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e suas relações “com o outro” no espaço escolar

3.1.2. O trabalho pedagógico

Quanto ao enfoque pedagógico que permeia toda atividade educacional, a diretora acha esta parte a mais importante: “estar fazendo a ligação entre professores, alunos, funcionários, pais e comunidade”. Mas, complementa que “não dá para esquecer a outra parte prática, burocrática, a parte administrativa, a parte de papéis...”.

Procurando olhar mais atentamente para as questões pedagógicas, procurei saber como era exatamente o “que fazer pedagógico” da diretora dentro da escola, e seu relato foi o seguinte:

“Olha, a primeira coisa, a escola tem que ter uma identidade... uma identidade pedagógica... Então, qual é a finalidade do Caic? Qual é a postura pedagógica mesmo do Caic? Nós procuramos trabalhar assim... inovar ao máximo... muita criatividade, por que esses alunos... eles têm assim uma... é uma realidade difícil, então a gente trabalha esse lado... projetos... muitos projetos... para despertar o interesse mesmo da criança...”

Sobre as atribuições da vice–diretora e as questões burocráticas da escola, a diretora argumentou que tendo em vista o fato de que ambas iniciaram juntas na direção da referida escola, então procuram trabalhar de maneira conjunta, “tanto na parte de papéis, como na parte de pessoas”. E justifica isso alegando que é preciso administrar uma escola de maneira que em sua ausência, qualquer pessoa saiba tudo o que está acontecendo.

Recentemente a diretora vem participando de cursos sobre Gestão, ministrados pela Secretaria da Educação. O tema do primeiro encontro foi “Liderança”, o segundo voltou-se para o “Pedagógico” e o terceiro sobre “Tomada de Decisão”, sendo que esses cursos são mais centralizados na formação pessoal, segundo seus comentários.

Parece interessante esta abordagem do curso, uma vez que, de acordo com a literatura levantada nesta pesquisa, considera-se que a formação dos profissionais da educação deve voltar-se para a reflexão, para o “aprender a aprender”, buscando sua formação integral para a prática coletiva; até porquê, sabe-se que para haver mudança na

escola, dependeria da mudança de atitudes dos profissionais envolvidos – isso levaria a uma inovação da instituição e desenvolvimento da prática dos profissionais.

Talvez seja preciso um pouco mais de tempo para que a diretora absorva em sua prática as teorias aprendidas no curso “Circuito Gestão”, conforme o leitor vai poder observar pelos dados levantados no decorrer desta pesquisa.

Conforme exposição da diretora, a sua rotina de trabalho consiste em:

“Cuidar de todas as atividades dentro da escola e também cuidando dos papéis, que a gente não pode, né... infelizmente ainda dão muito valor para papéis, para documentação, prazos...”

Referindo-se ao diretor de escola, Dias (1.999:276) afirma que:

“Há pelo menos duas razões fundamentais para que a posição do diretor de escola não seja meramente a de administrador, mas a de líder: a natureza peculiar da atividade escolar, que exige um tratamento mais refinado que o que pode ser observado em outros ambientes de trabalho, e as atribuições do diretor, que incluem outros aspectos além do de simples administrador.”

Em que pese à relevância das funções burocráticas para o bom funcionamento da escola, o retorno maior em termos da melhoria das condições de trabalho, talvez não esteja em acumular e executar tarefas burocráticas, mas sim em dinamizar ações com professores, alunos, pais e comunidade.

A diretora disse estar vivenciando algumas dificuldades este ano, pois há professores novos na escola e com a mudança de alguns professores, segundo ela, “fica difícil”.

“Não é nem tanto por eles não quererem... Quando se trabalha vários anos com a mesma turma, é fácil... Esse ano nós estamos sentindo uma dificuldade maior, porque mudou bastante. Com isso o trabalho fica... Você tem que... quando vai seguindo, é mais fácil... Agora você tem que... trazer esse pessoal, prá essa realidade, prá esse trabalho, prá ver como que ele... O professor tem que ter o compromisso com a escola. Ele tem que se sentir parte da escola, sentir amor mesmo... hoje fala-se muito em time... não é nem trabalho em equipe... é em um time mesmo. Então, eles têm que fazer parte desse time, se não, você não consegue nada. Você faz parte desse time esse ano, no outro ano... Quando você já vem trabalhando com esses alunos, com essa realidade nos anos anteriores, fica muito mais fácil para dar continuidade...”

É possível evidenciar que o “novo” causa medo, desconforto, inquietação. O “novo” ou a novidade incomoda e talvez pelo fato de haver tanta rotatividade de professores na escola, essas rupturas no trabalho de equipe sejam a razão das mudanças demorarem a acontecer na rede pública.

Por outro lado, há que se considerar que o “novo” às vezes traz experiências enriquecedoras; se essas profissionais têm uma visão mais “abrangente” de educação, podem contribuir muito com o sucesso da escola; podem “movimentar” o que aparentemente está “acomodado”. Desta forma, o novo profissional poderia dinamizar o grupo em diversos aspectos que devem ser valorizados e não estigmatizados. Se a própria diretora tiver este pensamento de que os “novos” não conseguem se integrar ao grupo, estará trabalhando com uma visão contrária ao possível trabalho em equipe.

A coordenadora pedagógica relatou sobre o trabalho que desenvolve, sua rotina e as relações que são estabelecidas dentro da escola, colocando que, na verdade, no dia-a-dia, acaba fugindo de suas funções, devido às

tantas coisas a serem resolvidas. “Todo mundo corre para o coordenador”. Citou por exemplo que vai atrás das crianças em suas casas em caso de faltas (evasão escolar) para saber o que está acontecendo; faz os encaminhamentos para o médico no caso dos “alunos problemas” ou dos que têm deficiências; coordena os professores; elabora a HTPC; atende os pais quando os professores solicitam para explicar para eles se os alunos estão ou não tendo problemas.

Em termos burocráticos, a coordenadora precisa fazer uma pauta de cada HTPC para enviar à Diretoria de Ensino e também relatórios das visitas que faz nas classes, para atender as orientações do supervisor de ensino. Nas visitas do supervisor de ensino, que acontecem duas ou três vezes ao ano, a coordenadora faz os registros das ocorrências e tudo o que detectou nas salas de aula. Às vezes fica o período todo em uma única classe. O trabalho é avaliar quantos alunos estão lendo, escrevendo, quantos estão no nível pré-silábico, silábico, alfabético. Isso é feito diariamente.

O artigo publicado na edição n° 162 da Revista Nova Escola (2.003:21) - “Carreira: Coordenador Pedagógico”, aponta que dentre as várias funções deste profissional, ele deve atuar na formação contínua dos professores:

“Ele faz a transposição da teoria para a prática escolar e é o maior responsável pela formação dos docentes. (...) Cabe a esse profissional fazer ainda o atendimento aos pais... Por tudo isso, o coordenador pedagógico só vai desempenhar bem seu ofício se for um líder e tiver apoio da direção...” (Revista Nova Escola, 2.003:21)

Se porventura o coordenador pedagógico não estiver preparado, se ele não tiver competência técnica para isso, como conseguirá formar uma equipe coesa para melhorar a qualidade do ensino e as boas relações humanas na escola? Seria um desastre. Portanto, torna-se urgente reivindicar formação continuada para este profissional.

Ações democráticas e participativas auxiliariam no trabalho das professoras e na interação escola-famílias. Acredita-se que o diretor, assim como o coordenador pedagógico, são duas peças fundamentais deste processo educativo.

3.1.3. As expectativas e apoio da equipe de direção quanto