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TRABALHOS BRASILEIROS COM ESCALA DE DESENVOLVIMENTO COMPORTAMENTAL DE GESELL E AMATRUDA (EDCGA)

SUMÁRIO

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.6 TRABALHOS BRASILEIROS COM ESCALA DE DESENVOLVIMENTO COMPORTAMENTAL DE GESELL E AMATRUDA (EDCGA)

A seguir serão apresentados estudos brasileiros que utilizaram a EDCGA em sua metodologia.

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Paine e Pasquali (1982) realizaram estudo longitudinal, avaliando o crescimento e o desenvolvimento psicomotor de 123 crianças nascidas a termo, com peso apropriado para a idade gestacional (BIG) e de 60 crianças a termo, porém pequenas para a idade gestacional (PIG), dos quatro aos 18 meses de idade. Tanto o aumento de altura, quanto o desenvolvimento psicomotor medido pelo EDCGA mostraram relação significativamente com status socioeconômico no grupo BIG. Adicionalmente, a altura mostrou-se significativamente correlacionada com o desenvolvimento psicomotor dos oito aos 18 meses, somente no grupo PIG. Tais resultados apontam para associação precoce do ambiente socioeconômico com o desenvolvimento psicomotor nas crianças PIG e indicam a importância da nutrição pós-natal refletida pela altura no desenvolvimento psicomotor, em crianças nascidas PIG. A influência do status socioeconômico sobre a altura e o desenvolvimento psicomotor no grupo PIG são hipoteticamente considerados como ocorrendo, pelo menos em parte, pela interação entre nutrição pós-natal e deficiências no crescimento intra-uterino.

Méio et al. (1992) discutiram as possíveis repercussões das alterações nas habilidades psicomotoras, baseados no estudo com 100 crianças, 53 prematuros, sobreviventes de uma Unidade de Cuidado Intensivo Neonatal. As crianças foram testadas entre as idades de 12 e 72 meses. A maioria dos participantes, com o peso abaixo de 1.500g ao nascimento, mostrou alterações significativas nas provas da EDCGA, especialmente nas áreas adaptativas, motora fina e linguagem.

Sobolewski et al. (1996), com o objetivo de identificar as alterações neurológicas em recém-nascidos (RN) de baixo peso (inferior a 2.500g) e os seus fatores de risco, acompanharam 75 crianças nascidas por dois anos. Foram realizadas comparações com modelos propostos por Gesell (EDCGA) e avaliação com ultra-sonografia de crânio, realizada no primeiro semestre de vida e considerada alterada quando apresentasse sinais de hemorragia intracraniana, dilatação ventricular, imagens císticas e aumento de hipercogenicidade. Esse exame foi repetido semestralmente, quando observado qualquer uma dessas alterações, ou se diagnosticada alguma alteração clínica. Na aplicação da EDCGA, foi considerado anormal quando a criança apresentasse, pelo menos, uma avaliação alterada entre os quatro setores (motor, adaptativo, linguagem e pessoal-social). A incidência de alteração de desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) foi de 34,6%, sendo que

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92,3% deste índice estava associado com Apgar de primeiro minuto <=7. Nessa pesquisa, no seguimento de dois anos, das 26 crianças classificadas pela EDCGA como apresentando alterações, 70% foram consideradas normais ao final do período estudado. Os autores ressaltaram que as alterações clínicas do DNPM são variáveis e dependentes dos fatores peri-natais. Crianças com fatores de risco, considerados marcadores clínicos (como, por exemplo, prematuridade, muito baixo peso, etc.) devem ser monitorizadas, pois são potencialmente sujeitas às alterações neurológicas futuras.

Méio et al. (1999) revisaram, retrospectivamente, os prontuários de 119 crianças internadas no Berçário de Alto Risco. Os fatores de risco peri-natais foram correlacionados com a evolução das crianças, e o resultado do Quociente de Desenvolvimento (QD), avaliado pelo EDCGA, foi realizado entre os 12 e os 24 meses de idade. Observaram que o peso do nascimento, a ventilação mecânica e a sepse se associaram à EDCGA anormal. Os autores ressaltaram a importância de priorizar o acompanhamento dos RN com esses fatores de risco no período peri- natal.

