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Juntos pelo acaso? Diferenças individuais e relacionamentos românticos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA LABORATÓRIO DE EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO

JÉSSICA JANINE DE OLIVEIRA

Juntos pelo acaso? Diferenças individuais e relacionamentos românticos

Orientadora: Profª Drª Fívia de Araújo Lopes

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JÉSSICA JANINE DE OLIVEIRA

Juntos pelo acaso? Diferenças individuais e relacionamento românticos

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Psicobiologia como requisito para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências – CB

Oliveira, Jéssica Janine de.

Juntos pelo acaso? Diferenças individuais e relacionamentos românticos / Jéssica Janine de Oliveira. - Natal, 2020. 162 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-graduação em Psicobiologia.

Orientadora: Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes.

1. Personalidade - Tese. 2. Autoestima - Tese. 3. Dimensões do apego - Tese. I. Lopes, Fívia de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSCB CDU 159.923.2

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JAROSLAVA VARELLA VALENTOVA Universidade de São Paulo

VICTOR KENJI MEDEIROS SHIRAMIZU University of Glasgow

NATÁLIA BEZERRA DUTRA Universidade Federal do Rio Grande do Norte

FELIPE NALON CASTRO

Universidade Federal do Rio Grande do Norte FÍVIA DE ARAÚJO LOPES

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Dedico a toda menina que um dia sonhou em ser cientista.

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AGRADECIMENTOS

A todos os profissionais que estão na linha de frente na luta contra a pandemia da covid19: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes de saúde da família e endemias,

motoristas de ônibus e aplicativos, caixas de supermercado, garis, cientistas e todos os demais, fica aqui meu muito obrigado. É graças ao trabalho de vocês também que posso

estar sentado em meu computador escrevendo essa tese.

A minha família, que sempre esteve a meu lado, por todo apoio e carinho de sempre. Em especial a minha mãe que me ensinou a respeitar e admirar as diferenças individuais nos

animais humanos e não-humanos, tópico que hoje faz parte da maioria de minhas pesquisas.

A minha companheira de todos os momentos Adrielly Marcela, que com suas contribuições como cientista é uma grande parte desse trabalho e que como ser humano é uma imensa

parte da minha vida, sem você esse trabalho não seria possível.

A Fívia de Araújo Lopes, minha orientadora, por estar presente quando precisei, por sua paciência quando surtei com o prazo do exame de proficiência, por todas as risadas compartilhadas e por me permitir colaborar na orientação de alunos da graduação, passo

que foi muito importante para o desenvolvimento de minhas habilidades como docente. A meus orientandos de TCC, Adrielly, Manu e Renan, acreditem em cada um dos

momentos com vocês foi um aprendizado novo para mim.

A todos que fazem parte do LECH, especialmente a Manu, Anne, Davi, Lariça e Alisson, que auxiliaram no processo de coleta de dados ao longo desses quatro anos, cada voluntário

que vocês trouxeram foi importante para a realização desse trabalho.

Por fim, aos meus amigos, Adrielly, Arthur, George, Guaciara, Ítalo, Júlio, Leo, Luana, Marília, Manu, Patrícia e Raynison. Sem dar risadas com vocês talvez a conclusão desse trabalho fosse muito mais difícil e sem os memes nos grupos de whatsapp, com certeza esse

distanciamento social estaria muito mais difícil.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

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Sumário

APRESENTAÇÃO 7

RESUMO 8

ABSTRACT 9

INTRODUÇÃO GERAL 10

A escolha de parceiro romântico em humanos. Eles competem e elas escolhem? 11 As preferências e o mercado de acasalamentos heterossexual 13 As preferências e o mercado de acasalamentos não-heterossexual 15 A relação entre autoestima e autopercepção como parceiro romântico 19

Sociossexualidade 21

Dimensões do apego e relacionamentos românticos 22

A personalidade e o mercado de acasalamentos 25

E viveram felizes para sempre? Diferenças individuais e satisfação no relacionamento 27

OBJETIVO GERAL 28

Objetivos Específicos 28

HIPÓTESES E PREDIÇÕES 29

Artigo 1 - O termômetro das relações amorosas: Autoestima e valor de mercado no

longo-prazo 33 Resumo 33 Introdução 34 Método 36 Resultados 38 Discussão 42 Referências 46

Artigo 2 - Um bom partido: Valor de mercado, autoestima e sociossexualidade em indivíduos

heterossexuais e não-heterossexuais 50 Resumo 50 Introdução 51 Método 54 Resultados 56 Discussão 60

Artigo 3 - O que sou e o que espero de você. Personalidade, apego e valor de mercado em

heterossexuais e não-heterossexuais 69

(8)

Introdução 70

Método 73

Resultados 75

Discussão 81

Referências 86

Artigo 4 - ABC do amor: influência da personalidade, apego romântico e valor de mercado na

satisfação nos relacionamentos românticos 92

Resumo 92 Introdução 93 Método 95 Resultados 98 Referências 112 CONSIDERAÇÕES FINAIS 117 REFERÊNCIAS GERAIS 124 APÊNDICES 139

Apêndice A - Termo de consentimento livre e esclarecido 139

Consentimento Livre e Esclarecido 140

Apêndice B – Cabeçalho do questionário de personalidade do parceiro 141

ANEXOS 142

Anexo A - Questionário sociodemográfico 142

Anexo B - Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade 145 Anexo C - Versão em português do Experience in Close Relationships 146 Anexo D - Autopercepção do indivíduo como parceiro romântico e avaliação do parceiro ideal

e real 149

Anexo E - Escala de autoestima de Rosenberg 151

Anexo F - Versão em português da Relationship Assessment Scale 152 Anexo G - Versão validade para o português do SOI-R 153 Anexo H - Parecer emitido pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN 155

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7 APRESENTAÇÃO

A presente tese está dividida em um capítulo de introdução e quatro artigos empíricos. O capítulo introdutório tem o objetivo de apresentar conceitos relevantes para uma discussão ampla sobre o tema de pesquisa através de uma revisão integrativa de literatura. O primeiro artigo empírico investigou as diferenças nas características idealizadas em um parceiro romântico entre homens e mulheres, heterossexuais e não-heterossexuais e a relação entre valor de mercado, autoestima e idealização de um parceiro romântico. O segundo artigo empírico compara a autoavaliação do valor de mercado de indivíduos envolvidos em relacionamentos de longo-prazo com o valor de mercado atribuído a eles por seus parceiros, além de investigar diferenças em autoestima entre indivíduos solteiros e envolvidos em um relacionamento e a relação entre autoestima, valor de mercado e orientação sociossexual. O terceiro artigo empírico investigou as diferenças entre os sexos e de acordo com a orientação sexual em traços de personalidade e nas dimensões do apego romântico, e identificou as relações entre apego romântico, personalidade, idade e valor de mercado. Por fim, o quarto artigo empírico investigou as diferenças entre os sexos e por orientação sexual nas preferências por traços de personalidade e a influência de diferenças individuais na satisfação nos relacionamentos. Após os artigos, são apresentadas as considerações finais um quadro de resumo com hipóteses e predições, e as referências gerais do capítulo um. Por fim, são apresentados os apêndices e os anexos dos instrumentos utilizados nesta tese, além do parecer com comitê de ética em pesquisa com seres humanos.

