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Mapa 9: Condições hidrológicas da bacia no contexto da derivação

2.2 Enquadramento dos canais abertos artificiais quanto a suas formas e

2.2.3 Vigência dos estudos sobre canais abertos artificiais e artificializados

Em meados do século XX, como sugere Einstein (1956), a manutenção dos canais abertos artificiais era onerosa e foram estabelecidos estudos para tornar tais sistemas mais eficientes no atendimento de quesitos referentes ao custo/benefício. A lógica econômica se manteve como o principal escopo de estudos, manuais e relatórios ligados a canais de irrigação, drenagem, transposição e navegação.

Canais de drenagem rural, rodoviária, esgotos e controles de inundação.

Enquanto nas vias não pavimentadas são desenvolvidos sistemas de dissipação da energia dos fluxos superficiais, como visto em Cunha et al (2013), nas estradas pavimentadas, as valas e drenos são propostos em manuais e normas técnicas para evitar danos relativos à ação dos processos erosivos (BRADY et al 2014). Em áreas propensas a enchentes, como ambientes litorâneos ou associados com a má drenagem superficial, podem ser construídos canais de inundação (WILLIANS, 1990). Já Wong e Kondolf (2012) mostraram os problemas relativos à configuração dos canais de controle de cheia e o transporte de sedimentos nestas estruturas, mantendo o foco geral das pesquisas voltadas à eficiência dos serviços.

Os drenos agrícolas, se comparados a outros canais abertos artificiais, estão na dianteira de estudos hidrogeomorfológicos, assumindo seu papel na alteração das formas superficiais e da circulação superficial (ROBINSON, 1990). Nos canais naturais, as conexões com os drenos respondem por mudanças significativas na dinâmica hidrossedimentar. Nos períodos chuvosos ocorre a recepção de volumes excedentes, dada a canalização das áreas úmidas. Já na seca a drenagem acelerada, causa redução da disponibilidade hídrica uma vez que os fluxos são rapidamente esgotados (ABDEL-DAYEM; EL-SAFTY, 1993). Canais de Navegação

Possuem paralelos em canais naturais e, dada sua importância para economia, soberania nacional, transporte e lazer, são analisados em manuais técnicos de navegação e gestão do território. Nestes casos, são vistos trabalhos como de Rosati e Kraus (2009) que descrevem o papel da engenharia no desenvolvimento de sistemas seguros para navegação (portos, canais,

hidrovias). Por sua vez, Gray et al (2003) e El-Sersawy e Ahmed (2005) sugeriram melhorias na navegação em canais por alterações morfológicas e na gestão das embarcações.

Embora não seja comum encontrar discussões sobre o destino dos materiais retirados desses canais, Bennion e Manny (2011) revelaram que dragagens, retificações e remoções de bancos de areia, causam danos ecológicos, nos habitats e no nível lacustre. Já Igrecias (2009) observou a influência do canal de navegação de Pereira Barreto (Estado de São Paulo – Brasil) na qualidade da água do rio São José dos Dourados. Esses exemplos reforçam que não se deve negligenciar o potencial destes canais em alterar as condições ambientais. Canais de transposição

Transposições entre bacias costumam se valer de aquedutos para atenderem projetos de irrigação, indústrias e centros urbanos. Nos países em que são comuns, como os Estados Unidos da América, Canadá, Espanha, Peru, China, México, as informações disponíveis estão atreladas às agências governamentais. Um exemplo válido é o Colorado River Aqueduct (CRA) que, segundo a Los Angeles Country Waterworks Districts (LCWD), atende 26 cidades. Os estudos referentes a este projeto estão voltados à eficiência do serviço, custos e impactos socioeconômicos (NEWLIN et al, 2002; ZETLAND, 2009; ZETLAND, 2011).

No Brasil, estes sistemas são alvos de pesquisas socioeconômicas, de engenharia, disponibilidade hídrica, salinização dos solos e à ictiofauna (SOUZA; RIBEIRO 2004; FILHO; BUCKUP, 2005, NEVES; CARDOSO, 2009). Quando aparecem, os elementos da Geografia Física, servem a viabilização de projetos, para construção de acessos e eclusas, como no caso do “Manual de Diretrizes para estudos de arranjos de obras de transposição (2012) ”. Este exemplo

enfatiza a falta de discussões densas sobre os efeitos destes canais na circulação superficial, subsuperficial e das mudanças na paisagem de maneira especial nas formas de relevo.

