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Tipos de estresse

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2 – A CRIANÇA ACOLHIDA: PRIVAÇÃO EMOCIONAL E ESTRESSE

2.3 O processo de estresse e seus sintomas

2.3.2 Tipos de estresse

Na perspectiva de Lipp e Lucarelli (2005), o estresse pode ser agudo, pós-traumático, crônico e recorrente. O estresse agudo ocorre após uma situação que normalmente consideramos traumatizante,

este tipo de estresse permanece por um período limitado de tempo e depois a pessoa volta a um estado de equilíbrio.

No que tange ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), o conceito de trauma é essencial para sua compreensão. Ele é gerado a partir de uma situação na qual houve ameaça à vida ou à integridade física pessoal ou de outras pessoas com vínculo familiar (pais, irmãos, etc). Muitas vezes, tais situações não são diretamente relacionadas à pessoa, mas ela presencia os eventos estressores, ou seja, os eventos estressores são fenômenos de ordem pessoal, individual ou decorrente do meio ambiente.

Além disso, a própria pessoa vive o trauma. Ele aparece depois de experiências com estímulos externos suficientes para desencadear eventos psicológicos e neurobiológicos relacionados, por exemplo: assalto, morte, sequestro, guerra, desastres, catástrofes da natureza, etc. Neste tipo de estresse, a vítima revive o trauma original. Este tipo de estresse é diagnosticado quando o sintoma permanece após um mês depois de o evento estressor ter ocorrido.

Quanto ao quadro clínico do TEPT, Câmara Filho e Sougey (2001) distinguem três grupos de sintomas: a existência da reexperiência do trauma, esquiva e distanciamento emocional e hiperexcitabilidade psíquica. Na reexperiência traumática o indivíduo revive a situação traumatizante, não conseguindo deixá-lo no passado, como se o tempo se paralisasse no momento do trauma. Os pensamentos, de forma intrusiva e recorrente, carregados de afeto e emoção, voltam-se continuamente para as lembranças relacionadas ao trauma, gerando muita angústia e sofrimento. Estas lembranças, que não passam com o tempo, surgem de forma involuntária ou quando algum pequeno estímulo surge; desta forma as lembranças traumáticas são reavivadas na memória com intensidade similar à situação original, ou seja, a vítima revive a situação como se tivesse ocorrendo no presente.

A reexperiência, segundo os autores, também pode ocorrer sob a forma de sonhos aflitivos, pesadelos cotidianos e, não raramente, os pacientes sentem medo de ir dormir. As alucinações visuais e auditivas são frequentes, revelando sua natureza dissociativa. Outro fenômeno refere-se à ação que leva a reexposição compulsiva aos eventos traumáticos, cuja semelhança ao trauma original é perceptível. Como exemplo, podemos citar pessoas que sofreram violência doméstica quando crianças e escolhem relacionamentos afetivos, que de certa forma, repetem o padrão vivido anteriormente na casa dos pais.

Em relação à esquiva e distanciamento emocional, surge um mecanismo intenso de defesa, com o qual, a vítima tenta evitar ao máximo as lembranças referentes ao trauma, inclusive negando-se a conversar sobre o ocorrido e se envolver em situações e atividades que lembrem o trauma, evitando a todo custo sentir angústia. Para tanto, a vítima pode fazer uso de álcool/drogas ou intensificar

atividades como o trabalho, sexo, etc. Em alguns casos, a pessoa apresenta uma amnésia seletiva ou psicogênica. Para os autores, a vítima passa a ficar atenta aos estímulos estressores ligados ao trauma, ocupando um lugar central em sua vida, e acaba evitando envolvimentos em situações até consideradas prazerosas, procurando não pensar no assunto, com a finalidade de não sentir dor. Quando esta estratégia não é atingida, o comportamento de esquiva intensifica-se gerando até comportamentos fóbicos e impulsivos. Deste modo, o indivíduo evita participar de eventos sociais significativos, isolando-se. O importante é não sentir nada, não planejar, não pensar, anestesiar-se.

Na hiperexcitabilidade psíquica existem sintomas correlatos do sistema nervoso central e autônomo, não apenas ligados aos estímulos traumatogênicos, mas como reflexo de uma excitação fisiológica extrema em resposta a uma variedade ampla de estímulos. Quando o indivíduo percebe os estímulos estressores, as reações podem ser de taquicardia, ansiedade, falta de ar com respiração rápida, sudorese, tonturas, cefaléias, dor de estômago, extremidades corporais abaixo da temperatura normal (frias), insônia, irritabilidade, comportamentos explosivos e impulsivos etc.

As pessoas que apresentam estes sintomas estão sempre atentas, alertas, em posição de guarda, são pessimistas e sentem uma sensação de aniquilação; generalizam o medo sentido, espreitam o meio ambiente a todo o momento procurando sinais que a ameacem. O mundo é percebido como um lugar perigoso e inseguro. Os pacientes revelam dificuldade em discriminar estímulos, assustando-se facilmente, ao som de barulhos ou sons altos.

O surgimento do estresse crônico está relacionado à exposição recorrente e permanente do estímulo estressor na vida e na história do indivíduo e pode evoluir para processos mais graves. No que se refere ao estresse recorrente, o mesmo tem relação com temas de vida que se repetem muitas vezes há a sensação de extrema fragilidade diante da vida. Ele é diferente do estresse cotidiano, pois este pode ter estímulos diferenciados, já o estresse recorrente é um estímulo que se repete, como por exemplo, a violência, rejeição, traição, etc. Existe também a tendência da pessoa que sofre de estresse recorrente se envolver em situações que reproduzem os temas de vida estressante, como se ela mantivesse o mesmo script, como no caso de vítimas de violência doméstica, que reproduzem temas específicos de violência, revivendo-os ora como vítima, ora como agressor (a).

Deste modo a violência doméstica gera estresse e na perspectiva de Winnicott (1999, p. 151): O estresse surge a partir de fracasso relativo ou total do suprimento ambiental. Essas deficiências podem ser descritas em termos de inconfiabilidade, destruição da confiança, interferência da imprevisibilidade, e um padrão definitivo ou repetitivo de quebra da continuidade da linha da vida da criança individual.

Diante das colocações acima, é fundamental estudos que estimulem investigações direcionadas ao fenômeno da violência doméstica e o estresse subseqüente, visto as grandes consequências negativas geradas à saúde mental dos indivíduos, com vistas a prevenir sua ocorrência no seio familiar, propondo estratégias geradoras de saúde para a família e também para toda rede que atende a família.

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