• Nenhum resultado encontrado

O levantamento dos manuais práticos de pintura que tiveram tradução para português, durante o século XIX e inícios do século XX, foi feito através da consulta dos 23 volumes do Dicionário Bibliográfico Português da autoria de Inocêncio Francisco da Silva (1810- 1876), publicados entre 1858 e 1923218, bem como, através do catálogo da BNP. Nesta Biblioteca consultaram-se as nove traduções identificadas em que os materiais e as téc- nicas da pintura a óleo são referidos (tabela 1.4). Estas obras são analisadas detalhada- mente no Anexo 1.

Tabela 1.4. Traduções de manuais de pintura publicados em língua portuguesa do final do século XVIII ao início do século XX.

Data Tradução Tradutor Localização Obra original

1799 Arte de fazer colla

forte, composta em francez por Mr. Duhamel. Adicionada com memoria de Mr. Chevalier, sobre a colla fina de peixe; ou issin glass dos

ingleses. Lisboa: Na

Officina da Casa Litteraria do Arco do Cego. José Mariano Veloso Disponível em: https://books. google.pt Duhamel du Monceau, H. L. 1771. L’Art de faire

différentes sortes de colles.

Paris: L.F. Delatour. Chevalier M. 1786. On the Russian method of preparing isinglass, and on a manufacture of that kind established in England. Chemical

Annals, dedicated to the Lovers of Natural History, Medicine, Domestic Economy, Manufactures, & c., Vol. I, 5-6, Leipzig.

1801 A arte da pintura de C.A. Do Fresnoy…, Lisboa: na Typographia Chalcographica, Typoplastica e Litteraria do Arco do Cego Jerónimo de Barros Ferreira Biblioteca Nacional B.A. 1685// 1 P

Piles, R. de. 1668. L’art de

Peinture de Charles- Alphonse du Fresnoy, traduit en Français, avec de remarques necessaires et tres-amples. Paris: chez

Nicolas L’Anglois

Data Tradução Tradutor Localização Obra original

1801 O Grande Livro dos

Pintores ou Arte da Pintura…Lisboa: na Typographia Chalcographica, Typoplastica e Litteraria do Arco do Cego José Mariano Veloso Biblioteca Nacional B.A. 923//8 P. Lairesse, G. de. 1787. Le

grand livre des peintres ou L’art de La peinture considéré dans toutes ses parties…. Paris: L’Hôtel de

Thou

1801 O meio de se fazer

pintor em tres horas, e de executar com o pincel as obras dos maiores mestres, sem ter aprendido o desenho. Lisboa: Na Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, desconhecido Biblioteca Nacional B.A. 97 P. Vispré, F.-X. 1756. Le

moyen de devenir peintre en trois heurs, et

d’exécuter au pinceau les ouvrages des plus grands maîtres, sans avoir appris le dessin. Paris: Chez les

Libraires Associés. 1815 As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura. Lisboa: Imprensa Régia. Cirilo Volkmar Machado Biblioteca Nacional B.A. 389 P. Bellori, G. P. 1672. Le vite

de’ pittori, scultori et architetti noderni. Roma:

Per il success. Al Mascardi. 1815 Regras da arte da pintura…Lisboa: Impr. Regia José da Cunha Taborda Biblioteca Nacional B.A. 4766 V. Prunetti, M. – Saggio

Pittorico. Roma: Gio:

Zempel, 1786

1818 Segredos das artes

liberaes e mecanicas.

Lisboa: Typ. Rollandiana

Joaquim Feyo de Cerpa Biblioteca Nacional S.A. 19961 P. Monton, B. 1734. Secretos de artes liberales, y mecanicas…, Madrid: En la Oficina de Antonio Marin. 18-- Encyclopedia de 124

receitas. Porto: Joaquim

Maria da Costa Rafael Gaspar Trindade Biblioteca Nacional S.A. 34330 P. desconhecido

