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Tipos de interação na construção conjunta do conhecimento

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.6. Construção da ferramenta de análise

4.6.4. Tipos de interação na construção conjunta do conhecimento

A fim de fortalecer a compreensão da contribuição de cada parceiro para o diálogo e a dimensão interacional na construção conjunta do conhecimento, utilizou-se como ferramenta de análise o instrumento desenvolvido por Mercer (2000, 1997, 1996). Esse autor construiu um instrumento analítico para representar as formas dos estudantes, sujeitos da sua pesquisa, conversarem para resolver problemas. Esse instrumento distingue três tipos de conversas:

disputativa, acumulativa e exploratória46. Em sua proposta, cada tipo de conversa representa um modelo de uma “forma social característica do pensamento”, útil para entender de que forma as pessoas utilizam as conversas reais para pensar conjuntamente (MERCER, 1997, p. 116). Cada tipo de conversa é descrito a seguir:

Conversa acumulativa:

Por meio desse tipo de interação os interlocutores constroem o diálogo de forma positiva, porém não crítica. Os parceiros utilizam a conversa para construir um conhecimento

comum mediante a acumulação. O discurso se caracteriza pelas repetições, confirmações e

elaborações.

Nesse tipo de conversa operam melhor as relações de solidariedade e confiança tendo como regra a confirmação das ideias alheias.

Conversa disputativa:

É caracterizada por um desacordo entre os indivíduos com decisões individuais. Há poucas tentativas em reunir recursos ou oferecer críticas construtivas às sugestões. O discurso é caracterizado por trocas breves que consistem em afirmações e contra-afirmações. Nesse tipo de conversa os indivíduos expressam uma postura mais defensiva ou competitiva.

Conversa exploratória:

Esse tipo de conversa é caracterizado pelo engajamento crítico e construtivo dos interlocutores sobre as ideias uns dos outros. Informações e sugestões são oferecidas para serem consideradas conjuntamente. Propostas são defendidas e podem ser desafiadas, mas de forma que as razões sejam expostas e alternativas sejam oferecidas. Os pontos de vista são considerados e avaliados podendo levar a um entendimento conjunto. O conhecimento se justifica mais abertamente e o raciocínio fica mais visível na conversa.

46 Do inglês: disputational talk, cumulative talk, exploratory talk. Adotamos a nomenclatura usada em outros

textos nacionais, como em Padilha (2008) ou em: GIORDAN, M. O Computador na Educação em Ciência: breve revisão crítica acerca de algumas formas de utilização. Ciência e Educação, v.11, n.2, p.279-304, 2005.

Nota-se que os três tipos de conversa estão relacionados a diferentes formas de o indivíduo orientar seu intelecto em relação ao outro. Segundo Mercer, na conversa acumulativa a linguagem é usada pelos sujeitos na construção de uma identidade conjunta, de uma perspectiva compartilhada e intersubjetiva do tópico da conversa na qual as diferenças individuais e de percepção ou julgamento são minimizadas. Por outro lado, na conversa disputativa os sujeitos trabalham para manterem suas identidades separadas, protegendo a individualidade. Já na conversa exploratória, as diferenças são tratada explicitamente como tema de exploração mútua e avaliação raciocinada (MERCER, 2000, p.102).

As três categorias também expressam níveis diferentes quanto à promoção da construção compartilhada de conhecimentos. Na conversa disputativa os sujeito não elaboram justificativas e nem abrem mão de suas posições, colocando-se como donos do conhecimento, o qual se apresenta acabado. Essa postura não oportuniza a construção conjunta de conhecimentos. Diferentemente, na conversa acumulativa os conhecimentos são compartilhados e somados podendo resultar em compreensões comuns mais amplas. Já na conversa exploratória os questionamentos e justificativas permitem maior reflexão e elaboração do conhecimento. É interessante observar que a capacidade de justificar, argumentar e sustentar um ponto de vista, habilidades relacionadas à conversa exploratória, são habilidades cada vez mais valorizadas no campo educacional, em especial no contexto das pesquisas em ensino de ciências, por isso a conversa exploratória é mais valorizada em relação à aprendizagem.

Mercer (1997) ressalta que as conversas reais são complexas e que não se espera que essas categorias codifiquem de forma clara e separada qualquer conversa observada, mas sim, que sejam modelos de formas de interação social que nos ajudem a compreender como as pessoas constroem conhecimento de forma conjunta.

Nós não tínhamos nenhuma intenção em reduzir a conversa em um registro categórico, porque tal movimento à abstração dos dados poderia não manter o envolvimento crucial com a natureza dinâmica e contextualizada da conversa que está no coração da nossa análise sociocultural do discurso. Em vez disso, a tipologia oferece uma estrutura de referência útil para compreender a variedade de conversa. (MERCER, 2004, p.146, tradução nossa)

O autor ressalta ainda em relação à pesquisa, que as conversas analisadas entre duas pessoas são amostras da “longa conversa” entre elas. Conforme as interações comunicativas entre duas pessoas se desenvolvem, elas passam a ter progressivamente mais conhecimento em comum, o qual passa a ser tratado como conhecido entre eles. Isso pode acrescentar uma dificuldade de interpretação das conversas por parte do analista, pois apesar da conversa não

ficar menos clara para os interlocutores, para o analista, que “chega” em um determinado ponto dessa “longa conversa”, poderá faltar conhecimento contextualizado da história que permita uma interpretação adequada (MERCER, 2000, p.175).

Usando as lentes da ferramenta analítica de Mercer poderemos compreender melhor as formas de interação engendradas pelos nossos sujeitos durante a visita à exposição, se eles agem de forma colaborativa ou competitiva e se há uma reflexão crítica ou se predomina a mútua aceitação de ideias. A construção conjunta do conhecimento pelos sujeitos, se houver, será ainda melhor qualificada com a análise das operações epistêmicas que os visitantes utilizam como recursos no diálogo.

Sintetizando o conjunto de categorias de análise nas duas abordagens temos:

Operações epistêmicas

 Afetividade

 Apontamento

 Nomeação

 Caracterização

 Conexão com a vida pessoal

 Conexão com o conhecimento

 Suposição

 Explicação

 Generalização

Tipos de interação na construção conjunta do conhecimento

 Conversa Acumulativa

 Conversa Disputativa