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As necessidades atendidas pela Contabilidade na sociedade atual surgem nos primeiros tempos da organização social humana. O homem que precisava acumular pertences o fazia através de registros rudimentares que, com o tempo, foi evoluindo. Iudícibus, em seu livro Teoria da Contabilidade apresenta as seguintes informações:

Não é descabido afirmar-se que a noção de conta e, portanto, de Contabilidade seja, talvez, tão antiga quanto a origem do homo sapiens. Alguns historiadores fazem remontar os primeiros sinais objetivos da existência de contas aproximadamente a 4.000 anos a.C., entretanto, antes disto, o homem primitivo ao inventariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis , ao contar seus rebanhos, ao contar suas ânforas de bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de Contabilidade. Na invenção da escrita, a representação dos números normalmente tem sido uma precedência histórica. Logo, é possível localizar os primeiros exemplos

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Entende-se por contabilidade aplicada a contabilidade geral vivenciada em setores específicos da economia. Exemplo: contabilidade industrial, contabilidade comercial.

completos de Contabilidade, seguramente no quarto milênio antes de Cristo, entre a civilização sumério-babilônica. Mas é possível que algumas formas rudimentares de contagem de bens tenham sido realizadas bem antes disto, talvez por volta do sexto milênio antes de Cristo. É claro que a Contabilidade teve evolução relativamente lenta até o aparecimento da moeda. Na época da troca pura e simples de mercadorias, os negociantes anotavam as obrigações, os direitos e os bens perante terceiros, porém, obviamente, tratava-se de um mero elenco de inventário17 físico, sem avaliação monetária. (IUDÍCIBUS, 1994, p. 28).

Os caminhos percorridos pela Contabilidade atravessaram as idades da história da humanidade. O patrimônio surge como uma necessidade humana logo nos primeiros tempos da organização da família, da sociedade. A Contabilidade, com sua origem vinculada à história da Humanidade se apresentará na jovem nação brasileira com o intuito de controlar os ganhos da atividade extrativista do pau-brasil, da atividade agrícola da cana-de-açúcar, da indústria aurífera, da cafeicultura e chega ao momento atual em que a indústria e a prestação de serviços ganham força no país. Para tratar da Contabilidade no Brasil, Schmidt (2006, p. 148) tece algumas considerações importantes:

Uma das primeiras manifestações contábeis brasileiras ocorreu em 1808, no reinado de D. João VI, através da publicação de um alvará obrigando os contadores gerais da Real Fazenda a aplicarem o método das partidas dobradas na escrituração mercantil.

O método das partidas dobradas consiste em fazer lançamento a débito e a crédito em igual valor. Através desse método é possível a montagem de demonstrações contábeis em formato equacional, ou seja, em que os dois membros da equação tenham o mesmo valor numérico, ou seja, ativo18 seja igual a passivo19. Numa transcrição literal, Sá (1995, p. 345) informa que o método das partidas dobradas é a partida onde um débito é sempre correspondido por um crédito. A coroa portuguesa entendia que o patrimônio da nação pertencia à família real, o que dá origem ao patrimonialismo que no Brasil é um ponto nevrálgico para se entender a história econômica do país.

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Inventário é a verificação da existência de um componente patrimonial. (SÁ, 1995, p. 269). 18

Ativo é o fundo de valores que representa os investimentos ou aplicações do patrimônio ou do capital das empresas (SÁ, 1995, p. 33).

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Passivo é a parte do balanço que representa as fontes ou proveniências dos valores que se acham espelhados no ativo (SÁ, 1995, p. 347).

Num Estado patrimonial como o de Portugal, o rei estava acima de todos os súditos e a economia era empreendida como empreendimento pessoal, com os servidores mantidos sob a tutela patriarcal. Com a atividade comercial e marítima substituindo cada vez mais a atividade agrícola, surge um tipo de burguesia desvinculada da terra e concentram-se nas mãos do príncipe as operações mercantis. (MENDONÇA, 2000, p. 39).

A estada da família real portuguesa no Brasil em função do expansionismo francês de Napoleão Bonaparte, na Europa, elevou o Brasil da condição de simples colônia para vice-reinado de Portugal. O então príncipe regente D. João VI inicia um conjunto de obras e cria instituições que tornarão a cidade do Rio de Janeiro uma capital de fato. O exemplo do decreto que obriga os guarda-livros20 a usarem as partidas dobradas constitui interferência estatal na atividade contábil. A isso, manifesta-se Schmidt informando que a legislação atual faz o que D. João fazia através de decretos. Assim, se expressa o autor:

Apesar de não existir uma escola de pensamento contábil genuinamente brasileira, existem muitas contribuições teóricas e práticas no Brasil. Além disso, existe uma influência permanente da legislação, desde o início, no desenvolvimento da contabilidade (SCHMIDT, 2006, p. 148).

