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TRABALHO ESCRAVO FRENTE O PROJETO DE EMENDA

No documento Trabalho escravo rural (páginas 60-63)

Levando em consideração todas as ordenações típicas referentes ao trabalho escravo, forçado ou obrigatório existente em nosso contexto social, novas medidas estão tomando conta do cenário jurídico brasileiro. Estamos a tratar da proposta de Emenda Constitucional de número 438 de 2001.

Tal inovação jurídico-constitucional, em caso de completa aprovação, viria como um forte construído com o intuito de penalizar o infrator ou escravocrata em seu maior bem, ou seja, a propriedade.13

O objetivo principal desta proposta de emenda constitucional é de aperfeiçoar o atual artigo 243 da Carta Suprema que assim estabelece:

Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas

culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em

decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será 

12 OLIVEIRA; THEODORO, loc. cit.

13 NUNES, Flávio Filgueiras. A persistência do trabalho escravo no Brasil. Juiz de Fora, 2005. Monografia de conclusão de curso apresentada à Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior. Disponível em:

<http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/brasil/documentos/monografia_flavionunes.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011.

confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias.14

Com a nova redação do artigo supra citado, incorporado pela proposta de emenda de número 438/2001, assim estabeleceria:

Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas

culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas à reforma agrária, com o assentamento prioritário aos colonos que já trabalhavam na respectiva gleba, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em

decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e se reverterá, conforme o caso, em benefício de instituições e pessoal especializado no tratamento e recuperação de viciados, no assentamento dos colonos que foram escravizados, no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle e prevenção e repressão ao crime de tráfico ou do trabalho escravo.15

Nota-se que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 182, § 3° nos remete à ideia que a desapropriação deve ser feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. Pelas palavras de Ramos:

A desapropriação é um procedimento administrativo pelo qual o poder público ou seus delegados, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, impõe ao proprietário a perda de um bem, substituindo por justa indenização.16

Desta forma, verifica-se não a necessidade de desapropriar a terra do escravocrata, mas sim em expropriá-la, pois seria sua punição em perder seu patrimônio e não possuir qualquer tipo de indenização por tal procedimento.

É de crucial importância salientar que tal reforma constitucional, pretende aplicar uma devida sanção ao infrator e “onde for constatada a exploração de trabalho escravo, revertendo a área ao programa de reforma agrária ou de habitação popular.”17

 14 BRASIL, 2011, p. 81.

15 NUNES, 2005, loc. cit.

16 RAMOS, Lívia Nogueira. Desapropriação direta e indireta. Disponível em:

<http://www.pesquisedireito.com/desapropr_dir_indir.htm>. Acesso em: 13 out. 2011.

17 MELLO, Solange Quintão Vaz. Trabalho escravo no Brasil: a nova face de um antigo dilema. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalho monográfico apresentado a conclusão de curso de pós graduação latu sensu. Disponível em

<http://www.tst.gov.br/Ssedoc/PaginadaBiblioteca/teses/solangequintaovazdemello.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011.

Assim, é possível dizer que “a expropriação de propriedades rurais e urbanas onde se verifica exploração de neo-escravidão, sem indenização ao proprietário, constitui medida de relevância para o combate dessas práticas.”18

Esta proposta de emenda constitucional está há anos em tramitação. Verifica-se por oportuno, que uma de suas principais causas encontra respaldo nas palavras de Keley Kristiane:

Há uma imensa resistência de setores do Parlamento, sobretudo, aqueles ligados aos grandes proprietários de terras - a chamada bancada ruralista -, para aprovar a referida proposta de emenda, assim como, outros projetos de lei que instituem medidas que vão de encontro aos interesses desse grupo.19

Recorda-se do posicionamento de Plassat:

Por sua vez, a representação política que atende aos interesses dos proprietários de terras que utilizam trabalho escravo, seja por que estão diretamente ligados à defesa desses interesses, seja pela representação simbólica que tem a aprovação de alterações legislativas como a PEC 438/2001 e os projetos de lei que alteram penas e impõem barreiras à concessão de crédito público, além de outras restrições, pode ter sobre o universo dos grandes proprietários rurais; o fato é que a atuação dos parlamentares vinculados a tais interesses tem obstruído o avanço de medidas mais eficazes no enfrentamento do tema.20

Diante de tais argumentos, elucida-se que o próprio legislador, em determinados casos, dificulta o andamento de novos atos legislativos por irem contra os seus interesses particulares. Contudo, o crucial é a observância de que a PEC 438/2001, ao adentrar no ordenamento jurídico, propiciará, conforme o transcrito no Jornal do Senado:

O objetivo da PEC 438/01 é a expropriação das terras onde houver trabalho escravo, sem direito a qualquer indenização. Para isso, pretende alterar o artigo 243 da Constituição da República, que já estabelece o confisco de terras em que forem encontradas culturas de plantas usadas para produzir drogas, como maconha, haxixe e cocaína.21



18 JARDIM, Philippe Gomes. Neo-escravidão as relações de trabalho escravo contemporâneo no

Brasil. Curitiba. 2007. Tese de dissertação para obtenção de grau de mestre. Disponível em:

<http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/handle/1884/10978>. Acesso em: 23 ago. 2011.

19 CRISTO, Keley Kristiane Vago. Trabalho escravo rural contemporâneo: superexploração extremada, latifúndio e estado. Dissertação (Mestrado em Política Social Mestrado em Política Social Universidade Federal do Espírito Santo), Vitória. 2008. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp099894.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011. 20 Ibid.

21 BRASIL. Senado Federal. Perda da propriedade que explora trabalho escravo é objetivo da PEC 438/01. Jornal do Senado. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/trabalho-escravo/pec- 438/objetivo-da-pec-438-01.aspx>. Acesso em: 13 out. 2011.

Ainda:

O objetivo da PEC 438/01 é ainda que os bens confiscados, quando convertidos em recursos, serão destinados a um fundo especial a ser regulamentado em lei própria. Antes de ganhar essa redação, outras propostas sugeriam a aplicação dos recursos em programas de habitação popular, assentamentos para reforma agrária, recuperação de dependentes químicos, fiscalização do cultivo de plantas psicotrópicas e do trabalho escravo ou, ainda, para melhorar as condições de moradia dos trabalhadores libertados.22

A Proposta de Emenda Constitucional 438/2001, está sendo considerado um grande avanço jurídico-constitucional para a sociedade. Vejamos o publicado no Jornal do Senado:

[...] a PEC vai aumentar a punição para quem patrocina a escravidão, por meio da perda de grande parte do seu poder econômico, ou seja, o imóvel, rural ou urbano onde o crime aconteceu, a expropriação. Por conta disso, o presidente de honra da Frente Parlamentar, o ex-senador José Nery (PSOL- A), considera que a aprovação da PEC corresponderá a uma nova abolição – neste caso, da escravidão contemporânea. O confisco do bem é considerado uma punição mais efetiva, que pode ser aplicada rapidamente, e, assim, inibir quem pretende [...] diversas formas de escravidão.23

É certo que mesmo com posicionamentos contra a entrada no ordenamento jurídico brasileiro desta proposta de emenda constitucional, a lei falará mais alto e a justiça predominará sobre todas as coisas e pessoas. Se realmente tal mudança constitucional vier a transformar o ordenamento jurídico e a realidade social para um bem ainda maior, mais justo, decente, coerente e humano, tal medida legislativa será definitivamente aprovada.

No documento Trabalho escravo rural (páginas 60-63)