Hage et al. (2004) verificaram o desempenho de 25 (GE) crianças de três a seis anos, com diagnóstico de alterações específicas da linguagem (AEDL), em comparação com 50 (GC) crianças normais, da mesma faixa etária, por meio da EDCGA. As crianças do GC apresentaram desempenho satisfatório e melhor do que as crianças do GE em todos os campos da escala. O valor da mediana do GE foi limítrofe nos comportamentos adaptativo e social-pessoal, já no de linguagem, foi extremamente rebaixado. Concluíram que as alterações de linguagem interferiram na avaliação dos outros campos do desenvolvimento (adaptativo e pessoal-social).

Contesini et al. (2006) descreveram o desenvolvimento global e de vocabulário em sujeitos, na faixa etária de dois anos e seis meses a dois anos e oito meses, nascidos grandes para a idade gestacional (GIG). Foram aplicados os seguintes desenvolvimentos: Escala de Desenvolvimento de Gesell, para avaliar o desenvolvimento global; o teste de Linguagem Infantil – ABFW, para verificação da competência lexical. Foi encontrado um perfil diferenciado entre os sujeitos: o sujeito 1 apresentou desenvolvimento normal; o sujeito 2 apresentou defasagem nas áreas adaptativa e de linguagem; e o sujeito 3, defasagem específica na área de linguagem. O desenvolvimento global e lingüístico nos casos avaliados apontou

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diversidade nas performances, com um quadro de normalidade e dois quadros de defasagens em graus distintos. Embora o número de sujeitos tenha sido pequeno, os dados obtidos indicaram a necessidade de acompanhamento da população GIG com maior atenção, visando ao estabelecimento de condutas preventivas.

Lamônica et al. (2007b) apresentaram um estudo com o objetivo de descrever habilidades lingüísticas e comportamentais em irmãos com Transtorno Global do Desenvolvimento, diagnosticados de acordo com os critérios do DSM-IV. Após cumprir os aspectos éticos de Pesquisa com Seres Humanos, foram avaliados dois irmãos, um do gênero masculino (13 anos - C1) e outro do feminino (6 anos - C2). A avaliação fonoaudiológica constou da observação comportamental, aplicação EDCGA, do Inventário Portage Operacionalizado (IPO) e da ADIR. Na avaliação comportamental, C1 apresentou atividade simbólica restrita, intenção comunicativa assistemática, produção de frases com até quatro elementos, realizou troca de turnos comunicativos e manteve contato ocular assistemático para iniciar a atividade comunicativa em seus turnos. Observaram-se comportamentos repetitivos e de auto- estimulação, como bater os dedos em objetos, além de momentos agressivos e labilidade de humor e fala descontextualizada. C2 não apresentou brincadeira simbólica, nem intenção comunicativa, seja por gestos, ou oralmente. Observou-se balbucio indiferenciado e comportamentos repetitivos como balanceio de cabeça e pescoço e flapping. Solicitou, freqüentemente, para bater palmas, juntando as mãos do examinador. Na EDCGA, quanto ao comportamento adaptativo, C1 apresentou escore compatível com 36 meses; quanto a motor grosseiro e delicado, 60 meses; quanto à linguagem e ao comportamento pessoal e social, 36 meses. C2 apresentou, quanto ao comportamento adaptativo, escore referente a 13 meses; quanto a motor grosseiro, 24 meses; referente a delicado, 15 meses; e quanto ao comportamento de linguagem e comportamento pessoal-social, 6 meses, respectivamente. No IPO, C1 apresentou desenvolvimento motor, cognição e linguagem compatível com 24 meses e socialização e autocuidados compatível com 12 meses. C2, nesta escala, apresentou desenvolvimento motor compatível a 13 meses e, em socialização, linguagem, autocuidados e cognição obteve escore compatível a 6 meses. C1 e C2 não conseguiram teto para a realização do TVIP. Na descrição das habilidades lingüísticas e comportamentais desses irmãos, é possível observar alterações graves nas habilidades comunicativas, nos comportamentos

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motores, de autocuidados e de socialização, que deverão ser observadas no processo de reabilitação.

