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O TRABALHO DO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO DO IFRN: O QUE DIZEM OS SUJEITOS

CARGO NÍVEL QUANT % DO QUANT.

5.2. O TRABALHO DO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO DO IFRN: O QUE DIZEM OS SUJEITOS

Nessa subseção é aprofundada a discussão da pesquisa empírica, através do diálogo entre as informações obtidas das entrevistas realizadas com os gestores, debates do grupo focal e o referencial teórico apresentado.

Os processos de ser e de vir a ser dos sujeitos partícipes desta pesquisa foram desvelados durante as entrevistas e/ou grupo focal, mesmo que, às vezes, inconscientemente, os sujeitos deixaram pistas claras a respeito de suas formações, concepções e de suas constituições enquanto profissionais. Por essa razão, utilizaram-se trechos das falas dos sujeitos da pesquisa, onde é possível a leitura das entrelinhas do pensamento e também da ocorrência de atos falhos79.

79 Para a psicanálise, os atos falhos são expressões de intenções omitidas ou resultado de um confronto entre duas intenções, uma delas inconsciente.

5.2.1 A divisão do trabalho educativo no IFRN/CNAT

A forma como o trabalho educativo é dividido no IFRN/CNAT, permeia a lógica capitalista do parcelamento do trabalho, evidenciada na fala de dois gestores entrevistados, ilustrado na fala abaixo:

O técnico que tá na parte administrativa, ele tá na parte administrativa 100 %, já o técnico que tem uma interface com o docente é o técnico de laboratório, aí é dividido o que: toda a parte teórica, em sala de aula é com o professor, mas quando o professor vai para o laboratório aí o técnico entra como apoio do professor, então nessa hora o professor vai para o laboratório com a turma e o técnico é fundamental nessa hora, de preparar o laboratório no decorrer da aula, depois ele organiza o laboratório, então existe uma interface direta. O técnico educacional também existe uma interface, mas no acompanhamento do aluno e chama os professores para reuniões, aquelas coisas, entre os três o que tem interface direta é o de laboratório. Eu acho que assim é o certo. Tem coisas que o professor não faz e tem coisas que o técnico não vai fazer. O técnico não pode dar aula no lugar do professor, não é pra dar aula no lugar do professor, mas no laboratório o técnico auxilia a aula do professor e muitas vezes até orienta o professor, nos ensaios e tal, o que não pode é o professor ir para o laboratório e mandar o técnico dar aula de laboratório, tá entendendo, então não pode, eu acho que do jeito que tá, tá certo (GESTOR 2D, 2015, grifo nosso).

Na fala do Gestor-2D (2015), há o parcelamento do trabalho do técnico- administrativo, da seguinte forma: o administrativo que está “100% na parte administrativa”; o técnico educacional, que “acompanha o aluno”; e o técnico de laboratório, que apoia o docente, preparando o laboratório para aula e organizando- o ao final. Conclui-se de forma pontual, dois aspectos observados nessa fala, que resguardam similaridade com a lógica capitalista de parcelamento e fragmentação do trabalho, visto na seção 3, são eles: não há integração entre os trabalhadores, tornando-os alheios ao processo educacional como um todo; e há fragmentação e hierarquização da categoria dos próprios técnicos, a partir do nível de escolaridade de ingresso no cargo (fundamental, médio e superior). Contudo, embora haja indícios na fala do Gestor-2D (2015) dos técnico-administrativos atuarem afastados de uma dimensão educativa, há concordância dele com relação à participação do técnico de laboratório no ensino.

Compreende-se que é possível que o trabalho do técnico-administrativo assuma uma dimensão educativa e política, independente da proximidade ao

estudante, que é mediada pelas características da atividade laboral em cada caso, mas especialmente, conforme defende Dourado (2013), por sua efetiva participação no processo de repensar as estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais no modo de produção capitalista.

Em se tratando dos gestores técnicos, observou-se que esses naturalizaram o discurso fragmentário e, também, distinguem pedagogos como se não fossem técnicos. Nessa fala, o Gestor-1TA (2015) esclarece: “[...] a gente acaba vendo uma diferença no pedagogo, que é uma atuação mais próxima do professor [...]” (GESTOR 1TA, 2015, grifo nosso).

Importa esclarecer que nas entrevistas, todos os gestores apresentaram forma de distinção similar ao tratar o técnico-administrativo de nível superior que ocupa o cargo de pedagogo, como uma categoria intermediária entre técnicos e docentes. Monlevade (2009) esclarece que se criou uma hierarquia entre os próprios não-docentes:

no topo, os especialistas; no meio, os que trabalhavam em secretarias e bibliotecas; e na base, o pessoal da alimentação escolar, da limpeza e da vigilância (MONLEVADE, 2009, p. 345).

Embora haja outros técnicos que ocupam cargos de nível superior, como exemplo, o psicólogo, médico, nutricionista, administrador, entre outros, o pedagogo possui algumas particularidades, que quando somadas, diferencia-os do/s demais técnicos e, consequentemente, aproxima-os dos docentes. A primeira particularidade que pode contribuir para esse movimento é a natureza do seu trabalho, a qual permite maior proximidade ao docente e é realizado em espaço físico diverso dos demais técnicos; a segunda, é o nível de qualificação para além da exigência do cargo, pois dos 16 pedagogos80, três possuem o título de doutorado,

quatro estão em processo de doutoramento, três são mestres e os demais estão cursando mestrado ou especialização; a terceira e última particularidade dos pedagogos está pautada na análise do PDI e PPP, que reserva ao pedagogo espaço como membro nato, em quase todos os órgãos colegiados do IFRN. Pode-se inferir que essas particularidades foram resultantes de lutas históricas para o

80 Considerando aqueles com formação em pedagogia, embora sejam dos cargos de pedagogo e técnico em assuntos educacionais. Dados extraídos do Sistema Unificado de Administração Pública (SUAP), disponível em https://suap.ifrn.edu.br/, acessado em: 30/03/2016.

reconhecimento desse grupo profissional e conquistadas pela ocupação do espaço político no IFRN.

