• Nenhum resultado encontrado

TRAJETÓRIA DA BIBLIOTECA NA BAHIA

2 OLHARES SOBRE A BIBLIOTECA

2.3 TRAJETÓRIA DA BIBLIOTECA NA BAHIA

É na Bahia, em Salvador, cidade de importância histórica, que se instala a primeira biblioteca de caráter público do País.

Moraes (2006, p.152) afirma que:

Castelo Branco redigiu um projeto para concretizar sua idéia de fundar uma biblioteca pública. Chamou-o de Plano para o estabelecimento de uma biblioteca publica na cidade de S.Salvador Bahia de Todos os Santos, oferecido à aprovação do ilustríssimo e excelentíssimo senhor Conde dos Arcos, governador, capitão general desta Capitania.

A Biblioteca é instalada no prédio da Livraria dos Jesuítas no Terreiro de Jesus, em 1811, por iniciativa da população que solicita ao poder real a licença e se movimenta para reunir doações. Administrada por sócios, forma o núcleo inicial da Biblioteca Pública da Bahia, aprovada por D. João VI. O monarca determina que todas as duplicatas do acervo da Biblioteca Real, instalada no Rio de Janeiro, sejam encaminhadas para a Biblioteca Pública da Bahia.

A importância das bibliotecas e a conseqüente vinda do livro da Europa para o Brasil visa desenvolver a cultura e a educação no País. Segundo Moraes (2006,p.152) a Biblioteca Pública da Bahia é reconhecida como manifestação ideológica da Ilustração, ou seja, uma

instituição para promover a instrução do povo, cooperação de todos os cidadãos que desejassem dela fazer parte.

A inauguração dessa biblioteca ocorre no dia do aniversário do Príncipe Regente, mesma data em que se inaugura a tipografia de propriedade particular do português Manuel Antônio Silva Serva, que publica o primeiro periódico fruto da iniciativa privada, intitulado A

Idade d’Ouro do Brazil (MORAES, 2006, p.155).

No Século XX, vive-se um período de crescimento e amadurecimento no campo educacional e, conseqüentemente, a criação de bibliotecas integrantes do sistema educacional vigente.

O desenvolvimento no plano social, político e científico define um novo ambiente favorecendo a introdução do conhecimento científico no País, incluindo a implantação das universidades que contribuem para o desenvolvimento cultural e científico, provocando mudanças estruturais importantes. No cenário brasileiro, surgem as bibliotecas universitárias, elo de ligação entre a necessidade de informação do usuário e o recurso informacional destinado a toda coletividade; aflora assim, um novo ambiente e mudanças ocorrem sob a influência das novas tecnologias intelectuais. Porém, a necessidade de aprender com os antepassados buscando conhecimento, leva a compreender a necessidade do desenvolvimento das bibliotecas, contribuindo para futuras reflexões a partir de novas idéias.

3 A UNIVERSIDADE E O CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

As primeiras universidades no mundo surgem no interior das ordens religiosas, a partir do século VII. Entre as mais notáveis, estão a Universidade de Bolonha (1088), na Itália; posteriormente a Universidade Sorbonne (1257), em Paris, considerada o Centro

filosófico e teológico do mundo (Martins,1996,p.89).

É na Sorbonne que se instala a Biblioteca que se torna um exemplo de biblioteca universitária baseada nas idéias de Jean Bonnerot que em seu livro La Sorbonne (1927), descreve a biblioteca como local sagrado, referindo-se às limitações de acesso e à necessidade de prudência para conhecer o que se pesquisa. Martins (1996,p.90) descreve com exatidão a biblioteca:

Sim, trata-se de um lugar sagrado e augusto, no qual só se entra de beca e boné. Quando a leitura termina, é aconselhável refletir e meditar, passeando devagar ao longo da galeria coberta que rodeia a biblioteca. Depois, quando as sombras da noite se adensam, cada um se recolhe a sua casa, visto ser proibido, por prudência trazer lanterna [...]

Assim, a biblioteca vai se firmando como lugar de leitura e as escolas leigas vão sendo substituídas pelas religiosas, único meio de aquisição e transmissão de cultura. Por outro lado, as universidades formam-se pela cooperação de mestres e discípulos, tendo no pensamento cristão um esforço generalizado para recuperar, conservar, incorporar e assimilar os valores morais, políticos, jurídicos, literários e artísticos do mundo criado na Antiguidade (MENDONÇA, 2000,p.135).

O significado de universidade pode ser visto mediante duas vertentes: uma formada pela comunidade que, segundo Chales e Verger (1996,p.7) é a universidade com autonomia

de mestres e alunos reunidos para assegurar o ensino de um determinado número de disciplinas em um nível superior. Esta modalidade de universidade é criação da civilização

Ocidental, depois disseminada pela Europa, com função unificadora da cultura medieval, privilegiando a pesquisa (MENDONÇA,2000, p.131-150).

A outra vertente, é a que mantém apenas o nome de universidade; na realidade é a continuação dos colégios dos jesuítas que defende a idéia de ser a forma ideal ou natural de organização do ensino superior, sendo a universidade o elemento central dos sistemas de ensino superior.

