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LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

TOMBAMENTOS E LEGISLAÇÃO INCIDENTE

No Brasil a preocupação com a proteção do patrimônio histórico nacional, surge com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN – instituído pela Lei nº 378 de 1936. Nos primeiros trinta anos de sua existência, período que compreende os anos de 1937 a 1967, foram preservados majoritariamente exemplares arquitetônicos isolados no Município de São Paulo. O tombamento de obras como a Capela de São Miguel e o Mosteiro da Luz datam deste período.

Posteriormente surgem as leis Federal nº 14/73 e Estadual nº 94/74 que instituem os Serviços Comuns de Interesse Metropolitano, onde se inclui o planejamento do uso do solo. A Resolução Federal/CNDU nº 013, com base na competência atribuída pela legislação federal, promove a instituição de áreas de preservação

do patrimônio, denominandas Áreas de Interesse Especial Metropolitano. Cria-se, então, o recurso Jurídico-institucional que foi reforçado pelo Decreto-lei Federal nº 6766 de 19 de dezembro de 1979, que ficou conhecido como Lei Lehmann (em alusão ao seu autor, o então senador paulista Otto Cyrillo Lehmann), nos artigos 13, 14 e 15. Estes artigos submetem a aprovação de loteamentos e desmembramentos à anuência previa do Estado e/ou autoridade metropolitana, quando estes se localizarem em áreas de Interesse Especial, instituídas através dos Decretos Estaduais.

Ainda em 1974, a Coordenadoria Geral de Planejamento (COGEP) – hoje Secretaria Municipal do Planejamento (SEMPLA) – tomou a iniciativa de proteger os bens de significado cultural, não apenas pela inexistência de um órgão municipal que cumprisse tal função, mas também diante da preocupação com a rápida transformação da

cidade e consequente destruição sistemática de exemplares significativos de sua memória cultural. Com este objetivo, procedeu-se ao inventário dos bens arquitetônicos de interesse cultural e ambiental, localizados na área central da cidade. Esse inventário resultou na delimitação de áreas especiais denominadas Z8-200 e incluídas na legislação de uso e ocupação do solo municipal, Lei nº 8328/75.

A Lei nº 8328 de 02 de dezembro de 1975, de caráter urbanístico, não somente submete os imóveis enquadrados como Z8-200 – ora agrupados em 108 zonas com aproximadamente 1600 unidades – às normas de uso e ocupação do solo, como também controla, através de seu artigo 2º, qualquer tipo de intervenção nestes imóveis. A defesa dos bens culturais tombados fundamenta- se na legislação Federal, Estadual e Municipal vigentes, respectivamente pelos: Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937; Decreto-lei nº 149,

de 15 de agosto de 1969; Decreto-lei nº 10.032 de 27 de dezembro de 1985 e Decreto-lei nº 10.236 de 16 de dezembro de 1986.

A Lei Federal, conceitua como patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, seja por sua vinculação à fatos memoráveis da história do Brasil, seja por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Equiparam-se à estes bens e também são sujeitos a tombamento monumentos naturais, sítios e paisagens que importem conservar e proteger pelas características com que tenham sido dotados, por natureza ou agenciados pela ação humana.

Na esfera Estadual, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico

e Turístico – CONDEPHAAT – foi instituído pela Constituição do Estado de São Paulo, em seu artigo nº 128. Tendo estruturação e competências, definidas pelo Decreto-lei nº 10.247, de 22 de outubro de 1968. O artigo 2º desta lei atribui ao Conselho a competência para adoção de amplas medidas de defesa do patrimônio histórico, artístico e turístico do Estado. No Decreto-lei de 19 de dezembro de 1969, que regulamenta a referida Lei, o patrimônio cultural do Estado é definido como “o conjunto de bens existentes em seu território, que, pelo valor arqueológico, etnológico, histórico, artístico e paisagístico” merece proteção especial pelo Poder Público ou Estado.

Por fim, no âmbito municipal, o órgão responsável pela preservação dos bens culturais da Cidade de São Paulo é o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP).

O Conselho, criado em dezembro de 1985, está vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e tem como órgão técnico de apoio o DPH (Departamento do Patrimônio Histórico). Segundo a cartilha de preservação do DPH o tombamento “pode ser feito pela União através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo Governo Estadual através do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado (CONDEPHAAT ) ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas.” No caso da cidade de São Paulo, o Tombamento é regido pelas Leis nº 10.032 de 27 de dezembro de 1985 e nº 10.236 de 16 de dezembro de 1986.

No próprio ano de 1986, o então Prefeito Jânio Quadros tinha um plano polêmico para região da Luz. Um projeto ambicioso de revitalização da área previa a demolição de muitos edifícios para dar lugar à novos eixos viários.

Voltado para oportunidades imobiliárias, o plano não fazia referências à recuperação e valorização de imóveis históricos. O projeto foi produzido dentro da SEMPLA, que outrora havia demonstrado relevante preocupação com o patrimônio cultural e arquitetônico em uma atitude pioneira no contexto municipal. Contudo, nesta oportunidade o projeto fora concebido sem considerar edifícios de valor histórico. Estes, dariam lugar à novos espaços de fomento ao desenvolvimento imobiliário. O projeto dos novos edifícios, por sua vez, deveriam ser planejados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, contratado para desenhar a “Nova Luz”.

Contudo, os planos do então prefeito foram barrados por uma resolução do CONDEPHAAT, que em de 17 de março de 1986 tombou 47 imóveis nos Campos Elíseos e 106 na região de Santa Ifigênia. O estudo já vinha sendo desenvolvido dentro do órgão Estadual desde 1982. Este exemplo

demonstra como a atuação do Poder Público nas três esferas Federal, Estadual e Municipal, cumprindo disposição constitucional é vital na defesa dos bens culturais que constituem a memória urbana da cidade de São Paulo. O tombamento de 1986 garantiu a permanência de exemplares arquitetônicos que presenciaram momentos importantes da história de nossa cidade.

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