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Trabalho: contribuição, convivência e pertença a um

5.2 Redes sociais significativas

5.2.4 Relações de Trabalho ou Estudo

5.2.4.1 Trabalho: contribuição, convivência e pertença a um

importantes, principalmente, por estimularem a pertença a um grupo que tem um objetivo em comum, gerando sentimentos de contribuição/utilidade nos participantes. Além disso, a possibilidade de conviver com outras pessoas e conhecê-las por um longo período de tempo, torna essas relações significativas. Assim, elas são formadas por 3 vias diferentes: as relações que os participantes estabelecem com seus funcionários, com seus colegas de trabalho e com seus professores e/ou colegas de cursos.

Quanto às relações estabelecidas com funcionários, ou seja, com pessoas que prestam algum tipo de serviço para o idoso constata-se

sua importância para a realização das atividades de trabalho. Os vínculos antigos também são valorizados pelos idosos, cujo tempo de convivência no ambiente de trabalho leva a sentimentos de confiança nessas pessoas.

“Eles trabalham diretamente comigo. Nesse momento eles são muito importantes, para eu conseguir desenvolver meu trabalho. Por que eu tenho um cargo de chefia, então, a parte burocrática eu não consigo fazer tudo. Eu faço mais a parte social. Eles me dão esse suporte que eu não tenho pernas para fazer” (P. 26).

“Tenho empregados que trabalham comigo há mais de trinta anos. Começaram a trabalhar quando guris e hoje são vovôs. Tenho empregados muito bons, que trabalham comigo. [Um] faz trinta e um anos. O [outro] faz trinta anos. A [outra funcionária] eu acho que anda com quase vinte anos trabalhando comigo” (P. 4).

Esse sentimento está atrelado ao cuidado e apoio oferecido nas atividades de trabalho. Há preocupação com a saúde dos funcionários, além da oferta de conselhos, por parte dos idosos.

“Quarenta anos [...]. É uma pessoa boníssima, de confiança. Ele mora no nosso coração. Tem setenta anos também! Lá é tudo setentão! Um cuida do outro. E esse é fora de série. Ele é um destaque mesmo. Ele é uma pessoa amiga da gente. Nos ajudou a crescer dentro do nosso trabalho. E nós também proporcionamos isso a ele, na medida do possível [...]. Fizemos um plano de saúde que ele paga. Quando ele vem no médico, eu acompanho. Ou entro, falo com o médico e falo é assim e assim e aí eu me

retiro e deixo só ele [...]. Já faz parte da família, já é museu!” (P. 5).

Em alguns casos, há oferta de cuidado e apoio emocional mútuo entre os idosos e seus funcionários. A reciprocidade dessas funções fica evidente no excerto:

“Me sinto próxima de quem estiver no momento ao meu lado. E que eu não puder preservar de que sofra junto comigo. Essa moça que trabalha comigo é uma flor que nasceu no mundo [...]. Eu vejo que ela tem confiança em mim, e eu fico mais aberta [...]. Quando eu entendo trocado [...] ela tem a liberdade de me dizer. E eu agradeço. Quero muito bem ela [...]. E quando eu vejo ela preocupada, eu a deixo muito à vontade. Não precisa me dizer, se tu não queres dizer. Não diga! Mas eu estou percebendo e estou procurando falar, te distrair. Eu faço assim para você reagir melhor [...]. Eu tenho confiança nela. Confiança mesmo! Só sei conviver com uma pessoa que eu tenha confiança” (P. 14).

Nas relações com colegas de trabalho, o compartilhamento de ideias e a ajuda mútua fica mais evidente. Há a sensação de contribuição e utilidade para o crescimento profissional entre os membros da equipe.

“[...] Eu vejo muito respeito por parte deles. Quando eu vim para cá, fui muito bem recebida. É um grupo que corresponde, com quem tu discute, e tu cresce junto. A gente tem períodos de mais crise, menos, mas o que tu propõe, eles pegam junto. E eles propõem também. Eu acho que a gente faz um trabalho de incentivo para o crescimento deles. Tem que ir atrás deles, ajudar” (P. 30).

A identificação devido à atuação em áreas similares acaba transformando as relações profissionais em amizades. Assim, os colegas de trabalho tornam-se fonte de apoio para assuntos formais, mas acabam compartilhando ideias sobre outros assuntos.

