• Nenhum resultado encontrado

Os traços de personalidade, as dimensões do apego e o valor de mercado se relacionam com a satisfação no relacionamento.

Predição 11.1: Baixos níveis de ansiedade e evitação relacionadas ao apego e baixo

32

Predição 11.2: Maior similaridade nos traços de personalidade prediz maior satisfação no

relacionamento.

Predição 11.3: Quanto maior a diferença no valor de mercado entre os indivíduos do casal,

33 Artigo 1 - O termômetro das relações amorosas: Autoestima e valor de mercado no longo-prazo

Resumo

O valor de mercado de um indivíduo como parceiro romântico depende das preferências de seus parceiros em potencial e das características apresentadas por seus competidores. Esse valor de cada indivíduo pode estar relacionado a sua autoestima, que funciona como um termômetro social. Os objetivos do presente estudo foram (1) investigar as diferenças nas características idealizadas em um parceiro romântico entre os sexos e de acordo com a orientação sexual e (2) avaliar a relação entre a autoavaliação do valor de mercado e a autoestima e entre a autoestima e a idealização de um parceiro de longo prazo. Participaram do estudo 385 voluntários (heterossexuais e não-heterossexuais), 166 estavam envolvidos em um relacionamento de longo prazo e 219 solteiros. Todos os participantes assinaram um TCLE e responderam questionários sobre autoavaliação como parceiro romântico, preferências por um parceiro de longo prazo e avaliação do parceiro real em três domínios (atratividade, recurso e social), um questionário sociodemográfico e um questionário de autoestima. Nossos resultados mostram que as preferências por um parceiro ideal de longo prazo diferem entre os sexos e de acordo com a orientação sexual. Além disso, os domínios de autoavaliação como parceiro romântico se mostraram capazes de predizer a autoestima dos indivíduos. Autoestima parece influenciar na idealização de parceiros de mulheres heterossexuais, de homens heterossexuais e não-heterossexuais, mas não de mulheres não- heterossexuais. Desse modo, sugerimos que as preferências para parceiros românticos de longo prazo são influenciadas pelos sexos e por orientação sexual e que a autoestima funciona como um termômetro que recebe inputs da rejeição e aceitação no mercado de acasalamento através da autoavaliação como parceiro romântico e pode ajustar das preferências para parceiros de longo prazo.

34 Introdução

Imagine que em um restaurante se encontram 10 homens heterossexuais e que todos desejam conhecer a mesma mulher. Por um lado sabemos que para mulheres heterossexuais as características ligadas atratividade física, como faces mais masculinas e altura parecem ser mais importantes no momento da escolha de um parceiro para relacionamento de curto- prazo, ou seja sem perspectiva de uma relação duradoura (Burt et al., 2007; Hone, Hurwitz, & Lieberman, 2015; Little, Cohen, Jones, & Belsky, 2007; Marcinkowska et al., 2019; Valentova, Bártová, Sterbová, & Varella, 2016a). Para parceiros de longo-prazo as mulheres heterossexuais buscam por características que lhes deem pistas de capacidade de captação de recursos, que podem ser investidos nelas e em sua prole, como inteligência, status social e bom humor (Buss, 2006; Hone, Hurwitz, & Lieberman, 2015; Souza, Conroy-Beam, & Buss, 2016). Agora podemos pensar que entre esses 10 homens alguns são mais inteligentes, outros mais bonitos e outros bem-humorados. A mulher em questão provavelmente escolherá a melhor combinação entre as características, elegendo assim o indivíduo com maior valor de mercado como seu parceiro.

Agora imagine que existem duas mulheres no restaurante. Será que a primeira mulher vai conseguir sair com o homem que ela considera mais atraente? Considere que homens heterossexuais têm preferência por parceiras jovens (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000), com menor proporção cintura-quadril (Buss, 1989; Izar, 2018) e maior atratividade física tanto para relacionamentos de curto, quanto de longo-prazo (Buss & Schmitt, 1993; Hattori & Castro, 2017), características que podem ser interpretadas como pistas de fecundidade. Essas preferências aumentam as chances dos homens deixarem descendentes (Castro & Lopes, 2011; Pawlowski, 2000), pois o sucesso reprodutivo de um homem pode ser limitado pelo seu número de parceiras (Buss, 2019; Buss & Schmitt, 1993; Hattori & Castro, 2017). Então o sucesso de cada uma das mulheres que entrou no restaurante vai depender dela apresentar a combinação de características desejadas pelos parceiros em potencial e também das características que sua competidora possui.

