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Capítulo I A Educação, a Escola e os Jovens

1.3. Trajetórias Escolares: os Jovens na transição para a vida adulta

Quando chegam ao final do 9.º ano de escolaridade, ou seja, quando completam o ensino básico, os jovens deparam-se com algo novo, mas extremamente importante para os seus futuros. Pela primeira vez nas suas vidas, estes jovens, através de opções escolares, vão afunilando o seu futuro, fechando uns caminhos e seguindo através de outros. Pela primeira vez, têm de tomar decisões que terão influência nos anos subsequentes e na sua transição para a vida adulta. Muitas desta decisões e opções serão estruturantes para o futuro.

Tendo que optar pelo caminho A ou pelo caminho B, pela primeira vez na sua vida o jovem vai fechando o leque a algumas possibilidades. Assim, a transição do ensino básico para o ensino secundário é um momento marcante, estruturante e extremamente importante na vida dos jovens, representando “... o momento da primeira opção vinculativa na trajectória escolar. Os alunos confrontam-se (...) com um leque heterogéneo de opções formativas inseridas em diferentes tipo de ensino. A eleição de uma área de estudos para o 10.º ano de escolaridade pressupõe uma primeira dupla escolha (entre o ensino geral (...) e o profissional e, nestes, a escolha de uma área optativa), e assume um importante papel no processo de escolarização ulterior, constituindo o primeiro estreitamento de objectivos do espaço de possibilidades oferecido pelo sistema de ensino, comportando implicações no que diz respeito às saídas escolares ou profissionais subsequentes.” (Mateus, 2002, p.117)

Portanto, para lá de ser um local de socialização e de transmissão de aprendizagem e saberes, a escola revela-se como uma instituição onde nascem projetos individuais, onde são construidos, planificados e projetados os futuros socioprofissionais dos jovens. “O final do 9.º ano representa um momento de escolas cruciais, em que se jogam e cruzam múltiplos processos sociais (...) o final do 9.º ano é ainda o términus de um ensino, no essencial, unificado, a que se segue um primeiro patamar de orientação (...) o ensino secundário ramifica-se num conjunto de vias de ensino (...) e dentro destas em agrupamentos ou cursos, os quais se encontram articulados com opções de ensino pós-secundário e com saídas profissionais.” (Diogo, 2008, p.104)

Toda a investigação que se proponha a estudar fenómenos e dimensões ligadas à educação e à escola tem, necessariamente, de procurar conhecer as razões que levam os jovens a fazer determinadas escolhas ao nível do percurso escolar. Ou seja, tentar perceber de que forma se processam as opções vocacionais no interior da escola e do sistema de ensino.

Existem duas estratégias que, por norma, norteiam as decisões e opções dos jovens ao nível das trajetórias escolares. Uma estratégias centrada no futuro, tendo em vista uma possível mobilidade ascendente, e uma outra estratégia, que assenta no momento, ou seja, na vivência do presente. “...os primeiros, ao pensarem no futuro, conseguem arquitectar um projecto de trajecto. Os segundos, talvez por não terem muito a esperar do futuro (...) interessam-se mais pelo presente: têm um trajecto sem projecto.” (Pais, 1993, p.194)

A forma como os jovens arquitetam e desenvolvem determinadas estratégias é fortemente condicionada pelas experiências e trajetórias passadas, pelo que “o tempo presente é não apenas determinado por experiências acumuladas no passado, mas também matizado por aspirações e projectos de futuro.” (Pais, 1993, p.195)

Assim, a escola assume para muitos jovens um papel crucial na sua transição para a vida adulta, quer seja através “...das certezas transmitidas pelo veredicto escolar e pelo reconhecimento e excelência ou fracasso implícito neste, seja pelo desenvolvimento de processos positivos de construção de futuros profissionais para além das disposições de origem.” (Mateus, 2002, p.153)

Atualmente, a passagem dos jovens para a vida adulta já não se dá nem corresponde à conclusão dos estudos. No passado, uma vez concluídos os estudos, o jovem ingressava no mercado de trabalho, transitando assim, concomitantemente, para a vida adulta. Hoje tal

já não acontece. Fruto do elevado desemprego jovem (e diplomado) que afeta as sociedades ocidentais, essa transição não está mais assegurada, sendo mais difícil, sinuosa e muitas vezes dolorosa de efetuar. Hoje em dia, “ser jovem adulto autónomo já não corresponde a um estatuto que se alcança com o fim do curso escolar, a entrada na profissão e o acesso a um emprego estável, a uma nova família e à maternidade/paternidade e com a instalação em casa própria. Esta ordem já não existe (...) este modelo está estilhaçado, tendo dado lugar a uma miríade de processos de inserção socioprofissional não programáveis, com forte impacto nos estilos de vida dos jovens.” (Azevedo e Fonseca, 2007, p.53)

A passagem da escola e da formação para a vida ativa e para o mercado de trabalho sofreu alterações profundas ao longo das últimas décadas. “O tempo de ‘uma’ transição escola-emprego relativamente estável e susceptível de ser programada acabou.” (Azevedo e Fonseca, 2007, p.53)

Este processo de transição tem hoje uma duração mais longa e variável, ocorre em idades cada vez mais avançadas e através de mecanismos cada vez mais distintos. A transição do jovem para a vida adulta ocorre agora num cenário marcado fortemente pela imprevisibilidade, sendo cada vez mais um processo longo, penoso, difícil e frustrante.

Para muitos jovens, este “...processo de transição para a vida adulta, nomeadamente na vertente da inserção profissional, passa por um período relativamente longo de indeterminação de estatuto. Saídos do sistema de ensino, precocemente ou não, sem diplomas ou com diplomas desvalorizados, um apreciável número de jovens passa por um período de interregno entre a escola e o emprego.” (Pais, 1993, p.247)

Capítulo II - Os Alunos do Ensino Secundário da Escola Ancorensis Cooperativa de