem é que é única (P: em relação à natureza, [...] a qualidade mais importante é ser única)

2.3.2 Tipologia de Durão (1999) - Problemas que Hispano Falantes Enfrentam na Escrita em Português

Durão (1999) desenvolveu um estudo relacionado ao aprendizado de espa- nhol por nativos do português e ao aprendizado do português por hispano falantes. O estudo está baseado na constatação, em um viés pedagógico, de que os pontos de intersecção do português com o espanhol favorecem o processo de ensino/aprendizagem, ao mesmo tempo em que ocultam aspec- tos diferenciados que se manifestam posteriormente na produção linguística dos aprendizes nos níveis fonético-fonológico, ortográfico, morfossintático e semântico. Devido ao fato da análise contrastiva considerar que as interfe- rências da língua materna são as principais dificuldades para um aprendiz de língua estrangeira e após concluir que as interferências da língua materna não são as únicas, a autora combina a análise contrastiva com a análise de erros na tarefa de identificação dos erros mais frequentes. Desta forma, Durão (1999) concentra-se em determinar estratégias de simplificação, descrever er- ros léxicos, sintáticos, semânticos e tentar identificar os fatores que provocam esses erros.

Dado o fato da presente pesquisa ter foco na produção escrita em portu- guês de nativos de espanhol, nesta seção somente serão comentados os erros dos hispano falantes quando escrevem em português, identificados por Durão (1999). Para analisar esses erros, Durão (1999) selecionou 24 alunos do pri-

meiro ano do Curso de Português oferecido na Universidade de Valhadolide, Espanha. Todos os sujeitos eram nativos de países com língua espanhola e com um nível de proficiência entre básico e intermediário.

Na Tabela 2.5, são apresentadas as três categorias de erros apontadas por Durão (1999), assim como as quantidades de cada tipo e sua percentagem com relação ao total. Como a tipologia descrita em Durão (1999) é uma ti- pologia bem detalhada, às vezes até específica demais, serão comentados e exemplificados os erros que os corretores ortográficos do Microsoft Word 2007 e do editor de texto incluído no Latex não conseguem identificar ou que foram considerados por Durão (1999) como erros graves.

Tabela 2.5: Categorização dos erros que hispano falantes cometem quando escrevem em português (Durão, 1999).

Tipos de Erros

Erros Percentagem

Erros fonológicos e gráficos 595 51,00%

Erros léxicos 386 33,10%

Erros gramaticais 186 15,90%

A primeira categoria - Erros gráficos e fonológicos - está relacionada com deficiências tipicamente ortográficas ou motivadas por dificuldades fonológi- cas. Essa categoria encontra-se subcategorizada em oito erros, apresentados na Tabela 2.6, que além de mostrar a categoria dos erros mostra exemplos mais relevantes, acompanhados de sua correção.

Os erros de acentuação ortográfica estão relacionados com o uso errado do acento ou a falta de acentuação, sendo a maioria destes erros identifica- dos por um corretor ortográfico. Os erros relacionados com o uso errado da

crase, às vezes, é devido ao fato dos aprendizes não diferenciarem entre crase

e acento agudo, desconhecendo que a crase aparece após a junção de duas vogais iguais e antecedendo um substantivo feminino. As marcas erradas de

nasalização são comuns em nativos do espanhol quando escrevem em portu-

guês, pelo fato de não existir esse som em espanhol. A categoria separação

e união de palavras mostra que os nativos do espanhol apresentam proble-

mas para identificar quais palavras devem estar separadas ou unidas. Nesse último caso, sempre aparecem as seguintes perguntas entre os hispano falan- tes: Será que estas palavras são separadas ou unidas? E caso unidas como deve ser a união, usando ou não o hífen? A categoria separação e união de

Tabela 2.6: Erros fonológicos e gráficos que hispano falantes cometem quando escrevem em português (Durão, 1999).

Erros fonológicos e gráficos

Erros Percentagem

Acentuação ortográfica errada 324 54,50%

Uso errado da crase 9 1,50%

Ex:Voltada para à clientela...–> Voltada para a clientela...