As situações descritas anteriormente, nos permitem traçar um paralelo entre o mercado de acasalamentos humano e a lei de oferta e procura que rege o valor de bens de consumo em um mercado, se constituindo como uma metáfora interessante (Pawlowski, 2000). Na espécie humana, ambos os sexos escolhem e competem dentro do mercado de

35 acasalamentos (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000). Cada indivíduo possui, além de suas preferências por parceiros, características que podem aumentar ou diminuir seu valor de mercado diante de seus competidores e parceiros em potencial (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000). Assim, o valor de mercado de um indivíduo é determinado pelo conjunto de características que ele possui que são desejadas pelos parceiros em potencial, mas também depende do que seus competidores têm a oferecer (Howie & Pomiankowski, 2018). Cada indivíduo, portanto, realiza de modo inconsciente uma estimativa do próprio valor de mercado antes de competir por um parceiro (Pawlowski & Dunbar, 1999). Desse modo, o valor de mercado de um indivíduo é atribuído sempre em comparação àquele de seus competidores (Howie & Pomiankowski, 2018).

Algumas das preferências dentro do mercado de acasalamentos não-heterossexual podem não ser as previstas na teoria do investimento parental de Trivers (1972) relatadas nos parágrafos iniciais. Assim, os indivíduos não-heterossexuais podem ter suas preferências por características em um parceiro romântico influenciadas tanto pelo sexo quanto pela orientação sexual (Valentova et al., 2016a; Valentova, Šterbová, Bártová, & Varella, 2016b). Entre os homens, os não-heterossexuais parecem apresentar preferências similares às de heterossexuais quando se trata de juventude, buscando por parceiros mais jovens que eles (Gobrogge et al., 2007) e diferem na busca por atratividade física, procurando por parceiros mais atraentes com maior frequência do que os heterossexuais (Russock, 2011). As mulheres não-heterossexuais diferem das mulheres heterossexuais e se assemelham aos homens na busca por atratividade física (Russock, 2011) e no baixo interesse pelo status social da parceira (Bailey et al., 1994; Russock, 2011). Assim, hipotetizamos que as características que influenciam na autoavaliação do valor de mercado de homens e mulheres não-heterossexuais podem ter pesos diferentes do que tem para os heterossexuais, já que a autoavaliação do valor de mercado é influenciada pelas preferências dos parceiros em potencial (Howie & Pomiankowski, 2018).

A autoavaliação do valor de mercado pode influenciar em outras diferenças individuais, como a autoestima (Reeve, Kelly, & Welling, 2017; Schmitt & Jonason, 2019). A autoestima funciona como um termômetro social e responde a vários domínios (Baumeister & Leary, 1995; Kavanagh & Scrutton, 2015), entre eles a aceitação ou rejeição dentro do mercado de acasalamentos (Reeve et al., 2017; Schmitt & Jonason, 2019). Assim,

36 a autoestima pode ajustar o comportamento do indivíduo no momento de se envolver em uma competição (Baumeister & Leary, 1995), ou ao investir em um parceiro romântico (Schmitt & Jonason, 2019). Esperamos que em nossa amostra as características idealizadas em um parceiro romântico difiram de acordo com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos, como já observado na literatura (Russock, 2011; Valentova et al. 2016a; Valentova et al. 2016b). Ainda, hipotetizamos que as características de autoavaliação como parceiro romântico sejam capazes de prever a autoestima dos indivíduos e que, ao atuar como termômetro social, a autoestima influencia na idealização de parceiro.