A título de exemplo merecem destaque, a Universidade de Oxford e Cambridge na Inglaterra, Montpellier na França, Salamanca na Espanha, Nápoles na Itália, Heidelberg e Colônia na Alemanha.

O ensino nestas universidades é transmitido na língua litúrgica da cristandade, e o conhecimento fundamentado na religião, como resultado da iluminação divina, porém, o caráter canônico nem sempre é do agrado dos alunos e professores que reivindicam debates mais abertos fundamentados em novas teorias baseadas no pensamento grego. Trata-se da educação superior no âmbito do clero, erudito, visto como guardião da sabedoria. Assim, a universidade moderna surge, por vários motivos, entre eles, os bispos necessitam de um lugar para prover treinamento clerical e, nesse sentido, a teologia é considerada a Rainha das

ciências na Universidade (MENDONÇA,2000 p.138)

Assim, a fé é questionada pela razão e a ciência passa a atender as necessidades do ser humano em prol da vida cotidiana, as experiências fundamentam as idéias e as fontes de conhecimento aperfeiçoam as disciplinas e o pensamento.

A universidade na modernidade emerge da exigência de vida em comum daqueles que, como mestres e aprendizes, dedicam-se à vida intelectual e às ciências. Na origem da universidade ocorre a transição da humanidade, da vida rural para a vida urbana, do pensamento dogmático para o racionalismo, do mundo eterno e espiritual para o mundo temporal e terreno, da Idade Média à Renascença. Por muitos séculos, avanços do conhecimento realizam-se no trabalho universitário ou em torno dele (CARVALHO,C.,2007) Assim, as universidades conseguem entre outras conquistas o monopólio dos exames, diplomas, autonomia jurídica e possibilidade de apelar diretamente ao Papa.

Para entender o significado de universidade é necessário desenvolver competências para lidar com a universalidade do saber, respeitando o compromisso histórico e o avanço da ciência, a importância da formação profissional e o desenvolvimento das sociedades e dos povos, uma vez que a universidade tem compromissos sociais e deve estar sintonizada com a realidade e as aspirações da população ao impulsionar as ações e anseios para além dos muros da universidade.

Assim, a biblioteca universitária é um dos principais instrumentos de que a universidade dispõe para atingir suas finalidades. Ferreira (1980,p.7) afirma:

Se a biblioteca é importante para o ensino geral, no ensino superior seu papel é proeminente em virtude do valor da própria universidade, pois nenhuma outra instituição ultrapassa em magnitude a contribuição universitária, a qual torna possível o formidável avanço tecnológico e científico que se registra atualmente em todos os campos de conhecimento.

Desse modo, a biblioteca universitária tem como objetivo fornecer infra-estrutura bibliográfica e documental aos cursos, pesquisas e serviços vinculados às ordens religiosas que sustentam o movimento de criação das universidades. A implantação das universidades no novo continente americano somente ocorre muito tempo depois.

As universidades no Brasil revelam-se a partir da transmigração da Família Real portuguesa, transformando o País em sede da coroa portuguesa. Essa mudança impulsiona a implementação de medidas administrativas, econômicas e culturais para estabelecimento da infra-estrutura necessária ao funcionamento do Império. A criação dos primeiros estabelecimentos de ensino superior busca formar quadros profissionais para os serviços públicos voltados à administração do País. As áreas privilegiadas são: medicina, engenharia e direito. Em 1808, são criados os primeiros estabelecimentos de ensino médico-cirúrgico de Salvador e do Rio de Janeiro.

A criação da universidade no Brasil pode ser compreendida por duas vertentes: a primeira visa a instalação da Escola Normal Superior, responsável pela formação especializada em aperfeiçoar professores de ensino secundário e normal, liderada pelos católicos que defendem a universidade, segundo Mendonça (2000,p.132) como uma agência

de homogeneização de uma cultura média, projeto de recuperação do país de caráter moralizante que passava pelo resgate da tradição católica na formação da alma nacional. A

segunda vertente, acredita na universidade com o objetivo de desenvolver a pesquisa científica e altos estudos indispensáveis ao progresso do País, que absorve os egressos da Escola Politécnica e constrói as verdadeiras usinas mentais, local onde se formam as elites

pensantes do País, local de produzir conhecimento indispensável ao progresso técnico e científica. (MENDONÇA,2000, p.131-150). Ambas as vertentes mostram que as instituições

universitárias formam as elites que representam diferentes concepções de educação.

Na Bahia, com o intuito de criar o ensino superior no País, surgem os cursos isolados de Cirurgia, Anatomia e Obstetrícia integrando o Colégio Médico-Cirúrgico, posteriormente Faculdade de Medicina (1808) e, ainda a cadeira de Economia (1808), o curso de Agricultura (1812), de Química e Desenho Técnico (1817).

