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Trabalhadores que ingressaram na rede celpa privatizada

CAPÍTULO 5: PROGRAMA DE DEMISSÃO (IN) VOLUNTÁRIA PDV NA CELPA

5.3 Trabalhadores que ingressaram na rede celpa privatizada

A Trajetória de vida e de trabalho de Frida Kahlo

Frida Kahlo é natural de Belém, nasceu em 1987. Sempre residiu na mesma cidade, no bairro do Marco, na casa dos seus pais. Relata que após o seu casamento e o nascimento de seu primeiro filho, se mudou. Estudou o ensino regular médio, ao mesmo tempo em que fazia o curso de eletrotécnica. Começou a trabalhar ainda na juventude como babá. Também fez alguns “bicos” como demonstradora de produtos em supermercados e, aos 18 anos de idade, teve seu primeiro emprego com carteira assinada, exercendo o cargo de recepcionista em uma empresa terceirizada do ramo de serviços gerais que prestava serviços para a Rede Celpa. No ano de 2008, foi admitida pelo Grupo Rede – Celpa, e tinha como cargo – atendente de consumidor. Referiu-se que o maior motivo que a incentivou a sair da condição de terceirizada e ingressar no quadro efetivo da Rede Celpa, foram os muitos benefícios, dentre esses, o principal foi o plano de saúde e os 3 (três) salários mínimos que receberia.

Depois de 02 (dois) anos nessa função, começou a refletir sobre o seu trabalho. Comentou que esse fato se deu, após uma conversa que teve com sua chefia para reivindicar melhores formas de trabalho e de treinamentos, pois percebia que a sua área, estava ficando obsoleta. Contou que passado seus questionamentos, começou a ser “marcada” pela sua chefia e a cada dia que passava, ela se sentia mais desconfortável em estar ali, pois vez ou outra no horário de expediente havia falas de repressão. Sentia sensações de angústias e tremedeiras todas as vezes que a chefia convocada uma reunião. Todo esse desgaste se seguiu. E quando o

Grupo Equatorial assumiu a Celpa a situação do setor em que trabalhava ficou mais agravante - os ritmos de serviços só aumentavam.

Kahlo, com sentimento de ressentimento, diz que o Grupo Equatorial quando assumiu a Celpa, não teve nenhum cuidado com os trabalhadores que estavam ali naquele setor. Demitiram vários atendentes, enquanto que os ficaram, os deixaram em uma sala com equipamentos velhos que não funcionavam de fato, não contribuindo no dia a dia de trabalho, fazendo com que os atendentes ficassem o expediente todo quase sem trabalhar, gerando um sentimento de “sem valor” para todos. Nessa época estava grávida, no auge do meu descontentamento pessoal e profissional, trabalhava sem gosto e sem vontade. O clima de intensas mudanças, todos os dias ao entrar e ao sair, a sensação de instabilidade, estavam “me matando”. Quando “estava próximo de eu sair de licença maternidade, lançaram o II PDV, não pensei duas vezes, fiz a adesão” (SIC). Comentou que ficou pensando na sua vida, se ficasse ali, pensou quando acabasse a sua licença maternidade, será que não seria demitida, ou como seria a vida dos seus 02 (dois) filhos, já que todo tempo voltada desgastada e estressada do trabalho. Como seria a sua vida? Pois há tempo queria cursar um nível superior, mas não tinha a chance, o excesso de trabalho, fazia com que a mesma chegasse em casa, muito cansada.

Kahlo permaneceu sem vinculo empregatício por meses e, nesse momento, apenas seu marido sustentava a família, como seu trabalho de mecânico em maquinas pesadas. Após sua adesão ao II PDV, mudou-se para o município de Parauapebas78, sudeste do Pará.

Atualmente, é nessa empresa que Kahlo trabalha 8 horas por dia, como eletricista de máquinas de trabalho, recebendo 3 ½ (três) salários e meio mínimos e mais os benefícios proporcionais ao que recebia na Equatorial Celpa. Ressaltou que a sua maior vitória foi ingressar no curso de nível superior público, hoje, cursa Administração na Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, no horário noturno. Afirmou que o trabalho na empresa Vale é “duro”, porém, é melhor, emocionalmente, não me sinto mais desvalorizada ou humilhada, às vezes parecia que o meu trabalho era “pedir um favor”. Trabalhou 5 (cinco) anos de trabalho na Celpa. E disse que não voltaria atrás de sua decisão ao aderir o II PDV.

