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4.2 Análises das traduções dos MCs de Amada

4.2.3 Traduções do MC “ghost”

O MC “ghost”, pertencente ao domínio ideológico, ocorre 28 vezes e é o quinto termo com maior índice de chavididade em Beloved.

Tabela 9 - Traduções do MC “ghost” MC: Ghost

Ocorrências: 28 Chavicidade: 105,62

Amada Freq. Absoluta

1. (the spirit of) a dead person who appears

again. (Longman

Dictionary of English Language and Culture)

Fantasma 28

TOTAL 28

Em Amada, Morrison retrata a história de Sethe, uma ex-escrava que fugiu grávida com seus três filhos. Quando seu dono os encontra, ao recusar que seus filhos vivessem escravizados, Sethe tenta mata-los, conseguindo matar apenas a mais nova de dois anos. Ao presenciar essa cena, seu dono a deixa em paz com os filhos. Mesmo após dezoito anos do ocorrido, Sethe ainda sofria com as lembranças e traumas da escravidão e sua casa era assombrada pelo fantasma da sua filha morta. Sua presença era sentida por meio de atividades paranormais como tremores na casa e móveis e objetos sendo arrastados e arremessados. Posteriormente, o fantasma da bebê aparece no romance reencarnado no corpo de uma jovem chamada Amada – única palavra gravada no túmulo da bebê falecida.

De acordo com a nota cultural do Longman Dictionary of English Language and Culture(1998), nos Estados Unidos e no Reino Unido, as pessoas imaginam o fantasma como uma figura branca e sem forma, com buracos escuros no lugar dos olhos e outro tipo de fantasma seria aquele que aparenta ser uma pessoa normal, mas que é possível ver através dela. O dicionário cita mais um tipo de fantasma chamado de poltergeist, que faz móveis se mexerem, arremessa objetos e nem todo mundo acredita em sua existência.

Na literatura americana e britânica existem há séculos muitas narrativas que envolvem fantasmas que assombram os vivos para se vingarem. Contudo, na literatura contemporânea, os fantasmas podem assumir uma função e, no caso da literatura afro-americana, essa função pode ser social. Em Amada, por exemplo, o fantasma obriga cada personagem a encarar o seu passado doloroso, lembrando toda a comunidade

afro-americana do sofrimento pelo qual seus antepassados vivenciaram na época da escravidão.

Toni Morrison declarou em Conversations with Toni Morrison (1994) a relação que ela e a comunidade afro-americana têm com elementos supersticiosos, como o fantasma:

I wanted to use black folklore, the magic and superstitious part of it. Black people believe in magic. Once a woman asked me, “Do you believe in ghosts?” I said, “yes, it’s part of our heritage.”

Desse modo, o fantasma presente no romance representa uma crença e uma tradição afro-americana, recriando uma história parcialmente apagada, fazendo essa comunidade olhar para o passado e se redefinir para o futuro (BROGAN, 1998).

A comunidade afro-brasileira possui tradições e crenças específicas e religiões como o Candomblé e a Umbanda. As crenças e o passado da escravidão afro-americanas e afro-brasileiras tangenciam em alguns pontos, contudo não podemos ignorar seus contextos históricos e culturais que são divergentes. Devido a essas diferenças, o modo que cada cultura compreende esse tipo de entidade descrita no romance diverge.

Todas as ocorrências do MC em Amada foram traduzidas como “fantasma” por Siqueira. Segundo a definição do dicionário Houaiss Online:

Fantasma. 1.aparência destituída de realidade, puramente ilusória. 2.visão que apavora, que aterroriza. 3.suposta aparição de pessoa morta ou de sua alma, assombração, espectro, alma do outro mundo [...].

Em 9 ocorrências, “ghost” aparece com o colocado “baby”. Uma das traduções para “baby ghost” foi “bebê fantasma”.

[B] p. 172: Baby ghost came back evil and sent Sethe out to get the man who kept her from hanging. One point of agreement is: first they saw it and then they didn't.

[A] p. 364: O bebê fantasma voltou mau e mandou Sethe para cima do homem que a salvara do enforcamento. Um ponto em que todos concordavam era o seguinte: primeiro eles a viram, depois não viram mais.

Outra opção utilizada pelo tradutor nesses casos foi “fantasma da bebê”:

friends from all around to share grief with. Then there was no one, for they would not visit her while the baby ghost filled the house, and she returned their disapproval with the potent pride of the mistreated.

[A] p. 134: Anos antes — quando o 124 era vivo —, ela tivera amigas mulheres, amigos homens de toda parte para repartir a tristeza com ela. Depois, não houve mais nenhum, porque eles não iam visitá-la enquanto o

fantasma da bebê enchia a casa, e ela devolvia a reprovação deles com o

potente orgulho dos maltratados.

Também houve a ocorrência da tradução no masculino:

[B] p. 8: Just as only those who lived in Sweet Home could remember it, whisper it and glance sideways at one another while they did. Again she wished for the baby ghost -­‐-­‐ its anger thrilling her now where it used to wear her out. Wear her out. "We have a ghost in here," she said, and it worked. They were not a twosome anymore.

[A] p. 21: Assim como só aqueles que tinham vivido na Doce Lar podiam lembrar, cochichar e olhar sorrateiramente um para o outro ao lembrar. Mais uma vez ela desejou o fantasma do bebê — a raiva dele agora a excitava, quando antes costumava deixá-la cansada. Cansada. “Tem um fantasma aqui”, disse ela, e funcionou. Os dois não eram mais um par.

No excerto acima, também há a ocorrência de “ghost” sem colocados, que foi traduzido como “fantasma”. Assim como acontece na expressão “fantasma do bebê” que ora está no feminino e ora no masculino, “fantasma” também tem ocorrências em ambos os gêneros.

[B] p. 135: And that I shouldn't be afraid of the ghost. It wouldn't harm me because I tasted its blood when Ma'am nursed me. She said the ghost was after Ma'am and her too for not doing anything to stop it. But it would never hurt me. I just had to watch out for it because it was a greedy ghost and needed a lot of love, which was only natural, considering. And I do. Love her. I do

[A] p. 289: E que não precisava ter medo da fantasma. Ela não ia me fazer mal porque eu tinha provado o sangue dela quando minha mãe me amamentou. Ela disse que a fantasma estava atrás da mãe e dela também porque não fizeram nada para impedir aquilo. Mas que nunca ia me machucar. Eu só tinha de tomar cuidado porque era uma fantasma

gananciosa que precisava de muito amor, o que até era natural, pensando

bem. E eu amo. Amo, sim. Amo.

Em Amada, o MC “ghost” foi traduzido em todas as ocorrências como “fantasma”. Contudo, houve algumas variações nas ocorrências com o colocado “baby”, que foram traduzidas como “bebê fantasma” ou “fantasma do/a bebê” e o termo foi

mencionado no gênero feminino e masculino, sem identificarmos um padrão para a utilização do termo em ambos os gêneros na tradução.