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8 RESUMO

Nas últimas décadas os estudos com seleção sexual na espécie humana têm voltado sua atenção para aspectos individuais, dentre os quais estão autoestima, sociossexualidade, personalidade e dimensões dos estilos de apego adulto. A autoestima pode funcionar como um termômetro social indicando ao indivíduo quando ele precisa ajustar seu comportamento frente ao seu grupo. Já a sociossexualidade pode ser compreendida como a tendência de uma pessoa em se envolver em relações casuais. Por sua vez, a personalidade é o conjunto de características psicológicas, que possui base genética e sofre influência do ambiente de desenvolvimento do indivíduo. Ainda, o apego pode ser definido como um conjunto de comportamentos desempenhados que permite o desenvolvimento de vínculos emocionais. O presente estudo teve como objetivo investigar a relação entre autoestima, sociossexualidade, dimensões básicas dos estilos de apego e personalidade, na autopercepção do valor de mercado, na idealização de parceiros românticos e na satisfação no relacionamento de indivíduos heterossexuais e não-heterossexuais. Para isso, foram recrutados 385 voluntários, 219 solteiros e 166 envolvidos em um relacionamento de longo-prazo (12 meses ou mais de duração), e as coletas foram realizadas através da aplicação de questionários de modo presencial. Nossos resultados mostraram que a idealização de características desejadas em um parceiro romântico varia de acordo com o sexo e com a orientação sexual, porém essa idealização pareceu ser influenciada pela autoestima dos participantes. Por outro lado, a autoestima em nossa amostra não diferiu entre indivíduos solteiros e aqueles em um relacionamento. A orientação sociossexual, os traços de personalidade e as dimensões do apego variam de acordo com o sexo e com a orientação sexual. As dimensões do apego romântico e os traços de personalidade foram ainda capazes de prever a autoavaliação como parceiro romântico e a avaliação do parceiro. Por fim, entre as variáveis investigadas, o apego romântico parece exercer a maior influência sobre a satisfação no relacionamento para casais heterossexuais, enquanto os traços de personalidade influenciam a satisfação em indivíduos não-heterossexuais. Sugerimos que a evolução da autoestima, da personalidade, da sociossexualidade e do apego romântico pode ter influenciado o contexto de busca e escolha de um parceiro e manutenção de um relacionamento duradouro.

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9 ABSTRACT

In the last decades, studies with sexual selection in the human species have turned their attention to individual aspects, such as: self-esteem, sociossexuality, personality, and attachment. Self-esteem is a social thermometer that indicates to an individual when he must change their behavior. Sociossexuality can be defined as a behavioral tendency of one person engage in casual sex. Personality is a set of psychological traits defined by the interaction between genetic predisposition and environment. The romantic attachment can be described as a set of behavioral tendencies that allow the individuals maintain emotional bonds. The aim of the present study was to investigate the relationship between self-esteem, sociossexuality, romantic attachment, personality, self-perceived mate value, idealization of a romantic partner and relationship satisfaction in heterosexual and non-heterosexuals individuals. 385 volunteers participated in this study, 219 singles and 166 in a long-term relationship (12 months or more of duration). The participation consisted in answer a package of questionnaires. Our results showed that heterosexual and non-heterosexual men and women differ in their idealization of a romantic partner, and self-esteem influence the idealization of a romantic partner. On the other hand, self-esteem does not differ between single and committed participants. The sociossexual orientation, the personality traits and the attachment dimensions are different between sex and sexual orientations. Also, the romantic attachment and personality traits could predict the self-perceived mate value and the partners evaluation of the individual’s mate value. The romantic attachment was the most capable of predicting relationship satisfaction when compare to the other studied variables. We suggest that the evolution of self-esteem, personality, sociossexuality and romantic attachment could have influenced the mate choice context.

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10 INTRODUÇÃO GERAL

No presente estudo o comportamento humano será abordado com base no proposto por Darwin em sua Teoria de Seleção Sexual, apresentada no livro The Descent of Man and

Selection in Relation to Sex (1871). Para isso, serão utilizados como base estudos de

psicólogos evolucionistas, que buscam integrar conceitos da psicologia e da biologia evolutiva para explicar o comportamento humano (Buss, 2009) e da ecologia comportamental, que pode contribuir para a compreensão do comportamento sexual em nossa espécie (Moller & Danchin, 2008).

Na visão de Darwin (1871) o processo de seleção sexual explica a presença de dimorfismo sexual em caracteres custosos, como a cauda do pavão, o canto e a coloração chamativa de pássaros. Segundo a teoria da seleção sexual, o surgimento e a manutenção desses caracteres podem ser explicados por eles conferirem uma vantagem reprodutiva ao indivíduo (Darwin, 1871). A coloração do peixe beta (Betta splendens) pode ser usada como um exemplo da atuação da seleção sexual: se os peixes que possuem coloração vermelha são os preferidos pelas fêmeas na hora de acasalar (ver Clotfelter, Ardia, & McGraw, 2007) eles deixam mais descendentes; logo, é esperado um maior número de peixes vermelhos na geração seguinte. Porém, além da escolha de parceiros a seleção sexual também envolve a competição entre indivíduos do mesmo sexo por acesso a parceiros (Alcock, 2011; Hunt, Breuker, Sadowski, & Moore, 2009; Wong & Candolin, 2005).

Em geral, um sexo escolhe e o outro compete pelo acesso a parceiros do sexo oposto (Alcock, 2011; Hunt et al., 2009), já que os sexos possuem diferenças na quantidade de investimento na prole (Trivers, 1972). A escolha é realizada pelo sexo com maior investimento reprodutivo (Janetos, 1980) e o sexo com menor investimento tem o acesso ao sexo oposto que se torna fator limitante para reprodução (Alcock, 2011). Considere, como exemplo, um mamífero típico como um cachorro: a reprodução das fêmeas, com gestação e lactação, exige um alto investimento fisiológico; assim, seu sucesso reprodutivo é limitado pelo número de filhotes que ela consegue gerar e criar estando, portanto, condicionado aos recursos que ela tem para investir em sua prole (Allen & Bailey, 2007; Janetos, 1980). Para os machos o sucesso reprodutivo é limitado pelo número de fêmeas às quais eles têm acesso (Allen & Bailey, 2007; Janetos, 1980). Consequentemente, o fenótipo comportamental mais comum entre os mamíferos é aquele no qual as fêmeas escolhem e os machos competem pelo

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11 acesso às fêmeas (para uma revisão sobre escolha de parceiros em mamíferos ver Clutton-Brock & McAuliffe, 2009).

A escolha de parceiro romântico em humanos. Eles competem e elas escolhem?

Nos humanos, assim como nos demais mamíferos, as mulheres também têm seu sucesso reprodutivo limitado pelo investimento em gestação e lactação, enquanto os homens possuem um potencial maior para a geração de prole (Buss & Schmitt, 1993). Considere que uma mulher grávida de gêmeos leva nove meses para completar uma gestação e um homem, em teoria, poderia fecundar uma nova mulher fértil a cada dia. Fazendo uma matemática simples vemos que ao final dos nove meses ele poderia ter fecundado aproximadamente 270 mulheres, enquanto ela gerou apenas dois filhos.

Claro que a situação exposta acima é um exagero, porém, as diferenças em potencial reprodutivo em nossa espécie não são difíceis de serem percebidas. De acordo com o Guinnes, o livro dos recordes (acessado em 20 de abril de 2018, em http://www.guinnessworldrecords.com.br/), o homem com o maior número de filhos foi Moulay Ismail, o último imperador Sharifian do Marrocos (1672 - 1727), que teve 525 filhos e 342 filhas. O livro não fala quantas esposas ele possuía, porém, vale lembrar que no Marrocos um homem pode se casar com várias mulheres, desde que tenha recursos. Em sociedades monogâmicas o recorde de maior número de filhos gerado por um casal de monarcas também está registrado no livro. Ele pertence ao príncipe Hartmann of Liechtenstein (1612 - 1686) e a condessa Elisabeth Zu Salm-Reifferscheid (1623 - 1688), que tiveram 21 filhos (acessado em 20 de abril de 2018, em http://www.guinnessworldrecords.com.br/). Os monarcas tinham recursos para cuidar de sua prole, porém olhando para os números não tem como negar que o marroquino teve a maior descendência.

Os números expostos acima sobre os recordes do Guinnes podem ser vistos como mais uma evidência de que o número de filhos de um homem pode ser limitado pelo número de mulheres às quais ele tem acesso, enquanto as mulheres apresentam limitações fisiológicas (para uma discussão ver Buss & Schmitt, 1993). Assim, podemos esperar diferenças nas estratégias reprodutivas de homens e mulheres (Janetos, 1980) e nas características preferidas por cada sexo (Pawlowski, 2000).

