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Trajetória dos trabalhadores que ingressaram na CELPA no ano de sua

CAPÍTULO 5: PROGRAMA DE DEMISSÃO (IN) VOLUNTÁRIA PDV NA CELPA

5.2 Trajetória dos trabalhadores que ingressaram na CELPA no ano de sua

Trajetória de vida e de trabalho de Camille Claudel

Camille Claudel nasceu na cidade de Belém no ano de 1969. Camille Claudel informou que é solteira, não tem filhos. Mora em um apartamento alugado, sozinha no bairro do Marco. Relata que cursou o segundo grau, hoje, ensino médio, o fez associado ao curso de técnico em eletrotécnica no antigo Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará, hoje, Instituto Federal do Pará. Sobre a sua vida escolar, destacou que um ano antes de começar a trabalhar na Celpa, ingressou no Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Pará, o qual não chegou a concluí-lo. Retornou seus estudos, no Curso de Tecnologia em processamento de dados, e o concluí-o. Camille Claudel começou a trabalhar com 17 anos, ocupando o cargo de Desenhista projetista em seus primeiros empregos. Na Rede Celpa, ela foi nomeada como servidora pública, no inicio do ano de 1988, mesmo ano que a empresa foi privatizada. Destacou com bastante ênfase que o seu interesse maior em buscar uma vaga de

trabalho na referida empresa, teve por base dois motivos: - o primeiro era que, depois da Eletronorte, a empresa que seria o único lugar que ela poderia ter um bom trabalho na área; - o segundo era que essa empresa era pública e poderia garantir a ela estabilidade em todos os sentidos. Comentou a possibilidade de ter uma vida estável financeira, daria condições para a mesma se organizar em sua vida pessoal. Sua primeira função na empresa no setor de Geração a Diesel, como técnica de oficina de campo, em usinas a diesel, executando manutenção corretiva em equipamento diesel. Depois de um tempo mudou de cargo. Trabalhou como Coordenadora de Oficina e de Operadores de Usinas. Posteriormente, foi transferida para o Laboratório Químico, neste setor ocupava o cargo de Técnica de Laboratório, realizava ensaios em óleos minerais isolantes nas subestações. Nesse tempo todo, o seu salário base foi sempre de 3 salários mínimos e sempre teve dias corridos de trabalho. Relatou que quando a empresa foi privatizada se sentiu prejudicada, mesmo o seu salário não tendo sido alterado, o fato da perda de sua estabilidade impactou muito na sua vida. Menciona que com a privatização da empresa, naquela época, aumentaram as cobranças, fiscalizações e demandas de trabalho, para o trabalhador. A contenção de despesa foi instaurada, muitas demissões ocorreram. Destacou que com a perda do sistema de estabilidade vitalícia, começou a viver a sensação do medo do desemprego. Comentou que esse sentimento foi vivenciado pela maioria dos trabalhadores. Recordou que, naquela época, muitos trabalhadores adoeceram fisicamente, mentalmente, acidentes de trabalho ocorreram em um número expressivo. Com mais atividades de trabalho, os trabalhadores adoecidos ficaram mais adoecidos, pois não fizeram o tratamento correto. Sobre isso comentou que, longas licenças médicas não são bem- vindas, numa empresa privada.

Registrou, dando destaque em sua fala que em alguns setores, nada mudou, não houve muitos investimentos. Fala que as chefias depois da privatização, não buscavam melhorias, já que questionamentos desse tipo poderiam desencadear a perda de seus postos de trabalho. Para Camille Claudel a privatização da Celpa foi uma perda para a sociedade paraense. E imaginou que essa tragédia iria se estender, com a venda por R$ 1,00 para o Grupo Equatorial, que assumiu a concessionária paraense com divida bruta de R$ 1,893 bilhões de reais no fim do ano de 2012 por processo de recuperação judicial.

