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Capítulo 04 A pesquisa e seus referenciais metodológicos

4.6. Transcrições, ferramentas de análise e categorias

As atividades 01, 02, 03 e 04 foram todas gravadas em vídeo e transcritas para posterior análise. No entanto, apenas as atividades 02, 03 e 04 serão descritas nas análises do capítulo 05. O código de transcrição, adaptado de VIEIRA (2011) (ver Anexo I), permitiu observar pausas breves e longas nas falas, momentos em que interlocutores se interrompem, ênfase no tom de voz em palavras específicas etc. As

transcrições foram feitas manualmente, sem o uso de qualquer software. Tal escolha foi importante para o uso da metodologia de análise descrita nos próximos parágrafos.

A estrutura de análise das atividades realizadas foi a mesma desenvolvida por VIEIRA (2011) em sua tese de doutorado, uma forma de organizar e tratar as informações audiovisuais entrelaçando, em uma estrutura coerente, três eixos teóricos: a Teoria da Atividade, que tem bases na Psicologia Sociocultural soviética do início do

século 20; a Sociolinguística, uma campo de estudos que “examina como as pessoas

criam, comunicam e compreendem significados usando a linguagem em atividades sociais situadas” (VIEIRA, 2011, p.43) e que, após a segmentação das falas em unidades mínimas de significado conhecidas como proposições, possibilita “o reconhecimento de segmentos a partir de uma perspectiva ética” (VIEIRA, 2011, p.45); e a Linguística textual, usada na caracterização de um dado segmento de discurso (por exemplo, uma ação) segundo uma sequência dominante, considerando simultaneamente as possibilidades e restrições que essa sequência dominante oferece para a ação e pensamento humano. O papel de cada um dos componentes desta estrutura de análise é mais complexo que as descrições feitas aqui e estas não alcançariam a profundidade e especificidade de sua descrição original. Para compreender melhor essa tríplice articulação, ver VIEIRA (2011, p.36-50).A partir das três unidades de uma atividade socialmente situada, conceito trazido da Teoria da Atividade, foram planejados três quadros de organização das informações discursivas:

1. Atividade – relacionada a uma necessidade / motivo

> Atividades foram mapeadas pelo ‘Quadro de Apresentação das Aulas’ (1º quadro);

2. Ação – relacionada à satisfação de um objetivo

> As ações de cada aula foram mapeadas pelo ‘Quadro de Narrativas’ (2º quadro);

3. Operação – relacionada à condições e métodos de realização da ação

> Operações foram mapeadas pelo ‘Quadro Proposicional’ (3º quadro)” grifo nosso (VIEIRA, 2011)

A metodologia de análise das trascrições tem início na Análise Proposicional utilizada por VIEIRA e NASCIMENTO (2013) em suas pesquisas sobre a argumentação em aulas de Ciências. Este médodo permite “analisar os significados que os sujeitos constroem nos discursos estabelecidos em diferentes contextos, desde as salas de aula de Ciências até grupos focais” (VIEIRA e NASCIMENTO, 2013, p. 64) e consiste em:

1. Segmentar as falas dos participantes em proposições, que são consideradas a menor unidade de significado do contexto discursivo investigado. Para isso, utilizamos aspectos sociolinguísticos dos sujeitos interagentes (tais como pistas

de contextualização, fixação do olhar, prosódia, pausas, cf. GUMPERZ, 1982) e

linguísticos (presença de certos verbos, cf. ADAM, 2011).

2. Agrupamento das proposições com “significado convergente” ou aquelas que “fazem algo similar” na categoria de “Procedimentos discursivos”.

3. Criação de um quadro proposicional com os turnos de fala (e seus respectivos participantes), as proposições já segmentadas e seus respectivos procedimentos discursivos.