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12 Na espécie humana as mulheres são as responsáveis pela maior parte dos cuidados destinados aos recém nascidos (Buss & Schmitt, 1993; Janetos, 1980), enquanto o homem investe tempo e energia em seus filhos de modo indireto, através de alimentação, proteção e provimento de recursos (Buss & Schmitt, 1993; Janetos, 1980). Assim, homens e mulheres enfrentam diferentes dilemas evolutivos (trade-offs) na hora de buscar um parceiro (Hattori & Castro, 2017). Cientistas que interpretam o comportamento sexual humano, com uma visão darwiniana, concordam que uma mulher tem maior custo ao tomar a decisão de se engajar em relações de curto prazo (Hattori & Castro, 2017; Janetos, 1980), pois ela pode acabar gerando a prole de um homem que não está interessado em contribuir com o investimento parental. Enquanto o homem tem seu sucesso reprodutivo maximizado quando consegue copular com o maior número de parceiras possível (Hattori & Castro, 2017).

Desse modo, é esperado que em média os homens sejam mais inclinados a relacionamentos de curto prazo e menos seletivos do que as mulheres (Geary, Vigil, & Byrd-Craven, 2004). Por outro lado, o investimento paterno, embora indireto, pode ser de extrema importância, pois, em comparação com outras espécies de primatas o bebê humano nasce frágil e demanda mais cuidado e proteção (Moller & Danchin, 2008). Assim, a contribuição dos homens no cuidado pode fazer com que eles tenham mais filhos sobreviventes (Hattori & Castro, 2017; Moller & Danchin, 2008) e consequentemente maior sucesso reprodutivo (Hattori & Castro, 2017). Essa é uma das hipóteses que explicaria a presença de casamentos monogâmicos em tantas sociedades humanas (Moller & Danchin, 2008).

Devido ao alto grau de investimento paterno na prole (quando comparado a outros mamíferos) os homens da nossa espécie são seletivos ao escolher uma parceira para estabelecer um relacionamento romântico (Kenrick & Keefe, 1992; Moller & Danchin, 2008), embora não tanto quanto as mulheres (Geary et al., 2004). Como resultado, em nossa espécie ambos os sexos competem (Buss, 1988) e ambos os sexos escolhem no mercado de acasalamentos (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000), no chamado modelo de escolha mútua (para uma discussão aprofundada sobre esse modelo ver Stewart-Williams & Thomas, 2013). Além disso, as preferências dentro do mercado de acasalamentos sofrem influência de fatores ambientais, ecológicos e econômicos (Jennions & Petrie, 1997; Marcinkowska et al., 2019) e de características individuais, como a idade (Marcinkowska, Dixson, Kozlov, Prasai, & Rentala, 2017).

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13

As preferências e o mercado de acasalamentos heterossexual

Ao selecionar uma parceira, a maioria dos homens heterossexuais dão maior importância do que mulheres a atratividade física (Pawlowski, 2000; Russock, 2011) e preferem parceiras jovens, no pico de seu valor reprodutivo e fertilidade (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000), os autores discutem que a atratividade física da mulher dá sinais de sua capacidade de gerar prole (Castro & Lopes, 2011; Pawlowski, 2000). Além disso, homens apresentam preferências por pistas de fidelidade sexual mais fortes que as de mulheres, já que ser traído pela parceira pode significar investir tempo e recursos em uma prole que não é sua (Buss, 2001).

Para as mulheres heterossexuais a atratividade física pode dar pistas sobre a herança genética; assim, elas tenderiam a preferir homens com faces mais masculinas (Hone, Hurwitz, & Lieberman, 2015; Marcinkowska et al., 2019), sendo essas anteriormente associadas à resistência a doenças (Rhodes, Chan, Zebrowitz, & Simmons, 2003; Thornhill & Gangestad, 2006). Elas também dão preferência a homens mais altos que elas (Valentova, Bártová, Sterbová, & Varella, 2016a) característica associada com saúde (Silventoinen, Lahelma, & Rahkonen, 1999) e longevidade (Sear, 2010). No entanto, homens com características mais masculinas são mais inclinados a se engajar em relações de curto prazo (Polo, Muñoz-Reyes, Pita, Shackelford, & Fink, 2019; Kruger, 2006; Rhodes, Simmons, & Peters, 2005). Como consequência, ao escolher um parceiro com bons genes a mulher pode estar abrindo mão de um que esteja interessado em investir nela e em sua futura prole (Hone et al., 2015). Assim, características que dão pistas da qualidade genética do parceiro parecem ter um peso maior na escolha para relacionamentos de curto prazo (Burt et al., 2007; Little, Cohen, Jones, & Belsky, 2007).

Para os relacionamentos de longo prazo em média o maior peso na escolha feminina é dado às características que demonstram capacidade de captação e manutenção de recursos que podem ser investidos nela e na prole, como status social, inteligência (Buss, 2006) e senso de humor (Hone et al., 2015). Essas preferências estão presentes entre mulheres heterossexuais de diversas culturas (Buss, Shackelford, Kirkpatrick, & Larsen, 2001; Souza, Conroy-Beam, & Buss, 2016). A seleção sexual exerce, então, pressões diferentes nas características de homens e mulheres (Hone et al., 2015). O senso de humor, é um exemplo de característica que sofre diferentes pressões seletivas em homens e mulheres. Segundo

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14 Hone e colaboradores (2015) tanto homens quanto mulheres desejam parceiros bem-humorados, porém os homens dão mais importância do que as mulheres para a capacidade do parceiro de rir de suas piadas, enquanto mulheres preferem parceiros que as façam rir. A altura é outro exemplo, homens parecem preferir parceiras mais baixas do que eles (Valentova et al., 2016a), enquanto mulheres heterossexuais buscam parceiros mais altos que elas (Valentova et al., 2016a).

Diferente de estudos acadêmicos onde os indivíduos apenas imaginam um parceiro romântico, em um contexto real, as chances de encontrar um(a) parceiro(a) que atenda às suas preferências, dependem ainda das características que o indivíduo possui, bem como daquelas apresentadas por seus competidores (ver Buston & Emlen, 2003 e Gutierres, Kenrick, & Partch, 1999). Se você é mulher e está em um bar cheio de mulheres atraentes fisicamente e que riem de qualquer piada mais do que você, suas chances de ser escolhida como parceira acabaram de diminuir. O mesmo acontece se você é homem e se encontra em um ambiente onde todos os homens são mais altos que você. A espécie humana parece ter desenvolvido mecanismos para estimar o seu próprio valor de mercado e assim suas chances de encontrar um parceiro (Buston & Emlen, 2003; Gutierres et al., 1999). O valor de mercado pode ser definido como a pontuação do indivíduo em atratividade como parceiro romântico, relativa às características preferidas pelo sexo oposto e ao quanto ele apresenta essas características em relação a seus competidores (Howie & Pomiankowski, 2018; Pawlowski, 2000).

Buston e Emlen (2003), apresentam duas hipóteses sobre como os indivíduos podem ajustar suas preferências de acordo com as características que possuem: (1) indivíduos mais atraentes para o sexo oposto são mais exigentes no que diz respeito a características preferidas pelo seu sexo, ou seja, mulheres que se avaliam com mais características que demonstram sinais de fertilidade, como a beleza, querem parceiros mais inteligentes e mais voltados a investir na família, e (2) os indivíduos são mais exigentes nas características que possuem. Nessa segunda hipótese os sexos são mais similares na escolha, de modo que indivíduos que pontuam mais em inteligência buscam parceiros mais inteligentes. No estudo de Buston e Emlen (2003) os dados confirmaram a hipótese dois. He e colaboradores (2013) em um estudo com dados de casais pareados em um site de relacionamentos encontraram que indivíduos, independente do sexo, tendem a escolher parceiros com características similares

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15 às suas. Esse tipo de escolha por indivíduos com características similares parece estar ligado ao sucesso de relacionamentos de longo-prazo (He et al., 2013)

A primeira hipótese, embora não confirmada por Buston e Emlen (2003) está de acordo com o previsto pela Teoria do Investimento Parental (Trivers, 1972) e apresenta diversos resultados na literatura que lhe dão suporte (Buss, 2009; Gutierres et al., 1999; Kenrick, Neuberg, Zierk, & Krones 1994). Mulheres modificam sua autoavaliação como parceiras de acordo com a atratividade física das demais mulheres em seu ambiente, já homens avaliam seu valor de mercado de acordo com características preferidas pelas mulheres, como o status social dos competidores (Gutierres et al., 1999). Além disso, a exposição a fotos de mulheres fisicamente atraentes influência em como o homem se sente sobre seu relacionamento atual (Castro, Hattori, Yamamoto, & Lopes, 2014; Kenrick et al., 1994), enquanto que as mulheres diminuem sua satisfação no relacionamento atual quando expostas a homens com alto status social, mas não a homens fisicamente atraentes (Kenrick et al.,1994).

