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6 PRIMEIRA VERTICALIZAÇÃO

TRANSFORMAÇÕES URBANAS E O PLANO BOUVARD

Na primeira e a segunda década do século xx são elaborados diversos planos visando a audaciosa qualificação urbanística da parte central da capital paulista. Procurando reformar os traços da arquitetura e do urbanismo colonial, estes projetos buscavam a valorização da região

do Anhangabaú, procurando dotá-la de uma valorização simbólica. Afirmar uma simbologia que refletisse a modernidade e o cosmopolitismo, por sua vez, significava na época a adoção de padrões estéticos internacionais.

Neste período, abrangentes propostas de remodelação da área surgem com o Plano do vereador Augusto Carlos da Silva Teles, em 1906, intitulado “M elhoramentos do Centro da Cidade de São Paulo”. Posteriormente, a Diretoria de Obras da Prefeitura apresenta um plano ao final da gestão do prefeito Antônio Prado, em 1910. Este plano, denominado Plano das Grandes Avenidas, foi concebido pelo arquiteto Alexandre de Albuquerque e aprovado pelo Legislativo com a ajuda de R amos de A zevedo, Samuel das Neves e do Conde Prates. Por fim, em 1911, o governo Estadual apresenta um plano coordenado por Samuel das Neves.

Diante desta multiplicidade ideológica, surgiram os debates técnicos que acabaram por contribuir para o amadurecimento do urbanismo paulista como um todo. Durante a gestão do prefeito Raimundo Duprat, Vítor da Silva Freire Júnior, engenheiro responsável pela Diretoria de Obras Municipais e professor da Escola Politécnica, ficou encarregado de realizar um acurado diagnóstico da situação urbana paulistana e das propostas em pauta na época.

Freire sugere, portanto, que se ouça o parecer de um especialista. Escolhido para arbitrar o assunto, o arquiteto francês Joseph-Antoine Bouvard seria então o responsável pelo plano que foi implantado entre 1911 e 1930 e que consolidaria a imagem internacional da metrópole do café. Em maio de 1911, o Plano Bouvard é apresentado como uma solução conciliatória, e passa a ser considerado o primeiro plano urbanístico da

Plano das Grandes Avenidas do arquiteto Alexandre de Albuquerque, 1910. Plano do vereador Silva Teles,

cidade de São Paulo. As respectivas bases teóricas estabelecidas na sua concepção, influenciariam de maneira abrangente os estudos urbanísticos das próximas gerações.

O plano Bouvard continha diretrizes em quatro linhas de ação nas seguintes localidades: o parque do Anhangabaú; a várzea do Carmo; o Centro Cívico; e as avenidas de comunicação do Centro com os demais bairros. A gestão de Raimundo Duprat priorizou a primeira seção prevista no plano. Sua complementação seria realizada pelas administrações seguintes, de washington Luís (1914 – 1919), Álvaro da Rocha Azevedo (1919 – 1920) e Firmiano de Morais Pinto (1920 – 1926).

Um destaque do Plano Bouvard era a requalificação do Vale do Anhangabaú, que se constituiria em um fator de integração do Centro Velho com o Centro Novo. A criação deste espaço

público de qualidade em uma área até então desvalorizada, representava o deslocamento da polaridade no sentido oeste da região central. Com a execução do plano, o vale recebeu um novo paisagismo para sua superfície verde e se transformou na imagem pública mais importante da cidade. Tendo seu leito canalizado em 1906, a área permitiu a instalação de um dos mais coerentes conjuntos urbanísticos de São Paulo, aonde arquitetura e paisagismo se complementavam em notável harmonia.

A última seção do Plano Bouvard englobava a região de Santa Ifigênia e previa alargamentos e aberturas de novas vias para facilitar o acesso às estações ferroviárias Luz e Sorocabana. Nas ruas alargadas, o poder municipal estimulava legalmente a formação de belos conjuntos arquitetônicos que simbolizassem o progresso, e dotassem a capital de um caráter europeu. Diante

da produção arquitetônica baseada em blocos uniformes à parisiense, as ruas foram se destacando por sua elegância.

A Barão de Itapetininga e a 15 de Novembro receberiam a fama de ruas mais elegantes da cidade, enquanto as belas ruas Guaianazes e Aurora eram calçadas e intensamente arborizadas. A avenida São João, por sua vez, recebeu sua primeira remodelação durante o alargamento realizado pelo prefeito Duprat. A avenida, “(...)foi objeto da legislação especial de 1912, obrigando as construções a adotar um padrão de bulevar ‘parisiense’: blocos edificados contínuos, continuidade espacial das fachadas, chanfros e tratamentos especiais nas esquinas” (CAMPOS,

2002) e se tornaria um dos principais bulevares à

parisiense da cidade de São Paulo.