1903 Novo tratado usual da

pintura de edifícios e decoração. Rio de Janeiro: H. Garnier desconhecido Biblioteca Nacional B.A. 1077 P. Fleury, P. 1898. Nouveaux traité de la peinture en bâtiment, décor et

décoration. Paris: Garnier

frères

Ainda do século XVIII, foram identificadas algumas traduções que continuariam a ser referidas no século seguinte. É o caso do poema latino De Arte Graphica de Dufresnoy, traduzido por G. B. A. em 1713. Trata-se de uma obra que, segundo Silvia Bordini, obteve grande êxito na Europa devido à descrição bastante precisa dos conceitos teóricos da pintura (invenção, desenho e colorido)219, embora, os aspetos técnicos sejam bastante limitados. Segundo Ana Luísa Barão, esta primeira tradução ficaria inédita, tal como a

de 1764, por Martinho da Costa, publicada apenas em 1864220. E só em 1801 foi publi- cada a tradução de Jerónimo de Barros Ferreira (1750-1803), professor de Desenho e Pintura Histórica na corte.

De acordo com Nuno Saldanha, também manuscrita e inédita permaneceu a tradução de 1732 de parte do tratado Perspectiva pictorum (1693), de Andrea Pozzo (1642-1709), Perspectiva de Pintores Architectos, pelo pintor e arquiteto José de Figueiredo Seixas (?-1773)221. Segundo Luís Gomes, que estudou a obra deste tradutor, embora se trate de um manual de arquitetura, inclui uma Breve instrução de pintar a fresco, onde se encontra um conjunto de recomendações e de receitas de tintas e, em anexo, uma série de receitas suplementares de tintas e vernizes222, acrescentadas pelo tradutor. Contudo, na opinião de Luís Gomes, este manuscrito não seria uma versão traduzida do tratado de Pozzo, mas antes uma espécie de manual de apoio à sua leitura, inserido num con- texto escolar223. De facto, como verificou Nuno Saldanha, o tratado só seria traduzido na totalidade por Fr. José de Vilaça e Fr. Francisco de S. José, em 1768224.

Ainda no século XVIII foi traduzido o manual D. Bernardo de Monton Segredos das Artes Liberais, por Joaquim Feyo Cerpa em 1744, e reeditado em 1818 pela Typografia Rollandiana. Este manual, consultado na BNP, inclui receitas para preparar tintas e vernizes.

Verificou-se que na passagem do século XVIII para o XIX existiu um acréscimo quanti- tativo de traduções sobre artes devido, sobretudo, à atividade da Casa Literária do Arco do Cego, de onde saíram as traduções identificadas deste período. Criada em 1799 e com apenas 28 meses de atividade, esta tipografia foi responsável pela publicação de 83 títu- los, dos quais 41 foram traduções225. Contudo, constatou-se que no domínio das artes as traduções publicadas tiveram como principal propósito o ensino da gravura e do dese- nho226. Tal se terá devido à necessidade de apoio pedagógico à Aula de Gravura criada 220 Barão, 2006, s.p.

221 Trata-se da tradução da obra: Putei, Andrea. 1693. Perspectiva Pictorum et Architectorum. Roma: Typis Joannis Jacobi Komarek Bohemi apud S. Angelum Custodem. A tradução de José de Figueiredo Seixas, elaborada no Porto em 1732, tem o título de: Perspectiva de Pintores Architectos composta em

Roma Pelo excelentíssimo Pintor Architecto. O irmaõ Andre Poço da Companhia de Jezus. Esta

tradução manuscrita está disponível na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Ms 222. 222 Gomes, 2007: 62.

223 Gomes, 2007: 62. 224 Saldanha, 1995: 211.

225 Para conhecimento da História desta tipografia ver, por exemplo: Reis, 1999.

226 As traduções identificadas sobre desenho, publicadas pela tipografia do Arco do Cego, e traduzidas por Fr. Mariano Veloso foram: de 1799, as As Sciencias das Sombras relativas ao Desenho de Dupain de Montesson (Montesson, D. de. 1786. La science des ombres par rapport au dessin. Paris: Chez L. Cellot); de 1801, Principios do Desenho Tirados do Grande Livro dos Pintores ou Da Arte da Pintura (Lairesse, G. De. 1787. Le grand Livre des Peintres ou L’Art de La Peinture. Paris: L’Hôtel de Thou). Com tradução anónima, a obra de Le Clerc, Verdadeiros Principios do Desenho conforme o character

das paixoens (Le Clerc. S. [s.d.] Les vrais Principes du Dessin suivis du Caractère des Passions. Paris:

