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2 MARCO TEÓRICO

2.1 TRABALHO HUMANO

O conceito de trabalho aqui utilizado é aquele expresso pela transformação que o homem opera na natureza de forma intencional para responder às suas necessidades (Marx, 2013). O trabalhoé uma ação adequada a um fim (transformação da natureza em objeto com valor de uso),inserido em processo

histórico, portanto, é um veículo para a autoprodução do homem enquanto homem.O trabalho pode ser tomado como modelo para a compreensão do homem como ser social, sendo, portanto, um conceito essencial a ser explorado (Lukács, 1980).

O que possibilita ao homem ser histórico é sua condição de sujeito, diferenciando-se do resto da natureza. O caráter histórico do homem permite que acumule cultura e transforme a natureza, ações que implicam, necessariamente, seu caráter social e político11, pois a produção da materialidade só é possível a partir da vida social. É pelo trabalho que o ser humano se relaciona com a natureza e os outros seres humanos, permitindo que humanize o mundo e dê forma humana a ele. O homem, portanto, é um ser essencialmente social (Marx, 2013).

O fato histórico do homem somente se manter no interior das relações sociais significa que a produção da existência humana é necessariamente mediada pela divisão social do trabalho, condição necessária a todas as sociedades (Paro, 2010). Então, para além da produção necessária para sua subsistência, o homem produz excedentes que são compartilhados com os demais; assim, o trabalho é socialmente dividido, garantindo que todas as necessidades humanas sejam satisfeitas (Marx, 2013). Nessas relações, a convivência entre pessoas e grupos produzindo a própria existência se opera devido à atividade política, que torna possível a vida social (Paro, 2010).

Com o advento do modo de produção capitalista, a divisão social do trabalho concretiza-se na divisão em classes, materializando-se duas classes essenciaisao modo de produzir capitalista, a classe dos capitalistas, que corresponde aos donos dos meios de produção e que paga salários aos que produzem, e a dos proletários, que realizam o trabalho. Os trabalhadores vendem ao capitalista a única mercadoria que dispõem: sua força de trabalho. Essa prática faz com que os trabalhadores se encontrem separados/alienados dos meios de produção e também sejam alienados das mercadorias, produto final de

11 De acordo com Paro (2010, p.27), político se refere ao sentido mais amplo do termo, isto é, “a produção da

seu trabalho; eles têm interesse no salário e não no produto que produzem, já que este é estranho a eles (Marx, 2013).

Marx (2013) denomina esse processo de subsunção formal, ou seja, o trabalhador se torna subordinado ao capitalista na forma social.

No capitalismo, a separação entre os produtores e os possuidores dos meios de produção, forjando classes sociais distintas – trabalhadores assalariados e burgueses -, está na origem estrutural de formas sociais que configuram a dinâmica de tal reprodução social (Mascaro, 2013, p.60).

O capitalista explora o trabalhador e se apropria do excedente produzido (parte da produção é destinado a pagamento do salário do trabalhador e outra parte é apropriada pelo capitalista), extraindo a mais-valia. Na subsunção formal, dado que as forças produtivas não foram alteradas, o capitalista pode apenas obter maiores taxas de mais-valia aumentando a jornada de trabalho, isto é, o capitalista encontra um limite para a quantidade de extração da mais-valia, o que configura a mais-valia absoluta (Marx, 2013).

Com o desenvolvimento das forças produtivas e com o desenvolvimento da

organização da produção, dos instrumentos de produção e da divisão técnica do trabalho, o trabalhador passa a se tornar um apêndice das máquinas, isto é, ele deixa de ter domínio sobre o processo de produção e não mais detém conhecimento sobre este. Por realizar apenas uma pequena parte do processo de produção, não há necessidade de que o trabalhador detenha conhecimento sobre a totalidade do processo. Torna-se, assim, na expressão de Marx (2013), um

aleijão, pois é privado de desenvolver suas potencialidades humanas.

A divisão técnica do trabalho e a especialização das funções no interior do processo de produção servem ao capitalismo, possibilitando que o capitalista extraia mais valia e obtenha lucros cada vez maiores, tendo como consequência a alienação do trabalhador. Além disso, a divisão técnica do trabalho permite que o capitalista possa mais facilmente controlar os trabalhadores, isto é a força de trabalho que comprou e a produção. Adam Smith descreve vantagens de tal divisão: 1) A tarefa é mais precisa, já que o trabalhador a desempenha com mais destreza e maior rapidez; 2) Economiza-se tempo quando não é necessário que o

trabalhador passe de uma tarefa a outra; 3) O maquinário abrevia o trabalho humano, já que uma máquina realiza o trabalho de vários homens (Paro 2012). Tal realidade propicia que o trabalhador e também sua subjetividade, sua intelectualidade estejam subordinados ao capital, processo denominado por Marx (2013) de subsunção real do trabalho ao capital. Acompanhando a subsunção real, o desenvolvimento das forças produtivas permite a extração da mais-valia relativa, quer dizer, o capitalista passa a extrair a mais-valia por meio da diminuição do tempo de trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho. A jornada de trabalho, nesse caso, pode permanecer a mesma, mas o período de trabalho não pago e apropriado pelo capitalista aumenta (Marx, 2013).

Na sociedade capitalista, então, resta às classes subalternas realizar trabalho parcelar, que não lhes traz sentido e cujo produto lhes é estranho. Resta- lhes serem explorados. Os trabalhadores não têm domínio sobre o processo de trabalho e não se dão conta dos processos de exploração envolvidos nas relações sociais de trabalho.

A exploração do homem sobre o homem é uma das características fundantes desse modo de reprodução, chancelado pela lei e pelo Direito. Segundo Mascaro (2013), essa relação de exploração está apoiada num terceiro pilar, qual seja, o Estado, aparato da constituição social e também garantidor da mercadoria, da propriedade privada e dos vínculos jurídicos de exploração que jungem o capital e o trabalho, defendendo dessa maneira, os interesses da classe dominante. “O Estado é um derivado necessário da própria reprodução capitalista” (Mascaro, 2013, p.19).

2.2 INSTRUMENTOS PARA EXPOSIÇÃO DE CONTRADIÇÕES E PARA