78Que segundo o IBGE (2010) é o sexto município mais populoso do Estado do Pará, tendo uma taxa de Produto

Interno bruto (PIB), de R$ 19,8 Bilhões, isto é o maior do Estado. Conforme O Atlas Brasil (2013) Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apresenta um índice de desenvolvimento municipal de 0, 715. A extração do minério de ferro representa a principal fonte de recursos do município. A companhia Vale S.A, considerada a terceira maior mineradora do mundo, empresa privada de capital aberto, antes estatal, privatizada nos anos 1990, é a que mais que mais emprega na região, cerca de 8 000 pessoas diretamente e cerca de 20 000 indiretamente.

A Trajetória de vida e de trabalho de Vincent Van Gogh

Vincet Van Gogh nasceu em 1983, tem 32 anos. É natural da cidade de Macapá. Relata que se mudou para a cidade de Belém, quando ingressou no curso de engenharia elétrica, o qual realizou na Universidade Federal do Pará. Nos primeiros anos de universidade, realizava manutenção e pequenos ajustes em computadores e, por isso afirma que nessa época não trabalhava e, sim, fazia pequenos serviços. Comentou que depois começou a trabalhar, ao realizar trabalhos de manutenção elétrica.

Estando quase concluindo o curso acima mencionado, a sua mãe se aposentou na condição de servidora pública do extinto território federal do Amapá, voltou a morar com sua mãe, em casa própria, condição esta que se segue na atualidade. Depois de um tempo de formado, aos 27 anos foi admitido na Rede Celpa. Van Gogh declarou que naquele momento sentia que a partir sua entrada na Celpa, o seu objetivo de trabalhar em uma grande empresa do setor elétrico estava se materializando e que iria realmente trabalhar, conquistar um espaço e crescer como profissional, como engenheiro; trabalhou na Gerência de Expansão do Sistema, na função de fiscal de obras de transmissão e subestação de energia. Quando iniciou suas atividades laborais nessa empresa, tinha em mente que o trabalho não seria fácil, pois ele tinha conhecimento sobre a situação do processo de privatização da empresa ocorrido nos anos 1990; diz que a privatização como proposta de melhoria da prestação do serviço de distribuição de energia no Estado do Pará, foi um “fiasco”, como também em outras empresas desse setor que também foram privatizadas. Ao falar desse fato, diz que no Estado do Pará não houve melhorias, pelo contrário houve piora das condições operacionais do sistema e das condições de trabalho, acarretando um péssimo serviço dispensado à população.

Van Gogh afirma que depois de dois anos de trabalho percebeu o quanto estava cansado, que não tinha vontade de sair aos fins de semana para passear, mas, sim, queria apenas de dormir, sentia sua mente e corpo sempre exaustos. Era muito trabalho, muitas fiscalizações, muitos detalhes que não podiam ser deixado de lado, pois o setor elétrico é dotado de tarefas altamente especializadas e, por isso, afirma que as cobranças são maiores, pois o atual modelo de gestão adotado pela empresa, impõe à distribuidora que haja altos níveis de investimento para que o sistema opere em condições satisfatórias. Essas cobranças se intensificaram, chegando a trabalhar 10 horas por dia na sede da empresa. Mas, ainda assim, achava que todo esse esforço fazia parte da consolidação da sua vida profissional, do caminho para um cargo melhor, mais renomado.

Van Gogh revela que quando passou a trabalhar em campo por mais de 18 horas seguidas, após o Grupo Equatorial ter assumido, percebeu que nesse momento estava mais cansado, sem animo total, as suas condições de trabalho estavam se depauperando e que a pressão era o dobro. Refere-se que o seu nível de estresse aumentou, dada à intensificação do trabalho, as exigências de sua chefia para o cumprimento das metas, já que a mensagem da empresa era clara, produzir. Explica que se não fosse cumprida a tarefa seria taxado de incompetente e passível de demissão. Em consequência, as insatisfações se adensaram e Van Gogh, em particular, estava triste com seu trabalho, visto que o seu trabalho, a empresa não mais o “alimentava”, e que queria fazer outra coisa. Diante desta situação, ele ficava pensando na sua vida nebulosa, assim como pensava no salário, nos benefícios que eram bons e na de dificuldade que seria se reinserir numa empresa de grande porte. Van Gogh avalia que todo esse processo de sofrimento e incerteza, teria que ser enfrentado, ficava a todo tempo buscando estratégias para vencer o caos, ficava pensando porque não aderiu o primeiro programa de demissão voluntária, foi quando a empresa apresentou o II PDV, com o objetivo de continuar “arrumando a casa”, melhorando as mudanças. Após pensar muito sobre tal situação, decidiu aderir ao mencionado PDV.

