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Você já tentou varrer a areia da praia? (TITÃS, JÁ).

No começo do ano de 2007, participei como aluna especial da disciplina Currículo no programa de Pós- Graduação em Educação na Faculdade de Educação (FACED) UFBA com o intuito de realizar seleção para o curso de doutorado em Educação. Iniciei a disciplina de Currículo com muita expectativa em aprofundar os estudos sobre currículo, uma vez que minhas leituras neste campo eram bem restritas. Na disciplina, ouvi pela primeira vez o

professor Roberto Sidnei Macedo falar sobre atos de currículo e políticas de sentido. Imediatamente, percebi articulação com a minha experiência como professora de Didática da UEFS tinha uma relação com as políticas de sentido, bem como os atos de currículo. Confesso que esses conceitos despertaram-me interesse, visto que nunca tinha ouvido falar em atos de currículo e tão pouco sobre políticas de sentido. Os meus estudos no campo do currículo eram pautados em leituras das obras de Tomaz Tadeu da Silva, Antonio Flávio Moreira, Sandra Corazza, entre outros, por isso, foi tamanha a minha curiosidade sobre atos de currículo e políticas de sentido. O movimento do querer saber sobre estes assuntos me fizeram caminhar por leituras em outras áreas do conhecimento, com o intuito de compreendê-los no contexto da formação do currículo e da Didática.

Lembro-me que no início da disciplina Currículo era, ainda, para mim muito confusa a compreensão de políticas de sentido, assim como, de atos de currículo. As minhas dúvidas pairavam sobre os fundamentos teóricos de políticas de sentido, por várias vezes pensei que essas políticas diziam respeito ao conhecimento instituído pela ciência, mas por outro lado, parecia que se referiam aos pontos de vista, aos valores e as perspectivas do sujeito acerca do mundo, considerando-se os aspectos históricos culturais e políticos. Nesse percurso como aluna especial, a minha busca em compreender políticas de sentido e atos de currículo não se encerram na conclusão da mesma, pelo contrário, prosseguiu tentando articulá-los com a minha experiência docente na disciplina Didática, especificamente, com os sentidos atribuídos pelos estudantes dos Cursos de Licenciatura da UEFS à Didática. Fui, ao longo da disciplina, percebendo que os modos, os olhares dos estudantes dos cursos de Licenciatura em relação à mesma estavam muito próximos de constantes interações com o contexto social que os cercam. As minhas leituras sobre políticas de sentido e atos de currículo começaram com os estudos das obras de Macedo (2004, 2006, 2007), nas quais o autor aborda sobre esses conceitos, no contexto do currículo, da formação e da construção do conhecimento.

A partir dessas leituras, fui entendendo que as políticas de sentido são construídas nas relações sociais, isto é, estamos a construir políticas de sentido na interação com o mundo que nos cerca, principalmente, no que diz respeito à nossa forma de pensar, agir e sentir. Tais compreensões sobre o mundo, a vida, o tempo e o espaço estão ligadas às relações sociais e culturais que vamos construindo. Dessa forma, as falas dos estudantes em relação à Didática estão dentro de um contexto e estas são construídas nas relações que estes vão estabelecendo com professores, colegas, disciplinas, colegiados de cursos e departamentos da UEFS articulado pelo modo como cada sujeito vê e interpreta o mundo, o qual é, também, constituído de vários outros, a saber, o social, cultural e natural.

Compreender as políticas de sentido no contexto dessa disciplina tornou-se necessário, uma vez que minhas inquietações eram referentes às ideias que os estudantes manifestavam e isso me inquietava já que estes não a tinham cursado. Desse modo, a maneira como os estudantes interpretam a Didática em meio à multiplicidade das realidades sócio-culturais que vivenciam no contexto do seu curso de formação me faz pensar que os mesmos já apresentavam políticas de sentido sobre Didática.

Durante o desenvolvimento da disciplina Currículo, fui me interessando cada vez mais pelos estudos sobre currículo proposto por Macedo (2007, 2010) no campo da formação. O autor pontua que a problemática da formação começa na concepção curricular e que há um esvaziamento nos estudos sobre formação articulados ao currículo. Nessa direção, Macedo (2007), constrói o conceito de atos de currículo no âmbito da formação, isto é, os atos de currículo como processo que visa à formação. Assim, Macedo diz:

Atos de currículo são todas as atividades que se organizam e se envolvem visando uma determinada formação, operacionalizadas via seleção, organização, formulação, implementação, institucionalização e avaliação de saberes, atividades, valores, competências, mediados pelo processo ensinar/aprender ou sua projeção. (MACEDO, 2007, p. 38).

Nesse primeiro contato com o conceito de atos de currículo, articulei as inquietações acerca da disciplina Didática, ou melhor, os sentidos atribuídos à disciplina pelos estudantes dos Cursos de Licenciatura da UEFS, supus que estes pudessem ter alguma relação com os atos de currículo praticados por nós, professores, assim como, pela instituição, via colegiados dos cursos e até mesmo pelas políticas internas da referida instituição. Com base em Macedo (2007), os atos de currículo são praticados tanto por professores, estudantes, gestores, pais enfim, pela comunidade envolvida nas atividades dentro de um contexto que visem a uma determinada formação.

 

2.4 OS NEXOS ENTRE O MOVIMETO DE TECER E DESTECER  

Foi a partir dessas inquietações que elaborei o projeto de pesquisa para seleção de doutorado em 2009 com o objetivo de compreender como os atos de currículo de estudantes e professores no contexto da disciplina Didática do Departamento de Educação (DEDU/UEFS) contribuem no processo de construção de políticas de sentido da Didática na formação