O Brasil sempre se espelhou em escolas estrangeiras de Contabilidade. Inicialmente, as escolas européias exerceram grande influência, mas logo depois, no início do século XX a Escola Americana, também denominada pragmática passa a exercer influência marcante. A educação superior, no Brasil, tem uma história recente. A primeira instituição de ensino superior brasileira fora criada com o único fito de conceder título honoris causa ao rei da Bélgica que pelos primeiros anos do século passado estava em visita ao nosso país. Esta instituição teve seguimento décadas depois no que hoje é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). (Anotações de sala de aula – disciplina Administração da Educação). A esse respeito, o professor José Wellington Marinho de Aragão comenta em seu artigo que tem como título “Gestão da Educação e práxis Pedagógica”: alguns explicados ou falta deles nestas últimas cinco décadas de políticas educativas no Brasil que a

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universidade brasileira tem uma história bem recente. Literalmente, nos informa da seguinte maneira:

Vamos a um outro tipo de explicado, agora sobre a universidade brasileira. Como vocês sabem, entre nós essa instituição originária do século XIII, foi implantada muito tardiamente, lá pelos idos de 1934/35. no Brasil, a sua origem está associada com a pressão externa e de alguns setores tupiniquins, para a concessão do título de doutor honoris causa ao rei da Bélgica, em 1935. e assim fundou-se a Universidade do Distrito Federal (no Rio de Janeiro). Contudo, como resultado desse fato não tivemos a sorte, enquanto Nação, povo e sociedade, para o nascimento de fato de uma universidade inteira, completa e socialmente compromissa da com o crescimento econômico e desenvolvimento social do país, no sentido histórico-sociológico de preocupação com a construção/formação dos quadros superiores dirigentes nas ciências, nas artes, nos diversos ofícios, na organização transparente da burocracia estatal dos serviços públicos e na consolidação da convivência democrática, científica, fincada no trinômio: ensino, pesquisa e extensão. (ARAGÃO, 2007, p. 199).

A FEA-USP, a partir da década de 1940 toma a frente no ensino e na pesquisa em Contabilidade no Brasil, defendendo a escola pragmática, ou seja, a Americana.

Segundo Iudícibus, a Escola de Comércio Álvares Penteado foi a pioneira no ensino da Contabilidade no Brasil e a isso ele se expressa da seguinte maneira:

[...] a primeira escola especializada no ensino da Contabilidade foi a Escola de Comércio Álvares Penteado, criada em 1902. Produziu alguns professores excelentes, como Francisco D’Áuria, Frederico Hermann Júnior, Coriolano Martins (este mais especializado em Matemática Financeira) e muitos outros. Entretanto, foi com a fundação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP em 1946, e com a instalação do curso de Ciências Contábeis e Atuariais, que o Brasil ganhou o primeiro núcleo efetivo, embora modesto, de pesquisa contábil nos moldes norte- americanos, isto é, com professores dedicando-se em tempo integral ao ensino e à pesquisa, produzindo artigos de maior conteúdo científico e escrevendo teses acadêmicas de alto valor. Diga-se de passagem que os professores egressos da Escola Álvares Penteado constituíram, pelo menos em parte o núcleo inicial da nova Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, na parte de Contabilidade e atuária. O próprio professor D’Áuria e outros da Álvares Penteado deixaram vestígios de seu conhecimento e de sua personalidade na nova escola, dando possibilidade para que novos talentos surgissem (IUDÍCIBUS, 1994, p. 34-35).

O trato educacional no campo das Ciências Contábeis inicia-se com as escolas de comércio. A Fundação Álvares Penteado no início do século XX passa a oferecer cursos regulares em que as técnicas comerciais são trabalhadas em meio a

orientações de ordem econômico-administrativo-contábil. Nesse ambiente é que surgem os rudimentos do que hoje se tem como curso superior em Ciências Contábeis.

O lançamento histórico do livro “Contabilidade Introdutória” (1995) pela FEA- USP, na pessoa do professor Sérgio de Iudícibus constitui verdadeiro marco que estabelece hegemonia da Escola Anglo-saxônica de Contabilidade sobre a Escola Italiana, ou seja, européia até então muito influente. Este livro, em sua edição de 1971, prefaciada por José da Costa Boucinhas, informa que

Trata-se de um livro de Contabilidade Introdutória e, como o título indica, destina-se à iniciação dos que pretendem seguir a carreira de contador ou, então, haurir conhecimentos que facilitem a sua tarefa no campo da economia ou da administração, permitindo-lhes conhecer a mecânica das operações das entidades públicas e privadas. (IUDÍCIBUS, 1995, p. 19).

Este livro é adotado pela maioria das instituições de ensino superior que mantém graduação em Contabilidade no Brasil. Trata-se de compêndio em que a Contabilidade é apresentada em sua feição elementar.

É válido registrar que com o processo de democratização do país se intensificando, nas últimas décadas, a necessidade de profissionais da área contábil se torna maior. A Contabilidade no Brasil ainda não se mostrou como uma área do conhecimento que cumpre o seu papel, exemplo disso são os escândalos de corrupção que a mídia veicula constantemente. A Contabilidade tem a função de proteger as pessoas que detém patrimônio para que estas possam fazer uso do patrimônio que detenham para viver com qualidade, quando se diz pessoas se está referindo a pessoas físicas ou jurídicas, empresas ou o Estado. Os contadores precisam escrever uma história mais favorável à categoria profissional que pertencem e alcançar a credibilidade que a profissão já desfruta em países como a França, a Inglaterra, a Alemanha, os Estados Unidos, dentre outros mais.