Depois de sua demissão na Celpa, Van Gogh passou três meses estudando. A ideia era fazer concurso público e engajar em alguma empresa ou instituição estatal. Comentou que ele prestou vários concursos, na capital, no interior e em outros Estados, todas sem êxito. Informou que com o tempo buscou uma nova posição de trabalho na sua área de atuação. Arranjou um emprego de consultoria, em que trabalhava na manutenção industrial e coordenação de obras de transmissão de energia para uma empresa que prestava serviços terceirizados para a Celpa. Após o término deste trabalho, passado pouco tempo foi contratado por uma empresa, para trabalhar em um estaleiro executando projetos elétricos das embarcações produzidas, bem como, o seu comissionamento. Atualmente, trabalha com carteira assinada, mas o único benefício que a empresa oferece é o plano de saúde. Afirma que o salário é bom, mas não tem os benéficos que antes tinha na Celpa e isso faz com o salário seja “pouco”. Van Gogh trabalhou 06 anos na Celpa e contou que se estivesse trabalhando na empresa, hoje, e fosse proposto um PDV, certamente não aceitaria, acredita que as incertezas do mercado de trabalho aqui fora, são maiores.

A Trajetória de vida e de trabalho de Claude Monet

Monet nasceu no ano de 1976, na cidade do Moju, localizada na região Norte do estado do Pará. Cursou o ensino médio técnico profissionalizante na área de eletrotécnica, no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará, hoje, Instituto Federal do Pará e, posteriormente, realizou o curso técnico em eletrônica. Informou que sempre que disponha tempo, ainda nos seus primeiros anos de trabalho em 1998, sempre procurou se atualizar profissionalmente. Relatou que é casado há 19 anos e têm 03 filhos; voltou a residir no município de Moju, no Bairro Novo Horizonte, faz quase que 10 anos, depois de ter solicitado sua transferência para trabalhar nesse município, a qual a empresa deferiu.

Logo quando Monet finalizou os seus estudos, se inseriu no mercado de trabalho; aos 20 anos começou a trabalhar em uma empresa terceirizada da Celpa, na função de Leiturista Entregador, durante 3 (três) anos. E nos três anos seguintes, trabalhou por conta própria fazendo instalações elétricas prediais, residenciais. No ano de 2002, aos 26 anos ingressou na Celpa, pois tinha interesse em sempre trabalhar nessa área, por isso nunca se afastou da mesma, embora trabalhando como autônomo. Além disso, revelou que tinha desejo e expectativa em tornar-se um trabalhador efetivo do quadro da Celpa, desde quando prestava o serviço na condição de terceirizado, pois ele ficava observando o prestigio dos trabalhadores dessa empresa, os salários, os benefícios, os abonos, etc., e isso fez com ele sempre estivesse atento aos processos seletivos que fossem ocorrer na referida empresa. Assim, conseguiu ser contratado como eletricista, para atuar na área no setor comercial.

Como eletricista passou 13 (treze) anos trabalhando de segunda-feira a sexta-feira, 07 (sete) horas por dia, teoricamente, porém quase todo o dia trabalhava mais duas horas totalizando nove horas; trabalhou no turno da noite de seis da manhã a meia noite. Nos finais de semana, trabalhava doze horas seguidas, podendo ser de seis da manhã a meia noite ou meia noite às seis da manhã. Porém, esta situação mudou depois que a empresa deixou de pagar todas as horas extras. Monet, insatisfeito. Comentou que o principal motivo de isso acontecer foi que o Grupo Rede levava os lucros “daqui” para outras concessionárias que faziam parte do mesmo e que esse processo de má gestão teve como consequência inúmeras demissões, pois a empresa justificava que estava em crise. Em certos momentos da sua vida profissional, vivenciou situações de assédio moral, sobrecarga de trabalho, adoecimento e esta situação o deixava cada vez mais desestimulado a trabalhar nessa empresa, fato este tomou

uma dimensão maior, quando a empresa mudou de razão social, isto é, quando o Grupo Equatorial assumiu a Celpa via recuperação judicial.

