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Este anexo centra-se na transição do regime cambial de Angola da paridade fixa para uma taxa de câmbio de equilíbrio do mercado. A transição, avaliada entre maio de 2016 e junho de 2020, envolveu três fases que redundaram numa flexibilidade cambial crescente. O presente anexo oferece

recomendações para a conclusão da reforma1.

A. Da taxa de câmbio fixa para a taxa de câmbio de equilíbrio do mercado

1. Taxa de câmbio fixa. Entre maio de 2016 e dezembro de 2017, o kwanza foi indexado ao

dólar dos EUA à taxa de Kz 165,9 por USD 1 (Figura 1 do texto). A defesa da paridade fixa num contexto de desequilíbrios externos persistentes, na sequência do declínio dos preços do petróleo em 2014, foi feita à custa da redução das reservas cambiais e de uma valorização real substancial. A consequente sobrevalorização cambial gerou a perda de competitividade externa e um diferencial considerável das taxas de câmbio oficial e paralela, chegando ao valor máximo de 255% em meados de maio de 2016. A paridade levou a uma repressão financeira nos mercados cambiais.

Figura 1 do texto. Angola: Cronologia dos regimes cambiais, 2008–20 Abril de 2008 a setembro de 2009: Regime estabilizado

Outubro de 2009 a outubro de 2010: Outro regime administrado Novembro de 2010 a setembro de 2014: Regime estabilizado

Setembro de 2014 a maio de 2015: Regime semelhante à paridade móvel Junho de 2015 a abril de 2016: Outro regime administrado

Maio de 2016 a dezembro de 2017: Ver ilustração abaixo

Fontes: AREAER e ilustração dos autores. Regime

estabilizado Regime semelhante à paridade móvel

Flutuação determinada pelo mercado Mai/2016–Dez/2017 Jan/2018–Out/2019 Nov/2019–Jun/2020

ANGOLA

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2. Paridade móvel (janeiro de 2018 a outubro de 2019)2. Confrontado com o rápido

esgotamento das reservas internacionais, em janeiro de 2018 o Banco Nacional de Angola (BNA) abandonou a paridade. Na prática, porém, excluindo dois dias de rápida depreciação – de 10,7% em 10 de janeiro e 11,6% uma semana mais tarde – ocorreu uma desvalorização que de facto caracteriza uma paridade móvel, à média de 0,2% por dia3. O BNA controlou a taxa de câmbio oficial impondo

limitações aos leilões de divisas. Estas incluíam a utilização de limites máximos de oferta nos leilões e restrições à participação dos bancos4. O BNA emitiu uma nota anunciando o fim das vendas

directas de divisas no final de setembro de 2018, acompanhado por uma remoção de jure da “lista prioritária” (ou seja, acesso privilegiado a divisas). Entre 2 de janeiro de 2018 e 10 de outubro de 2019, o kwanza depreciou-se 136% em relação ao dólar norte-americano em termos nominais, enquanto a depreciação da TCER foi de 40%. Como resultado i) o ritmo semanal de perda nas reservas internacionais diminuiu de USD 134 milhões durante o regime de paridade para

USD 39 milhões e ii) o diferencial (spread) das taxas de câmbio oficial e paralela diminuiu de 151% em dezembro de 2017 para 26% em meados de outubro de 2019. A liberalização também levou a uma redução do volume de procura por divisas não atendida (Figuras 2 e 3 do texto). Contudo, o progresso durante o período foi irregular, com retrocessos pontuais.

Figura 2 do texto. Angola: Volume de procura de ME não atendida, janeiro de 2018 a outubro de 2019

(Pedidos em mil milhões de USD)

Fontes: Autoridades angolanas e estimativas do corpo técnico do FMI.

2 Neste Anexo, estimamos a evolução cambial com base na cotação directa, ou seja, a quantidade de kwanzas por

dólar norte-americano. A maioria dos agentes económicos angolanos usa este método, segundo o qual o aumento da quantidade de kwanzas por USD denota uma depreciação. A única excepção a este método ocorre na parte do Anexo em que se discute a evolução da Taxa de Câmbio Efetiva Real (TCER) – nesse caso, usamos o método de cotação indirecta do FMI.

3 De 429 dias úteis, entre 18 de janeiro de 2018 e 10 de outubro de 2019, a depreciação diária do kwanza foi superior

a 2% apenas uma vez; em sete ocasiões foi superior a 1,5% e em 22 ocasiões a 1%.

4 O anúncio dos procedimentos a serem seguidos pelos bancos que desejam participar dos leilões de divisas foi feito

Figura 3 do texto. Angola: Principais Indicadores do Mercado Cambial, 2016–20

Fontes: Autoridades angolanas e estimativas do corpo técnico do FMI.

3. Taxa de câmbio flutuante. A partir de meados de outubro de 2019, o BNA removeu

restrições relevantes aos leilões de divisas em duas etapas. Primeiro eliminou o limite de +/- 2% na margem de revenda dos bancos em ofertas aceites. Em segundo lugar, eliminou o limite de 2% de revenda para além da média ponderada dos preços das ofertas vencedoras5. Inicialmente, isto

gerou uma rápida depreciação do kwanza, incluindo um breve período de correcção excessiva no final de 2019, seguido de uma correção temporária. Em outubro de 2019, o kwanza depreciou-se 31,4%. A partir de novembro, a taxa de depreciação mensal abrandou para um único dígito. O diferencial das taxas de câmbio oficial e paralela reduziu-se a um mínimo histórico de 6% em meados de abril de 2020. Em janeiro de 2020, o BNA abriu parcialmente a conta de capital e financeira. Eliminou o licenciamento para entradas de capital de investidores estrangeiros e saídas de capital ligadas a investimentos. O licenciamento também foi eliminado para a venda de

aplicações em títulos negociados num mercado regulamentado e de investimentos em que o comprador é um negociante de divisas não residente. Paralelamente, o BNA autorizou as companhias petrolíferas a venderem divisas diretamente a bancos comerciais que já eram seus parceiros empresariais, pondo fim a um longo período de monopólio do BNA como o único

fornecedor de divisas (frequentemente em nome do Tesouro). O BNA introduziu uma plataforma de negociação electrónica em 1 de abril de 2020, na qual todos os bancos estão obrigados a participar. A partir de junho de 2020, os leilões de divisas do BNA começaram a ser realizados nesta

plataforma. Todas as operações cambiais acima de 500 mil dólares devem ser realizadas na plataforma e é obrigatório registar todas as transações acima de 50 mil dólares, mesmo que não

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sejam realizadas na plataforma. No final de junho, as empresas diamantíferas também foram autorizadas a negociar na plataforma. A plataforma aumentou a transparência, dando um passo importante na transição para uma taxa de câmbio determinada pelo mercado.