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Torre 3/1 vista a partir da torre 3/2 (LT Tucuruí-Açaílandia)

No documento O complexo Tupi da Amazônia Oriental (páginas 50-58)

2.1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o sudeste paraense e o interior maranhense receberam um forte impulso nas pesquisas arqueológicas. Dezenas de sítios foram identificados e resgatados. Pode-se resumir a três os tipos de empreendimentos executados nessas regiões, que obrigaram a realização de levantamentos arqueológicos: os hidrelétricos, os de mineração e os de linhas de transmissão.

O presente estudo está embasado em um longo processo de trabalhos de laboratório realizados com o material cerâmico da Linha de Transmissão (LT) Tucuruí-Presidente Dutra (3° circuito). O sítio Cavalo Branco, primeiramente denominado sítio Morada Nova 2, foi localizado durante a etapa de prospecção realizada anteriormente à implantação do quarto circuito da LT Tucuruí (PA)-Açailândia20 (MA). Ele está localizado na torre 3/2, nas coordenadas UTM 22M 716 969 E/9 427 848 N (SCIENTIA, 2004, p. 2).

Esse levantamento na faixa de servidão da linha de transmissão foi concluído e devidamente aprovado pelo IPHAN (Processo IPHAN 01492.000089/2003-33 – Portaria do IPHAN n° 150, de 01/08/2003, prorrogada pela Portaria n° 185, de 02/08/2004). Todos os locais de implantação de torres e seus respectivos acessos foram prospectados. Além do sítio Cavalo Branco, outros 31 sítios arqueológicos foram encontrados, dos

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As Linhas de Transmissão Tucuruí-Açailândia e Tucuruí-Presidente Dutra correm sobre um eixo comum (paralelo), com a diferença de que a LT Tucuruí-Presidente Dutra possui um trecho a mais, entre as cidades de Açailândia e Presidente Dutra.

quais dez (vide Anexo 5) foram resgatados na área de implantação das estruturas (id.,

ibid.).

Nesse capítulo, descreveremos a metodologia adotada nas etapas de levantamento arqueológico na Linha de Transmissão Tucuruí-Açailândia, bem como a metodologia de resgate adotada nos sítios encontrados durante o levantamento arqueológico, com enfoque voltado para as escavações do sítio Cavalo Branco.

Também procederemos à descrição do sítio arqueológico Cavalo Branco, compreendendo a estratigrafia (já inserindo dados cronológicos) e a espacialidade, indicando as primeiras questões a serem trabalhadas especificamente nesse sítio e caminhos a serem seguidos em relação a algumas questões já levantadas.

2.2 LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO NA FAIXA DE SERVIDÃO DA LT TUCURUÍ-AÇAILÂNDIA

2.2.1 Primeiras notas

As torres implantadas podem ser divididas em dois os tipos-padrão, segundo suas fundações:

1) Torres sustentadas por estais fixados no solo, nos quatro cantos de uma área retangular. No centro do retângulo, é fixado um mastro central. As escavações para as fundações dos estais e do mastro central são feitas com perfuratrizes;

2) Torres autoportantes, sustentadas por quatro pés fixados nos quatro cantos de uma área quadrangular. As escavações para as fundações dos pés são feitas com retroescavadeira.

Fig. 10 Torre estaiada.

Fig. 11 Torre autoportante.

3678 1839 2301 3754 4292 36447 3678 28 317 34.165° 27.5° 7601 12400 190 28691 3371 TIPOS DE TORRE 31 295 25 01 3371 2009 15° 9° 35° 242 R736 R 2207 R1778 288 29 42 288 5360 3678 3678 3678 3678 TIPOS DE TORRE

A torre 3/2, implantada no sítio Cavalo Branco, é do tipo estaiada e é menos impactante do que as autoportantes, que exigem áreas maiores e maquinário de maior potencial destrutivo (SCIENTIA, 2002a, p. 56).

2.2.2 Metodologia

Técnicas de vistoria em superfície e subsuperfície (tradagens) foram utilizadas para detectar a presença de material arqueológico nas praças onde seriam implantadas as torres e delimitar o sítio, quando necessário.

Na área de inserção das torres, foi realizada uma cuidadosa vistoria, com o intuito de detectar material arqueológico em superfície. Também foram abertas duas sondagens de 0,50 x 0,50 x 0,70m, 20m a vante e 20m a ré do ponto central da torre, com o objetivo de verificar a ocorrência de vestígios arqueológicos no subsolo (SCIENTIA, 2004, p. 4). Detectado o materialarqueológico, procedia-se à execução de transects (radiais ou paralelos), traçados a partir do primeiro, para identificar a profundidade e espessura do depósito cultural averiguado (SCIENTIA, 2002a, p. 56).

Portanto (...), uma vez que um sítio seja encontrado, tentar-se-á investigá-lo em sua totalidade, mesmo que seus limites ultrapassem a faixa de servidão da Linha de Transmissão. O sítio, depois de encontrado, passa a ser a unidade de investigação e não mais a faixa de servidão (id., ibid., p. 58).

Dessa forma, o processo de prospecção permitiu que, já no momento do resgate, fossem conhecidas a dimensão e a profundidade dos sítios, auxiliando na escolha da técnica a ser empregada.