No Rio de Janeiro, cenário de iniciativas culturais e científicas, como a criação da Imprensa Régia, Gazeta do Rio de Janeiro e a Biblioteca Nacional, destacam-se o Laboratório de Química (1812), a Academia de Medicina e Cirurgia (1813) e o Curso de Agricultura (1814).

Em Pernambuco, o curso de Matemática Superior (1809) e o de Desenho Técnico (1817). Em Minas Gerais, o curso de Retórica e Filosofia (1821). Todas essas instituições são criadas por iniciativa da Corte Portuguesa e por ela mantidas.

Mendonça (2000,p.136) complementa: A reunião em universidade dessas instituições,

entretanto, não teve um maior significado e elas continuaram a funcionar de maneira isolada, como um mero conglomerado de escolas, sem nenhuma articulação entre si. Porém,

revela a preocupação com as questões médicas e agrícolas na Colônia, conseqüentemente, a produção do conhecimento amplia o saber científico e a necessidade de controle do registro do conhecimento.

Nesse período diante da formação dessas universidades a biblioteca universitária passa a ser gestora do conhecimento e disseminadora da informação. Carvalho, I. (2004,p.81) ressalta que:

Assim, da função de depósito do saber até atingir o status de espaço do

saber, as bibliotecas passaram por etapas que representam o seu

amadurecimento, sem perder de vista sua relação direta com a socialização do conhecimento [...]

Convém evidenciar que a primeira universidade de caráter oficial brasileira é denominada Universidade do Brasil, criada no Rio de Janeiro (1920), que reúne a Escola Politécnica (de Medicina e Direito), instituída pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865-1942); sete anos depois é criada a Universidade de Minas Gerais (1927), a Universidade de São Paulo (1934) é fundada pelo grupo de intelectuais que se articula em torno do Jornal O Estado de São Paulo, em 1946 são implantadas, na Região Nordeste, a Universidade Federal da Bahia e a de Pernambuco (COSTA,2001,p.3).

A Universidade da Bahia, inaugurada em 8 de abril de 1946, sob o Decreto-Lei nº. 9.155/46, é federalizada e regulamentada pelo Estatuto nº. 43.804 de 23 de maio de 1958 da Universidade da Bahia passando a ser denominada Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo como núcleo o antigo Centro de Ensino Superior, Faculdade de Medicina localizada no Terreiro de Jesus. Torna-se parte integrante dessa instituição a Faculdade de Medicina com

os cursos de Odontologia e Farmácia anexos, Faculdade de Ciências Econômicas, Faculdade de Filosofia, Faculdade de Direito e a Escola de Politécnica.

A UFBA, primeira instituição de ensino superior público baiano é um organismo complexo, que atua no meio urbano e rural, sendo suas realizações concretas, do técnico ao artístico, cumprindo a sua função social, mantendo-se em constante processo de modernização, identificando as necessidades da comunidade acadêmica, o que determina a sua relevante qualidade. Segundo Costa (2001, p.3) para o Reitor Edgar Santos (1894-1962) a UFBA, reúne, Nacionalismo, modernização tecnológica e progresso cultural.

A primeira Legislação Universitária Brasileira é publicada em 1931, na gestão do Ministro de Educação Francisco Campos e autoriza os diplomados a exercer profissões liberais sob a fiscalização ministerial e a profissão de bibliotecário é beneficiada pela lei. Deste modo, é evidente a valorização da biblioteca e a necessidade de profissionais com competências e habilidades definidas para a dinamização e crescimento da Universidade.

Historicamente, o desenvolvimento das universidades pode ser compreendido em quatro momentos: nos anos 1950, o ensino superior sofre o primeiro impacto de expansão no País, o número de universidades cresce de forma surpreendente, nascem do processo de agregação de escolas profissionalizantes à procura de suas bases; na década seguinte, de 1960, cresce em todos os sentidos, aumentando o número de instituições, de alunos e de professores.

Durante a década de 1970, a universidade assume o papel de instituição de pesquisa e o corpo docente passa a ter carreira acadêmica, proliferando os programas de pós-graduação e, fisicamente modernizam-se os campi universitários com as construções de prédios adequados a abrigar laboratórios e bibliotecas.

É nesse âmbito, que a informação na universidade torna-se um insumo básico e ela passa a ter a missão de produzir e disseminar conhecimento, desenvolvendo uma visão crítica e buscando soluções práticas para os problemas sociais, através da pesquisa. Mendonça (2000, p.138) afirma que:

À universidade assim concebida competiria o estudo científico dos grandes problemas nacionais, gerando um estado de ânimo nacional capaz de dar força , eficácia e coerência à ação dos homens , independente das suas divergências e diversidades de ponto de vista. Nessa instituição seriam formadas as elites de pensadores, sábios, cientistas, técnicos e os educadores.

Compondo a tríade do ensino, pesquisa e extensão, a universidade desempenha a missão de liderar um processo de produção do conhecimento, vinculando as realidades

sociais, propondo maneiras de resolver problemas. E aí que a biblioteca universitária tem participação fundamental, pois é um agente mediador entre o conhecimento gerado e o usuário.