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3.2 Adaptações necessárias para aplicação do Método IDEA no Estado do Ceará

3.2.19 Transmissibilidade (Indicador C5)

Este é um indicador curioso pelo fato de que nenhum dos trabalhos utilizando o IDEA no Brasil conseguiu adaptar o mesmo, alegando incompatibilidade com o contexto brasileiro, especialmente nos estados de utilização (CUVILLIER, 2006; JESUS, 2003; MELO; CÂNDIDO, 2013; VIEIRA, 2005).

Independente das confusões de traduções ou interpretação de tal conceito, a transmissibilidade se refere ao capital imobilizado ou operacional imobilizado utilizado na atividade e/ou unidade de produção agrícola (BRIQUEL et al., 2001; VILAIN et al., 2008).

Segundo Vilain et al. (2008, p. 139, tradução nossa):

O indicador de transmissibilidade econômica aborda um aspecto da sustentabilidade agrícola que é frequentemente enfrentado quando um empreendimento agrícola termina. Para que se perdure através da sucessão agrícola, a empresa agrícola deve permanecer “humana” e o valor de seu capital imobilizado não deve dissuadir potenciais compradores [em casos de venda para terceiros, por exemplo] [...]. Ainda de acordo com Vilain et al. (2008, p. 60, tradução nossa):

A transmissibilidade constitui-se como um elemento de análise a longo prazo. De fato, a sustentabilidade dos sistemas agrícolas também vem de sua capacidade de perdurar de uma geração à outra. Em caso de sucessão o montante do capital necessário para o funcionamento ou retomada da exploração pode levar finalmente ao seu desmantelamento.

Assim, um alto capital imobilizado constitui-se como um obstáculo à sustentabilidade (BRIQUEL et al., 2001; VILAIN et al., 2008).

Como capital ou ativo imobilizado entende-se todo item tangível que é mantido na produção e se utiliza por mais de um período produtivo, tais como: terrenos e edifícios, máquinas e implementos agrícolas, galpões, alojamentos, cercas externas, açudes, barragens, canais, sistemas de irrigação etc. (ANTUNES; ANGEL, 1996; LEITE; PADOVEZE; BENEDICTO, 2016).

A adaptação se deu principalmente nos parâmetros de capital imobilizados utilizados, que originalmente variam de 80.000 € (pontuação máxima e margem mínima) a valores maiores que 500.000 € (pontuação 0 e margem máxima), os itens para definição da pontuação possuem margens (intervalos) entre, 10.000, 20.000 €, 40.000 €, 100.000 € e 150.000 € (Ver Anexo D). Referente ao menor valor (80.000 €) este valor corresponde a 62,5 salários mínimos na França, com base no valor de referência de 2007 de 1280 €/mês (DIEESE, 2010). A partir desse valor iniciou-se a adaptação para o real. Vale salientar que este valor (80.000 €) corresponde a aproximadamente 32 rendas médias agropecuárias francesas, com base no ano de 2017 e projeção de crescimento em 2018 (2.530,00 €/mês) (AGRESTE, 2018; INSEE, 2018), sendo este valor mais adequado para adaptação da realidade local de aplicação, visto que devido à grande heterogeneidade da agricultura familiar temos, em alguns estados, uma agricultura familiar com alto grau de capitalização. Dessa forma, a utilização de parâmetros com base no salário mínimo brasileiro estaríamos sub ou superestimando este valor. Todavia, no presente trabalho não se optou por utilizar as rendas médias da agricultura familiar, pois o último resultado é do censo agropecuário corresponde ao ano de 2006, visto que o do ano de 2017 ainda não teve seus resultados completos publicados, sendo aqui utilizado como base o salário mínimo nacional.

Dessa forma, todos os parâmetros foram transformados a partir do salário mínimo brasileiro. O cálculo da Transmissibilidade (T) está exposto na fórmula abaixo:

T = Capital Operacional imobilizado / UTH não assalariada

Onde, Capital Operacional imobilizado = ao somatório do capital imobilizado na unidade de produção agrícola; UTH não assalariada = UTH não assalariada ou familiar.