Método

Participantes

Nossa amostra foi composta por um total de 385 (166 envolvidos em um relacionamento e 219 solteiros) indivíduos com idade entre 18 e 63 anos. Entre eles, 108 eram mulheres heterossexuais (média de idade 24,97 + 9,11), 109 homens heterossexuais (média de idade 26,10 + 10,31), 78 mulheres não-heterossexuais (média de idade 22,45 + 3,27) e 89 homens não-heterossexuais (média de idade 22,64 + 3,78). Um dos participantes não informou o sexo e por isso foi excluído das análises. Nossa amostra é composta totalmente por brasileiros, com 25,19% do total de indivíduos pertencentes a classe A, 17,40% a classe B1, 27,79% a classe B2, 20% a classe C1 e 9,62% as classes C2, D e E, avaliado de acordo com critérios da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2016).

Todos os participantes foram voluntários e recrutados através de e-mails e anúncios disponibilizados em redes sociais. A coleta foi realizada de modo presencial, através de questionários, nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na cidade de Natal (Rio Grande do Norte – Brasil). Os participantes levaram cerca de 30 minutos para responder a todos os instrumentos. Durante a coleta com casais, cada indivíduo do par respondeu os questionários separadamente.

Instrumentos

Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, cada participante a um questionário com questões de cunho sociodemográfico, no qual incluímos também

37 questões sobre relacionamentos, como por exemplo: “Eu sinto atração sexual por pessoas: (x) do sexo oposto, (x) do mesmo sexo, (x) dos dois sexos ou (x) não sei”. Essa questão foi utilizada para separar os indivíduos nos grupos heterossexual e não-heterossexual.

Para avaliação da autopercepção do indivíduo como parceiro romântico eles responderam um questionário baseado no trabalho de Castro e Lopes (2011) em escala Likert atribuindo pontuação para nove característica, de (0) característica não expressa a (9) característica extremamente expressa. As características medidas no instrumento foram: 1) Rosto bonito, 2) Corpo bonito, e 3) Saúde, pertencentes do domínio Atratividade; 4) Sociável, 5) Bem humorado, e 6) Fiel, que pertencem ao domínio Social; e 7) Boa condição financeira, 8) Inteligência, e 9) Determinado e trabalhador, que compõem o domínio Recursos. O mesmo instrumento foi utilizado para a idealização de um(a) parceiro(a) de longo prazo.

A escala de autoestima de Rosenberg (1989) foi utilizada para mensurar a autoestima dos participantes. Essa escala já foi validada para a língua portuguesa (Dini, Quaresma, & Ferreira, 2004) e possui dez itens, nos quais o indivíduo responde sobre sentimentos e pensamentos em relação a ele mesmo, em escala likert de 4 pontos variando entre concordo plenamente e discordo plenamente. Antes da análise estatística valores de 0 a 3 foram atribuídos para cada alternativa de resposta, de modo que ao final quanto maior a pontuação na escala, maior a autoestima (Hutz & Zanon, 2011).

Análise Estatística

As análises estatísticas foram realizadas no software gratuito Past 4.01 (Hammer, Harper & Ryan, 2001). Inicialmente os dados foram submetidos ao teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade. Para investigar se as características idealizadas em um parceiro de longo-prazo diferem de acordo com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos foram realizadas ANOVAs two-way. Em seguida, os dados tiveram a normalidade multivariada testada através do teste de Mardia e dois modelos de regressão múltipla foram realizados para cada grupo (mulheres heterossexuais, homens heterossexuais, mulheres não-heterossexuais e homens não-heterossexuais). O primeiro considerando os domínios de autoavaliação como parceiro romântico como preditores da autoestima e o segundo considerando a autoestima

38 como preditora da idealização de parceiro de longo prazo. Em todos os casos, os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05.

Nota Ética

Todos os procedimentos desta pesquisa foram aprovados pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UFRN, parecer: 2.591.983.

