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4 A TRAJETÓRIA DO PROGRAMA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE

4.2 O PAIC como política educacional do estado do Ceará:

4.2.2 Trajetória institucional

O PAIC foi instituído, inicialmente, com o apoio financeiro e técnico do UNICEF14 e do MEC, e também sob a coordenação da APRECE15 e da UNDIME/CE16.

14 O UNICEF é um dos principais órgãos financiadores do PAIC e está presente praticamente em

todo o território brasileiro, principalmente nas regiões mais carentes, como Norte e Nordeste. Sua visão é focada nos direitos da infância. Em 2012, o UNICEF investiu R$ 29,3 milhões em seu programa de cooperação com o Brasil, sendo que R$ 13.646.116,20 foram aplicados em políticas públicas. O PAIC é beneficiado no eixo da educação infantil (UNICEF, 2013).

No ano de 2007, o PAIC tornou-se uma política pública do governo do Ceará, fortalecendo o regime de cooperação técnica e financeira com os municípios. De tal modo que a dimensão institucional foi ampliada, e o Programa recebeu apoio e colaboração de mais outros parceiros: a SEDUC, a Secretaria da Cultura do Estado (SECULT)17, a UFC, a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDM-CE)18, a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME)19; e o Fórum de Educação Infantil do Ceará (FEIC)20. O governo federal, por meio do Ministério da Educação, reconhece e apoia financeiramente o PAIC (CEARÁ, 2012b).

Para melhor compreensão da trajetória das instituições que fomentaram e apoiaram a formulação e implementação do PAIC, elaboramos um organograma (Quadro 2) e assim visualizamos, com mais clareza, as instituições que fazem parceria para a execução e o desenvolvimento do PAIC como política pública educacional.

15 A APRECE colabora com a mobilização dos prefeitos para assumir a liderança dos processos e

etapas do PAIC em seus municípios (APRECE, 2013).

16 A UNDIME se caracteriza como uma associação civil, sem fins lucrativos e com sede localizada

em Brasília (DF). Sua missão “[...] é articular, mobilizar e integrar os dirigentes municipais de educação para construir e defender a educação pública com qualidade social” (UNDIME, 2013, p. 1). Em relação ao PAIC, a UNDIME colabora com a articulação e mobilização dos secretários de educação dos municípios cearenses.

17 A SECULT reforça o vínculo com o PAIC com estratégias de leitura, escrita e cultura. Trabalhando

conjuntamente o projeto “Agentes de Leitura” para atender os municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano e baixo Índice de Desenvolvimento Municipal, e bairros de Fortaleza de baixo Índice de Desenvolvimento dos Bairros (CEARÁ, 2013b).

18 A APDMCE é uma instituição não governamental que atua na rede de atendimento

socioassistencial, por meio da elaboração e implementação de programas junto aos gestores municipais, técnicos e até a população que se encontra em situação de vulnerabilidade. No que diz respeito ao PAIC, sua área de atuação é no eixo educação infantil, em que contribui com sua experiência na gestão de programas de formação de leitores (APDMCE, 2013).

19 A UNCME também é uma associação sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária. O

maior objetivo é o fortalecimento dos municípios brasileiros em prol da expansão e melhoria da qualidade da educação básica e valorização do magistério, destacando a educação infantil, que é prioridade dos municípios e, consequentemente, prioridade para os Conselhos Municipais de Educação. Em se tratando do PAIC, a UNCME contribui com a articulação entre os Conselhos Municipais de Educação (UNCME, 2013).

20 O FEIC é uma instância suprapartidária constituída por pessoas e entidades comprometidas com a

causa da educação infantil pública e de qualidade social. A vinculação com o PAIC é feita no eixo da Educação Infantil (FEIC, 2013).

Quadro 2 - A trajetória institucional do PAIC

Fonte: Elaborado pela autora (2014)

Por meio desse mapeamento das instituições envolvidas no PAIC, é que podemos constatar a complexidade e a capilaridade de articulações envolvidas para se executar uma política pública educacional, que, em seu desenho, abrange vários eixos de atuação que comprometem várias instituições educacionais.

Nessa trajetória, o Governo do Estado do Ceará é o principal fomentador para que os municípios se comprometam a executar as propostas do PAIC. Em contrapartida, oferece apoio à gestão municipal por meio da formação continuada para os professores, da educação infantil ao 2.º ano do Ensino Fundamental, além de livros de literatura infantil para as salas de aula e materiais didáticos para docentes e alunos.

A SEDUC passou a ser a instituição responsável por executar e operacionalizar o Programa, por meio da COPEM. Essa Coordenadoria tem orçamento próprio com uma equipe central e núcleos regionais do PAIC nas vinte Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE) para viabilizar o regime de colaboração do Estado com os municípios.

O arranjo organizacional do PAIC compreendeu ainda a constituição de equipes municipais nas Secretarias Municipais de Educação para atuação no Programa. Lideradas por um gerente, as equipes obedecem a uma divisão similar à existente na COPEM: três ou mais pessoas (a depender do tamanho do município e da estrutura da Secretaria Municipal de Educação) se dividem na execução das

ações dos cinco eixos do programa: gestão municipal, avaliação externa, alfabetização, formação do leitor e educação infantil (CEARÁ, 2012b).

A partir da adesão ao Plano de Metas do MEC, o Governo do Estado do Ceará elabora o Plano de Ações Articuladas (PAR), e, em contrapartida, o MEC contribui com o apoio técnico e financeiro por meio do FUNDEB, para subsidiar programas de manutenção e desenvolvimento da educação básica. O PAIC também é beneficiado pelo PAR em muitos programas federais: transporte escolar, Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil (PROINFANTIL), Programa Gestão da Aprendizagem Escolar (GESTAR), Escola Ativa, entre outros programas (BRASIL, 2012b).

Para apoiar as ações do eixo avaliação externa do PAIC, a SEDUC firmou parceria com a Universidade Federal do Ceará. A UFC passou a ser a instituição responsável por elaborar as provas (elaboração dos itens, revisão, diagramação, realização de pré-teste e análise estatística e pedagógica dos itens) em conjunto com a equipe do Programa. A Universidade também é parceira na formação de professores. Nesse processo, especialistas de universidades, do mesmo modo, participam como formadores (CEARÁ, 2012b).

À medida que se foram pesquisando as instituições envolvidas no PAIC, percebeu-se a ausência, na trajetória da implementação, das principais instituições beneficiárias na articulação e discussão desse Programa: as escolas públicas. Também não constatamos nenhuma instituição que esteja diretamente ligada às escolas, como os Sindicatos dos Professores, Conselhos Escolares e Conselhos Comunitários. Essa percepção da ausência das escolas públicas na participação da implementação do PAIC nos faz pensar em Höfling (2001), quando diz:

Enquanto não se ampliar efetivamente a participação dos envolvidos nas esferas de decisão, de planejamento e de execução da política educacional, estaremos alcançando índices positivos quanto à avaliação dos resultados de programas da política educacional, mas não quanto à avaliação política da educação. (HÖFLING, 2001, p. 39).

Nesta pesquisa avaliativa, buscamos modos de análise partindo da seleção das instituições diretamente afetadas pelo PAIC: a escola pública, a SME e o Distrito de Educação da Regional II. Dessa forma, assumimos, verdadeiramente, uma avaliação em profundidade do PAIC, tendo como objeto de estudo a avaliação externa do Programa. Para melhor compreendermos essa temática, temos de

incursionar nos princípios e concepções norteadoras que formatam e estruturam o eixo da avaliação externa do PAIC.