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Na medida em que o produtor rural vai incorporando insumos, implementos, maquinário e benfeitorias na sua atividade, ele migra gradualmente de um circuito mercantil para um circuito monetário. Tanto a jusante como a montante, a dinâmica da economia monetária irá orientar o processo produtivo. Para modernizar sua base técnica e realizar o ciclo da safra até a disponibilização dos produtos, em preços compatíveis aos do mercado e conforme as exigências fitossanitárias em vigor, há necessidade de liquidez para implementar as mudanças na base técnica da produção.

Além da necessidade, mais pragmática e de curto prazo, de antecipação de receitas para validar os compromissos com fornecedores e empregados, o crédito rural é o mecanismo econômico que fornece liquidez ao produtor para a mudança de base técnica, ou melhor, para modernização agrícola, e conjuntamente, a redução dos riscos climáticos e da conjuntura econômica, como as oscilações de preço.

É o acesso ao crédito que irá permitir ao produtor obter antecipadamente o capital necessário de longo prazo, para investir na modernização de sua atividade, compensando a descontinuidade entre os períodos de produção, e o capital de curto prazo, para custear a descontinuidade dentro do período de produção. Daí provém os créditos por finalidade, recursos destinados a aplicações de curto, médio e longo prazos.

O crédito11 para investimento são recursos de médio e longo prazos (com reposição

acima de um ano) “que introduz ou amplia o uso de técnicas mais produtivas alterando, em

11 Conforme a definição de Accarini (1987), o crédito realizado por intermediadores financeiros, como é o caso do crédito rural operado pelos bancos, corresponde “a um valor, chamado de principal, obtido por período de tempo determinado, mediante o pagamento de encargos financeiros que incluem comissões, ágios, impostos e, sobretudo os juros, ou seja, a remuneração do principal. Para caracterizar uma operação de crédito é necessário um financiador (supridor ou mutuante), um tomador (mutuário), que é o produtor, além de finalidade, valor, prazos, garantias e encargos financeiros” (ACCARINI, 1987, p.152).

geral definitivamente, os ganhos de produtividade da terra e do trabalho” (FÜRSTENAU, 1987, p.144), ou seja, incorpora no processo produtivo inovações que aumentam de forma permanente a produtividade do setor. Sistemas de irrigação, pastagens artificiais, melhoramento genético dos rebanhos, seleção de matrizes e mudas, são algumas inovações com retornos em longo prazo que agregam ganhos de produtividade de forma permanente. A aquisição de bens de capital transfere valor para os produtos agropecuários finais lentamente, ao longo do período de duração útil do investimento e por isso tem a reposição dos financiamentos também em longo prazo.

O crédito de investimento divide-se em: a) investimento fixo, ou seja, investimentos que se incorporam a propriedade não sendo possível seu deslocamento para outras atividades ou locais (formação ou reforma de pastagens, eletrificação, construção de benfeitorias, etc.); e b) investimento semifixo, ou seja, bens que possuem mobilidade produtiva, como por exemplo, máquinas, equipamentos, veículos e animais.

Já o crédito para custeio é destinado a financiar o produtor na compra de insumos, despesas no preparo da terra, plantio e colheita. Ele atende aos custos de produção durante o ano-safra, refletindo o curto prazo de reposição dos valores emprestados, normalmente até um ano. Financiam o custo com mão-de-obra e insumos, como fertilizantes, defensivos químicos, combustíveis, rações, sementes, mudas, etc., que geram incremento de produtividade no curto prazo, não refletindo seus resultados nas safras futuras. O financiamento para custear insumos criou importantes nexos intersetoriais com a indústria química e petroquímica a montante da produção rural e com a indústria de alimentos a jusante.

O crédito para comercialização compreende aquele destinado a pré-comercialização, desconto de títulos e a Política de Garantia de Preços Mínimos.12

As linhas de crédito, destinadas a investimento, custeio e comercialização podem conter condições diferenciadas conforme o perfil do produtor rural ou a região socioeconômica em que este se encontra. Os encargos financeiros aplicados no empréstimo podem ser diferenciados conforme o porte (mini, pequeno ou médio) econômico do produtor, relacionado à sua renda bruta anual agropecuária. Desta forma, ele poderá contar com menores taxas de juros ou outra condição mais favorável que aquelas oferecidas a produtores de maior porte, como prazos de reposição maiores ou exigências de garantias menores.

12 Além das modalidades de custeio, investimento e comercialização nas linhas normais do Manual de Crédito Rural (MCR), existiam programas especiais de crédito com diferentes condições de empréstimos. Alguns deles: Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP), Programa Nacional do Álcool (Proálcool), Programa Nacional de Armazenagem (Pronazem), Programa de Irrigação do Nordeste (Proine), etc (FAGUNDES, 1987).

Essa diferenciação pode se basear por região, privilegiando com menores exigências regiões mais carentes em detrimento das mais desenvolvidas. Como também podem ser conjugados os dois critérios na mesma linha de financiamento, tanto o porte como a região do produtor. A discriminação entre produtores se preocupa com o aspecto distributivo do crédito e tenta reduzir a concentração do crédito em agentes que possuem maiores condições de atender as exigências bancárias.

Conforme as pretensões econômicas da política agrícola, esta pode dar maior atenção a determinado tipo de crédito. Caso a intencionalidade da política seja a modernização da produção agrícola via insumos, resguardando os interesses da indústria química – produtora de defensivos, fertilizantes, etc., haverá maior disponibilidade de recursos ou facilidades de acesso à linha de custeio. Já o foco no crédito de investimento prioriza mudanças estruturais no agropecuário, favorecendo também a indústria produtora de máquinas e implementos. É possível favorecer diferentes rotas de desenvolvimento.