chez Marel), esta última pensada pela Tipografia do Arco do Cego mas só concretizada pela Impressão Régia em 1802. As traduções sobre gravura identificadas são: de 1801, Tratado da gravura a água

forte, e a buril, em maneira negra com o modo de construir as prensas modernas, e de imprimir em talho doce de Abraham Bosse (Bosse, A. 1645.Traicté des Maniers de Graver en Taille Douce sur L’Airin. Par le Moyen des Eaux Fortes & des Vernix Durs & Mols. Ensemble de la façon d’en Imprimer

neste estabelecimento, tal como foi referido pelo seu diretor Frei Mariano Veloso (1742- 1811) no prefácio da tradução que fez, em 1801, de uma parte do tratado de Gérard de Lairesse, Le grand Livre des Peintres ou L’Art de La Peinture:

O Ter sido incumbido […] da criaçaõ do novo corpo de gravadores do Arco do Cego, cujo numero no breve periodo d’hum ano chegou a vinte e quatro, me fez conhecer que sahiaõ das Aulas de Desenho […] unicamente com alguma pratica de copiar, mas nenhuma dos principios, em que esta se deveria estabelecer […]. Por esse motivo […] me resolvi a traduzir e a fazer traduzir, e imprimir tudo, quanto se tem escripto a este respeito […]227.

No domínio da pintura, as traduções identificadas levadas ao prelo pela Tipografia do Arco do Cego foram bem mais escassas. Traduziu-se o poema de Dufresnoy que foi publicado em 1668, originalmente escrito em latim e traduzido por este para francês, com comentários de Roger de Piles (1635-1709). Esta obra foi considerada recentemente um dos livros mais influentes do século XVII228, embora trate sobretudo de aspetos da teoria da pintura, sem conter informação técnica sobre pintura a óleo.

Informações desta natureza aparecem apenas na tradução anónima do livro do pintor e gravador François-Xavier Vispré (c. 1730-1794), O meio de se fazer pintor em tres horas, e de executar com o pincel as obras dos maiores mestres, sem se ter aprendido o dese- nho, de 1801 (Figura 1.8). Esta tradução aborda a pintura de gravura colada em vidro, embora tenha utilidade prática nas técnicas da pintura a óleo. Escrito sobre a forma de diálogo fictício com uma mulher da aristrocacia, Vispré dá a conhecer os pigmentos e fornece recomendações sobre a preparação da paleta, a mistura das cores e a aplicação das tintas.

No prefácio, o autor refere que o objetivo do livro é dar a conhecer às senhoras um diver- timento bem engraçado, embora possa servir também aos pintores novos, tanto os que trabalhão a oleo, como aos outros generos, visto o embaraço, em que eles muitas vezes se achão na escolha das cores229. De facto, como referiu Ann Massing este livro surgiu com o objetivo de satisfazer o crescente número de pintores amadores e de artesãos qua- lificados, que gostariam de imitar a pintura a óleo usando métodos mais fáceis230.

les Planches et d’en construire la Presse, et autres choses concernans les dits Arts. Paris: Chez ledit

Bosse), por Joaquim Viegas Meneses; A esculptura, ou Historia, e Arte da Chalcographia e Gravura

em Cobre de John Evelyn (Evelyn, J. 1662. Sculptur; or, the History and art of Chalcography and Engraving in Copper. London: J. C. For G. Beedle, and T. Collins, at the Middle-Temple Gate, and J.

Crook in St. Pauls Church-yard); e, Principios da Arte da Gravura, Trasladados do Grande Livro dos

Pintores de Gerardo Lairesse.