As duas hipóteses possuem um ponto importante em comum: a escolha por um parceiro com valor de mercado similar ao seu pode levar a relacionamentos mais duradouros (Buss, 2009; Buston & Emlen, 2003; He et al., 2013).

As preferências e o mercado de acasalamentos não-heterossexual

As hipóteses evolucionistas baseadas no investimento parental podem explicar com certa facilidade as preferências e escolhas de parceiro em indivíduos heterossexuais. Por outro lado, poucos estudos até o presente abordam as preferências de indivíduos não-heterossexuais (termo que reúne indivíduos homossexuais e bissexuais - ver Kirkpatrick, 2000) sob uma perspectiva evolutiva (para algumas exceções ver Bailey, Gaulin, Agyei, & Gladue, 1994; Bailey & Zuk, 2009; Valentova et al., 2016a). A razão para isso pode ser a aparente contradição entre a Teoria da Evolução baseada na herança genética e a união de casais do mesmo sexo que, sem o auxílio da medicina moderna, não poderiam passar seus genes para a próxima geração (Bailey & Zuk, 2009; Levan, Fedina, & Lewis, 2008).

O comportamento sexual, incluindo corte e cópula, direcionado a indivíduos do mesmo sexo não é exclusivo da espécie humana (Bailey & Zuk, 2009). Esse tipo de comportamento já foi registrado em cerca de 1500 espécies (Monk, Giglio, Kamath, Lambert,

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16 & McDonough, 2019) incluindo peixes guppie (Field & Waite, 2004), pássaros zebra finch (Adkins-Regan, 2002) e mamíferos, como golfinhos nariz de garrafa (Mann, 2006) e bonobos (Fruth & Hohmann, 2006) (para uma comparação mais detalhada do comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo nos filos do reino Animalia ver Bailey & Zuk, 2009). Isso chamou a atenção de alguns pesquisadores que ao longo do tempo formularam hipóteses para explicar o surgimento do comportamento sexual direcionado a indivíduos do mesmo sexo (Kirkpatrick, 2000; Monk et al., 2019; Pfau, Jordan, & Breedlove, 2019).

Uma das primeiras explicações para o surgimento e manutenção do comportamento sexual direcionado a indivíduos do mesmo sexo nas espécies animais foi a hipótese da aptidão abrangente (Dickemann, 1995). De acordo com essa hipótese direcionar comportamento sexual a indivíduos do mesmo sexo diminui a aptidão direta do indivíduo, porém pode aumentar a sua aptidão indireta através de recursos e tempo investidos para a criação da prole de indivíduos aparentados (Dickemann, 1995). Essa hipótese assume que indivíduos com menores chances de deixar descendentes, devido a competição e/ou disponibilidade de recursos, irão expressar mais frequentemente o comportamento homossexual e que as linhagens genéticas com esses indivíduos deixariam mais descendentes se beneficiando de sua ajuda (Dickemann, 1995). No entanto, a falta de evidências que deem suporte a esses pressupostos levou ao surgimento de hipóteses alternativas, entre elas a hipótese dos benefícios não reprodutivos do comportamento sexual direcionado a indivíduos do mesmo sexo (Kirkpatrick, 2000).

Kirkpatrick (2000) propõe que o comportamento homossexual teria surgido devido a seus benefícios para sobrevivência. Estar engajados em comportamento sexuais direcionados a indivíduos do mesmo sexo pode levar os animais humanos e não-humanos a fortalecer suas interações afiliativas a longo prazo e ajudar na resolução de conflitos (Kirkpatrick, 2000). Bonobos, Pan paniscus, apresentam contato sexual com indivíduos do mesmo sexo mais frequentemente após conflitos, sinal de que esse contato pode servir para reconciliação ou regulação da tensão dentro do grupo (Clay & de Waal, 2015; Hohmann & Fruth, 2000). Aqui cabe ressaltar que em diversas espécies, incluindo a espécie humana, o comportamento sexual direcionado a indivíduo do mesmo sexo não é apresentado apenas em situações de resolução de conflitos ou formação de alianças (Bailey & Zuk, 2009; Monk et al. 2019).

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17 Em um estudo recente, Monk e colaboradores (2019) propõem uma mudança de paradigma ao tratar de comportamento sexual direcionado a animais do mesmo sexo como presente a condição ancestral a todos os animais. Para os autores, como esse comportamento está muito difundido entre os animais é mais parcimonioso pensar que a espécie ancestral teria comportamento sexual direcionado a indivíduo de ambos os sexos e que isso apenas se mantém nas espécies derivadas (Monk et al., 2019). Por exemplo, os besouros Anasa tristis e seu colega de gênero Anasa andresii não apenas se engajam em comportamento sexual direcionados a indivíduos do mesmo sexo, como quando as espécies são mantidas juntas ocorre cópula interespecífica (Greenway, Hamel, & Miller, 2019). A espécie ancestral dos animais provavelmente não possuía grande dimorfismo sexual; assim, direcionar comportamento sexual a qualquer coespecífico poderia significar não perder oportunidade de reprodução (Monk et al., 2019). Segundo Monk e colaboradores (2019), portanto, a seleção natural só deve ter atuado para a perda do comportamento sexual direcionado a animais do mesmo sexo em ambientes onde ele se tornou muito custoso.

Muitas mudanças de paradigmas dentro da ciência acompanham mudanças sociais e talvez a hipótese proposta por Monk e colaboradores (2019) não tenha surgido antes devido a atitude da sociedade humana em relação ao comportamento homossexual. Não há como negar que ainda são necessários mais estudos que tentem confirmar ou refutar a hipótese de Monk e colaboradores (2019), mas ela se mostra promissora e outras hipóteses semelhantes podem começar a surgir já que as atitudes a respeito de relacionamentos homoafetivos vêm mudando em muitas sociedades ao longo do tempo.

Newson e Richerson (2016) sugerem que sociedades maiores com estruturas sociais menos baseadas em família, como as ocidentais, tendem a ter atitudes mais positivas ao falar em homossexualidade. No Brasil, também estamos passando por um momento de transformação nas atitudes direcionadas a indivíduos LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais). Uma evidência é a conquista do direito de casamento entre pessoas do mesmo sexo, que passou a existir em todo território nacional a partir de 2013 (Garonce, 2017). Assim, mais estudos com a perspectiva evolutiva podem ampliar a compreensão quanto à importância da manutenção da variação de estratégias reprodutivas em nossa espécie.

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18 Para começar a compreender melhor essa variedade de estratégias uma pergunta pode ser elaborada: as características preferidas por homens e mulheres se mantém as mesmas independente da orientação sexual? Evidências apontam que a resposta para essa pergunta é não (Bailey et al., 1994; Gobrogge et al., 2007; Valentova et al., 2016a). Gobrogge e colaboradores (2007) e Russock (2011) ao estudarem anúncios em sites de busca de parceiros identificaram que as características expostas e buscadas, podem diferir de acordo com o sexo e/ou com a orientação sexual. Homens tanto heterossexuais quanto homossexuais querem parceiras(os) mais jovens do que eles quando buscam relacionamentos de longo prazo (Gobrogge et al., 2007). Por outro lado, mulheres homossexuais demonstram preferência por parceiras com maior atratividade física, assemelhando-se a homens heterossexuais, quando comparadas com mulheres heterossexuais (Russock, 2011), enquanto homens homossexuais buscam atratividade física com ainda mais frequência do que os heterossexuais (Russock, 2011) e parecem ser o grupo mais inclinado a relacionamentos de curto prazo (Gobrogge et al., 2007). Essa aparente inclinação para curto prazo pode ser devido ao fato dos homens homossexuais não estarem impedidos de ter relacionamentos de curto prazo pela estratégia de longo prazo de mulheres (Bailey et al., 1994).