Em suas reflexões acerca desse momento, afirmou que a troca do modelo de gestão foi muito radical e objetiva, era tudo ou nada, e os trabalhadores tinham que se adaptar se não “rua”. Monet avaliou que viveu uma etapa penosa, devido esse processo de reestruturação no setor elétrico, pois as mudanças que ocorreram e ocorrem no trabalho são duras “e, são mais para quem trabalhou ou trabalha na rua, em cima de postes” (Sic). Relatou que não há alterações positivas nas condições de trabalho, pouca coisa mudou, mais a intensidade do trabalho aumentou e aumenta a cada dia. Lembrou-se do fato ocorrido que devido ele sempre participar das ações do sindicato, dentro dessa nova logica, para empresa o trabalhador ser “bom”, ele não deve estar “metido com o sindicato”. Revelou que a questão das cobranças, do muito trabalho, da ideia de trabalhar com metas incessantemente, levou a um quadro de desanimo, chegando a avaliar que a sua condição de vida naquele momento era de total esgotamento; sentia-se mais ausente de sua família, visto que sempre vivenciou essa ausência desde quando começou a trabalhar na Celpa.

Foi nesse momento que Monet decidiu aderir ao II PDV. Ressaltou que na época, inicialmente, teve uma relutância em aderi-lo, pois “achava este programa uma proposta fria, com o trabalhador que ali esta suando a camisa” (Sic). Informou que após 08 (oito) meses de desligamento da empresa, ainda se encontrava desempregado, pois não sabia se queria ficar trabalhando na área ou montar algum tipo de negócio. Mas, depois começou a prestar serviços na área de eletrotécnica e trabalhar por conta própria; falou que está indo bem, gosta de ser seu próprio patrão, controla seu tempo e o dinheiro esta aparecendo. Exclamou: o que faz falta são os benefícios, mas o emprego em si não!, pois mesmo tendo trabalhado durante 13 (treze) anos na empresa, não tem arrependimentos por ter feito a adesão ao PDV e não voltaria a trabalhar na mesma.

Os relatos dos pesquisados que ingressaram na Celpa já privatizada revelam que a trajetória de vida e de trabalho dos mesmos apresenta similitudes com a dos demais pesquisados, no que concerne ao percurso para tornaram-se trabalhadores da referida empresa. Assim, alguns deles migraram de municípios paraenses e até mesmo de outro estado (Macapá) para prosseguirem os seus estudos, sobretudo, o Curso Técnico em Eletrônica, na perspectiva de obterem um “bom” trabalho. Contudo, há que se ressaltar a evidência de algumas disjunções, pois a maioria desses trabalhadores tiveram experiências de trabalho remunerado, antes de ingressar na Celpa, tais como: trabalhadores terceirizados na própria

Celpa (ramo da eletricidade), babá, serviços prestados no comércio, etc., enquanto que aqueles que ingressaram na Celpa estatal, em geral, se constituíam o primeiro emprego.

Assim, a condição de trabalhadores temporários e em condições instáveis, provavelmente, conduziram os pesquisados à expectativa de trabalharem em uma grande empresa que pudessem conquistar um espaço e crescer como profissional: o ingresso na Rede Celpa se apresentou para eles como uma oportunidade para a materialização dessa expectativa, sobretudo, atraídos pelos benefícios sociais que a empresa oferecia (plano de saúde, vale alimentação, auxílio escolar, etc). Embora as condições de trabalho degradantes expressas pelos plantões cansativos e estressantes, visto que às vezes a equipe trabalhava quase 12 (doze) horas por dia, atendendo os chamados, “no contracheque no fim do mês recompensava, devido às horas extras e mais periculosidade” (Sic). Contudo, a forma de gestão da força de trabalho adotada pela Equatorial Celpa baseada em “vamos trabalhar, andar na linha” impactava na saúde dos trabalhadores (sensações de calafrios, angústias e tremedeiras todas as vezes que a chefia convocada uma reunião), aumentava o desgaste dos trabalhadores:

[...] Todo tempo era assim, a mesma coisa, mais desgosto com o trabalho. [...] o clima no trabalho piorou, todas as mudanças chegavam sem informação prévia, havia um sentimento de desinformação a todo tempo. É o que mais angustiava nesse movimento, era não saber o que poderia acontecer, chegar pela manhã e trabalhar e no fim do expediente ser demitida. Sentia uma sensação de frustração de todo tempo ser “mandada e não ser valorizada”. [...] (LOUISE).

