• Nenhum resultado encontrado

OS SISTEMAS DE INOVAÇÃO

2.3. A Inovação no Algarve: Tentativas de Achar um Rumo 1 Estratégias de Inovação no Algarve

2.3.3. Tipologias de SRI e o Algarve

Apesar do conceito de Sistema Regional de Inovação ser muitas vezes discutível e ambíguo79, Cooke (1998) propôs várias tipologias para os SRI que valerá agora a pena analisar e nelas tentar enquadrar a região do Algarve. No estudo desenvolvido, aquele autor analisou os SRI em várias regiões e enquadrou-as na tipologia proposta80. A tipificação é sempre um exercício útil de forma a entender de forma mais satisfatória alguns dos factores que influenciam o sucesso da inovação regional e do desenvolvimento económico.

Analisaram-se os Sistemas Regionais de Inovação em duas dimensões distintas, cada uma delas com três categorias.

A primeira dimensão foi a dimensão da governança. Nesta dimensão podem existir três tipos de transferência tecnológica: grassroots, network e dirigiste.

Os SRI principiantes (grassroots) são caracterizados por iniciativas locais, financiamento difuso (um ‘mix’ proveniente de bancos, governos locais, câmaras de comércio), pesquisa aplicada ou muito próxima do mercado, um nível baixo de especialização tecnológica e de coordenação local.

Os SRI em rede (network) caracterizam-se por uma transferência tecnológica que pode ser iniciada a diferentes níveis: local, regional, nacional ou supranacional. Consequentemente o financiamento é usualmente acordado entre bancos, empresas e agências governamentais. A pesquisa resulta de um misto entre ‘investigação aplicada’ e ‘pura’ com uma especialização flexível necessitando de um elevado número de empresas de pequena, média e grande dimensão. A coordenação nestes sistemas é geralmente alta, devido ao grande número de stakeholders.

Os SRI dirigidos (dirigiste) são incitados por actuações fora das próprias regiões, em especial pelos governos centrais. A iniciativa das acções é normalmente resultado da política do governo central. O financiamento também é determinado centralmente. O tipo de investigação é básica ou fundamental, orientada para ser utilizada em grandes empresas ou fora da região. O nível de coordenação e de especialização tende a ser muito alto, uma vez que estes sistemas são controlados centralmente.

Para complementar a dimensão da governança surge a dimensão da Inovação Empresarial, que revela a postura das empresas na Economia Regional e nas suas

79 Tal como discutido em Doloreux e Bitard (2005)

relações com o mercado, em particular com o exterior. Esta dimensão também se divide em três tipologias: localista, interactivo e globalizado.

Os SRI localistas (localist) têm poucas empresas grandes, sejam elas regionais ou multinacionais. O nível de investigação das empresas não é alto, mas pode existir uma razoável associação entre as organizações de I&D e os clusters da região. Existem poucos recursos públicos afectos à Inovação e à I&D, mas os recursos privados são ainda mais reduzidos. No entanto pode existir uma boa associação entre empreendedores e decisores políticos regionais.

Nos SRI interactivos (interactive) a economia regional não é dominada por empresas grandes ou por empresas pequenas, mas regista um equilíbrio entre elas. Existe também um equilíbrio entre os organismos públicos e os organismos privados em relação à Inovação, que reflectem a presença de empresas de maior dimensão e de um governo regional interessado em promover uma economia regional baseada na Inovação. Estas regiões caracterizam-se por um nível elevado de associativismo, expresso na existência de redes de investigação, fora e clubes.

Os SRI globalizados (globalized) são dominados por empresas globais ligadas por cadeias de produção aos clusters e às PME locais. A pesquisa científica é privada na sua maioria. O associativismo não está muito presente, e quando existe é conduzido pelas grandes empresas.

Figura 12: Regiões estudadas e seu enquadramento na tipologia proposta [fonte: Cooke (1998: 22)]

Do ponto da vista da Governança temos que analisar os diferentes tipos de iniciativas de inovação em função da sua origem (local, regional ou nacional), da origem do financiamento em I&D (pública, privada, outros), dos tipos de pesquisa (fundamental,

aplicada, desenvolvimento experimental), do nível de especialização tecnológica (elevada ou reduzida) e da coordenação do sistema (local, regional ou nacional e alta ou baixa)

O enquadramento do Algarve apresenta-se do ponto de vista da Governança atípico, como um misto das três tipologias propostas. Tal como o SRI em rede é caracterizado por uma variedade de iniciativas em termos de Inovação, (exemplos como CRIA – regional, iniciativas da ADI – nacional, 6º Programa-Quadro da UE - comunitário), o financiamento é proveniente de diferentes fontes (sendo que o sector público tem uma forte componente) mas é na sua maioria coordenado e decidido centralmente (como um SRI dirigido). Como um SRI principiante, possui um nível baixo de especialização tecnológica e de coordenação local.

Do ponto de vista da dimensão Inovação Empresarial temos de analisar a dimensão das empresas e a sua relação com os mercados (multinacionais, regionais, locais), os agentes que executam o I&D (empresas ou sector público) e o Capital Social entre as empresas (nível de conexão). Aqui a tipificação do Algarve é mais consensual, sendo um SRI localista (localist). Na região não existem muitas empresas grandes, sejam elas regionais ou multinacionais, o tecido empresarial é composto maioritariamente por PME, virados essencialmente para o mercado interno regional. O nível de investigação das empresas é baixo, sendo que o nível de execução do sector público também não é suficiente, apesar de ser superior ao privado. No entanto, existe uma crescente associação entre as organizações de I&D e os clusters da região.

Dimensão da Governança

Característica analisada Perfil no Algarve Presente na tipologia

Iniciativas de Inovação Locais, regionais e nacionais e comunitárias SRI em rede

Origem do financiamento do

I&D Variada mas controlada na maioria centralmente SRI dirigido

Especialização Tecnológica Baixa SRI principiante

Coordenação dos actores Baixa SRI principiante

Dimensão da Inovação Empresarial

Característica analisada Perfil no Algarve Presente na tipologia

Dimensão das empresas PME SRI localista

Relação com o mercado Viradas para o mercado regional SRI localista

Execução do I&D Maioritariamente Pública SRI localista

Capital Social entre empresas Baixo SRI localista

Quadro 2: O Algarve e as dimensões de análise (Fonte: Elaboração Própria)

Esta tipologia de Cooke não consegue enquadrar totalmente o SRI no Algarve. Talvez por insuficiências do quadro teórico mas também pelas singularidades regionais. De qualquer modo é um ponto de vista interessante, que permite aproximar o Algarve da

Toscânia, que possui um SRI comum e localista. Esta é, das regiões analisadas em Braczyc et al. (1998), a mais semelhante ao Algarve se nos cingirmos nas características analisadas.

CAPÍTULO III