Mulheres homossexuais e homens heterossexuais se importam menos com o status social das parceiras do que as mulheres heterossexuais (Bailey et al., 1994; Russock, 2011). Em relação à altura do parceiro, a preferência parece estar condicionada a altura que o indivíduo possui, tanto em heterossexuais, quanto em não-heterossexuais (Valentova et al., 2016a), porém o padrão geral mostra que mulheres preferem parceiros mais altos do que elas, embora mulheres heterossexuais busquem parceiro um pouco mais altos do que as não-heterossexuais (Valentova et al., 2016a). Para os homens, os não-heterossexuais demonstram preferência por parceiras mais baixas do que eles, enquanto os não-heterossexuais em sua maioria demonstram preferência por parceiros mais altos que eles (Valentova et al., 2016a). Desse modo, não podemos dizer que as preferências de não-heterossexuais são um espelho da preferência de indivíduos heterossexuais do sexo oposto, mas também não são idênticas àquelas de indivíduos heterossexuais do mesmo sexo (Valentova et al., 2016a).

Alguns autores acreditam que as preferências de homens e mulheres não-heterossexuais estão entre as de homens e mulheres não-heterossexuais (Valentova et al., 2016a; Valentova, Šterbová, Bártová, & Varella, 2016b). Se isso é verdade, como será que as

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19 características afetam o valor de mercado de indivíduos não-heterossexuais? As hipóteses baseadas na Teoria de Investimento Parental de Trivers (1972) podem não conter a melhor resposta para essa pergunta, porém uma hipótese que considere mais semelhanças entre os sexos, como a testada no estudo de Buston e Emlen (2003) pode nos ajudar a explicar como os indivíduos não-heterossexuais ajustam sua autopercepção enquanto parceiro romântico. Nas últimas décadas, olhar para construtos que se relacionam com a percepção do valor de mercado do indivíduo também tem ajudado a esclarecer como a espécie humana ajusta sua percepção frente aos parceiros em potencial e competidores no ambiente (Back et al., 2011a; Figueiredo, Sefcek, & Jones, 2006). A autoestima é uma característica individual que parece estar associada a características que afetam a percepção do valor de mercado dos indivíduos de modo diferente em homens e mulheres heterossexuais (Mafra & Lopes, 2014; Reeve, Kelly, & Welling, 2016).

A relação entre autoestima e autopercepção como parceiro romântico

A autoestima pode ser definida como um estado individual que é caracterizado pelo desejo que temos de pensar bem de nós mesmos, o que nos leva a fazer uma avaliação interna de nossos traços e protegê-los de mudanças indesejadas (Rosenberg, 1989), sendo essa avaliação interna sensível a nossa aprovação dentro de um grupo social (Baumeister & Leary, 1995). Sendo assim, a autoestima reflete a percepção de uma pessoa sobre como os outros a veem, funcionando como uma espécie de termômetro social, que permite ao indivíduo ajustar seu comportamento de acordo com os sinais de rejeição e afeição que recebe do grupo (Baumeister & Leary, 1995). Interpretar esses sinais também é muito importante para percepção do valor de mercado de um indivíduo (Reeve et al., 2016; Todd & Miller, 1999; Zhang, Liu, Li, & Ruan, 2015).

Kirkpatrick e Ellis (2001) propõem que existe um mecanismo que permite aos indivíduos ajustar suas preferências de acordo com o seu valor de mercado percebido. Como a autoestima parece responder como um sociômetro a diversas situações sociais (Kavanagh & Scrutton, 2015), ela contém diversos termômetros sociais adaptados a cada situação para responder às pistas mais relevantes ao contexto (para uma discussão sobre o número de domínios sociais aos quais a autoestima responde ver Kavanagh & Scrutton, 2015). Entre

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20 esses termômetros sociais um parece ser dedicado a responder a situações do mercado de acasalamentos (Reeve et al., 2016; Schmitt & Jonason, 2019).

Pistas de aceitação e rejeição de parceiros românticos em potencial afetam a percepção do valor de mercado que está associada a uma queda na autoestima geral dos indivíduos (Ruan & Zhang, 2012), à exigência sobre as características que deseja em um parceiro romântico (Kavanagh, Robins, & Ellis, 2010; Reeve et al., 2016) e à satisfação no relacionamento (Kavanagh, Fletcher, & Ellis, 2014). Mulheres heterossexuais que recebem pistas de rejeição pelo sexo oposto são menos exigentes nas características que buscam em um parceiro romântico, enquanto aquelas que recebem sinais de aceitação preferem homens com faces mais masculinas a as demais (Reeve et al., 2016). Para os homens, Schmitt e Jonason (2019) mostraram que um maior número de parceiras sexuais no ano anterior a aplicação do questionário está relacionado a maior pontuação em autoestima. Já para as mulheres, essa associação parece depender da cultura na qual elas estão inseridas. Na Europa Ocidental e na Europa Oriental a associação entre autoestima e número de parceiros sexuais é a mesma para mulheres e homens, quanto maior o número de parceiros, maior a pontuação em autoestima (Schmitt & Jonason, 2019).

No Brasil, em um estudo com heterossexuais, a autoestima parece se relacionar de modo diferente com as características de percepção de valor de mercado de indivíduos de diferentes estratos socioeconômicos (Mafra & Lopes, 2014). Para mulheres de status socioeconômico alto e para homens, quanto maior sua atratividade geral percebida maior a pontuação em autoestima (Mafra & Lopes, 2014); porém, para mulheres de status socioeconômico baixo a autopercepção de inteligência se correlaciona positivamente com a autoestima (Mafra & Lopes, 2014), e para as mulheres dos dois estratos socioeconômicos quanto mais elas acreditam que têm rosto bonito maior a pontuação em autoestima (Mafra & Lopes, 2014). O rosto bonito, corpo bonito e a inteligência também parecem se relacionar com a autoestima de homens de ambos os estratos socioeconômicos, enquanto apenas para homens de status socioeconômico baixo as características saúde, boa condição financeira e determinado e trabalhador têm relação positiva com a autoestima (Mafra & Lopes, 2014).

Até o momento da escrita do presente texto, estudos que buscam a relação entre autoestima e características relacionadas ao valor de mercado em indivíduos não-heterossexuais ainda não foram encontrados. Por outro lado, diferenças individuais, como a

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21 sociossexualidade, as dimensões do apego romântico e a personalidade parecem afetar a dinâmica do mercado de acasalamentos (Back et al., 2011a; Luo & Zhang, 2009) e o relacionamento com um parceiro romântico (Gómez-Zapian, Ortiz, & Lope, 2011; Najarpourian et al., 2012; Noftle & Shaver, 2006; Stroud, Durbin, Saigal, & Knobloch-Fedders, 2010), tanto em indivíduos heterossexuais (Noftle & Shaver 2006) como não-heterossexuais (Sakaguchi, Sakai, Ueda, & Hasegawa, 2007; Valentova et al., 2016b).

Sociossexualidade

A sociossexualidade descreve a tendência dos indivíduos em se envolver em sexo casual, ou seja, fora de um relacionamento comprometido (Nascimento, Hanel, Monteiro, Gouveia, & Little, 2018; Penke & Asendorpf, 2008; Simpson & Gangestad, 1991). Essa tendência sofre influência das experiências de vida do indivíduo, de fatores ambientais e hereditários (Bailey, Kirk, Zhu, Dunne, & Martin, 2000; Penke & Asendorpf, 2008; Simpson & Gangestad, 1991). Assim, os indivíduos apresentam diferenças em sua sociossexualidade, com essa variando em um contínuo, desde indivíduos com orientação sociossexual mais restrita que se engajam menos em sexo casual, e apresentam maiores sentimentos de angústia e ansiedade após encontros casuais, até indivíduos com orientação sociossexual mais irrestrita, aqueles que buscam ativamente por sexo casual e apresentam menos sentimentos negativos após esse tipo de encontro (Simpson & Gangestad, 1991; Vrangalova & Ong, 2014).