Comentou que nesse momento sonhou com o processo de federalização da empresa. Identificou que toda essa mudança foi tensa e intensa, os trabalhadores passaram a trabalhar por metas, alguns sentiram que estava na hora de se aposentar, mesmo ainda se achando aptos ao trabalho, outros aderiram os programas de demissão voluntária. Camille Claudel percebeu que para empresa naquele momento era mais lucrativo dispensar o trabalhador, desse modo, a

nova racionalização na gestão das pessoas foi altamente rígida. Relatou que ficou com muitas tarefas, e que não se enxergava de forma confortável nessa empresa trabalhando e, por isso, aderiu o programa de demissão voluntária - disse que não se arrependeu dessa decisão. Atualmente, trabalha por conta própria em um Pet Shop, é gerente. Comentou que gosta do que está fazendo, pois tem flexibilidade em relação ao horário de trabalho. Considera que sua vida teve mudanças significativas, principalmente, em relação à saúde.

Dentre os pesquisados, apenas um, ingressou na Rede Celpa no momento da privatização da mesma. Contudo, considera-se muito significativo, visto que a mesma expressou com muita clareza a situação de trabalho vivenciada por ela e pelos demais trabalhadores. No que concerne a sua trajetória de vida pessoal, apesar da mesma ter sido sintética, foi possível perceber que a busca pela escolarização, se constituía estratégica para ter acesso a um trabalho que lhe possibilitasse estabilidade financeira e no trabalho como meios necessários para organizar a sua vida. Assim, o interesse em ingressar na Rede Celpa possui similitudes com os interesses dos trabalhadores que ingressaram na Celpa ainda estatal. Mas esse projeto de vida, ao longo de 15 (quinze) anos de trabalho foi descontruído em decorrência do processo de privatização da empresa,

[...] aumentaram as fiscalizações e as demandas para o trabalhador. A contenção de despesa foi instaurada, muitas demissões ocorreram (...) com a perda do sistema de estabilidade vitalícia, começou a viver a sensação do medo do desemprego, sentimento que foi vivenciado pela maioria dos trabalhadores; muitos trabalhadores adoeceram fisicamente, mentalmente, acidentes de trabalho ocorreram em um número expressivo. Com mais atividades de trabalho, os trabalhadores adoecidos ficaram mais adoecidos, pois não fizeram o tratamento correto; longas licenças médicas não são bem-vindas, numa empresa privada [...] (Sic).

Este relato reafirma o quê foi apontado pelos trabalhadores que ingressaram quando a empresa era estatal. Porém, o que chama atenção neste relato e que se apresenta como disjunções em relação àqueles trabalhadores, são: o salário por ela percebido que era em torno de 03 (três) salários mínimos, pois o deles era entre 05 (cinco) salários mínimos; a explícita contenção de despesas via o custo do trabalho, ou seja, demissões; e o aumento do número de acidentes de trabalho e de adoecimentos sem o devido tratamento, visto que as licenças para o tratamento a saúde não eram “bem vistas” pela gerência. A manifestação a respeito de possíveis melhorias na empresa por parte dos trabalhadores poderia resultar na perda de seus postos de trabalho. Para Camille Claudel “a privatização da Celpa foi uma perda para a sociedade paraense”.

Deduz-se, então, que a gestão da força de trabalho da Equatorial Celpa tem sido baseada no acirramento das contradições sociais, a mediada em que a a dominação pela

superexploração do trabalho expressa pelas intensivas horas de trabalho, pelos salários reduzidos , o que revela e muito, a “superioridade do poder político” da referida empresa em relação aos trabalhadores, conduzindo ao por tipo de desperdício, o das pessoas, ou seja a forte produção de uma “população supérflua” e subsumida a dominação da gerência da empresa que não atende minimamente aos direitos de cidadania, como é o direito à saúde dos trabalhadores. Se a privatização da Rede Celpa destruiu o projeto de trabalho para Camille Claudel, e fez com que a mesma não se enxergar-se de forma confortável trabalhando na referida empresa e, por isso, aderiu o programa de demissão (in) voluntária, cabe se interrogar sobre a trajetória de vida dos trabalhadores pesquisados que ingressaram na empresa quando a mesma já estava privatizada.

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