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vida para os (as) jovens negros (as)

Toda a experiência humana se torna fonte de conhecimento, envolvida num contexto social e cultural, assim , assumem um papel formativo. A formação de cada um (a) se constitui um processo de socialização em contextos familiares, escolares e profissionais, constituem lugares de regulação de processos específicos que se entrelaçam uns com nos outros, dando uma forma original a cada história de vida. Nesta perspectiva, as pessoas se colocam num processo de educação. Ao dizer educação baseio-me na definição dada por Silva (1987) que diz que “educação” é o ato de construir o nosso próprio modo de ser, junto com as pessoas com quem convivemos, ao assumirmos com eles os destinos do nosso grupo, nossa classe social, nossa comunidade.

Nesta perspectiva, as trajetórias de vida desveladas pelo relato oral dos (as) colaboradores/as da pesquisa aqui apresentada, têm de fato um importante papel formativo

porque trazem experiências de formação que são parte do processo de se constituírem intelectuais negros (as).

Os relatos das trajetórias de vida educam na medida em que provoca, nas pessoas que os ouve, alegrias, tristezas, inspiração, apreço, repúdio e possibilidades de aprendizagem. Provoca sentimentos e expõe momentos de percursos. Estes relatos têm a capacidade de nos inspirar, questionar, incentivar e muitas vezes transformar. Quantas vezes mudamos algumas atitudes depois de ouvirmos a história de experiencias de alguma pessoa que nos conta as formas pelas quais superou algum problema, venceu obstáculos e, conquistou seu objetivo. Por tudo isso, a trajetória de vida de intelectuais negros (as) se torna exemplo de vida para os (as) negros (as) que são discriminados (as), principalmente para os (as) negros (as) jovens. É o mais experiente orientando para a vida os menos experientes. Os relatos orais, recolhidos por meio de entrevista semi-estruturada, objetiva compreender uma vida, ou parte dela, como possível para desvelar e/ou reconstituir processos históricos e sócioculturais vividos não só pelos narradores, mas também por sujeitos que os ouve e lê.

Nesse sentido, acredito que os relatos orais de trajetórias de vida que permitem contar histórias pessoais educam para a vida os mais jovens e outras pessoas que podem aprender ao ter contato com experiência vivida por outros. Por isso, creio que os (as) intelectuais negros (as) deveriam ser convidados (as) a contar sua trajetória de vida também nas escolas, de modo a colaborar para a educação das relações étnico-raciais.

Nesta perspectiva, de se superarem equívocos entre o que se ouviu falar e a realidade da história dos (as) negros (as), se faz necessário buscar meios que tornem a história e a cultura afro-brasileira mais conhecida, valorizada e respeitada. A trajetória de vida de intelectuais negros (as) uma vez partilhada, refletida, a partir do rememorar e do

relato, poderá servir de exemplo e incentivo principalmente para os (as) negros (as) mais jovens de modo que se orgulhem do seu povo negro, se identifiquem como negros (as), afim de preservarem sua cultura de origem. Neste contexto, é possível dizer que a trajetória de vida de intelectuais negros (as) é um dos patrimônios culturais afro-brasileiro. Tornar conhecida a trajetória de vida das pessoas negras que estão vivas é cuidarmos do patrimônio vivo da comunidade e contribuirmos com a preservação da nossa cultura negra. Como patrimônios vivos da comunidade negra, os (as) intelectuais negros (as), guardam na memória a sua trajetória de vida e rememorando esta trajetória, relatam experiências que não são somente suas mas de toda a comunidade negra. A memória armazena nossas experiências relacionadas aos nossos modos de ser, fazer, estar e transformar o mundo. Os (as) intelectuais negros (as) lembram trajetos de vida e contam e ao contarem desvelam sua história, dão exemplos, fazem propostas de como se educar e se formar nas relações sociais.

O desvelamento da trajetória de vida de intelectuais negros (as) pode fomentar o desenvolvimento de novos estudos e pesquisas que ampliem o entendimento das relações étnico-raciais no Brasil. O registro desta trajetória, sua sistematização e disponibilização podem contribuir para fortalecer a identidade cultural dos (as) negros (as) que são discriminados, assim como uma conseqüente tomada de consciência da importância da preservação do patrimônio cultural negro e da reconstrução da história deste povo.

A trajetória de vida de intelectuais negros (as), uma vez conhecida por outras pessoas e disponível para pesquisa, torna-se também importante subsídio para ações educativas. A educação patrimonial é uma das ações possíveis de se educar para as relações étnico-raciais a partir do patrimônio. Educação patrimonial é “processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo” (HORTA, s.d.). Esse processo

permite as pessoas conhecerem, os diferentes patrimônios culturais que compõem o patrimônio cultural brasileiro, além de permitir ao indivíduo fazer a leitura da sociedade que vive e respeitar o diferente. Leva “ao reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural” (HORTA, s.d.)

Em relação aos processos educativos que resultam da prática de combate à discriminação racial presentes nas trajetórias de vida dos (as) intelectuais negros (as), é preciso dizer que são conseqüência do aprender e ensinar, aprender e ensinar que se processa na sua vivência familiar, profissional e no repassar experiência para os mais jovens. Nesses processos educativos se estabelece uma relação de alteridade, na qual não existe espaço para a manipulação de uma pessoa sobre outra, mas prevalece o respeito ao outro, ao diferente, dá-se um processo de troca de experiências. Alteridade é reconhecer que só construímos alguma coisa se nos comunicarmos com o outro, se valorizarmos a experiencia do outro diferente de nós. Pois que a formação humana se concretiza a partir do momento que diante do outro diferente me reconheço diferente, reconheço na outra pessoa valores que ainda não tenho, mas que posso aprender com ela. Aprendendo, também posso ensinar coisas que aprendi e desta troca, construir novos conhecimentos.

Aprender a partir da trajetória de vida das pessoas também permite construirmos novos conhecimentos. O relato da trajetória de vida de intelectuais negros (as) traz experiências de vida, conquistas, saberes, dificuldades, superações que podem servir de subsídios para novas pesquisas na área da educação das relações étnico-raciais. Acredito que, também os seus escritos, produções guardam aspectos da sua cultura original que podem constituir parte do patrimônio cultural da comunidade negra. Como referência que são os (as) intelectuais negros (as) para sua comunidade, também são para a mesma

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