227 Lairesse e Veloso, 1801: 2-3. 228 Nadolny, et al., 2012: 13. 229 [Vispré, F.-X.]. 1801: s.p. 230 Massing, 1995: 26.

Através da análise dos livros traduzidos e publicados pela tipografia do Arco do Cego, constata-se que o trabalho desenvolvido por Mariano Veloso na divulgação das ciências e das técnicas não foi suficiente para dar a conhecer as novidades tecnológicas no domí- nio dos materiais e das técnicas da pintura a óleo. Contudo, o seu grande interesse pela botânica e a sua preocupação em divulgar conhecimentos úteis para o fomento da explo- ração de culturas agrárias, sobretudo no Brasil, levou-o a traduzir, em 1799, o estudo do químico francês Claude Berthollet (1748-1822) sobre a exploração da cochinilha, publi- cado em 1790231, Memoria sobre a cultura da Urumbeba, e sobre a criação da Cochonilha. Como é referido no prefácio232, escrito pelo tradutor, esta obra tinha como grande objetivo incentivar, no Brasil, o cultivo do cato urumbeba, permitindo a explora- ção do inseto cochinilha, tal como acontecia no México com grande sucesso comercial233. 231 Bertholet, 1790: 107-137.

232 Bertholet e Menonville, 1799: III-VII.

233 A descoberta da cochinilha no Brasil é relatada como sendo um episódio curioso, por Warren Dean, historiador ambiental, com vários estudos sobre o ambiento no Brasil. Segundo este investigador terá sido no final do século XVIII que, na comissão de fronteira entre o Paraguai e o Brasil, um oficial do exército espanhol mostrou ao seu colega português um cato que se lembrava de ter visto nos tempos em que estivera aquartelado no México. Disse que a planta tinha como parasita um inseto que os

mexicanos recolhiam para produzir uma tinta vermelha muito apreciada. De volta ao Rio de Janeiro, o oficial Maurício da Costa, encontrou este cato com o inseto, tendo então informado o Vice-rei, o Marquês do Lavradio, que acabou por oferecer incentivos a potenciais produtores brasileiros (Dean, 1991: 222).

Figura 1.8 Capa de: Vispré, F.-X. 1801.

O meio de se fazer pintor em tres horas…

Lisboa: Na Tipographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego. Disponível em: https://archive.org

Apesar deste propósito, a obra é completamente omissa relativamente à utilização da cochinilha enquanto corante vermelho na pintura a óleo.

Também em 1799, Frei Mariano Veloso traduziu a obra do destacado físico, botânico e agrónomo francês Duhamel du Monceau (1700-1782) sobre a produção de colas, publi- cada em França em 1771. Esta tradução, com o título Arte de Fazer Colla Forte, contém igualmente uma publicação de Chevalier sobre a produção de cola de peixe, publicada em 1786.

Ainda que, tal como na obra apresentada anteriormente, o objetivo principal desta tra- dução tenha sido o desenvolvimento da indústria brasileira234, o livro tem utilidade no domínio da pintura, na medida em que são apontadas as características das diferentes colas e respetivas receitas, bem como as diferentes aplicações em pintura.

As traduções seguintes identificadas são já de 1815, ano em que são publicadas as tradu- ções de As Honras da Pintura de Escultura e Arquitectura de Giovanni Pietro Bellori, pelo pintor, escultor e arquiteto Cirilo Volkmar Machado (1748-1823) e das Regras da Arte da Pintura de Michelangelo Prunetti, pelo pintor José da Cunha Taborda (1766-1836)235.

Tal como a primeira, também esta última é uma obra de carácter essencialmente teó- rico. As regras da pintura tratam da invenção, da composição, do desenho ou do colo- rido e são seguidas de reflexões sobre a arte critico-pictórica e de uma lista de pintores e escolas estrangeiras. Coube ao tradutor adicionar uma lista de pintores portugueses e dicionário de termos técnicos da pintura. Por isso mesmo, esta fonte foi particularmente relevante nesta investigação. Embora grande parte dos vocábulos sejam explicados a partir das definições encontradas no tratado de Filipe Nunes, escrito em 1615236, este pequeno glossário apresenta-se como uma das poucas fontes que nos dão informação sobre o conhecimento técnico e sobre os materiais da pintura a óleo, no início do século XIX, em Portugal.

Em 1818, foi, como se viu, reeditada a tradução do tratado de Bernardo de Monton, Segredos das Artes Liberais. Depois dessa data, e até ao final do século, não foram iden- tificadas traduções de manuais e tratados sobre as técnicas da pintura a óleo.

