• Nenhum resultado encontrado

O primeiro ponto a ser ressaltado sobre a metodologia utilizada diz respeito ao fato de que essa pesquisa possui um caráter etnográfico, pois buscou-se uma imersão no campo de pesquisa, ou seja, fazer parte dele, participar.

Embora o foco da pesquisa sejam as professoras e não as crianças, percebo que a professora no cotidiano da educação infantil deve ter uma postura que respeita e valoriza a produção cultural infantil e que busca participar com elas dessa elaboração de conhecimentos sobre o mundo. Ou seja, vivenciar essas experiências das crianças é estar junto em suas brincadeiras, permitindo-se brincar com elas, construindo uma relação de saberes horizontais.

Por isso, para capturar as práticas e mediações pedagógicas em torno do uso da televisão, essa pesquisa propôs realizar uma observação participante, inspirada nos estudos do tipo etnográfico. Além de se constituir num estudo de caso, pois se tem como intenção analisar profundamente uma unidade de educação infantil, sendo que a pesquisa de campo aconteceu em uma unidade de Educação Infantil municipal de Florianópolis, que se constitui como uma parte de um total de 87 unidades. Além disso, entendemos que a pesquisa apresentou também alguns traços de uma pesquisa-ação e de pesquisa-intervenção. Ambas se entrelaçam, pois uma pesquisa-intervenção planeja ações, mas se constitui também numa pesquisa-ação por buscar constituir-se como um processo compartilhado onde todos os envolvidos analisam, refletem e pensam em possibilidades para o problema de pesquisa.

Para qualificar o trabalho e ampliar o olhar da pesquisadora, foram utilizados vários instrumentos metodológicos, como o diário de campo, um questionário, fotografias e filmagens. O diário de campo foi utilizado para registrar as observações, refletindo em relação às ações, interações, práticas pedagógicas, concepções, entre outros. O questionário foi elaborado com base num roteiro elaborado pelo NICA (GIRARDELLO e OROFINO, 2001) e que foi utilizado também em

21 Os 3p’s são os direitos das crianças a Proteção, Provisão e a Participação. Sendo que autores como Buckingham (2007) e Sarmento percebem uma ênfase no direito a proteção e uma ausência da participação.

outras pesquisas do grupo, como as de Munarim (2007) e Souto-Maior (2005). As fotografias possibilitaram o registro e o acesso à materialidade dos espaços e os sinais de interação humana que neles são percebidos, indicando concepções de infância, práticas culturais e princípios que sustentam o trabalho cotidiano com as crianças. (KRAMER, 2009)

Pretendia-se utilizar como técnica para preservar a identidade das crianças mencionadas na pesquisa a escolha pela própria criança do nome com que seria identificada na pesquisa, método já utilizado em diversas outras pesquisas em nosso contexto, como as de Iracema Munarim (2007) e Elaine de Paula (2007). No entanto, as observações contemplaram crianças muito pequenas, o que impossibilitou à pesquisadora desenvolver essa dinâmica de escolha para seus nomes. A técnica, portanto, foi utilizada apenas com os adultos envolvidos na pesquisa.

Assim, tendo definido a opção metodológica e seus instrumentos, o próximo passo seria a escolha do “caso” para a investigação. O ambiente escolhido foi o NEI Coqueiros, da rede municipal da cidade de Florianópolis. A escolha por essa unidade se deu pela proximidade, tanto física, quanto pessoal. Física por facilitar minha mobilidade até a unidade, e pessoal por ter frequentado esse espaço em dois momentos distintos, como professora e como assessora pedagógica da unidade. Contudo, essa proximidade, ao mesmo tempo em que pode ser facilitadora - por oferecer a vantagem de eu conhecer os espaços e os profissionais, facilitando o aceite do grupo a ser pesquisado - pode ser complicadora para o desenvolvimento da pesquisa, pois a familiaridade com o pesquisado pode dificultar o estranhamento necessário, como pontua Silva (2010), entendendo que “pesquisar o cotidiano nada mais é do que revelar aquilo que permanece encoberto pela familiaridade sob uma camada tênue e tenaz de “entranhamento” (SILVA, 2010, p.14).

Silva (2010) ressalta que, nesse processo de pesquisar, a metodologia precisa passar por três fases: o estranhamento – desenvolver um novo olhar, a partir do olhar do outro, deixando de lado pré-conceitos; o entranhamento – um processo de empatia, vivenciar o universo do outro; e por fim o desentranhamento – o pesquisador estabelece uma relação dialógica entre seus saberes e os saberes do outro. E assim “pesquisar é fazer vir à tona o que se encontra, muitas vezes, praticamente na superfície do vivido.” (idem, p.15)

Muitas das pesquisas que conhecemos realizadas sobre a criança e a televisão, como Buckingham (2007), Girardello (1998),

Girardello e Orofino (2009) escolhem como campo de pesquisa a escola, sendo menos frequentes as pesquisas sobre essa temática que são realizadas no espaço da educação infantil, como as de Pereira (1999), Munarim (2007), Ferreira (2004), Souto-Maior (2005). E mesmo assim, essas pesquisas optam por crianças maiores, a partir de 3 anos de idade. Assim a escolha por um NEI se fez na possibilidade de acompanhar mais de um grupo de crianças e assim abranger também as crianças com menos de 3 anos. Além de possibilitar o acompanhamento de todo o cotidiano, de entrada e saída das crianças, já que as crianças ficam nesse espaço das 07:00–13:00 ou das 13:00-19:00. Por isso foi possível participar de um grupo no período matutino e outro no período vespertino. Um grupo de 0-3 anos de idade e outro de 3-6.

Assim, com essa metodologia busquei observar, interpretar, escrever, sentir, fotografar, filmar ou falar:

sobre o outro a partir de um determinado lugar em que, como pesquisadora, posso ver e ouvir. O lugar de onde falo, de onde vejo ou escuto determina aquilo que apreendo e compreendo do outro. Meu lugar de adulto, pesquisador, homem ou mulher, pessoa que brinca ou ri, minha etnia, as condições sociais em que nos situamos – pesquisador e pesquisados -, nossas histórias com escola, professores e crianças – engendram sentidos possíveis, esses fios que tecem o entendimento (KRAMER, 2009, p. 173).