Outra evidência na fala dos gestores foi a vinculação do técnico-administrativo às atividades burocráticas, sem contato direto com o estudante, como um trabalho secundário ao ensino. Parece renegar a possibilidade de o técnico educar, ainda que fora dos espaços formais. De fato, o ensino é uma atividade privativa do docente, e em sala de aula, entretanto as falas parecem trazer como pano de fundo, a impossibilidade de o técnico educar.

Essa forma de divisão do trabalho educativo, do técnico vinculado apenas ao trabalho administrativo e prático, é vista de forma natural e, alguns gestores justificam-na retomando a forma como é feito o ingresso do servidor na instituição, através de concurso público:

Eu vejo de forma natural. O docente ele é servidor para ensinar, aí ele tem que participar daquele tripé, ensino, pesquisa e extensão, certo? O técnico-administrativo ele é contratado, é uma pessoa que tem formação para trabalhar com atividades administrativas, mas também como a instituição é nesse nível com esse direcionamento, ele também deve ter as três vertentes, igualitária, de forma administrativa, com o ensino, pesquisa e extensão. Então, esse é um processo natural aqui dentro, não vejo isso, não vejo uma separação, a pessoa entra e sabe, aliás, se contrata, se faz um processo seletivo público, já definindo o perfil e espera-se que a pessoa contratada atenda este perfil (GESTOR 3D, 2015, grifo nosso).

O Gestor-3D (2015) inicia a fala com a compreensão de que o espaço de trabalho do técnico é em atividades administrativas, mas em seguida, se reporta à concepção da Instituição para afirmar que o técnico deve participar do “tripé”, ensino, pesquisa e extensão, entretanto, deixa claro que essa participação deve ser “de forma administrativa”. Talvez não intencionalmente, mas o Gestor-3D (2015), dessa forma, defende um aspecto que resguarda alguma relação com a Lei nº 11.091/2005, no seu Artigo 8º, já criticada na seção 4, de que na pesquisa e extensão o técnico-administrativo deve planejar, organizar, executar ou avaliar as atividades de caráter técnico-administrativas, tão somente, parece não permitir que o técnico desenvolva a pesquisa e a extensão, propriamente ditas.

Importa pensar que, independente do cargo escolhido para ingresso na instituição, é preciso que os servidores estejam conscientes de que “[...] com a divisão do trabalho não só existe diversificação de tarefas e aptidões como também

elas são úteis, enquanto complementares (KUENZER, 2011, p. 26). Essa visão dicotômica de um trabalho fragmentado, sucumbe a possibilidade de os envolvidos desenvolverem atividades que se complementem e sejam úteis para a sociedade.

Com relação ao impacto da falta da definição clara e publicização das atribuições dos cargos dos servidores técnicos, o Gestor-2TA (2015) reconhece e afirma que

A questão é que talvez por falta desse conhecimento, dessa divulgação dos papéis ou até de uma atualização desses papéis, já que as coisas aqui são muito dinâmicas, e de todo mundo entender isso e seguir isso é que atrapalha, ou seja, na falta de conhecer e seguir isso é que um entra um pouco no trabalho do outro. [Isso gera o quê?] Conflitos. Conflitos de interesses (GESTOR 2TA, 2015, grifo nosso).

Esse trecho ilustra o que se observou entre os demais gestores entrevistados e, inclusive, entre os técnicos que participaram do grupo focal. O desconhecimento e/ou a ausência, de fato, das descrições das atribuições dos cargos, nos documentos institucionais e legais, repercute também, na determinação de atribuições de acordo com as demandas do setor; entendimento dos gestores, que parecem manter, na maioria das vezes, o foco nas questões administrativas; ou, ainda, criam atividades conflitantes entre a própria categoria dos técnicos, gerando arenas políticas de interesses diversos. A afirmação de que as atribuições são descritas de acordo com a demanda de cada setor, foi trazida por 8 dos 10 gestores entrevistados, que alegaram ter percebido a necessidade e, portanto, o fizeram por conta própria.

Ainda com relação a fala do Gestor-2TA (2015), e retomando a atuação da comissão CIS/PCCTAE, comentada na subseção anterior, reforça-se a necessidade da referida comissão rever sua atuação, para além da implementação do Plano, dedicando-se às discussões sobre as atribuições do técnico, compatíveis com o ambiente escolar e a dimensão educativa desse trabalho.

No que se refere à ocupação das funções de gestão, questionou-se aos entrevistados o seguinte: a) qual o perfil do gestor para ocupar a função em questão; b) a função poderia ser ocupada por técnicos ou docentes; e ainda, c) por qual cargo essa função havia sido ocupada entre 2005 e 2015, excluindo-se o cargo do gestor atual. A Figura 7 traz um resumo dos resultados

Figura 7 – Quadro percepção dos gestores sobre ocupação de função de gestão PERFIL DO GESTOR PODERIA SER