A UTH é a Unidade de Trabalho Homem e equivale a 300 dias de trabalho de 8 horas diárias (LIMA et al., 1995; WAGNER et al., 2010). Segundo Lima et al. (1995) a UTH pode ser convertida conforme os seguintes critérios: a) pessoas com 7 a 13 anos = 0,50 UTH; b) pessoas com 14 a 17 anos = 0,65 UTH; c) pessoas com 18 a 59 anos = 1,0 UTH; d) pessoas com mais de 60 anos = 0,75 UTH.

Um importante detalhe exposto por Vilain et al. (2008) é que o valor de venda da casa ou imóvel principal da propriedade agrícola entra no montante em caso da impossibilidade de venda da propriedade sem a venda da casa, ou vice-versa. Em casos em que a casa do agricultor fica próximo à unidade de produção ou externa a mesma, o imóvel dos agricultores não entra no somatório. Outro fator importante para o cálculo do capital imobilizado é o de depreciação dos bens ao longo do tempo, sendo necessário a construção de um inventário básico com itens considerados relevantes em termos de capital. No presente estudo o cálculo da depreciação (D) se deu por método linear baseado em Hoffmann et al. (1992), conforme descrito abaixo:

D = (Vi - Vr) / n

Onde, Vi = valor ou custo inicial; Vr = valor residual; n = vida útil.

Abaixo segue Tabela 8 com um exemplo do cálculo do capital imobilizado em uma das propriedades em que foi aplicada o método.

Tabela 8 – Exemplo de inventário básico para o cálculo do capital imobilizado na unidade de produção agrícola.

Item Preço de compra Vida útil (anos)(1) Aquisição/construção Ano de Ano de análise Valor Residual(1) Poço profundo I R$ 12.000,00 40 2013 2019 0,2 Poço profundo II R$ 15.000,00 40 2013 2019 0,2 Tanque para Irrigação R$ 2.000,00 2 2017 2019 0,2 Tobata R$ 3.600,00 10 2016 2019 0,2 Carroça R$ 3.700,00 5 2017 2019 0,2 Forrageira R$ 1.600,00 5 2017 2019 0,25 Sistema de Irrigação R$ 9.500,00 4 2017 2019 0,2 Valor Residual (R$) Depreciação

(R$/ano) Valor Atual

R$ 2.400,00 R$ 240,00 R$ 10.560,00 R$ 3.000,00 R$ 300,00 R$ 13.200,00 R$ 400,00 R$ 800,00 R$ 400,00 R$ 720,00 R$ 288,00 R$ 2.736,00 R$ 740,00 R$ 592,00 R$ 2.516,00

R$ 400,00 R$ 240,00 R$ 1.120,00 R$ 1.900,00 R$ 1.900,00 R$ 5.700,00

Total Capital imobilizado

R$ 26.896,00

Fonte: dados da pesquisa; Conab (2010)(1).

Outra questão importante sobre o respectivo indicador é que o mesmo pode nos fornece uma análise acerca do nível de capitalização e tecnológico da unidade produtiva, além de permitir avaliar a capacidade de investimento produtivo. De modo a possibilitar comparações interessante com os outros indicadores/componentes econômicos e socioambientais, e demais unidades produtivas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados relativos à avaliação da sustentabilidade dos agroecossistemas em transição ecológica, será feita de forma agregada, considerando-se os valores médios dos agricultores familiares inseridos nos dois agroecossistemas estudados: G1 (localizado no município de Capistrano – CE e com maior tempo na dinâmica da empresa) e G2 (localizado no município de Trairi – CE e com maior tempo na dinâmica da empresa). A opção por esse formato teve como objetivo tornar a análise mais objetiva e comparável. Ressalta-se que uma certa homogeneidade verificada internamente em parte de cada grupo, ou seja, a semelhança entre os agricultores entrevistados em cada grupo, reforça que a média pode ser uma boa representação da realidade estudada.

4.1 Caracterização e avaliação dos agroecossistemas em transição agroecológica quanto