Ainda de acordo com o Plano Bouvard, o

prefeito Duprat promoveu o alargamento da Rua Líbero Badaró e efetivou a ligação do largo de São Bento ao largo da igreja de Santa Ifigênia por meio da instalação do Viaduto de Santa Ifigênia. Em 1904 foi apresentado à Câmara Municipal um projeto do vereador José Oswaldo Nogueira de Andrade para a realização de um viaduto para ligar a cidade velha à nova. Uma vez aberto o processo de concorrência pública em 1908, projeto dos engenheiros italianos Júlio Michetti e Guiseppe Chiappori foi o vencedor. Combinando ferro e cimento, com técnicas construtivas avançadas o viaduto começou a ser construído em 1911. Sobre o terreno de charco, o mestre -de -obras alemão João Grundt chegou de Hamburgo para os serviços de fundação. As peças do viaduto em estilo Art Nouveau foram importadas da Bélgica, já moldadas e per furadas. Em 26 de julho de 1913 o prefeito Raimundo Duprat foi responsável por sua inauguração.

Dois anos antes, em 1911, outra obra contribuiria ao admirável equilíbrio estético da região do Anhangabaú. Oriundo das mesmas iniciativas de dotar a capital do Estado de equipamentos culturais condizentes com a sua vocação de metropole, após mais de oito anos de construção (1903 – 1911) foi inaugurado em 12 de Setembro o Teatro Municipal. Executado pelo Escritório Ramos de Azevedo, o estilo léxico neobarroco inspirava-se na ópera Garnier de Paris. A construção iniciou-se durante a gestão de Antônio Prado. O prefeito fomentou o estímulo à cultura musical, às artes dramáticas e ao lazer. Com este projeto, buscava dotar a cidade com um teatro moderno à altura das grandes capitais mundiais.

A transformação do Vale é gradual, mas radical. De uma área caracterizada pela ocupação de fundos de lote, o Anhangabaú passa a ser um jardim de belas alamedas e canteiros voltados para

o passeio de pedestres. Durante os anos, diversas construções de luxo surgiram nas encostas do Vale: a Prefeitura Municipal, em 1912, por projeto de Samuel das Neves; o Clube Comercial, de Ramos de Azevedo; o Hotel Esplanada, de Viret e Marmorat; o Palacete Prates; o Automóvel Clube; o já mencionado edifício dos Correios de 1922; e a sede da Light.

As construções eram realizadas em harmonia com a nova esplanada do Anhangabaú e seus jardins. Uma série de edifícios da primeira fase de metropolização da região oferecia aos visitantes uma paisagem cosmopolita. Construída durante o apogeu das políticas de embelezamento urbano, esta cenografia urbana se tornava um marco da Belle époque. Seguidas à risca, as prescrições estéticas preconizadas pelo Plano Bouvard transformavam a região central de São Paulo em um dos mais belos conjuntos urbanos do planeta.

Embora alguns identifiquem o naufrágio do transatlântico Titanic, em 14 de abril de 1912, como o prenúncio do fim desta elegante e otimista era de estar no mundo, nos trópicos, a Belle époque se estendeu por um período mais prolongado. Mesmo diante dos entraves econômicos causados pela Primeira Guerra, pode-se observar a continuidade da produção arquitetônica baseada na materialização dos valores culturais e sociais da Belle époque.

As construções características compiladas tornam possível a observação das transformações ocorridas neste período, tanto no plano sócio- político-administrativo, quanto no campo técnico- científico. Contudo, para garantir a leitura integral da cidade e de seus elementos compositivos, é necessário compreender seus significados, reconhecer seus símbolos e identificar seus valores. A cidade é, pois, “um espaço visual, (...) pelo simples

fato de ser espaço e, portanto, em última análise, pensamento, ele fixa a notícia, dá-lhe um sentido, um lugar, (...) obriga-a a provocar uma reação, iniciar um processo que poderá concluir-se com juízo de valor.” (ARGAN, 1993)

NÚMERO ENDEREÇO ZEPEC IPHAN CONDEPHAAT CONPRESP

1 Rua Santa Ifigênia, 704, 708, 710, 714, 718 24.507/86

2 Rua Santa Ifigênia, 490, 494, 498 24.507/86

3 Rua Santa Ifigênia, 367, 373 Z8-200 24.507/86 44/92

4 Rua Santa Ifigênia, 1 a 7 37/92

5 Rua do Seminário, 209 a 215 24.507/86 37/92

6 Avenida São João, 620 a 628, com Avenida Ipiranga, 866 37/92

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NEOCOLONIAL

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