Na edição, de 1886, da tradução do Dictionnaire universel d’éducation et l’enseigne- ment…, de Émile Mathieu Campagne237, publicado em Paris em 1872, encontra-se, no volume III, da página 741 à 755, uma extensa lista de termos de pintura, esculptura e

234 O propósito de contribuir para o incremento das explorações industriais no Brasil foi expresso no prefácio, onde o tradutor diz: Em que paiz se poderia com tanta comodidade de seos habitantes

levantar-se fabricas de huma, e outra [cola forte e cola de peixe]? Hum paiz, que tanto abunda de gados; que se mata pelo lucro da pelle: hum paiz tão banhado de rios caudalosos, e tão retalhado de lagoas piscosissimas. […] Quantas toneladas deste Issin glass das vesículas dos seus peixes, se não poderião remetter a este Reino, em beneficio do seu commercio, todos os annos, que o desleixo, ou ignorancia faz perder? (Duhamel du Monceau e Chevalier, 1799: s. p.)

235 Para mais informações sobre João da Cunha Taborda ver: Leitão, 2002. 236 Nunes, 1615.

tintureiro onde são descritos termos referentes aos materiais e às técnicas da pintura a óleo. Contudo, este texto foi extraído integralmente pelos tradutores, da obra de João Pacheco, Divertimento Erudito… de 1738, sem qualquer revisão ou atualização.

Foi apenas no final do século XIX, ou já no início do século XX238, que se publicou um pequeno livro de segredos no qual se incluem receitas de tintas e vernizes, intitulado Encyclopedia de 124 receitas. Esta obra, que abarca uma miscelânea de temáticas, terá sido elaborada por Rafael Gaspar da Trindade, que coligiu e traduziu do francês as recei- tas, ainda que sem referir a fonte original.

A última tradução para língua portuguesa, identificada, é de 1903, do Novo Tratado de Pintura de Edifícios e Decoração de Paul Fleury. Editado no Rio de Janeiro e em Paris, este tratado, embora direcionado para a pintura de construção civil, fornece informa- ções muito completas sobre materiais também utilizados na pintura a óleo. A obra apre- senta pigmentos, óleos, solventes, secantes e vernizes e contém receitas de preparação e de aplicação destes materiais.

Com este estudo verifica-se, assim, que o número de manuais de pintura traduzidos para português, durante o século XIX e início do século XX, é bastante reduzido. Apesar de não se ter encontrado nenhum documento com a justificação para este limitado número de traduções pode-se apontar algumas razões possíveis. Por um lado, é prová- vel que os professores de pintura das Academias portuguesas não tenham entendido a tradução de manuais práticos como necessária à aprendizagem dos seus alunos. Como vimos anteriormente, os métodos de ensino da pintura não se baseariam em suportes bibliográficos mas antes através do exemplo prático dado pelos professores. Também os manuais recomendados por estes e disponíveis na Bibliotecas das Academias, escritos em espanhol e francês, poderiam ter sido considerados suficientes à transmissão de conhecimentos técnicos aos alunos (ver 1.3).

É igualmente possível que o número de pintores, profissionais ou amadores, a quem as traduções de manuais de pintura poderiam interessar, fosse bastante reduzido, não jus- tificando o investimento das traduções e publicações. Partindo desta hipótese foram consultados os cinco volumes do Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses de Fernando de Pamplona239 tendo-se identificado 437 pintores portugueses com atividade no período em estudo (1836-1914). A exiguidade deste número ganha expressão quando comparado com o número de pintores em países como França ou Inglaterra. Veja-se que, por exemplo, o Dictionnaire des peintres paysagistes français au XIXe siècle240 indica mais de 3000 pintores paisagistas franceses do século XIX e The Dictionnary of

238 O livro não está datado. Segundo Sónia Barros dos Santos terá sido publicado em 1901 (Barros, s. d. ). 239 Pamplona, 2000.

240 Harambourg, 1985. Para saber o número de pintores franceses de todos os géneros do século XIX e início do século XX ver, por exemplo: Benezit, 1999.

British Art241 contém mais de 11 000 entradas de pintores vitorianos com atividade em 1837 e 1901 em Inglaterra.

Constatou-se ainda que a relevância técnica das traduções identificadas é, igualmente, bastante limitada. Por exemplo, os grandes tratados e manuais de referência, publicados durante o século XIX, em países como a França e Inglaterra, identificados por Ann Massing242 e Leslie Carlyle243, não têm tradução para português.

Documentos relacionados