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O trabalho é fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E, em tal grau, que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem (ENGELS, 2004, p.13).

A citação anterior, Engels nos apresenta, de forma sintética, que o trabalho é fundamental ao ser humano em tal grau, que ele próprio criou o ser humano.

Trabalho é a atividade em que o ser humano se relaciona com a natureza e, a partir dessa relação, transforma a própria natureza para garantir a sua existência. Essa atividade, no entanto, também transforma o ser humano, à medida que no ato de trabalho, o ser humano adquire conhecimentos e habilidades que antes não possuía. E modifica também a sociedade, pois produz uma nova situação em que novos instrumentos e novas possibilidades e necessidades irão surgir.

Portanto, o trabalho é a atividade que produz as condições materiais objetivas da humanidade e as possibilidades de criação de novas formas de

organizar a vida individual e coletiva, isto é, é a atividade fundamental através da qual o homem garante sua sobrevivência.

Essa atividade de transformação da natureza se diferencia das atividades realizadas pelos animais, que também modificam a natureza. Os animais precisam se adaptar a natureza para sobreviverem, por vezes, transformam a natureza. No entanto, em diferente grau dos animais, o ser humano projeta mentalmente a ação e a finalidade do seu ato, a partir de suas necessidades, antes de serem produzidos na prática. Essa diferença de grau é tamanha que, nos animais,

[...] não se mostrou possível estimular-lhes a capacidade de manipular representação simbólica, sobretudo em suas formas superiores como a linguagem articulada. Sem símbolos ou linguagem [sic] o pensamento conceptual deve permanecer rudimentar e, ademais, não pode ser livremente transmitido através do grupo ou às gerações seguintes (BRAVERMAN, 1977, p. 52).

Nesse sentido, o trabalho, enquanto uma atividade intencional é exclusiva da espécie humana, bem como somente para o ser humano, a “unidade de concepção e execução pode ser dissolvida” (BRAVERMAN, 1977, p. 53), ou seja, o que um ser humano pensa, a nível de trabalho, pode ser executado por outro. Ao mesmo tempo em que essa atividade garantiu ao ser humano o desenvolvimento do cérebro, da mão, da fala (ENGELS, 2004). O trabalho criou a espécie humana, através do intermédio com a natureza, assim como foi o responsável por estabelecer a relação entre os seres humanos, constituindo a sociedade, dando origem às relações de produção que constituem o mundo do trabalho (FILIPPINI et al, 2010).

E, assim como o trabalho é exclusivo do ser humano, somente o ser humano, é capaz de transmitir para as gerações seguintes os conhecimentos desenvolvimentos a partir do trabalho, o que nos permite a capacidade de produzir cultura. Desse modo

[...] cada nova geração começa a sua vida no mundo dos objetos e fenômenos criados pelas gerações precedentes. Participando no trabalho, na produção e nas diferentes formas da sua atividade social, ela apropria-se das riquezas deste mundo, desenvolvendo nos homens as aptidões especificamente humanas que se haviam já cristalizado e encarnado neles (LEONTIEV, 1980, p. 45).

O processo de trabalho é composto pela força de trabalho, os objetos de trabalho e os meios de trabalho. A força de trabalho é o trabalho do ser humano

propriamente dito, a ação do ser humano sobre os objetos de trabalho; esses, por sua vez são as matérias primas sobre as quais a força de trabalho irá atuar, e os meios de trabalho são as ferramentas e instrumentos que mediam a ação do ser humano com as matérias primas.

Nas sociedades primitivas, durante o período que chamamos “comunismo

primitivo”, os indivíduos tinham como objetivo do trabalho garantir a sobrevivência de

si e do grupo a qual pertenciam. Esse modelo social estruturava-se “em torno da produção e do rito mágico, que organizavam, num certo sentido, a própria vida econômica” (ANDERY et al, 2012, p.19). Com o desenvolvimento das forças produtivas, os homens puderam produzir mais do que necessitavam. Esse excedente da produção, bem como novas relações entre os seres humanos e uma nova organização do trabalho, acompanhou e impulsionou a apropriação privada e individual do que antes era coletivo, a terra, os instrumentos e o produto do trabalho, tornando possível a exploração do homem pelo homem. Com essas relações, surgiram as primeiras formas de sociedades de classes, dividindo aqueles que detêm a propriedade dos meios de produção e os que somente possuem a força de trabalho. A partir disso entendemos que

[...] a história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das corporações e aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em contraposição uns aos outros e envolvidos em uma luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação revolucionária da sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes em conflito (MARX; ENGELS, 2008, p. 8).

A crise do escravismo deu lugar ao feudalismo e a crise do feudalismo aliado ao crescimento do comércio e ascensão da burguesia entre os séculos XVI e XVII, permitiu com que outra forma organização social tomasse lugar, o capitalismo. Essa organização tem, em sua essência, outra forma de exploração do homem pelo homem, o trabalho assalariado, onde o burguês compra, do trabalhador a sua força de trabalho.

O trabalho nem sempre foi trabalho assalariado, isto é, trabalho livre. O escravo não vendia a sua força de trabalho ao proprietário de escravos [...]. O escravo é vendido, com a sua força de trabalho, de uma vez para sempre, ao seu proprietário [...]. Ele próprio é uma mercadoria, mas a força de trabalho não é uma mercadoria sua. O servo só vende uma parte de sua força de trabalho. Não é ele quem recebe um salário do proprietário de

terra: ao contrário, é o proprietário da terra quem recebe dele um tributo (MARX, 2010, p. 36-37).

A força de trabalho se constitui enquanto uma capacidade humana de executar trabalho e não deve ser confundida com o poder de qualquer agente não- humano, pois representa o recurso exclusivo da humanidade para enfrentar a natureza (BRAVERMAN, 1977). Assim, com efeito, somente aqueles que compram a força de trabalho de outros desprezam essa diferença, pois não estão interessados nas relações sociais.