[...] a questão do muito trabalho, da ideia de trabalhar com metas incessantemente, levou a um quadro de desanimo , chegando a avaliar que a minha condição de vida naquele momento era de total esgotamento; sentiu-se mais ausente de sua família, visto que sempre vivenciou essa ausência desde quando começou a trabalhar na Celpa. Foi nesse momento que decidi aderir o II PDV. Logo no início eu tive uma relutância em aderir por que eu achava este programa uma proposta desonesta da empresa, fria, com o trabalhador que ali esta suando a camisa. (...) depois de dois anos de trabalho percebi o quanto estava cansado, que não tinha vontade de sair aos fins de semana para passear. Era muito trabalho, muitas fiscalizações, muitos detalhes que não podiam ser deixado de lado; o setor elétrico é dotado de tarefas altamente especializadas e, por isso, as cobranças são maiores, pois o atual modelo de gestão adotado pela empresa, impõe à distribuidora que haja altos níveis de investimento para que o sistema opere em condições satisfatórias. Essas cobranças se intensificaram, chegando a trabalhar 10 horas por dia na sede da empresa. [...] (VAN GOGH).

Conforme pode ser constatado acima, a relação de trabalho na Celpa Equatorial se tornou uma relação entre coisas. E a acumulação do capital tão somente é realizável se o trabalhador for extremamente exaurido em todas as suas dimensões. Trata-se, então, de transformá-lo em submisso, de simular a ideia de que o trabalhador somente tem existência se o capital “conceder” oportunidades de contratação, posto que é este que gera a riqueza social. Todavia, para que possa haver a continuidade dessa lógica, o capital, ao longo dos tempos criou e cria estratégias para que o trabalhador não se reconheça no que ele produz, afim de

que a propriedade privada, tecida pela respectiva ação do trabalho, venha a ser algo estranho, alheio, externo ao trabalhador.

E isso é precípuo para a perenidade do modo de produção capitalista, posto que corresponde a um “maquinismo” para controlar a força de trabalho. Nas relações de extorsão do capital sobre o trabalho, é primordial que se garanta a ordem, requerendo uma estrutura que esteja acima dos interesses de classe. Nesta era de acumulação flexível, os PDV’s instituídos sob a lógica do neoliberalismo apresentam-se como uma “nova prática”, acrescida de diversos instrumentos “novos” que agravam a precarização do trabalho, em particular no setor elétrico e incide na garantia da ordem de lucratividade das relações de produção.

Dentre esses novos instrumentos, destacam-se os mencionados PDV’s, pois a empresa com o objetivo de não ter efeitos negativos em seus processos e ambientes de trabalho, tem esse instrumento como uma forma de justificá-lo pela preocupação com a eficácia organizacional, com o interesse no trabalhador - em valorizá-lo. A propósito, os depoimentos abaixo são ilustrativos:

[...] o PDV é uma forma de tirar de cena a pessoa que tu quer que saia sem que tu fique sendo o mal. Ah! tá tirando gente que dá o sangue pela empresa sem motivo, que já deu o sangue pela empresa há muito tempo. É para diminuição de quadro mesmo! Muita gente com medo disso (falando da demissão sem justa causa), preferiu pedir para sair (trabalhadores que aderiram II PDV) para não sair demitido. É uma sensação muito ruim, a gente se sente menosprezado, parece que não ajudou em nada [...] (DEGAS).

[...] O que eu te digo é o seguinte: o PDV é um programa desgraçado, que ele atrai, realmente! A empresa joga ali aquela vantagem e o trabalhador que está quase em surto de tanto trabalho, se sente realmente atraído, fica com medo de não aceitar e

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