Ferreira et al. (2007c) apresentaram um estudo, com o objetivo de relatar os achados da avaliação fonoaudiológica em um indivíduo que apresentava malformação de Dandy-Walker, com cisto intratentorial e hipoplasia do vermis cerebelar. O participante do estudo é uma criança do gênero masculino com três anos e três meses de idade. Realizou-se entrevista detalhada com os pais e aplicaram-se os seguintes procedimentos de avaliação: Observação do Comportamento Comunicativo; Early Language Milestone Scale (ELM); EDCGA e TVIP. Na história clínica, houve relato de prematuridade, ADNPM e da linguagem, refluxo gastroesofágico, estrabismo, irritabilidade e sinais de ataxia. O laudo da ressonância magnética confirma malformação de Dandy-Walker, com cisto intratentorial e hipoplasia do vermis cerebelar. Ao observar o comportamento comunicativo, verificaram-se raros momentos de intenção comunicativa; função comunicativa instrumental e de protesto; raras vocalizações não articuladas; ausência de gestos simbólicos; compreensão de ordens situacionais, acompanhadas ou não de gestos; dificuldade de imitação; exploração de objetos por meio de poucas ações, referente à fase sensório-motora; e seriação e uso convencional de objetos de acordo com as diferenças, seguindo um critério. Na aplicação da ELM, verificou-se defasagem significante na função auditiva expressiva. A função auditiva receptiva e a função visual também estavam prejudicadas. Observaram-se, na aplicação da EDCGA, desempenho de linguagem compatível com 13 meses; comportamento motor adaptativo e delicado entre 15-17 meses; e comportamento motor grosseiro e pessoal-social entre 18-20 meses. No TVIP, não atingiu o escore base do teste. A criança avaliada apresenta alterações nas habilidades comunicativas, motoras, cognitivas e de socialização, caracterizando Distúrbio Global do Desenvolvimento, como parte da malformação de Dandy-Walker, com cisto intratentorial e hipoplasia de vermis cerebelar, conforme descrito na literatura. Enfatizaram, assim, a importância das correlações anatômicas da malformação de Dandy-Walker como fator de risco para alterações das habilidades comunicativas.

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Ferreira et al. (2007d) realizaram um estudo, com o objetivo de verificar habilidades comunicativas de irmãos do gênero masculino (C1: 23 meses; C2: 49 meses), diagnosticados com Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Realizou-se entrevista detalhada com a responsável legal pelas crianças e aplicaram-se os procedimentos de avaliação adequados à idade cronológica de cada criança: Observação do Comportamento Comunicativo; Early Language Milestone Scale (ELM); ABFW - Teste de Linguagem Infantil - Parte de Fonologia; e EDCGA. Na história clínica de C1, foi relatado o uso de bebida alcoólica pela mãe durante toda a gestação; prematuridade; baixo peso; Apgar 5 e 8; relato de fenótipo típico para SAF; atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e da linguagem. Na avaliação do comportamento comunicativo, observaram-se predomínio de gestos com raras produções orais; vocalizações não articuladas e articuladas; alternância de turnos comunicativos; brincar simbólico; imitação de gestos e brincadeiras; boa compreensão de ordens simples. Na aplicação da ELM, verificou-se defasagem na função auditiva expressiva e que a função auditiva receptiva e a função visual estavam dentro do esperado para a idade cronológica. A EDCGA evidenciou defasagem no desempenho de linguagem e motor adaptativo, compatíveis com a faixa etária de 18-20 meses. Na história clínica de C2, foram relatados, também, ingestão alcoólica pela mãe durante toda a gestação; prematuridade; baixo peso; Apgar 8 e 9; necessidade de incubadora; preferência por objetos que giram (ventilador e máquina de lavar roupa); impulsividade; forma de brincar estranha e inteligibilidade de fala. Na avaliação do comportamento comunicativo, observaram-se predomínio de produções orais com até 6 elementos, jargão, alternância de turnos comunicativos, brincar simbólicos, imitação de gestos e dificuldades de compreensão de ordens simples. O vocabulário apresentou-se aquém do esperado para a idade cronológica e, no inventário fonológico, observou-se a ocorrência de processos não esperados para a idade. Na EDCGA, observaram-se comportamento motor grosseiro, fino e pessoal-social referente a 42-47meses e comportamento lingüístico e adaptativo a 30-35 meses. Conforme verificado nesse estudo, a SAF é capaz de comprometer a adaptação social desses indivíduos pela influência marcante do quadro clínico nas habilidades de linguagem, aprendizagem, coordenação motora e cognição.

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2.7 TRABALHOS BRASILEIROS COM TESTE DE VOCABULÁRIO POR IMAGENS