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2.2. FATORES QUE AFETAM O BEM-ESTAR DE FRANGOS DE CORTE DURANTE AS OPERAÇÕES PRÉ-ABATE

2.2.2. Transporte

Diferentemente de outros países de clima ameno, o transporte dos frangos de corte realizado no Brasil é realizado em caminhões tipo truck que possuem carrocerias totalmente abertas. Desse modo, as aves ficam sujeitas às intempéries climáticas ao longo do percurso entre granja e abatedouro.

2.2.2.1. Densidade e conforto térmico

Durante o transporte, os frangos precisam ter espaço para deitar livremente sem amontoarem uns nos outros e, as caixas devem estar adequadamente higienizadas e em bom estado, para evitar lesões (UBA, 2008). Se a lotação das caixas for elevada, pouco adiantou um manejo adequado durante a criação das aves até o carregamento (ROSA; MARCOLIN; WESSHEIMEIR, 2002).

Por provocar aumento da ofegação nas aves, altas densidades durante o transporte influenciam os mecanismos de trocas térmicas, que vão ser prejudicados pela reduzida renovação do ar no pequeno espaço disponível das caixas e aumento da umidade do ar do microclima da carga (KETTLEWELL, 1989; MITCHELL; KETTLEWELL, 1994).

As partes central e traseira da carga dos caminhões são as mais problemáticas em termos de temperatura e umidade relativa do ar – apresentando valores elevados tanto no inverno como no verão – de modo que são as regiões mais propícias a ocasionar perdas. Entretanto, vale ressaltar que é durante o período da tarde que ocorrem as maiores taxas de mortalidade à chegada ao abatedouro (também chamada de Death On Arrival – DOA) e, em contrapartida, durante a noite – no inverno – as aves podem sofrer de estresse térmico pelo frio (MITCHELL; KETTLEWELL, 1998; BARBOSA FILHO et al., 2009; BARBOSA FILHO et al., 2014).

Como as aves são animais dotados de poucas glândulas sudoríparas, o principal fator que afeta a dissipação de calor é através do ar expelido pela ave, através da respiração. A ofegação é uma resposta fisiológica acionada quando os animais estão inseridos em locais de altas temperaturas, porém, a eficiência da evaporação depende do teor de umidade do ar (ABREU; ABREU, 2011). Desse modo, a quantidade de calor perdida pelos frangos de corte vai depender da diferença entre a pressão de vapor aquoso na superfície de evaporação do ar, bem como da velocidade do ar em movimento sobre a superfície úmida. Assim, em condições de alta temperatura e umidade as trocas térmicas por evaporação são comprometidas.

O molhamento das aves ainda na granja é uma das práticas adotadas antes do caminhão partir para o transporte, porém nem sempre convenientes em função do clima local e da estação do ano. Por outro lado, a experiência obtida por meio das observações de rotina em muitas integradoras tem mostrado que ao invés de propiciar melhorias no

conforto térmico das aves, acarreta prejuízos, pois durante o transporte em função das condições em que ele ocorre, as aves não recebem ventilação adequada que favoreçam as trocas de calor latente, ou seja, por evaporação.

Desse modo, a escolha do horário mais adequado para o transporte das aves e os demais cuidados com a densidade e qualidade das caixas de transporte são muito mais importantes do que se pode pensar a princípio.

2.2.2.2. Impactos, distância percorrida e duração

A duração do transporte, distância percorrida, impactos sofridos durante o percurso e a qualidade das estradas estão fortemente relacionadas ao surgimento de lesões em frangos de corte.

Os impactos, solavancos e frenagens durante o transporte são fatores, dentre todo o grande conjunto de estressores existentes na avicultura, que afetam o bem-estar e a qualidade da carcaça de frangos de corte, de pintos de um dia e de ovos férteis. Em relação ao transporte de ovos férteis, Nazareno et al. (2013) constataram que a estrada de asfalto exerce vibração maior na carga do que a estrada de terra devido ao fato de o motorista dirigir com maior cuidado na estrada de terra, além do que no asfalto a velocidade adquirida é superior, fazendo com que a carroceria trepide mais.

Dentro desse contexto, Walber e Tamagna (2010) explicam que durante o transporte atuam três diferentes tipos de forças. São elas: as “forças horizontais”, que derivam das curvas de velocidades médias a altas, das mudanças abruptas de marcha, quando um corpo se desloca lateralmente; as “forças verticais”, que fazem um corpo se deslocar de baixo para cima, originados dos movimentos normais da suspensão de um veículo e as “forças longitudinais”, quando o corpo desloca-se para frente e para trás, derivadas da frenagem normal do veículo ou devido aos desníveis da estrada.

Pesquisas demonstraram que frangos de corte preferem estar em ambientes termicamente estressantes (temperatura de 40°C e 21% de umidade relativa) do que em ambientes com vibração em frequência de 2,00 Hz e aceleração de 1,00 m.s-², demonstrando a aversão desses animais a esse tipo de estressor (ABEYESINGHE et al., 2001). Algum tempo depois, entretanto, foi demonstrado o contrário, indicando que os frangos não evitam a vibração, mas significativamente evitam o estresse térmico (MACCALUIM et al.,

2003). Apesar dos resultados que se contradizem, é notório que esses fatores exercem efeitos negativos sobre o comportamento e BEA de frangos de corte.

Em termos de distância percorrida, foi demonstrado que a incidência de contusões de peito é maior conforme aumenta o tempo de transporte da granja ao abatedouro, devido ao contato e ao atrito com o plástico rígido da caixa, o que ocorre de maneira similar com o número de contusões nas asas, que também é maior conforme há um aumento da densidade de frangos por caixa (CARLYLE; GUISE; COOK, 1997). O mesmo foi observado por Costa, Prata e Ferreira (2007) que encontraram um maior número de aves lesionadas procedentes de granjas de distância considerada longe (250 km) do abatedouro.

Entretanto, é preciso ressaltar que nem sempre maiores distâncias resultam em piores condições de BEA. Isto pode ser observado na pesquisa de Barbosa Filho et al. (2014), em que os autores encontraram maior taxa de mortalidade em carregamentos transportados por menores distâncias no período da tarde quando comparados com carregamentos de longas distâncias no período da manhã e da noite no verão, demonstrando que a temperatura, umidade e estação do ano exercem grande influência nessa dinâmica.

Em relação à duração do transporte, Jacobs et al. (2016a) observam que o aumento da duração está associada com o aumento da sujidade da plumagem, isso porque os animais eliminam suas excretas e permanecem em contato com elas nas caixas por maior tempo antes de serem abatidas. Esses autores também constatam aumento da sujidade com o aumento da velocidade média do vento e menores temperaturas.