Resultados

A idealização de um parceiro para longo prazo varia de acordo com o sexo e com a orientação sexual. Os homens idealizam parceiras com maior pontuação em Atratividade do que mulheres; além disso, em nossa amostra os indivíduos heterossexuais atribuem maior pontuação de Atratividade ao parceiro ideal do que os não-heterossexuais, porém não foi observada interação entre os dois fatores (Fig. 1a; Tabela 1). No domínio Recursos, mulheres idealizam parceiros com maior pontuação do que homens, porém não foram observadas diferenças por orientação sexual (Fig. 1b; Tabela 1). As mulheres também buscam por parceiros que pontuam mais no domínio Social do que homens, enquanto heterossexuais idealizam maiores pontuações no domínio Social do que os não-heterossexuais, porém também não foram observados efeitos de interação entre sexo e orientação sexual para esse domínio (Fig. 1c; Tabela 1).

39 Figura 1. Gráficos deAnova Two-Way para diferenças entre os sexos e por orientação sexual, para homens e mulheres, heterossexuais (linhas pretas) e não-heterossexuais (linhas vermelhas), na idealização de um parceiro romântico de longo prazo nos domínios (a) Atratividade, (b) Recursos e (c) Social.

A autoavaliação como parceiro romântico parece influenciar a autoestima dos indivíduos. Para mulheres heterossexuais o modelo de regressão múltipla mostrou que a autoavaliação como parceiro romântico influencia a autoestima (Overall MANOVA: F = 15,82, p < 0,001), com os domínios Atratividade e Social sendo capazes de prever a autoestima de modo positivo (Tabela 2). Para mulheres não-heterossexuais os domínios de autoavaliação também foram capazes de predizer a autoestima (Overall MANOVA: F = 8,99, p < 0,001), sendo os domínios Atratividade e Recursos os que tiveram relação positiva estatisticamente significativa com a autoestima (Tabela 2).

40

Tabela 1. Resultados da Anova Two-Way, que investigou diferenças entre os sexos, por

orientação sexual e a interação entre esses dois fatores na idealização de parceiros românticos de longo prazo, nos domínios de atratividade, recursos e social.

F p Atratividade Sexo 13,87 0,0002 Orientação Sexual 6,683 0,0101 Interação 1,848 0,1749 Recurso Sexo 5,811 0,0164 Orientação Sexual 2,005 0,1576 Interação 3,605 0,0583 Social Sexo 7,075 0,0081 Orientação Sexual 4,300 0,0387 Interação 0,2963 0,5866

Nota: Em negrito, valores significativos (p < 0,05).

A relação entre a autoavaliação do valor de mercado e a autoestima também se confirma para homens na regressão múltipla (Heterossexuais: Overall MANOVA: F = 16,94, p < 0,001; Não-heterossexuais: Overall MANOVA: F = 8,754, p < 0,001). Os três domínios (Atratividade, Recurso e Social) foram capazes de predizer a autoestima de homens heterossexuais, com relação positiva (Tabela 2). Já a autoestima de homens não- heterossexuais sofre influência apenas dos domínios Atratividade e Social (Tabela 2), de modo similar ao que acontece com mulheres heterossexuais.

41

Tabela 2. Resultados dos modelos de regressão múltipla mostrando a influência dos domínios

de autoavaliação como parceiro romântico na autoestima dos voluntários de nosso estudo.

Variável Resposta Variáveis Preditoras r2 p

Autoestima de Mulheres Heterossexuais

Domínio Atratividade 0,226 0,0058

Domínio Recursos 0,129 0,0583

Domínio Social 0,234 0,0199

Autoestima de Mulheres Não-heterossexuais

Domínio Atratividade 0,213 0,0005

Domínio Recursos 0,127 0,0276

Domínio Social 0,074 0,6009

Autoestima de Homens Heterossexuais

Domínio Atratividade 0,164 0,0054

Domínio Recursos 0,138 0,0211

Domínio Social 0,164 0,0005

Autoestima de Homens Não-heterossexuais

Domínio Atratividade 0,137 0,0152

Domínio Recursos 0,046 0,3983

Domínio Social 0,185 0,0011

Nota: Em negrito, valores significativos (p < 0,05).

