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Mapa 9: Condições hidrológicas da bacia no contexto da derivação

2.2 Enquadramento dos canais abertos artificiais quanto a suas formas e

2.2.1 Tipologias de canais abertos

A exemplo dos canais naturais, os artificiais estão enquadrados nas categorias dos escoamentos superficiais, são abertos, conduzindo fluidos concentrados em contato com o ar, a pressão atmosférica, gravidade e inclinação do conduto (CHOW, 1959). O teor desta semelhança varia conforme as características naturais e como foram projetados os canais artificiais. A Figura 3 apresenta tipos de deslocamento da água.

Para os canais naturais, quando alterados, as classificações são, em muitos casos, confusas e sobrepostas. São utilizados termos como artificial, artificializado, degradado e reabilitado, o que é pouco eficiente na identificação e compreensão das formas de apropriações. Entender exatamente do que se trata o canal a ser abordado, sua origem e características é primário na formulação de questões. Portanto, são sugeridos os principais aspectos encontrados, de modo que suas nomenclaturas permitam a inserção de considerações quanto aos estudos técnicos e acadêmicos:

 Canal natural sem intervenções: A origem do fluxo, o perfil longitudinal e sua morfologia, independem da ação humana, constituem habitats ecossistêmicos primários, sendo reativos às condições naturais, como clima, geologia, geomorfologia e vegetação (MONTGOMERY, 1999). Estes componentes dificultam avaliá-los, com precisão, quanto à hidrógrafa, sedimentos transportados, turbidez e velocidade, embora tais elementos sejam imprescindíveis à sua compreensão. Os estudos são diversos, entre os quais estão aqueles que vão ao encontro da origem dos canais (IMAIZUMI et al., 2010), comportamento hidráulico e hidrológico (PINTO, 1976; TUCCI, 2002), implicações geomorfológicas (DOLLAR,

2004; HARDY, 2006; STOTT, 2010), dos habitats (HAJDUKIEWICZ et al., 2015), entre outros temas ambientais e de planejamento;

Figura 3: Principais tipologias do deslocamento da água, na fase terrestre do ciclo hidrológico – ênfase para os canais abertos artificiais

Fonte: elaborado pelo autor

 Canal degradado: Condições em que o canal natural sofre impactos que prejudicam dinâmicas ecossistêmicas e fluviais, como contaminação, assoreamento e erosão (SHELLBERG et al.,2012), depredação da fauna e supressão da flora, principalmente ligados à zona riparia (GREENE; KANOX, 2014). Como exemplo, o desvio, ou tomada de água, pode desencadear alterações nos cursos naturais, degradando suas condições pré-existentes, gerando desequilíbrios por falta de planejamento, onde os interventores assumem postura imediatista, predatória e danosa;

 Canal artificializado: A princípio, se considera que todos os tipos de intervenções, nos canais naturais, são degradantes de seu estado original, os tornando artificializados. Contudo, é necessário distinguir se o impacto é consequente de ações desvinculadas de planejamentos (degradação) ou se as intervenções foram realizadas para que suas novas configurações atendam demandas planejadas (artificialização). Para o primeiro caso, se entende que ocorre a perda da capacidade de gerir os canais e os danos são difíceis de serem previstos, mensurados e mitigados. Por outro lado, cenários em que os canais são dragados, retificados, impermeabilizados, entre outras ações planejadas, ocorre a artificialização a qual costuma ser acompanhada de planos de gestão e mitigação dos impactos previamente sugeridos (OLSON, 2011; ALMEIDA e CARVALHO, 2010). Para estes casos as demandas de estudos são bem distintas, pois enquanto os canais degradados demandam diagnóstico e reabilitação, os artificializados necessitam de levantamentos de suas capacidades e dos impactos que promovem (STANFORD et al,1996), principalmente a jusante do trecho de intervenção;

 Canal em reabilitação: Tendo sido rompidas as condições de equilíbrio de um canal natural, as dimensões degradadas ou artificializadas podem receber restaurações, com foco na recomposição das condições originais do curso fluvial (BORG, RUTHERFURD; STEWARDSON, 2007; MCBRIDE, HESSION; RIZZO, 2008; CAMPANA et al,2014). Em projetos de engenharia hidráulica e geomorfológica é possível encontrar planos de reabilitação que emulam, no canal, certos níveis das condições naturais, como a forma, velocidade e propensão ao desenvolvimento da fauna e flora (CHRISTODOULOU, 2013; BRESSAN; WILSON; PAPANICOLAOU, 2014; CASSAN et al, 2014);

 Canal artificial: É comum encontrar canais naturais, em condição artificializada, nomeados como artificiais. Contudo, para estudos e projetos, é pertinente definir como artificiais os canais que, não existindo

naturalmente, foram construídos para algum serviço. Apresentam geralmente formas regulares, rugosidades atenuadas, podendo possuir superfícies impermeabilizadas com lonas, concretos, madeira ou outros materiais (SHAACK, 1986; KHAIR, NALLURI; KILKENNY,1991; MURRAY-RUST; VANDER VELDE,1994). Estes canais são construídos fora do fundo de vale, alterando dinâmicas tanto dos sistemas hidrológicos, quanto dos processos nas encostas. Se abandonados tendem a perder seu papel, desaparecendo frente às pressões pelo retorno das condições naturais.

A Figura 4 representa cada um dos canais exemplificados, onde muitos dos elementos pertencem a diferentes ambientes de drenagem ou a estágios de uso e ocupação. As terminologias indicadas se referem dos estados naturais à formação de linhas artificiais. Embora as representações indiquem condições específicas, cada uma delas corresponde a um estágio de um processo gradativo, no qual a velocidade de alteração se relaciona com a capacidade de interferência humana.

Cada tipologia tem sido tratada a partir de um conjunto de proposições investigativas, evidenciando a necessidade de definir o canal que se pretende estudar para o uso correto de abordagens e técnicas. No caso dos canais abertos artificiais, os focos das suas abordagens costumam ignorar demandas ambientais, perdendo a possibilidade de receberem contribuições, a partir de estudos dos outros canais apresentados.

As adequações de canais para que emulem condições naturais, qualidade da água, velocidade, turbilhonamento dos fluxos e habitats (STANFORD et al, 1996) podem ser inseridas em estudos dos canais derivados multifuncionais, comparando se os mesmos possuem características em comum com os cursos naturais as eles próximos.

Figura 4: Canais abertos, exemplos de configurações