Marcas erradas de nasalização 136 22,90%

Ex:... naõ é extranho ...–> Ex:... não é extranho ... Ex:... seram maiores ...–> Ex:... serão maiores ...

Separação e união de palavras 16 2,70%

Ex: Sub região –> Sub-região // Sub córpus –> Subcórpus

Ex: é difícil darse conta –> é difícil dar-se conta // estudarlo –> estudá-lo

Confusão de Fonemas 47 7,90%

Ex: ...Tenho certeza do resultado sim nenhuma dúvida... –> ...Tenho certeza do resultado sem nenhuma dúvida...

Confusão de grafemas com fonemas 51 8,50%

Ex: ...debido a...–> ...devido a... // façer –> fazer

Consoante Surda 12 2,00%

união de pronomes complementos do verbo.

Outro tipo de erro classificado por Durão (1999) como um erro fonológico ou gráfico é a confusão de fonemas. Essa classe inclui erros relacionados com palavras similares do espanhol e do português, por exemplo, com alternância vocálica do tipo e/i ou o/u. Outra categoria foi a confusão de grafemas, na qual encontram-se os erros provocados pela dificuldade dos aprendizes do espanhol em diferenciar entre v/b, ou ç/z. Finalmente, o erro de consoantes

surdas, não foram interessantes na pesquisa de Durão (1999), porque esses

erros estão relacionados com a versão do português europeu, mas comumente os nativos do espanhol erram quando escrevem palavras como ação e ato, colocando um “c ”após o primeiro “a ”.

A Tabela 2.7 mostra a categorização feita por Durão (1999) para os erros lexicais, assim como a distribuição de cada conjunto. O primeiro erro da clas- sificação é o uso de falsos cognatos. De acordo com Durão (1999), falsos cognatos são as palavras que apesar de sua semelhança não têm o mesmo significado nas duas línguas. A definição anterior é unanimidade entre os linguistas. Segundo Durão (1999), nos pares português e espanhol o tipo anterior não é o mais comum e sim é frequente achar palavras que compar- tilham um ou mais significados, enquanto outros são distintos. Desta forma, a autora resume o problema de falsos cognatos à frequência de uso de uma palavra, em que em uma língua opta-se pelo uso da palavra, enquanto em outra se usa um sinônimo da palavra, o que não significa que não se tenha a mesma palavra nas duas línguas com o mesmo significado semântico em determinado contexto.

Na categoria outros problemas semânticos estão incluídos erros que apa- recem devido ao número reduzido do vocabulário que o aprendiz domina e termina sobreusando esses sem identificar um erro na escolha lexical. Exem- plo desse tipo de erro é o uso da palavra “gente ”que em espanhol (“la gente ”), significa conjunto de pessoas; em português tem o mesmo significado, mas também é usado no sentido do pronome pessoal nós. Outro caso é a palavra “vivir ”, que em espanhol tem o sentido de “morar ”e de “residir ”, já em portu- guês essa palavra não é comumente usada no sentido de “morar ”. Os casos

de fronteira, segundo Durão (1999), são empréstimos da língua materna que

sofreram alguma adaptação fonética ou gráfica. Finalmente, os erros relacio- nados com transferência linguística referem-se a léxicos da língua materna deixados nos textos na língua estrangeira. Em geral, os erros desse tipo iden- tificados por Durão (1999), são empréstimos que foram produzidos por trans-

Tabela 2.7: Erros lexicais que hispano falantes cometem quando escrevem em português (Durão, 1999).

Erros lexicais

Erros Percentagem

Uso de falsos cognatos 57 14,80%

Ex: Duas prefeituras acordam estabelecer o plano ... –> Duas prefeituras combinam/ decidem estabelecer o plano ...

Outros problemas semânticos 96 24,90%

Ex: É certo que espanhol...–> É verdade que // espanhol // ... Que formam parte de...–>

... Que participam de ... //

Hoje eu conozco que tenho...–> Hoje eu entendo que tenho...