2.3 RESGATE DO SÍTIO CAVALO BRANCO

2.3.1 Liberação da faixa de servidão

O resgate do sítio Cavalo Branco foi realizado em duas etapas, nos anos de 2004 e 2005. A primeira teve como objetivo a liberação da faixa de servidão no local da praça da torre, e a segunda expandiu as escavações para toda a área do sítio arqueológico (SCIENTIA, 2006). Os trabalhos executados na faixa de servidão visaram a cobrir com segurança o local mais impactado pela implantação da torre. Utilizando como centro o marco central das torres, foi estabelecido um quadrado de 80m². Tais dimensões foram consideradas suficientes para abarcar toda a faixa de servidão, cuja largura é de 70m. Dentro do quadrado, foi executada uma malha de quadras de 20x20m, com linhas perpendiculares e paralelas ao alinhamento da LT, e o encontro das últimas marcava o local de abertura das quadras de escavação de 1m². A escavação destas foi feita por níveis artificiais de 10cm (SCIENTIA, 2004, p. 20), só podendo ser interrompidas após a escavação de 10cm sem material arqueológico. Findados esses 10cm estéreis, procedia-se a uma sondagem no centro da quadra, por mais 30cm de profundidade.

Uma vez que o eixo da linha da LT sofre mais interferências, em conseqüência de processos que vão desde o preparo das valas dos estais da torre até sua energização, foram executadas outras 6 quadras para ré (3) e para vante (3). Nessa etapa, foram escavadas 31 quadras em cada sítio (id., ibid., 2004, p. 22).

Na liberação da faixa de servidão do sítio Cavalo Branco, o material arqueológico foi encontrado até o nível 60-70cm. Quatro quadras apresentaram apenas cerâmica, e uma (80R), somente um fragmento lítico. Em três quadras, o resultado foi estéril.

Partindo do pressuposto de que a arqueologia é amostragem ou não é nada (REID, SCHIFFER e NEFF, 1975, p. 209), pode-se dizer que a utilização de uma amostragem sistemática, empregada nos trabalhos de resgate dos sítios da LT Tucuruí-Açailândia, é a mais simples de ser executada (REDMAN, 1975, p. 150). Além disso, pode-se acrescentar que o método sistemático é o que mais se aproxima da estimativa de valores populacionais (OSBORNE, 1941; HAGGETT, 1965, apud REDMAN, op. cit.).

Acima: Foto 2.3.1 Abertura de quadra, realizada durante a liberação da faixa de servidão do sitio Breu Branco 2 (LT Tucuruí-Açailândia).

Abaixo: Fig. 12 Esquematização da malha implantada para a liberação da faixa de servidão dos sítios da LT Tucuruí-Açailândia.

2.3.2 Resgate nas faixas lindeiras do sítio

Menos de um ano após a liberação da faixa de servidão da LT, realizada em novembro de 2004, iniciou-se o resgate do restante do sítio. Prosseguiu-se na expansão da malha de quadras (mantida em 20x20m), que foram escavadas em níveis artificiais, seguindo o padrão descrito para o resgate da faixa de servidão. A expansão só tinha uma das linhas interrompida quando fossem realizadas duas quadras com ausência de material.

O emprego dessa metodologia visou a trazer informações sobre os vestígios arqueológicos distribuídos por todo o espaço do sítio (SCIENTIA, 2004, p. 22). A abordagem amostral e sistemática empregada buscou “informações sobre a natureza e o

grau de variação da cultura material como um todo” (WÜST E CARVALHO, 1996, p.

48).

Foi possível expandir a escavação em áreas de concentração de material ou de estruturas evidentes, para encontrar informações qualitativas. O quadriculamento e a escavação nesses locais, quando necessários, foram feitos em superfícies contínuas, com o intuito de compreender a interrelação dos materiais na área escavada (id., ibid., p. 23).

Essas áreas poderiam partir da expansão de uma quadra pertencente à malha de escavação ou de outros pontos do sítio com algum indicativo para a utilização desse procedimento. Duas áreas foram escavadas em locais não-pertencentes às quadras da malha: a unidade 90V-60D (2m², realizada em local com alta densidade de material lítico, com o intuito de identificar um local de atividade específico relacionado a este material), e a trincheira (8 X 0,7m), realizada em local putativo de ser uma lixeira.

As expansões de quadras pertencentes à malha de escavação ocorreram em quatro locais: (1) na quadra 100D (que foi expandida para um área de 2m²); (2) nas quadras 140D; (3) 40V-80D; e (4) 220V-240D (que ganharam um metro a mais de escavação, ficando em 1 X 2m).

A divisão do resgate em duas etapas de campo permitiu a manipulação do material proveniente da primeira escavação. A observação dos fragmentos levou à constatação de que, sem grandes peças ou vasos (ao menos parcialmente) reconstituídos, a reconstituição das formas seria extremamente difícil. Isso poderia enfraquecer um dos pilares de

comparação do sítio Cavalo Branco com as formas advindas de outros sítios da região e com formas “clássicas”21 da tradição Tupiguarani. Decidiu-se, então, dar prioridade à expansão das quadras com grande número de conjuntos cerâmicos.

A abertura de áreas de escavação no sítio Cavalo Branco proporcionou uma amostra qualitativa significativa, de grande importância para a caracterização do material arqueológico do sítio. Da mesma forma, as “áreas de expansão”, além de ajudar a obter formas quase inteiras, foram fundamentais para uma compreensão espacial do sítio, como será demonstrado neste capítulo.

Os trabalhos de resgate no sítio Cavalo Branco, sem contar a liberação da faixa de servidão da torre, duraram por volta de 70 dias. A escavação foi iniciada com uma equipe de seis pessoas (um pesquisador, uma estagiária e quatro trabalhadores braçais) e foi encerrada com um grupo de aproximadamente 35 pessoas, entre braçais, técnicos, estagiários e pesquisadores.

2.3.2.1 Seqüência de etapas para a escavação das quadras

No documento O complexo Tupi da Amazônia Oriental (páginas 50-58)