A sociossexualidade de um indivíduo pode ainda estar associada à sua estratégia reprodutiva (Gangestad & Simpson, 2000), com indivíduos com orientação sociossexual irrestrita investindo em relacionamentos de curto-prazo (Clark, 2006; Gangestad & Simpson, 2000). Estudos apontam que, em geral, os homens possuem a orientação sociossexual mais irrestrita do que as mulheres (Barrada, Castro, Correa, & Ruiz-Gómez, 2017; Clark, 2006; Sevi, Aral, &, Eskenazi, 2017; Vrangalova & Ong, 2014), o que está de acordo com a estratégia reprodutiva típica de cada sexo. Diferenças individuais em sociossexualidade também podem ser relacionadas à autopercepção do valor de mercado e essa relação parece sofrer influência do sexo (Clark, 2006). Homens heterossexuais com orientação sociossexual mais irrestrita possuem maior autoestima (Clark, 2006) e se percebem como um parceiro romântico de maior qualidade (Barrada et al., 2017). Já mulheres, não apresentam relação

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22 entre autoestima e sociossexualidade e aquelas que são mais irrestritas em sua orientação sociossexual não se percebem como bem sucedidas em sua vida amorosa (Clark, 2006).

Estudos recentes têm voltado sua atenção para diferenças intrassexuais na sociossexualidade (Bártová, Štěrbová, Varella, & Valentova, 2020; Nascimento et al., 2018). Ao investigarem a relação entre sociossexualidade e personalidade, pesquisadores apontam que indivíduos mais extrovertidos apresentam orientação sociossexual mais irrestrita, tendo maior número de parceiros e atitudes mais positivas em relação ao sexo casual (Nascimento et al., 2018; Schmitt & Shackelford, 2008); por outro lado, quanto mais irrestrita a orientação sociossexual de um indivíduo menor a sua pontuação nos traços de agradabilidade e conscienciosidade (Schmitt & Shackelford, 2008; para uma explicação mais detalhada das características de cada traço ver o tópico “A personalidade e o mercado de acasalamentos”).

Bártová e colaboradores (2020) apontam que diferenças em sociossexualidade podem estar ligadas à masculinidade em mulheres e à feminilidade em homens, com não conformidade de gênero estando ligada a orientação sociossexual mais irrestrita em ambos os sexos. Os autores analisaram ainda efeitos da orientação sexual na sociossexualidade, porém, nesse estudo homens heterossexuais e não-heterossexuais não diferiram entre si na pontuação total de sociosexualidade e tiveram a orientação sociossexual mais irrestrita do que mulheres heterossexuais e não-heterossexuais (Bártová et al., 2020). Apesar disso, estudos apontam que indivíduos homossexuais apresentam, em geral, sociossexualidade mais irrestrita do que heterossexuais (Schmitt, 2007). Assim, mais pesquisas com esse público são necessárias para elucidar a relação entre orientação sexual e sociossexualidade e a relação da sociossexualidade com outras diferenças individuais como o apego romântico.

Dimensões do apego e relacionamentos românticos

O sistema de apego consiste em predisposições comportamentais desenvolvidas na primeira infância que ajudam o infante a gerar e manter proximidade com seu cuidador principal (Bowlby, 1969/2002). Chorar, abraçar, fazer contato visual e sorrir são exemplos de comportamentos que fazem parte desse sistema (Bowlby, 1969/2002). Esses comportamentos geram uma resposta no cuidador principal que provê ao infante cuidado, conforto, atenção e proteção (Duschinsky, 2015). O aumento de proximidade com o cuidador

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23 principal tem como possível função evolutiva proteger o infante, garantindo sua sobrevivência, bem como o sucesso reprodutivo do cuidador (Bowlby, 1969/2002).

Ao longo de seu desenvolvimento a criança constrói modelos internos do mundo, que são influenciados pela relação dela com seu cuidador principal, que é sua figura de apego (Bowlby, 1973/2004). Caso o cuidador principal seja sensível às necessidades da criança, mas as atende sem desrespeitar a necessidade de independência do infante, por exemplo, deixando-o explorar o ambiente sozinho por um tempo, a criança tende a criar uma imagem positiva de si mesmo (Bowlby, 1973/2004; Griffin & Bartholomew, 1994) e do outro (Griffin & Bartholomew, 1994). Ter um modelo positivo de si influencia o quanto o indivíduo é seguro e se sente valorizado, enquanto um modelo positivo do outro faz com que o indivíduo aprenda a depositar sua confiança no outro (o cuidador principal) e espera que ele esteja disponível para atender às suas necessidades (Griffin & Bartholomew, 1994).

Por outro lado, se o cuidador é insensível às necessidades do infante, isso produz um modelo negativo de si e/ou do outro e faz com que a criança adote estratégias alternativas, para manter a autoconfiança ou para chamar a atenção do cuidador (Shaver & Mikulincer, 2002). Estes modelos de si e do outro formados na infância acompanham o indivíduo ao longo da vida (Griffin & Bartholomew, 1994) e a necessidade de uma figura de apego não se limita apenas a crianças (Griffin & Bartholomew, 1994), mas se estende à vida adulta (Griffin & Bartholomew, 1994).

Dessa forma, nossos comportamentos em relacionamentos adultos são influenciados por nossas experiências com o cuidador principal e o padrão de apego formado nessa relação auxilia na organização e regulação das experiências emocionais (Bowlby 1969/2002; Del Giudice, 2009; Wan Shahrazard, NorBa'yah, Fatimah, & Fatimah, 2015). Durante a adolescência e a vida adulta o parceiro romântico pode desempenhar o papel da figura de apego, proporcionando confiança e dando suporte emocional (Doherty & Feeney, 2004).

Nas últimas décadas, estudos propõem que o apego em relacionamentos românticos pode ser mensurado em duas dimensões básicas: a dimensão de ansiedade relacionada ao apego e a dimensão de evitação relacionada ao apego (Del Giudice, 2009; Del Giudice & Angeleri, 2015). Indivíduos com maior grau de ansiedade relacionada ao apego apresentam padrões comportamentais que buscam maximizar o investimento de tempo e recursos do parceiro no relacionamento, apresentando preocupações no que diz respeito à disponibilidade

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24 e comprometimento do parceiro (Del Giudice & Angeleri, 2015). Indivíduos com maior grau de evitação relacionada ao apego investem seu tempo e energia na busca por relacionamentos de curto prazo e apresentam vínculos emocionais reduzidos em suas relações interpessoais (Del Giudice & Angeleri, 2015).

Assim, pode-se afirmar que as dimensões do apego influenciam o tipo de relacionamento que o indivíduo desenvolve com seu parceiro romântico (Gómez-Zapian et al., 2011). Indivíduos que pontuam alto em ansiedade e/ou evitação relacionada ao apego apresentam vulnerabilidade ao lidar com situações específicas de estresse no relacionamento; por exemplo, indivíduos com alta pontuação em evitação podem não oferecer suporte a seu parceiro quando pressionados a fazê-lo ou teriam maior dificuldade em aumentar a intimidade dentro do relacionamento (Simpson & Rholes, 2017). Já indivíduos que pontuam mais em ansiedade relacionada ao apego tendem a demandar mais de seus parceiros quando enfrentam situações que ameaçam a estabilidade de seu relacionamento atual (Simpson & Rholes, 2017). Além disso, um perfil caracterizado como apego inseguro (alta ansiedade e/ou alta evitação) está relacionado a um maior número de parceiros sexuais (Busby, Hanna-Walker, & Yorgason, 2020) e a menor satisfação sexual dentro do relacionamento (Gewirtz-Meydan & Finzi-Dottan, 2018).

Até presente momento, poucos estudos foram realizados comparando o apego entre indivíduos heterossexuais e não-heterossexuais (para exceções ver Kurdek, 2002; Nematy & Oloomi, 2016; Shenkman, Bos, & Kogan, 2019). Apesar dos primeiros estudos que investigaram a relação do apego com a orientação sexual não terem encontrado diferenças no apego entre indivíduos heterossexuais e homossexuais (Kurdek, 2002; Ridge & Feeney, 1998), trabalhos mais recentes mostraram que os indivíduos homossexuais apresentam maior evitação relacionada ao apego do que os heterossexuais (Nematy & Oloomi, 2016; Shenkman et al., 2019) e que essa evitação parece estar relacionada a uma pior saúde mental entre gays e lésbicas quando comparados a indivíduos heterossexuais (Shenkman, Stein, & Bos, 2019).