TURNOS DE FALA PROPOSIÇÕES

(unidades de significado) PROCEDIMENTOS DISCURSIVOS 1. RUI: 1. Professor,

2. deixa eu fazer um comentário aqui,

3. quando a velocidade é igual a zero muito se fala, 4. já vi isso gente falando na televisão,

5. e em correção de prova de vestibular que o corpo para,

6. no ponto mais alto da trajetória,

1. Seleção de interlocutor 2. Pedido para participar 3-6. Introdução de uma problemática 2. PROFESSOR: 1. Eh,

2. Quando a gente fala que o corpo para, 1-2. Confirmação da problemática 3. RUI: 1. Pois é,

2. O que é parar?, um questionamento 1-2. Elaboração de

Tabela 02 - Exemplo de trecho de um quadro proposicional para turnos de fala extraídos de uma argumentação sobre o conceito de repouso em lançamentos verticais

Ao aplicar este método de análise proposicional, é possível obter um conjunto de Procedimentos Discursivos Didáticos (PDD) do pesquisador apresentados na tabela 03. É possível agrupar os procedimentos segundo as funções gerais que eles cumprem no discurso observado. Tais funções foram chamadas de papeis do formador. Abaixo está uma tabela com os PDDs classificados por VIEIRA e NASCIMENTO (2013) em suas pesquisas. Uma tabela semelhante foi elaborada para esta pesquisa e será exibida logo adiante.

PAPEIS DOS

FORMADOR PROCEDIMENTOS DISCURSIVOS DIDÁTICOS (PDD) DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS Avaliador de

pontos de vista Justificação de um ponto de vista Pesquisador apresenta possíveis justificativas e evidências que podem dar suporte a uma opinião

Confirmação de ponto de vista Pesquisador assegura um ponto de vista ou justificativa de um licenciando

Reelaboração de um ponto de vista Pesquisador retoma um dado ponto de vista alheio e o reelabora em sua fala

Gerenciador da

discussão Articulação de um ponto de vista Pesquisador articulla o seu próprio ponto de vista Sumarização de ideias discutidas Pesquisador sintetiza em sua fala ideias,

pontos de vista e justificativas anteriores sobre uma questão própria

Articulação de pontos de vista contraditórios Pesquisador articula dois pontos de vista contraditórios sobre uma questão

Elaboração de feedbackseliciativos Pesquisador solicita um ponto de vista sobre uma questão ou pede por maior elaboração Interrupção de turnos de fala dos licenciandos Pesquisador interrompe a fala de um

licenciando para avaliar o que foi dito ou dar sua opinião sobre o assunto em pauta Estabelecimento da última palavra Formador finaliza a discussão com

procedimentos que redirecionam a atenção da turma para outra questão

Auscultador Escuta atenta Pesquisador se mantém em silêncio, prestando atenção nas trocas discursivas dos licenciandos

Tabela 03 - Conjunto de procedimentos discursivos didáticos do formador identificados em situações argumentativas (VIEIRA e NASCIMENTO, 2013, p.67)

Os autores mencionam que a criação de uma metodologia específica para lidar com situações argumentativas advém da confusão feita por muitos professores e estudantes quando se trata de distinguir situações explicativas e argumentativas, com

dificuldades de saber os papeis e as funções que tais orientações discursivas adquirem na sua prática docente cotidiana (cf. VIEIRA e NASCIMENTO, 2008).

Assim, para distinguir tais orientações discursivas e orientar a análise das falas, valemo-nos dos critérios demarcadores de situações argumentativas propostos por VIEIRA e NASCIMENTO (2009) e da tríade Orientação Discursiva - Objetivos Didáticos - Procedimentos Discursivos Didáticos. A proposta visa a coordenação de categorias para composição do quadro de narrativas. As categorias são: 1) Unidades de análise ou ações; 2) Orientações discursivas e critérios para sua identificação em cada ação; 3) Critérios para identificação de objetivos didáticos para cada ação e; 4) Critérios para identificação e análise dos Procedimentos Discursivos Didáticos (PDD) do pesquisador, que foram os meios (mecanismos) para a obtenção de seus objetivos didáticos. Recomenda-se que, para uma descrição mais completa e detalhada das quatro categorias supracitadas, se consulte VIEIRA e NASCIMENTO (2013, p.73-76).