• Nenhum resultado encontrado

3. O CONHECIMENTO ATRAVÉS DO CINEMA

3.1 Transmissões do Conhecimento

Transmissão no senso comum é apenas o ato ou efeito de passar algo, um objeto ou pensamento, mas para a educação essa ideia implica em atribuir e transferir costumes, pensamentos, valores, ideais e saberes (conhecimentos) de uma pessoa a outra.

Ao longo da história a humanidade se preocupou em desenvolver técnicas para registrar e guardar o que considerava como sendo de fundamental importância para a conservação e avanço da humanidade.

A transmissão de saberes é um fator importante para a humanização, socialização e evolução do indivíduo. O ensino refere-se a esta transmissão de conhecimentos acumulados. Não há como formar alguém sem informá-lo. O que acontece frequentemente é que a informação muitas vezes dita como neutra mascara um conteúdo ideológico, oriundo dos costumes, pensamentos e do ambiente em que foi criado aquele que é responsável pela transmissão destes conhecimentos.

O ser humano sempre se preocupou, ao longo de toda a história, em desenvolver procedimentos e técnicas com a finalidade de analisar, registrar, guardar e recuperar informações. A organização do conhecimento e a sua representação tornaram-se cada vez mais urgente, à medida que o volume de informação aumentou. Atualmente, essa preocupação tem-se tornado, cada vez mais, um grande desafio, já que as inúmeras e profundas mudanças ocorridas no contexto da comunicação mundial e nas áreas de ciência e tecnologia causaram um aumento extraordinário na produção e intercâmbio da informação nas diversas áreas do conhecimento. (LIMA, 2007, p.276)

Partindo desse princípio podemos imaginar que estes saberes ou pensamentos transitam por diferentes veículos, não mais através somente das palavras e escritos, elas viajam pelo ambiente em que estamos inseridos, tais como, televisão, internet, teatro, museus, cinema, fotos, músicas, conversas informais, jornais, revistas e também as transmissões orais. Como podemos perceber está última não está mais sozinha no quesito transmissão. “O avanço tecnológico permitiu não somente acelerar a geração e a transmissão do conhecimento, como, de modo similar a uma epidemia, atingir (e possivelmente de maneira proporcional, contagiar), cada vez mais, maior número de pessoas”. (RASO, 2001, p.175)

Os membros das sociedades orais possuíam apenas os recursos de sua memória para, ao longo do tempo, reter e transmitir as representações que lhes eram convenientes de perdurar. Para isso, utilizavam recursos como a dramatização, personalização e artifícios narrativos diversos, a fim de que as representações tivessem mais chances de sobreviver em um ambiente composto quase unicamente por memórias humanas. [...] A escrita veio permitir a atualização do conhecimento acumulado, de fatos presenciados ou relatos de pessoas que viveram em épocas ou lugares diferentes. Com ela, o discurso pôde se desvincular da situação particular em que foi produzido, não mais precisando da presença do sujeito social para a reprodução de uma

experiência particular. Se o seu registro escrito “fala por si mesmo” sofre, por outro lado, interferência de quem o “consulta”. (LIMA, 2007, p. 276- 278)

O que nos põe a questionar se as formas atuais de ensino, as aulas propriamente ditas não estão defasadas em relação aos avanços tecnológicos da civilização. As aulas continuam sendo explicativas e orais, cansativas e desestimulantes para as crianças, não prendem o olhar, não atraem o raciocínio, nem a imaginação.

O cinema é constituído por imagem em movimento, as quais estão relacionadas diretamente com o cotidiano de cada indivíduo, ou seja, com a cultura, com a identidade e tudo aquilo que ele representa na sociedade. É importante trabalhar o cinema e a linguagem cinematográfica no cotidiano escolar com crianças e adolescentes, seja em ambiente formal ou não formal de ensino, porque eles precisam aprender, entre outros benefícios, o domínio da linguagem cinematográfica para que possam transitar com facilidade nos diferentes campos sociais. O cinema na educação tem valor importante no processo de socialização. (FARIA, [entre 2000 e 2016], p.2)

As crianças na atualidade se nasceram brincando em tablets e vídeo- games rápidos que obrigam a raciocínios velozes veem televisão, internet e filmes, movimentos em todos os lugares e a todo o momento, fora da escola.

O poder de preservação do pensamento registrado cresceu enormemente com o surgimento dos primeiros computadores na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945, permitindo uma grande velocidade na comunicação e a simulação do conteúdo através da demonstração visual. Essa revolução não se dá apenas no processo de transmissão da mensagem, mas também no modo de recepção e interpretação que passou a ocorrer através da mobilidade e direcionalidade das relações de sentido. Hoje, na realidade, tanto das nossas relações interpessoais quanto nas relações homem/máquina, pode-se constatar a crescente dependência do meio eletrônico. (LIMA, 2007, p.279)

Ou seja, não está na hora de a própria ideia de transmissão de conhecimento dentro de a escola ser revisitada e ganhar novos olhares?

Se o conhecimento é composto pelo relacionamento com o ambiente, as informações e experiências podemos então caracterizar o cinema como um meio para a aquisição desses elementos, neste caso ele apresenta os requisitos necessários a um veículo do conhecimento para a transmissão de saberes. “Para mim, o cinema que “educa” é o cinema que faz pensar, não só o cinema, mas as mais variadas experiências e questões que coloca em foco. Ou seja, a questão não é “passar conteúdos”, mas provocar a reflexão, questionar o que, sendo um constructo que tem história, é tomado como natureza, dado inquestionável”. (XAVIER, 2008, p. 15)

Comenius, portanto, não apenas trouxe as imagens para a didática e para a educação, como também soube reconhecer que as imagens educam, fazendo perceber que a

composição das imagens tinha um valor didático que correspondia a um valor estético e, portanto, político. A obra de Comenius nos ensina ou talvez nos faça lembrar que a imagem é um conhecimento a ser compreendido e interpretado e não apenas uma ilustração ou exemplo a serviço de um conteúdo a ser ensinado. (MIRANDA; COPPOLA; RIGOTTI, 2005, p.2)

Ou seja, o cinema transmite, faz refletir e provoca o diálogo e consequentemente a reflexão.

Transmitir conhecimentos é uma via de mão dupla, onde algo é passado e em troca se recebe algo de volta, é mais que escrever em folhas em branco, é ver, olhar e compreender o outro, são diálogos e encontros de caminhos e respostas, juntos de novas formas e jeitos construindo dia a dia o conhecimento. Sendo, assim, o cinema transmite e constrói novos conhecimentos a cada cena de seus filmes.