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Paralelo ao processo de transição demográfica, o Brasil passa também pelo processo de transição epidemiológica. Este processo caracteriza-se pela diminuição da mortalidade por doenças transmissíveis, aumento da mortalidade por doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) e por causas externas, com deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para os mais idosos e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra, em que a morbidade é dominante (COSTA; PORTO; SOARES, 2003).

A teoria da transição epidemiológica, descrita inicialmente por Omran em 1971, possui um enfoque nas mudanças dos padrões de saúde e doença e na interação entre esses padrões e seus determinantes demográficos, econômicos e sociais e suas consequências. Para Omran (1971), essa teoria inicia com uma importante colocação: que a mortalidade é um fator fundamental na dinâmica populacional.

Omran (1971) formulou cinco fatores de suma importância para fundamentar essa teoria:

a) A mortalidade e o tempo de meia vida são fundamentais para a dinâmica do crescimento populacional.

b) Durante a transição, ocorre uma mudança nos padrões de doenças e mortalidade, na qual as infecções gradualmente são substituidas pelas doenças degenerativas e por aquelas provocadas pelo homem na fase adulta, sendo estas dominantes em idosos.

c) Na transição epidemiológica, as mais significantes mudanças nos padrões de saúde e doença ocorrem entre crianças e mães, resultando num decréscimo da mortalidade, seguido por um declínio na taxa de natalidade.

d) A transição epidemiológica em saúde e doença está associada com a transição demográfica e socioeconômica, com mudanças no estilo de vida das populações e com a modernização.

e) As variações na velocidade com que essas mudanças ocorrem podem ser demonstradas em três modelos básicos: o modelo ocidental clássico, o qual descreve a transição

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gradual e progressiva dos altos índices de mortalidade e fertilidade para os baixos índices destas, acompanhando o processo de modernização; o modelo contemporâneo, que descreve a relativamente recente ou quase completa transição da maioria dos países desenvolvidos; e o modelo acelerado, que descreve a acelerada transição na mortalidade observada especialmente no Japão, depois da segunda guerra mundial.

As Revoluções Agrícola e Industrial na Europa, bem como a urbanização e a melhoria das condições de vida durante os últimos séculos, foram responsáveis por um importante declínio da mortalidade e pela mudança do perfil epidemiológico da população numa época de poucos conhecimentos na área da saúde e de poucas medidas terapêuticas eficazes (PRATA, 1992).

A industrialização, urbanização e mecanização do transporte têm promovido também mudanças nos hábitos de vida das populações. Assim, correu uma importante redução da prática de atividades físicas pelas pessoas em geral tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, fazendo com que, no início do século XXI, 60% da população global seja insuficientemente ativa (WHO, 2002). O grau de atividade física está consideravelmente relacionado, inclusive na velhice, com o risco de desenvolver DCNT, como a obesidade, o diabetes mellitus e as doenças cardiovasculares (WHO, 2008).

Assim, enquanto que os idosos portugueses apresentaram-se como os mais sedentários dentre aqueles avaliados em vários países europeus (VOLKERT, 2005), os niponorteamericanos foram considerados o subgrupo mais ativo na sociedade norteamericana (WHITTEMORE et al, 1995). No Japão, a maioria dos idosos continua ativa por simplesmente acreditar que “faz bem à saúde”, enquanto que no Brasil o senso comum refere que o idoso deva diminuir substancialmente sua atividade física à medida que envelhece.

Dietas ricas em gordura saturada, carboidratos simples e sal, e/ou pobres em frutas e legumes/verduras, combinadas ao sedentarismo, são os maiores fatores de risco para DCNT, como obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, doença aterosclerótica cardiovascular, artrite e vários tipos de câncer (WHO, 1998). Evidências mostram que o baixo consumo de frutas e vegetais são responsáveis por aproximadamente 20% das doenças cardiovasculares globais (WHO, 2008).

Segundo a OMS, dietas saudáveis e práticas regulares e adequadas de atividades físicas são fatores primordiais na promoção e manutenção da saúde durante todo o curso da vida. Há evidências de que mudanças nos hábitos dietéticos, de atividades físicas e de

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controle do fumo reduzem o número de doenças crônicas, promovendo o aumento da longevidade (WHO, 2002).

Evidências mostram que uma transição epidemiológica tem ocorrido ou está ocorrendo em muitos países em desenvolvimento assim como naqueles desenvolvidos. A OPAS e a OMS têm documentado que as doenças circulatórias são a principal causa de morte na grande maioria dos países das Américas e que a maioria das mortes por doenças crônicas e degenerativas ocorrem numa idade relativamente mais avançada. (PAHO/WHO, 2002)

As mudanças demográficas e epidemiológicas ocorrem em ritmos diferentes na América Latina, dependendo dos níveis de fertilidade e mortalidade, bem como da distribuição dos fatores de risco que contribuem para o aparecimento das doenças, dos recursos disponíveis, do acesso aos serviços de saúde e da efetividade para responder a essas mudanças (PAHO, 1994).

Segundo Prata (1992), no Brasil a transição epidemiológica traz importantes considerações aos componentes sócio-econômicos, culturais, demográficos e ambientais. O autor ressalta ainda, que apesar de a transição epidemiológica ocorrer em todas as regiões brasileiras, pode-se observar uma desigualdade processual desta evolução. As regiões menos desenvolvidas (norte, nordeste e centro-oeste) apresentam taxas mais elevadas de doenças infecciosas e parasitárias, consideradas causas de morte em situações de subdesenvolvimento, pobreza e privação, e taxas mais baixas para doenças do aparelho circulatório e neoplasias do que as regiões mais desenvolvidas (sul e sudeste).

Dessa forma, as mudanças no modelo de desenvolvimento, no estilo de vida e no comportamento assumem importância para a saúde pública, colocando os pobres em desvantagem em relação aos ricos quanto ao risco das causas de morbi-mortalidade do atraso (doenças infecciosas) e da modernidade (doenças cardiovasculares e neoplasias) (PRATA, 1992).

Os processos de transição demográfica e epidemiológica determinam importantes desafios para o Brasil, especialmente aos sistemas de saúde e previdenciário, como: população envelhecendo rapidamente com aumento desproporcional das faixas etárias mais elevadas, predominância de mulheres, diminuição do tamanho das famílias, de pessoas disponíveis para o cuidado de idosos, aumento dos domicílios sob responsabilidade de idosos, seguridade social inadequada, aumento da prevalência das doenças crônicas, aumento do número de indivíduos com alta dependência e maiores gastos com saúde (BRASIL, 2003a).

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