Além de ser influenciada pela autoavaliação, a autoestima parece capaz de prever a pontuação idealizada para um parceiro romântico de longo prazo para mulheres heterossexuais (r2 = 0,081, Overall MANOVA F = 4,572, p = 0,0048) e para homens heterossexuais (r2 = 0,084, Overall MANOVA F = 5,555, p = 0,0014) e não-heterossexuais (r2 = 0,048, Overall MANOVA F = 3,629, p = 0,0163), porém não para mulheres não-

42 heterossexuais (r2 = 0,016, Overall MANOVA F = 1,934, p = 0,1317). Para mulheres e homens heterossexuais quanto maior a autoestima maiores as exigências na idealização de um parceiro, tanto para o domínio Atratividade, quanto Recursos e Social, sendo a maior relação para as mulheres observada no domínio de recursos e para os homens no domínio social. Já para homens não-heterossexuais, quanto maior a autoestima maior a pontuação atribuída ao parceiro ideal no domínio Recursos (Tabela 3).

Tabela 3. Resultados de modelo de regressão múltipla, com a autoestima como variável capaz

de prever características idealizadas em um parceiro romântico.

Variável Preditora Variáveis Resposta r2 p

Autoestima de Mulheres Heterossexuais

Idealização Domínio Atratividade 0,0789 0,0036

Idealização Domínio Recursos 0,1103 0,0005

Idealização Domínio Social 0,0453 0,0291

Autoestima de Homens Heterossexuais

Idealização Domínio Atratividade 0,0931 0,0012

Idealização Domínio Recursos 0,0598 0,0103

Idealização Domínio Social 0,1108 0,0004

Autoestima de Homens Não- heterossexuais

Idealização Domínio Atratividade 0,0076 0,4258

Idealização Domínio Recursos 0,1021 0,0028

Idealização Domínio Social 0,0259 0,1405

Nota: Em negrito, valores significativos (p < 0,05).

Discussão

Nossos resultados mostraram que a idealização de características em um parceiro de longo prazo pode variar com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos, confirmando os achados de estudos presentes na literatura (Bailey, Gaulin, Agyei, & Gladue, 1994; Funham, 2009; Gobrogge et al., 2007; Sousa & Hattori, 2018; Valentova et al., 2016a). Além

43 disso, nosso estudo mostrou que a autoavaliação como parceiro romântico parece influenciar a autoestima, que por sua vez atua como um termômetro social (Baumeister & Leary, 1995; Reeve et al., 2017; Schmitt & Jonason, 2019), influenciando nas preferências idealizadas para um parceiro de longo prazo.

Os homens em nossa amostra buscam por maior atratividade do que as mulheres, o que confirma nossa hipótese e vai no mesmo sentido de estudos anteriores (Pawlowski, 2000; Russock, 2011; Thomas et al., 2019). Essa preferência parece conferir uma vantagem clara ao sexo masculino, ao permitir o acesso a informações sobre a fertilidade das parceiras em potencial (Buss, 2019). Por outro lado, em nossa amostra os heterossexuais idealizaram maior atratividade do que os não-heterossexuais, embora na literatura já exista registro de homens e mulheres não-heterossexuais buscando mais por atratividade que indivíduos heterossexuais do mesmo sexo, porém sem direcionar a idealização para relacionamentos de curto ou longo- prazo (Russock, 2011). Nosso estudo direcionou a idealização de parceiros para relacionamentos de longo-prazo, desse modo, pode ser que para os heterossexuais parceiros mais atrativos para longo-prazo estejam dando maiores pistas de juventude, o que no caso de mulheres pode significar proximidade ao pico reprodutivo e expectativa de que essa parceira continuaria reprodutiva por mais tempo (Buss, 2019; Lassek & Gaulin, 2018; Sousa, Hattori, & Mota, 2009).

As mulheres heterossexuais em média buscam por parceiros capazes de investir nela e em sua prole (Buss, 2006; Souza, Conroy-Beam, & Buss, 2016), já que a qualidade da prole é um fator limitante para o sucesso reprodutivo das mulheres (Buss, 2019). Em nosso estudo, ao focar em parceiros de longo prazo, essa preferência se confirma para mulheres heterossexuais e aparece para mulheres não-heterossexuais através do domínio Recursos. Russock (2011) encontrou pouco interesse de mulheres não-heterossexuais em características ligadas a captação de recursos em suas parceiras, porém nesse estudo a busca por parceiros não foi dividida em estratégias de curto e longo prazo, o que pode ter conduzido à diferença de resultados. Desse modo, nossos resultados sugerem que para estratégias de longo-prazo o sexo parece ter maior influência nas preferências por recursos em parceiros românticos do que a orientação sexual.