Casos de fronteira 168 43,50%

Ex: Ensenhar a língua...–> Ensinar a língua

Transferência linguística 65 16,80%

Ex:Algunos com uma tradição.. –> Alguns com uma tradição...

ferência do significado espanhol para um significado que existe em português, mas com outra forma.

Por último, Durão (1999) apresenta uma classificação para erros gramati- cais que é apresentada na Tabela 2.8. Dentro das categorias mostradas na Tabela 2.8, há outras categorias mais específicas que serão explicadas a se- guir.

Tabela 2.8: Erros gramaticais que hispano falantes cometem quando escrevem em português (Durão, 1999). Erros Gramaticais Erros Percentagem Paradigmas nominais 61 32,80% Paradigmas verbais 39 20,00% Outros paradigmas 86 46,20%

Os erros classificados como paradigmas nominais estão separados em dois grupos. O primeiro grupo contém erros de mudanças de gênero e o se- gundo grupo refere-se ao uso inadequado dos artigos. Segundo Durão (1999), os erros de mudança de gênero são produzidos, em geral, por interferências

do espanhol dado que há substantivos com ortografia e significado idênticos, mas com gêneros diferentes. Alguns exemplos são “o linguagem ”e “as cos- tumes ”. A maioria dos erros de mudança de gênero são identificados pelo corretor ortográfico do Word, enquanto que o corretor incluído no editor do Latex não consegue indicar erros desses tipos. Por outro lado, os problemas referentes ao uso dos artigos estão relacionados tanto com a ausência ou pre- sença de artigos quanto a erros sintáticos. Em português, há casos em que o uso do artigo é desnecessário, por exemplo, com verbos relacionados com aprendizagem, tais como “aprender, ensinar, ”etc.. Em outros casos, torna-se necessário o uso do artigo, por exemplo, quando são usados nomes próprios ou geográficos. Talvez por desconhecer essas regras o hispano falante comete os seguintes erros identificados por Durão (1999): “ aprender o espanhol ”, “...só Brasil fala... ”.

Na categoria de paradigmas verbais estão incluídos desvios provocados pela regência verbal (Durão, 1999). Esse conjunto de erros inclui problemas relacionados com as conjugações dos verbos irregulares. Durão (1999) separa os erros desse conjunto em dois tipos: o primeiro quando o erro não leva a uma mudança do significado e o segundo quando a mudança acontece. A seguir, exemplos desses tipos de erros junto com suas correções são apresentados:

• considerar-os –> considerá-los,

• se não foram duas línguas –> se não fossem duas línguas

Finalmente, na categoria outros paradigmas, proposta por Durão (1999), estão incluídos erros relacionados com: confusão no emprego do adjetivo grande; confusão no uso de outros elementos gramaticais (considero que estas duas primeiras categorias são muito específicas, por isso não serão explicadas neste documento) e uso incorreto de preposições. O uso incorreto de prepo- sições está associado a erros no momento de contrair as preposições “em/de ”ou em construções diferentes do espanhol e do português, de forma que em uma língua a preposição é exigida e na outra não. É importante salientar que esses erros não são identificados por nenhum dos corretores gramaticais testados:

• ...longe de fronteira... –> ...longe da fronteira... • ...há em Espanha...–>...há na Espanha...

• Por as necessidades...–> Pelas necessidades...

A tipologia de erros mostrada por Durão (1999) aponta a maioria das defici- ências que nativos do espanhol apresentam quando escrevem em português. Considerando a percentagem de erros em cada categoria, é possível identificar alguns erros que foram mais reincidentes que outros. Na categoria de erros

fonológicos e gráficos, os erros ortográficos foram os de maior incidência. Já

na categoria erros lexicais, os casos de fronteira e os erros relacionados com outros problemas semânticos foram os que ocorreram um maior número de vezes. Finalmente, os erros de uso incorreto de preposições, erros morfológi- cos, erros sintáticos, todos dentro da categoria de outros paradigmas e erros de mudanças de gênero e de uso incorreto de artigos, ambos da categoria

erros nominais, foram os de maior ocorrência.