Diferenças sexuais nas dimensões de apego também já foram encontradas (Del Giudice, 2018; Shiramizu, Natividade, & Lopes, 2013), com homens pontuando mais em evitação, enquanto as mulheres têm maior pontuação em ansiedade relacionada ao apego (Del Giudice, 2018). Essas diferenças entre os sexos podem indicar que esses traços sofreram diferentes pressões evolutivas para cada sexo, assim como aconteceu com outros construtos

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25 em que se apresentam diferenças individuais, como a personalidade (Apicella, Crittenden, & Tobolsky, 2017; Gosling & John, 1999; Nettle, 2006). A interação entre as dimensões básicas dos estilos de apego e a personalidade tem se mostrado cada vez mais importante para compreensão da satisfação na vida e nos relacionamentos românticos (Gómez-Zapian et al., 2011; Wan Shahrazard et al., 2015).

A personalidade e o mercado de acasalamentos

A personalidade pode ser definida como características individuais que possuem influência de componentes genéticos (Plomin, DeFries, McClearn, & Rutter, 2008) e do desenvolvimento do indivíduo, e se tornam bem estabelecidas e consistentes ao longo do tempo (Buss, 2009; Gosling & John, 1999). A influência de componentes genéticos e a presença de personalidade em outras espécies são, por si só, evidências de que estudos sobre a evolução da personalidade são necessários (Buss, 2009). Além disso, a personalidade influencia no sucesso reprodutivo dos indivíduos (Buss & Greiling, 1999; Nettle, 2006), com diferentes características da personalidade podendo ajudá-lo a ter acesso a um maior número de parceiros (Nettle, 2006; Whyte, Brooks, Chan, & Torgler, 2019) o que torna possível a atuação do processo de seleção natural na evolução dos traços de personalidade (Sih, Bell, & Johnson, 2004).

A pergunta “Como podemos explicar a evolução da personalidade?” já está presente na literatura a algum tempo (Buss, 2009; Sih et al., 2004) e ainda assim continua atual (Hogan & Sherman, 2020; Mullet, Brown, Fincher, Kosinski, & Stillwell, 2019). Entre as possíveis respostas para essa pergunta está a de que diferentes perfis de personalidade podem conferir vantagens competitivas a quem os possui (Hogan & Sherman, 2020). Um desdobramento seria questionar, qual perfil será o mais bem sucedido? Isso depende do ambiente onde o indivíduo está inserido e dos desafios que esse ambiente apresenta, como por exemplo o número de parasitas presente (Mullet et al., 2019) e/ou quais traços de personalidade estão presentes de forma predominante em sua cultura (Smaldino, Lukaszewski, von Rueden, & Gurven, 2019).

Atualmente, a maioria dos estudos utilizam o Modelo dos Cinco Fatores (The Big

Five Model) para organizar as características de personalidade (embora uma discussão atual

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26 modelo cada eixo representa um conjunto mais específico de características da variação da personalidade (Digman, 1990; John, 1990), sendo os eixos: (1) Neuroticismo, associado com sentimentos negativos como tristeza e ansiedade; (2) Agradabilidade, que está associado a empatia, cooperação e confiança; (3) Extroversão, que contém as características de exploração, atividade e sociabilidade; (4) Abertura a novas experiências, traço ligado à criatividade e busca por conhecimento e (5) Conscienciosidade, que engloba as variáveis autocontrole, organização e planejamento (Nettle, 2006).

Os traços do Big Five são considerados por ambos os sexos no momento da escolha de um parceiro romântico (Atari, Chaudhary & Al-Shawaf, 2019; Back, Penke, Schmukle, & Asendorpf, 2011b; Figueiredo et al., 2006; Valentova et al., 2016b; Whyte et al., 2019). Homens heterossexuais tendem a escolher mulheres mais extrovertidas (Luo & Zang, 2009) e em um estudo feito na Austrália, tanto para homens quanto para mulheres a pontuação em extroversão está relacionada a um maior número de encontros sexuais (Whyte et al., 2019). As mulheres heterossexuais preferem homens com altos níveis de agradabilidade, um traço de personalidade diretamente ligado à maior nível de cooperação (Back et al., 2011a), porém Whyte e colaboradores (2019) mostraram que, ao contrário do esperado na Austrália, homens que pontuam menos em agradabilidade são aqueles com maior frequência sexual; além disso, entre os homens australianos altos níveis de conscienciosidade e baixo neuroticismo (alta estabilidade emocional) estão relacionados a um maior número de parceiras (Whyte et al., 2019). Assim, as preferências parecem ser influenciadas pela cultura (Atari et al., 2019; Whyte et al., 2019) e pela orientação sexual dos indivíduos (Valentova et al., 2016b).

Valentova e colaboradores (2016b) em um estudo comparando brasileiros com tchecos encontraram que a preferência por personalidade parece estar relacionada às personalidades disponíveis dentro da população: por exemplo, os brasileiros pontuam menos em conscienciosidade e procuram parceiros com menos conscienciosidade do que os tchecos. Além disso, nessa amostra, tanto em brasileiros quanto em tchecos, os homens, tanto heterossexuais quanto não-heterossexuais, idealizaram parceiros(as) menos extrovertidos do que as mulheres, enquanto mulheres não-heterossexuais e homens heterossexuais procuraram por menor pontuação em conscienciosidade e mulheres heterossexuais e não-heterossexuais demonstraram preferência por parceiros com maiores níveis de agradabilidade do que os homens heterossexuais e não-heterossexuais (Valentova et al., 2016b).

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27 A personalidade também parece interferir na capacidade que o indivíduo tem de mensurar o seu valor de mercado através de sinais de rejeição e aceitação de indivíduos do sexo oposto (Back et al., 2011a; 2011b). Indivíduos heterossexuais, tanto homens quanto mulheres, que pontuam mais no eixo de agradabilidade tem a autopercepção do valor de mercado mais parecida com o valor atribuído a eles por indivíduos do sexo oposto (Back et al., 2011a). Dessa forma, além de influenciar na escolha de parceiros, a personalidade também parece influenciar na satisfação nos relacionamentos românticos (Najarpourian et al., 2012; O’Meara & South, 2019; Taggart, Bannon, & Hammett, 2019).

E viveram felizes para sempre? Diferenças individuais e satisfação no relacionamento A satisfação em um relacionamento depende de um conjunto de variáveis, incluindo qualidade de comunicação entre o casal, interações voltadas para o lazer, interesses comuns (Sousou, 2004) e similaridade no posicionamento político do casal (Leikas, Ilmarinem, Verkasalo, Vartiainen, & Lonnqvist, 2018). Diversos estudos mostram que a personalidade está diretamente relacionada à satisfação dentro dos relacionamentos românticos (Craig & Najarpourian et al., 2012; Olson, 1995; O’Meara & South, 2019; Taggart et al., 2019; Stroud et al., 2010; Zoby, 2005).

Ao entrar em um relacionamento romântico os indivíduos trazem consigo experiências e características de personalidade que foram moldadas ao longo da vida e essas características podem influenciar a dinâmica do relacionamento (Zoby, 2005), contribuindo para a presença de conflitos ou para a harmonia do casal (Craig & Olson, 1995; Taggart et al., 2019). Casais de noivos incluem as semelhanças com o companheiro em características de personalidade como um ponto positivo no relacionamento (Silva, Menezes, & Lopes, 2010). Assim, a personalidade de cada indivíduo e a interação entre as personalidades do par romântico podem definir o nível de satisfação em um relacionamento (Najarpourian et al., 2012; O’Meara & South, 2019).

Estudos apontam que altos níveis de neuroticismo estão relacionados com baixos níveis de satisfação marital (Najarpourian et al., 2012; Stroud et al., 2010; Zoby, 2005) e que mudanças nos traços de neuroticismo e conscienciosidade durante o tempo de relacionamento parecem prejudicar a satisfação do casal (O’Meara & South, 2019). Já quanto maior a pontuação nos traços de extroversão e conscienciosidade maior o nível de

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28 satisfação marital do indivíduo (Najarpourian et al., 2012; Stroud et al., 2010). Além da personalidade, outras diferenças individuais estão relacionadas a satisfação no relacionamento, como a sociossexualidade (French, Altgelt & Meltzer, 2019). Em um estudo com recém casados, French e colaboradores (2019) apontaram que sociossexualidade irrestrita está associada a menores níveis de satisfação no relacionamento e maior separação entre os casais.

