• Nenhum resultado encontrado

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS

6.4. CAMINHOS PARA MELHOR APROVEITAMENTO DAS

6.4.1. Transparência e envolvimento da comunidade

Os próprios gestores da Universidade entendem que a participação nos processos de planejamento não ocorre de forma ideal, em grande parte, em função da inexistência de mecanismos para envolvimento da comunidade no processo de gestão, conforme abaixo se observa.

Tem pessoas na Universidade que não se manifestaram ainda. Não tiveram

conhecimento. Poderiam contribuir muito com o planejamento. Não foram abordados. Ainda não somos capazes de atingi-los. (E10)

A falta de transparência para com os processos decisórios fica clara quando se desenvolve um processo tão amplo quanto um PDI. Os desafios encontrados durante às discussões são facilmente associados a uma atuação pouco sinérgica entre as unidades autônomas da Universidade.

O processo de planejamento demonstra que existe uma falta de sinergia em

nossa atuação. Em função disso, o processo de planejamento se torna um

desafio maior. Mesmo assim, ao elaborar um trabalho dessa natureza,

ficam muito claras essas questões. (E06)

Em trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Guedes e Scherer (2015) concluiu que os gestores, ao contrário da UFV, têm buscado ações para viabilizarem a integração entre instituição e comunidade universitária, tanto por meios digitais quanto presenciais e, ainda, que a instituição se mostra disposta a obter a maior participação possível da comunidade universitária.

Sobre a UFV, o relato de alguns entrevistados revela que o envolvimento da comunidade universitária nos processos internos, questões burocráticas e decisões estratégicas não acontece de maneira adequada. O interesse da comunidade no funcionamento da máquina também não ocorre de forma a suprir essa falta de transparência da administração superior.

Fui professor, chefe de departamento, depois diretor e agora Pró-Reitor. Me

impressiona o quanto eu não sabia do funcionamento. Quando eu

comparo o que eu pensava quando era só professor, a diferença é muito grande. Quando eu era chefe de departamento, eu falava assim: eu preciso disso. Daí um pouco, aquele negócio aparecia. De onde saiu, como foi

comprado, o trabalho que deu, quem deu as especificações, quem fez o leilão… eu não queria nem saber. Só sabia que eu pedia e daí um tempo, o

negócio chegava. (E01)

Assim, naturalmente, a compreensão do processo de planejamento, seus pormenores, benefícios e ineficiências também ficam comprometidos. Esse fato ainda é

agravado pelo fato de a grande maioria dos cargos de direção serem ocupados por professores, que se encontram imersos em seu ambiente acadêmico até se depararem com a obrigação de gerirem unidades. Esse tema será abordado com maior profundidade no item 6.4.7.

Antes de assumir a chefia de departamento, meu conhecimento e a visão de

que o planejamento era importante pra instituição era zero. Quando você

está no seu gabinete, atendendo aluno, fazendo pesquisa e dando aulas, você fica com uma visão só do seu „mundinho‟. Você não enxerga além do seu departamento. Quando vira chefe de departamento, você começa a conhecer outros departamentos do centro. E aí começa a entender a importância do

planejamento… pra conseguir executar ações que são importantes pro seu

departamento crescer. Então, a conscientização sobre a importância do

planejamento está associada aos cargos que vamos ocupando. (E04)

Esse baixo envolvimento da comunidade se manifesta de formas pontuais. Ainda que o gestor atual tenha sido “preparado” pelo anterior, não se observa um foco gerencial no “treinamento”. O novo ocupante do cargo aparenta ter sido muito mais bem orientado para as tarefas rotineiras do que para a gestão estratégica da unidade.

Mesmo estando muito próxima do gestor anterior e tendo sido envolvida em tudo, algumas coisas eu não tinha conhecimento. Esse tema

(planejamento), PDI… eu não tinha conhecimento. Só tomei

conhecimento quando fomos convocados pra desenvolver o trabalho. (E12)

De fato, o que se observa é que inexiste um ambiente favorável à

institucionalização do planejamento. A devida transparência e o envolvimento da

comunidade universitária em processos-chave da gestão universitária seriam pontos cruciais para a absorção da dimensão dos processos de planejamento como fundamentais para o desenvolvimento da instituição.

A respeito desse ponto, Silva (2012) aproxima os processos orçamentários dos setores público e privado, entendendo que, nos primeiros, também precisa existir vinculação aos elementos do planejamento – objetivos e metas, dentre outros. A discussão do orçamento, de fato, foi citada como um ponto pouco discutido, mas que teria reflexos importantíssimos no pensar da instituição.

No PDI depositamos nossos anseios, desejos, expectativas. Só que tudo passa pela discussão orçamentária. Se esse orçamento não é discutido

apropriadamente, dificilmente os planos vão ter sucesso. Se você não faz uma discussão de orçamento, há uma desconexão entre os desejos e as possibilidades. Tudo isso está conectado. (E05)

Entretanto, alguns veem como positiva e desejável a construção de um cenário favorável à institucionalização do planejamento, de forma que o mesmo estivesse

enraizado nos processos da instituição e não visto como mais uma atribuição de “tanto em tanto” tempo.

Precisamos desenvolver a arte do planejamento como prática. Precisamos

atingir um „estado de planejamento‟ que seja extremamente natural. Tornar esse processo „leve‟ na produção da organização. Associar a tomada de

decisão ao processo de planejamento. O processo precisa ser natural, fácil. Temos que ter criatividade, partir do que vem sendo executado, enxergar os pontos estratégicos e conseguir uma arena de negociação, discussão, provocação pra que possamos definir as linhas de desenvolvimento. (E06)

E06 traz à discussão o conceito da Estratégia como Prática. Segundo Jarzabkowski et al. (2007, apud ANDRADE et al., 2016), essa perspectiva considera que o fenômeno da estratégia organizacional não é mais algo que as organizações possuem, mas sim aquilo que as pessoas fazem. Jonhson et al. (2007, apud ANDRADE

et al., 2016) ainda afirma que a Estratégica como Prática trouxe importantes avanços

para os estudos de estratégia ao procurar compreender que são as pessoas que realmente constroem e reproduzem estratégias. E06 entende que esse conceito precisa ser absorvido pela UFV no sentido da institucionalização total da prática do planejamento.

Sobretudo no setor público, onde o orçamento advém das contribuições da população, o ideal de transparência é ainda mais importante. Medidas de adoção dessa transparência, hoje não observada na UFV, teriam potencial para levar a administração a ser reconhecidamente profissional e contribuir para o processo de isomorfismo

normativo definido por DiMaggio e Powel (1983).

Para que isso aconteça, é importante ainda que a própria comunidade se mobilize e, no modelo “bottom-up”, organize suas demandas a partir das bases, trazendo as mesmas às instâncias superiores e caracterizando diálogo contínuo entre as esferas operacional, tática e estratégica, conforme ilustrado por Oliveira (2008).

Poderia ser desenvolvido para esse fim um calendário de participação, quando houvesse definições de impacto em toda a instituição, como orçamento e planejamento institucional. Respeitando esse calendário, as lideranças levariam às suas bases as discussões apontadas pelo foro superior. As contribuições poderiam ser apreciadas pelos Conselhos e as deliberações apresentariam caráter de representatividade e percepção de participação democrática.

O próximo ponto está também relacionado ao envolvimento da comunidade, porém, especificamente, no tocante à descentralização das decisões, vista como de fundamental importância na gestão universitária.