Após o levantamento realizado, Durão (1999) considera que na aprendiza- gem tanto do espanhol por nativos de português, quanto do português por nativos do espanhol devem-se combinar elementos da análise contrastiva com elementos da análise de erros. Em outras palavras, é interessante que o aprendiz conheça as semelhanças entre as duas línguas e os pontos críticos que podem ser traduzidos em erros.

2.4

Considerações Finais

Neste capítulo foram comentados alguns trabalhos que estudaram a pro- dução escrita dos aprendizes de L2. Constatou-se que a maioria destes traba- lhos emprega textos escritos por aprendizes de uma língua para analisar suas características e dessa forma foram apresentados alguns dos córpus de apren- dizes desenvolvidos. Para o português, o conjunto de redações mais utilizadas para analisar a escrita dos aprendizes foram produzidas no exame CELPE- Bras (Mohr, 2007; Grannier e Carvalho, 2001); no caso da língua inglesa, a prova de proficiência TOEFL tem sido amplamente utilizada.

Especificamente, para o português do Brasil observou-se que alguns esfor- ços têm sido realizados, sendo ainda discretos os estudos e recursos dispo- níveis para serem empregados na tarefa de detecção automática de erros de aprendizes. Contudo, essa área de pesquisa apresenta-se como uma área em ascensão devido ao aumento do interesse pelo aprendizado da língua portu- guesa por nativos de diversas nacionalidades. A revisão da literatura realizada nesta seção permite identificar lacunas especificamente em áreas de pesquisas como ensino/aprendizagem da língua portuguesa, mostrando a necessidade

de criar novos métodos e recursos que auxiliem este processo. Salienta, tam- bém, que são muitos os profissionais preocupados com o aprimoramento do ensino da língua portuguesa, seja para qualquer aprendiz ou especificamente para aprendizes de línguas próximas, como o espanhol.

Os estudos apresentados para levantar os problemas que enfrentam os hispano falantes aprendizes de português foram guiados por pesquisadores que utilizando como base a análise contrastiva conseguiram realizar compa- rações entre o português e o espanhol. Essas análises mostraram o conhe- cimento comum entre as duas línguas, assim como as divergências. Além disso, os pesquisadores concordaram na importância do aprendiz ou profes- sor conhecer estas similaridades e diferenças para aprimorar o processo de ensino/aprendizagem.

Os estudos baseados na análise de erros apresentaram duas tipologias de erros por meio das quais foram classificados os tipos de erros. As tipologias apresentadas mostram erros em diferentes níveis linguísticos, assim como a frequência com que eles ocorrem nos textos analisados. Porém, nas tipolo- gias apresentadas, ainda faltam outros tipos de problemas, mais específicos e difíceis de tratar, tais como: coesão, coerência, adequação a determinados gêneros discursivos, estruturação do texto, entre outros. As tipologias apre- sentadas fazem uma definição granulada dos erros, que embora, relacionem adequadamente o erro e sua natureza, é difícil distinguir a fronteira que se- para um tipo de erro de outro. Provavelmente, a riqueza no detalhe da clas- sificação dos erros é proveitosa em estudos linguísticos, perdendo clareza na hora de apresentar o erro para um aprendiz que talvez não conhece aspec- tos da gramática da língua estrangeira. Adicionalmente, o detalhamento na categorização dos erros pode ser um problema na anotação dos erros em um córpus de aprendizes, pois às vezes é complexo diferenciar uma categoria da outra. O detalhe na categorização dos erros também reflete em uma ferra- menta computacional, pois pode provocar desbalanceamentos nas categorias de erros. Concluindo, é importante apontar que a tipologia apresentada por Durão (1999) é mais completa e os erros são menos específicos, mas os erros foram produzidos por alunos aprendizes de português como segunda língua e não como aprendizes estrangeiros.

CAPÍTULO

3

Córpus Paralelos e Geração