No caso da transposição do São Francisco, o Relatório de Impacto Ambiental (2004), Castro (2011) e Stolf et al (2012) discutiram as alterações hidrossedimentológicas e o desenvolvimento de formas erosivas com foco nos

cursos naturais. Entretanto, o mesmo não acontece para os impactos ao longo da construção do canal artificial. Nesses, são apontados questionamentos para fauna e flora, mas não para o risco de erosão, interrupções de fluxos e outras questões. A Figura 6 apresenta um caso de rompimento na transposição do rio São Francisco (Nordeste do Brasil), onde processos erosivos foram potencializados pelos fluxos.

Figura 6: Rompimento de um canal de transposição, processos erosivos correlacionados a este episódio

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Nóbrega (2017) Canais de irrigação

Seus estudos focam na eficiência, viabilidade econômica, na melhoria do comportamento hidráulico, transporte e distribuição da água, de maneira que a forma dos canais e a possibilidade de revesti-los tem sido trabalhada para amenizar as perdas por infiltração ou rompimento (ex, SHAACK, 1986; PAUDYAl et al, 1991; SNELL, 2001; SMITH; GILLIES, 2010). A eficácia na captação de água é fundamental por permitir a otimização do uso dos volumes disponíveis, (WOLTERS et al, 1987; RIJO; PEREIRA, 1987; RENAULT, 1988; MURRAY- RUST; VANDER VELDE, 1994), se direcionam esforços para o monitoramento das vazões e melhoria nas suas partilhas (ex, BHUTTA; VAN DER VELDE, 1992; REPLOGLE 1997; KOUCHAKZADEH; MARASHI, 2005; WAHL et al, 2005). Os estudos sobre os depósitos sedimentares e as vazões focam na resolução de problemas para a eficiência dos serviços, pelo assoreamento e deposição que alteram a velocidade e o volume de água (ex, BAKRY, 1992; BAKRY, 1994;

LAWRENCE; ATKINSON, 1998; DEPEWEG; MENDEZ, 2002). Existindo, inclusive, estudos que tratam da modelagem para transporte de sedimentos (ATKINSON, 1989; BELAUD,1996; PAUDEL et al 2014)

A gestão dos envolvidos nos projetos de irrigação é alvo de estudos, já que a desconexão entre projetistas e agricultores origina sistemas ineficientes, cuja disponibilidade hídrica pode ocasionar conflitos entre os usuários (ex. VERMILLION, 1990; OAD; KING, 1991). A participação da comunidade revela suas demandas, define as áreas de implantação, rateiam custos, planificam a manutenção e contornam conflitos (ex. SIJBRANDIJ; VAN DER ZAAG, 1993; DAYTON-JOHNSON, 1999). É interessante notar que alguns estudos apresentam reflexões sobre o papel ecológico dos canais, como habitats, a partir de conceitos disseminados por pesquisadores da ecotecnologia, como no uso da vegetação para emulações ecossistêmicas e de filtragens (ODUM; ODUM, 2003; SHIH et al, 2011).

Canais derivados multifuncionais

Pelos esforços classificatórios são realçados os canais derivados multifuncionais, sobretudo os menores e rústicos, muitas vezes despercebidos nas paisagens, por serem confundidos com outras estruturas, artificiais ou com cursos naturais (SILVA; RODRIGUES, 2015). Para pesquisadores e gestores o principal fator do negligênciamento se dá por não serem estes canais considerados causadores de mudança significativas nos ambientes ou de importância econômica.

Do ponto de vista das investigações, os poucos estudos encontrados, tratam de definições para seus serviços, algumas abordagens culturais (HILL, 2014), sociais (SCHMIDT, 2008) e tratamentos que, equivocadamente, os limitam às funções de irrigação (RAINA; DANGA, 2010), quando na verdade apresentam funções variadas (SILVA; ALLAN SILVA, 2012). Para Hill (2014) os escassos estudos sobre o tema não têm se preocupado com questões ambientais, mas sim técnicas (ver LABBAL, 2000; SCHMID, 2000; SCHMIDT, 2004). É portanto, este fato um motivador para que novas pesquisas tragam informações pertinentes a questões ligadas à Geografia Física, para uma melhor gestão das derivações multifuncionais presentes em paisagens pelo mundo.

2.3 Possibilidades de contribuições da antropogeomorfologia e