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3.1. Caso clínico nº

3.1.2. Revisão bibliográfica e Discussão 1 Identificação da espécie

3.1.2.13. Torção folicular

Aquando da necropsia foi observado que ambos os ovários estavam em fase ativa da reprodução apresentando diversos folículos em diversas fases de desenvolvimento. O ovário esquerdo apresentava uma torção da sua porção cranial, evidenciada pela torção do mesovário e pelo aspeto hiperémico e espessado de toda a porção cranial à torção.

A presença de folículos ováricos de diversas dimensões e em diversas fases de desenvolvimento permitem assumir a ausência de estase pré-ovulatória, uma vez que esta é um dos diagnósticos diferenciais tendo em conta a ausência de condições ideais de maneio e o quadro clínico sugestivo (anorexia crónica e prostração) (CHITTY e RAFTERY, 2013; HEDLEY, 2009; MCARTHUR et al., 2004). Na figura 7 é possível observar as alterações anteriormente descritas.

A torção folicular em répteis está pouco documentada na bibliografia, existindo apenas quatro casos descritos, três em iguana verde (Iguana iguana) e um em iguana rinoceronte

(Cyclura cornuta) (JUAN-SALLÉS et al., 2008; JUAN-SALLÉS et al., 2005; MEHLER,

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Figura 7 – Registo fotográfico de exame necroscópico de um exemplar de Phrynops

geoffroanus, fêmea, com 1,555kg entregue no CETAS/GO apresentando uma

fratura de carapaça e plastrão. Ovário direito e esquerdo in loco evidenciando a parede hiperémica (A); Comparação entre o ovário direito e esquerdo onde se observa a torção do mesovário do ovário direito (B); Ovário direito seccionado onde é possível observar espessamento e hiperémia da parede do ovário e folículos (C).

O traumatismo com origem antropogénica é a maior causa de ingresso de quelónios em centros de triagem de animais silvestres e, na maioria das situações, o prognóstico varia de reservado a grave. Mesmo quando o animal recupera, a sua reabilitação é extremamente difícil devido às sequelas das fraturas que comprometem a sobrevivência do animal em ambiente selvagem. Por estas razões, é imprescindível a implementação de métodos de conservação da vida selvagem como educação ambiental e o uso de sistemas de contenção de animais como paredes e vedações nas bermas das estradas em combinação com túneis ou pontes para répteis em trechos de estradas que coincidam com maior população de animais.

B

C A

83 3.2. Caso clínico nº 2

3.2.1. Apresentação do caso

No dia 26 de maio deu entrada no CETAS uma cria de sagui-de-tufo-preto (Callithrix

penicillata), fêmea, pesando 46,9g. Esta foi entregue pela Agência Municipal do Meio

Ambiente (AMMA), juntamente com um periquitão maracanã (Psittacara leucophthalmus) e um periquito coco (Eupsittulla aureia) como resultado de um resgate a uma residência particular.

No exame físico foi observado redução na utilização dos membros posteriores, com uma ligeira rigidez em ambos. Não foi detetada nenhuma alteração músculo esquelética e o animal apresentava sensibilidade à dor profunda, sendo a alteração atribuída ao stress da manipulação.

O animal foi colocado numa transportadora de gatos com uma toalha e um urso de peluche. Com o intuito de promover uma temperatura ambiente adequada foi utilizado um aquecedor (Aquecedor Termoventilador e Desumidificador Auros 220 V, Cadence ©, Navegantes, Santa Catarina, Brasil), na posição média, o qual permaneceu até o final do tratamento. Foi iniciada alimentação com leite de vaca integral e gema de ovo (1 gema/250ml de leite), cerca de 1 a 1,5ml a cada 3 a 4h (07:00 – 00:00), perfazendo cinco a seis administrações diárias. Esta mistura era confecionada todos os dias de manhã de seguida era conservada refrigerada e aquecida previamente em banho-maria.

Para fornecimento da alimentação foram testados vários recipientes como biberões de gato e de pequenos mamíferos, assim como seringas acopladas a cateteres de plástico com o tamanho apropriado, sendo ambos recusados pelo animal. O único método aceite foi o uso de uma seringa de 1ml gotejando pequenas gotas na boca, esperando que este ingerisse. Neste método foi observada uma rápida e eficaz adaptação, no qual o animal bebia voluntariamente do canhão da seringa. Após cada alimentação a área perineal era limpa com a ajuda de algodão humedecido em água morna, para que o animal urinasse e defecasse.

As alterações locomotoras observadas inicialmente mantiveram-se, sendo que no terceiro dia após o início do tratamento, ponderou-se a possibilidade de deficiências nutricionais. Foi instituída a utilização de leite humano (2ml por refeição, seis refeições diárias) e cerca de três dias depois (aproximadamente trinta dias de idade) foi iniciado o fornecimento

84 de alimento sólido através de pequenas porções (5 a 10g) de fruta (maçã, banana, mamão) por dia. Concomitantemente foi implementada uma exposição solar direta diária com duração de cerca de 1h. No sexto dia após o início do tratamento realizou-se o incremento para 3ml por refeição e seis dias depois deste, para 4ml, sempre com a frequência de seis refeições diárias. Todas as alterações de rotina foram implementadas de forma súbita e sem período de adaptação. O leite humano era fornecido por uma mulher que se encontrava no oitavo mês de aleitamento, a sua gestação havia sido de termo e já havia iniciado o fornecimento de alimento sólido ao filho há cerca de dois meses (seis meses de idade da criança). O leite era recolhido de manhã, congelado e aquecido em micro-ondas antes de cada refeição.

Nos dias seguintes foi observada melhoria gradual na mobilidade dos membros posteriores. O animal era capaz de movê-los com maior velocidade e força aquando da manipulação e embora com alguma dificuldade, foi observado um aumento da mobilidade pelo recinto, um incremento da manifestação de comportamentos exploratórios e inclusive melhor aptidão para subir as extremidades do mesmo. Com o intuito de exclusão de alterações musculosqueléticas foi realizado exame radiográfico ventrodorsal e latero-lateral completo no sétimo dia depois do início de tratamento (dois de junho). Embora não fosse observada nenhuma fratura ou luxação, todo o esqueleto apresentava uma redução substancial de densidade óssea evidenciada por um aumento da radiolucência e redução da espessura da cortical dos ossos do animal, como é possível observar na figura 8.

Figura 8 – Exemplar de uma cria de Callithrix penicilata, fêmea, com 46.9 g entregue no CETAS/GO Exame radiográfico latero-lateral evidenciando o aumento da radiolucência óssea.

85 O animal perdeu peso ao longo do tratamento sendo que no nono dia após a sua chegada o animal apresentava 45,8g de peso. No entanto, no dia seguinte (décimo dia) apresentava 48,9g.

Cerca de 21 dias após a chegada ao CETAS (16 de junho), o animal foi encontrado pelo tratador com comida na boca e ânsia de vómito. Foi administrado 0,5ml de água de coco, e cerca de cinco minutos depois o animal vomitou uma substância semelhante a leite coalhado e a água de coco administrada e cessou a ânsia de vómito. O animal permaneceu sozinho e cerca de três horas depois foi encontrado em estado agónico e entrou em paragem cardiorrespiratória.

3.2.2. Revisão Bibliográfica e Discussão

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