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CAPÍTULO II: A INCLUSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

2.3 O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA INCLUSÃO ESCOLAR

2.3.3 Trabalhar com os professores

No auxílio aos professores, o psicólogo irá fazer com que estes vejam as especificidades de cada aluno, assessorando-os para que consigam perceber a importância da transferência entre professor e aluno. Ao se separar da família no período que está na escola, á criança transfere para o professor aquilo que até então tinha somente com os pais, (de eles possuírem o saber), então a criança reveste o professor de uma especial importância, acontecendo assim à transferência, essa que é uma manifestação do inconsciente. Instalada a transferência, o professor torna-se depositário de algo que pertence ao aluno e fica carregado de importância especial, isso lhe dá poder sobre o aluno e este se dirige ao professor atribuindo-lhe um sentido, assim o professor passa a fazer parte do inconsciente do aluno.

Portanto, o psicólogo assessorará o professor para que este consiga perceber que para, ocorrer uma boa aprendizagem ele em sua prática deverá acolher o lugar em que a criança está lhe inserindo, o lugar que está sendo colocado transferencialmente. E a partir deste lugar responder, ajudando a criança a superar essa grande importância que a mesma lhe atribuiu. Isso permitirá ao aluno tornar-se independente e construtor de seu próprio conhecimento. Nunca esquecendo que esta criança é portadora de desejos, de uma história, pois os caminhos para a aprendizagem estão incluídos no que é fundante do ser humano: a palavra. São as palavras que se enlaçam as marcas orgânicas, que as sublimam ou as apagam.

Incluir é acima de tudo um processo que cada sujeito precisa elaborar. Sendo necessário que:

Professor ponha em jogo suas representações(...) renuncie a seus próprios preconceitos, aceite ser desestabilizado, surpreendido, contradito, (é o adulto) que autoriza o aluno se libertar do papel que lhe foi atribuído. A escola precisa ser um espaço aberto, um espaço de segurança em que o risco seja possível, o erro tolerado, as tentativas aceitas, sem gracejos, sem humilhações nem julgamentos definitivos. Não basta, contudo, atribuir um novo papel a um aluno. É preciso fornecer-lhe os recursos necessários para pôr em prática suas tentativas, ajudando-o a adquirir os saberes e as habilidades sem os quais fracassaria. É preciso dar lhe o direito de escrever (a sua história) por si mesmo. (BAPTISTA, 2006, p. 106).

Não só os professores, mas toda a escola precisará ter paciência, para que aquele aluno consiga desenvolver-se no seu tempo, nunca esquecendo que estas deverão ser demandadas a partir do estágio em que encontram, não sendo homogeneizadas.

A partir disto citamos Meira:

Algumas das contribuições que a psicanálise pode dar aos educadores nos tempos atuais desenham-se na direção de que os caminhos que cada criança construa em sua aprendizagem sejam percorridos passo a passo com os traçados de um saber singular, tecido nas trocas cotidianas com seus pares, não pedagogizando, não artificializando, marcado por um tempo não digitalizado, que lhe outorgará a possibilidade de elaborar, desde outro terreno novas formas de ser no mundo. (MEIRA, 2001, p. 29).

Vemos, portanto, a importância de ter um psicólogo escolar, este que fará um trabalho de escuta singular, além de pensar juntamente com a equipe multiprofissional, professores, alunos, pais e demais membros da instituição escolar a respeito dos obstáculos encontrados no processo inclusivo, para que juntos

consigam perceber que as dificuldades não deverão ser barreiras a esse processo,

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa bibliográfica permitiu esclarecimentos a partir da questão: Quais as perspectivas do psicólogo diante da inclusão escolar? Para responder passamos por um breve histórico da exclusão, bem como da inclusão escolar, suas políticas públicas, para então estudar contribuições psicanalíticas neste campo. Contemplando o sujeito, suas potencialidades e seu desenvolvimento, ampliando as perspectivas propostas pela integração, em que os alunos estariam frequentando classes regulares apenas para socialização, para estarem juntos com os outros, sem pensar em seu desenvolvimento e aprendizagem. Desse modo, o aluno teria que se adequar à escola e não o ambiente escolar se adequar as necessidades do aluno, o oposto acontece na proposta de inclusão.

A inclusão de pessoas com deficiência é algo recente, que traz resquícios da antiguidade, onde estas pessoas eram afastadas dos demais, alegando apresentar riscos à sociedade. Hoje, muito disso mudou, os “deficientes” estão conquistando seu espaço, sendo amparados por Políticas Públicas que visam seu desenvolvimento e aprendizado.

O processo inclusivo traz consigo um pedido de mudança para a instituição escola, acarretando com isso uma crise escolar, onde professores e demais integrantes desta instituição tiveram que rever suas práticas escolares, despindo-se de preconceitos e idealizações.

Processo este que trará mudanças, desafios, oportunidades para toda a escola, que poderá aprender a ver que todos nós somos diferentes, e que as diferenças apontadas nos alunos com alguma necessidade educativa especial, são mais facilmente percebidas, pois são as que conseguimos ter maior percepção visível. Pois o que vemos primeiramente é sua patologia, nos esquecendo de suas

potencialidades, sendo que os alunos, “ditos normais”, também se diferenciam entre si, porém, suas diferenças não são apontadas, não são vistas com olhares preconceituosos, estando dentro da classe dos incluídos.

Como podemos ver a inclusão escolar dos alunos com NEE é um desafio, porque coloca o sistema escolar homogêneo frente à heterogeneidade, com alunos em condições de aprendizagem muito diversas. Surge a necessidade de mudar os planos de aula, tornando-os flexíveis, pensando em novas estratégias pedagógicas, estando disposto a mudar e despir-se de seus preconceitos. Estes são alguns dos desafios encontrados no processo inclusivo. Desafios que só serão vencidos quando conseguirmos ver cada ser humano singularmente e que todos somos cidadãos com direitos, a vida, a saúde e a educação.

Desta forma, viu-se as perspectivas do trabalho do psicólogo diante do processo inclusivo, este que irá auxiliar pais, professores e alunos no decorrer da inclusão, assessorando para que os mesmos consigam reelaborar o seu “luto” pela idealização de um filho, aluno e colega perfeito/ideal, conseguindo lidar com o real. Aceitando suas diferenças, vendo seus limites e potencialidades, construindo assim, um lugar para essa criança, que com o apoio/aceitação de todas as pessoas próximas a ela conseguirá aceitar-se também.

O psicólogo escolar acompanhará o aluno incluído em sua entrada na escola, escutando-o no modo como situa seu lugar na escola, família e comunidade. O qual, se não possuir, será trabalhado para que conquiste.

Sendo assim, o trabalho do profissional da psicologia no processo inclusivo é de fundamental importância, este que a partir de uma postura ética e questionadora, irá assessorar todos os envolvidos no processo inclusivo. Pensando junto com pais, alunos, professores, orientadores, enfim, com toda equipe escolar e multiprofissional, maneiras para transpor os obstáculos que poderão surgir no decorrer deste processo.

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