44 As mulheres também idealizaram maiores pontuações no domínio Social do que os homens. Entre as características que compõem esse domínio está o bom humor e a produção de humor já foi documentada na literatura como importante para a escolha de parceiro feminina (Hone et al., 2015; Tornquist & Chiappe, 2019). Nossos resultados mostraram ainda que indivíduos heterossexuais querem maiores pontuações no domínio Social do que os não- heterossexuais. A característica de fidelidade que faz parte do domínio Social em nosso estudo pode ser de crucial importância para vantagens reprodutivas em casais heterossexuais, já que a infidelidade da mulher pode gerar incerteza da paternidade e o homem infiel pode engravidar outras parceiras e assim dividir seu investimento de recursos e tempo entre as duas proles (Buss, 2019).

As diferenças por orientação sexual nas preferências em um parceiro de longo-prazo podem refletir a evolução de diferentes benefícios relacionados a estabelecer relacionamentos duradouros com indivíduos do mesmo sexo e com indivíduos do sexo oposto (Kirkpatrick, 2000; Monk, Giglio, Kamath, Lambert, & McDonough, 2019). Enquanto a teoria do investimento parental (Trivers, 1972) explica a evolução das preferências heterossexuais, Kirkpatrick (2000) sugere que a evolução de relacionamentos românticos entre indivíduos do mesmo sexo em nossa espécie pode ter conferido vantagens à sobrevivência dos indivíduos, fortalecendo coalizões para competição e a cooperação entre os indivíduos. Desse modo, atração por indivíduos do mesmo sexo e do sexo oposto parecem ter evoluído por diferentes pressões seletivas (Kirkpatrick, 2000; Monk, Giglio, Kamath, Lambert, & McDonough, 2019).

As diferenças em preferências por parceiros de longo-prazo podem indicar que as mesmas características influenciam o valor de mercado de formas diferentes de acordo com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos (Zeigler-Hill, Campe, & Myers, 2009) e influenciar a relação entre autoavaliação como parceiro e autoestima. Em nossa amostra, a autoavaliação como parceiro romântico dos indivíduos foi capaz de predizer a autoestima. Estudos apontam que a autoestima é capaz de responder a sinais de rejeição e aceitação do indivíduo no mercado de acasalamento (Pass, Lindenberg & Park, 2010; Schmitt & Jonason, 2019). Ao atuar como um termômetro social (Baumeister & Leary, 1995; Schmitt & Jonason,

45 2019), o esperado é que para cada sexo e orientação sexual a autoestima seja mais influenciada pelas características preferidas pelos parceiros em potencial.

Tanto para indivíduos heterossexuais quanto não-heterossexuais de ambos os sexos a autoavaliação de atratividade foi capaz de prever a autoestima. O domínio Recursos foi capaz de predizer a autoestima apenas de mulheres não-heterossexuais e de homens heterossexuais, o que pode estar refletindo as preferências de mulheres não-heterossexuais observada em nosso estudo e a de mulheres heterossexuais já bem documentada na literatura (Buss, 2006; Souza, Conroy-Beam, & Buss, 2016). Já o domínio Social predisse a autoestima de mulheres heterossexuais e homens heterossexuais e não-heterossexuais; no caso dos heterossexuais, isso pode estar refletindo a preferência dos parceiros em potencial mostradas em nossa amostra. Para os homens não-heterossexuais, no entanto, essa relação pode acontecer devido a um ajuste ao mercado de acasalamento (Lopes, Castro, Mafra, & Hattori, 2018). As características que compõem esse domínio podem ser menos expressas nesse grupo, assim, as preferências são ajustadas para menores exigências nessas características, porém os indivíduos que as possuem apresentam autoestima elevada.

Documentos relacionados