“Hoje, o convívio da gente é, basicamente, com alguns colegas de profissão. Alguns clientes e tal. E nem seria diferente, porque esse círculo de amizades fica muito restrito, restrito não, mas muito dependente das relações profissionais. O convívio, por exemplo, entre advogado e médico não é a mesma coisa que o convívio entre médico e médico, e advogado com advogado. Até por que o advogado a gente encontra todo dia. E o meu escritório, geralmente depois das seis, os colegas vêm para a gente conversar. Tem vários colegas que a gente conversa bem” (P. 11).

Além dessa função de guia cognitivo exercida pelos idosos na vida dos colegas de trabalho, há troca de ideias e a organização das atividades em conjunto tornam essa relação significativa. A admiração pelo trabalho e a percepção de apoio profissional também permeiam essas relações e as tornam importantes.

“[...] nós trabalhamos juntas sempre. Ela é presidente [...] e eu faço parte da Diretoria. Então a gente sempre troca ideias e tudo” (P. 21).

“São pessoas muito importantes no meu relacionamento profissional e emocional também. Agora, eles ficaram aqui segunda, terça e quarta. Os três estavam aqui, por que nós fizemos esse projeto, [...] nas escolas. E eles vieram dar oficinas e palestras. Eles pagam para trabalhar! Por que eles vêm, não cobram nada, eles não gastam nada de alimentação, mas o [meu colega] veio no

carro dele até Taquara, e depois trazem toda a tralha, mas bota tralha! Por que essas coisas de bruaca, de cangalha, são enormes! [Outro colega], para as crianças verem como é que encilhava uma mula, um cavalo. Ele veio a cavalo e fez trinta quilômetros! Você imagina se não são umas pessoas que tu tem que querer bem, que tu tem que valorizar, que tu tem, meu deus” (P. 13).

Outro sentimento recorrente nas relações de trabalho é a pertença a um grupo específico. Esse sentimento também ocorre, em menor proporção, nas relações de alguns participantes com professores e/ou colegas em grupos de estudos e cursos. Nesses casos, a admiração por habilidades de professores ou colegas de estudo e o fato de receber apoio para realizar determinadas tarefas torna essas relações importantes.

“[...] eu tenho relações muito boas com ex- colegas de faculdade apesar de cinquenta anos. Hoje, ainda recebi dois e-mails já pensando numa confraternização de cinquenta anos de formado” (P. 11).

“Coloco [ela] duas vezes, nas amizades e na relação de trabalho. Acho que como relação profissional. Tanto que eu coloquei. Acho que ela é boa professora mesmo! Ela é um dicionário ambulante! Eu não sei como aquela mulher consegue decorar! Olha que até agora só uma palavra que eu perguntei o que era e ela disse que ia procurar, por que não sabia. Formação de frases e tudo [...]. E eu gosto muito do guri, [meu colega]. Ele é um amorzinho! Não sei se ele nos olha admirado! Posso ser avó dele! Olha, se eu precisar deles, nós fazemos as coisas muito juntos, sabe? Então a gente inicia e discute

junto o que tem de fazer. Ah, mas eu não concordo com isso. Aí o outro diz, não, mas eu concordo, vamos fazer assim. Engraçado, eu acho que aquele menino é sabido! Tem uma memória! ” (P. 6).

As relações de trabalho e/ou estudo são permeadas pelo sentimento de pertença a um grupo, e geram nos idosos a sensação de contribuição para a construção de um produto final. Essa convivência rotineira com colegas de trabalho e/ou estudo contribui significativamente para o dia-a-dia dos participantes que cultivam essas relações por meio de atividades de estudo e/ou trabalho. Assim, tornam- se significativas por permitir aos idosos manter a convivência com outras pessoas e experimentar a sensação de utilidade.

As relações estabelecidas em todos os quadrantes, de maneira ampla, contribuem para o sentimento de pertença nos idosos, seja ao ambiente familiar, social, de trabalho ou comunitário. Os sentimentos de apoio mútuo permeiam as relações dos participantes, que oferecem e recebem ajuda dos membros de sua rede. A busca de independência e autonomia é inerente às relações dos idosos com pessoas significativas, apesar de, em alguns momentos, serem estabelecidas relações em que se espera oferta ou recebimento de cuidado.

Há grande destaque para as relações familiares, principalmente por sua proximidade e intimidade. Entre eles sobressaem os netos (as), filhos (as) e esposos (as). A manutenção de funções dos idosos no sistema familiar, que ocorre em grande parte por meio das relações citadas, indica a importância destas pessoas, de forma prática e subjetiva, no cotidiano dos idosos.