O sistema de apego também parece estar associado a satisfação no relacionamento, com indivíduos seguros em relação ao apego apresentando maiores níveis de satisfação marital (Candel & Turliuc, 2019; Gómez-Zapian et al., 2011) e buscando mais intimidade no relacionamento (Alexandrov, Cowan, & Cowan, 2005; Bernier & Dozier, 2002). Noftle e Shaver (2006) em um estudo combinando personalidade e dimensões dos estilos de apego encontraram que o apego prevê a maior parte da variação na satisfação marital em casais heterossexuais, sendo baixos níveis de evitação relacionada ao apego a característica mais eficiente em prever a satisfação. No mesmo estudo os autores mostraram forte correlação entre a personalidade e as dimensões de apego (Noftje & Shaver, 2006). Considerando tais evidências, mais estudos são necessários para compreender como a interação entre os traços de personalidade e as dimensões de apego atua na dinâmica de um relacionamento romântico e como esses achados podem ser generalizados para diferentes populações.

OBJETIVO GERAL

O presente trabalho teve o objetivo de investigar o papel da autoestima, da autoavaliação como parceiro romântico, da sociossexualidade, da personalidade e do apego romântico no processo de escolha de parceiro e na satisfação dentro dos relacionamentos românticos em uma amostra brasileira.

Objetivos Específicos

▪ Investigar se indivíduos homens e mulheres, heterossexuais e não-heterossexuais diferem nas características preferidas em um parceiro romântico.

▪ Investigar a relação entre autoestima e as características ligadas a autopercepção do valor de mercado em homens e mulheres heterossexuais e não-heterossexuais.

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29 ▪ Comparar se indivíduos heterossexuais e não-heterossexuais diferem na proximidade entre sua autopercepção e o valor de mercado atribuído a eles por seu parceiro romântico.

▪ Comparar a pontuação de autoestima entre indivíduos solteiros e envolvidos em um relacionamento.

▪ Comparar a sociossexualidade entre os sexos e de acordo com a orientação sexual. ▪ Investigar se o valor de mercado e a autoestima são capazes de predizer a

sociossexualidade dos indivíduos.

▪ Comparar os traços de personalidade e as dimensões básicas dos estilos de apego entre os sexos e de acordo com a orientação sexual.

▪ Identificar a relação entre os cinco fatores da personalidade e as dimensões básicas dos estilos de apego.

▪ Identificar se a personalidade, as dimensões básicas dos estilos de apego e a idade podem atuar como preditores da autopercepção do valor de mercado do indivíduo. ▪ Investigar se existem diferenças nas preferências por traços de personalidade entre

heterossexuais e não-heterossexuais.

▪ Investigar a relação entre personalidade, dimensões dos estilos de apego, valor de mercado, idade e satisfação no relacionamento para casais heterossexuais e não-heterossexuais.

HIPÓTESES E PREDIÇÕES

Hipótese 1: Indivíduos heterossexuais e não-heterossexuais diferem nas características preferidas em um parceiro ideal.

Predição 1.1: Mulheres heterossexuais buscam mais por características que indicam a

capacidade de aquisição de recursos do que as mulheres não-heterossexuais.

Predição 1.2: Homens não-heterossexuais buscam parceiros mais atraentes do que homens

heterossexuais e do que as mulheres.

Hipótese 2: A relação entre a autopercepção do valor de mercado e a autoestima difere de acordo com o sexo e com a orientação sexual.

Predição 2.1: A autopercepção como parceiro romântico de características ligadas à beleza

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30 não-heterossexuais e de homens não-heterossexuais, mas não com a de homens heterossexuais.

Predição 2.2: A autopercepção de características ligadas a capacidade de aquisição de

recursos se correlaciona positivamente com a autoestima de mulheres não-heterossexuais e de homens heterossexuais.

Hipótese 3: Indivíduos não-heterossexuais diferem de heterossexuais na autopercepção de seu valor de mercado.

Predição 3.1: Indivíduos não-heterossexuais possuem sua autopercepção mais próxima do

valor de mercado atribuído a eles pelo(a) parceiro(a) do que os heterossexuais.

Hipótese 4: A autoestima difere entre os indivíduos solteiros e os envolvidos em um relacionamento romântico.

Predição 4.1: Mulheres envolvidas em um relacionamento de longo prazo pontuam mais em

autoestima do que as solteiras.

Predição 4.2: Homens solteiros pontuam mais em autoestima do que os envolvidos em um

relacionamento de longo prazo.

Hipótese 5: A sociossexualidade difere de acordo com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos

Predição 5.1: Homens apresentam sociossexualidade mais irrestrita do que mulheres e os

indivíduos não-heterossexuais são mais irrestritos do que heterossexuais do mesmo sexo. Hipótese 6: A autoestima e o valor de mercado estão relacionados à sociossexualidade dos indivíduos

Predição 6.1: Para homens, quanto maiores as pontuações em autopercepção do valor de

mercado e de autoestima, mais irrestrita a sua sociossexualidade.

Predição 6.2: Para mulheres, maiores pontuações em autopercepção do valor de mercado e em autoestima estão relacionadas à sociossexualidade mais restrita.

Hipótese 7: Os traços de personalidade e as dimensões do apego romântico diferem de acordo com o sexo e com a orientação sexual dos indivíduos.

Predição 7.1: Mulheres pontuam mais do que homens em neuroticismo e agradabilidade. Predição 7.2: Homens apresentam maiores pontuações no traço de abertura do que mulheres. Predição 7.3: Homens pontuam mais do que mulheres em evitação relacionada ao apego e

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31

Predição 7.4: Mulheres pontuam mais do que homens em ansiedade relacionada ao apego. Hipótese 8: As dimensões básicas dos estilos de apego estão relacionadas com a personalidade dos indivíduos.

Predição 8.1: Altos níveis de ansiedade relacionada ao apego se relacionam com níveis altos

de neuroticismo e baixos de conscienciosidade.

Predição 8.2: Altos níveis de evitação relacionada ao apego se correlacionam com alto grau

de abertura a novas experiências.

Hipótese 9: As dimensões básicas dos estilos de apego romântico, a personalidade e a idade influenciam a percepção do valor de mercado.

Predição 9.1: Quanto menores os níveis de ansiedade relacionada ao apego de um indivíduo,

mais ele tem sua autopercepção parecida com o valor de mercado atribuído a ele pelo(a) parceiro(a).

Predição 9.2: Níveis maiores de agradabilidade predizem menor diferença entre a

autopercepção como parceiro romântico e a avaliação feita pelo(a) parceiro(a).

Predição 9.3: Níveis mais altos de neuroticismo levam a uma maior diferença entre a

autopercepção e o valor de mercado atribuído ao indivíduo pelo(a) parceiro(a).

Predição 9.4: Indivíduos mais velhos apresentam menor diferença entre sua autopercepção

e o valor de mercado atribuído a eles pelo(a) parceiro(a).

Hipótese 10: Indivíduos heterossexuais e não-heterossexuais apresentam diferenças na preferência por traços de personalidade.

Predição 10.1: Homens heterossexuais apresentam preferência por parceiras com maior nível

de extroversão, enquanto os não-heterossexuais apresentam preferência por parceiros com maiores níveis de agradabilidade do que os heterossexuais.

Predição 10.2: Mulheres heterossexuais apresentam preferência por parceiros com maiores

níveis de agradabilidade e as não-heterossexuais apresentam preferência por maiores níveis de extroversão.

Hipótese 11: Os traços de personalidade, as dimensões do apego e o valor de mercado se relacionam com a satisfação no relacionamento.

Predição 11.1: Baixos níveis de ansiedade e evitação relacionadas ao apego e baixo

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32

Predição 11.2: Maior similaridade nos traços de personalidade prediz maior satisfação no

relacionamento.

Predição 11.3: Quanto maior a diferença no valor de mercado entre os indivíduos do casal,

Referências

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