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Transtorno do Espectro Autista: definição, sintomas, barreiras de aprendizagem,

CAPÍTULO 2. CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO

2.1 Transtorno do Espectro Autista: definição, sintomas, barreiras de aprendizagem,

O Transtorno do Espectro Autista refere a um distúrbio de ordem neurológica, caracterizado por um conjunto de alterações comportamentais com início precoce, curso crônico e impacto certo, porém variável, em diversas áreas do desenvolvimento humano. O transtorno afeta o desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida (DUARTE; SILVA; VELLOSO, 2018, p. 5).

Normalmente, os primeiros sintomas se apresentam até os 03 (três) primeiros anos de idade. Algumas crianças apresentam as manifestações sintomáticas desde o nascimento, outras passam por uma regressão comportamental entre os 02 (dois) a 03 (três) anos de idade, que ocasiona a perda de habilidades aprendidas. Trata-se de um distúrbio complexo que pode estar associado a sintomas e características do domínio social e cognitivo, que provocam anormalidades sensoriais. Os principais sintomas do transtorno referem-se a persistentes: “(1) déficits de interações sociais e de comunicação e (2) comportamentos repetitivos e interesses restritos” (BORBA; BARROS, 2018, p. 4). Quanto aos déficits de interações sociais e de comunicação, identifica-se que as pessoas com autismo apresentam

[...] dificuldades em estabelecer ou manter conversas e interações, problemas para compartilhar com outras pessoas a atenção a alguma coisa ou as emoções. Pode envolver grande falta de interesse por outros indivíduos, dificuldades em brincar de imaginar ou fingir, de se engajar em atividades consideradas apropriadas para crianças da mesma idade que têm desenvolvimento típico. Apresentam, em geral, problemas de comunicação não verbal o que pode incluir falta de contato visual e incapacidade de entender sinais não verbais de outras pessoas, tais como: expressão facial, tons de voz e gestos (BORBA; BARROS, 2018, p. 5).

38 Além desses aspectos sintomáticos, as pessoas com autismo, geralmente, tendem a ter resistência ao toque, ou seja, não tocam ou não aceitam serem tocados por outras pessoas. Isso ocorre devido apresentarem disfunções sensoriais, como hipo ou hipersensibilidade aos eventos ambientais. De acordo com Duarte, Silva e Velloso (2018, p. 5) “estudos indicam a presença de alterações sensoriais em 70% a 95% dos indivíduos” com autismo.

Geralmente esses sujeitos tendem a se isolar e utilizar as pessoas apenas como instrumento para conseguir o que precisam, dependendo do grau de comprometimento que possuem, podem apresentar atrasos na fala, ou até mesmo, nem conseguir verbalizar.

No que se refere aos comportamentos repetitivos e restritivos, tendem a variar de acordo com a intensidade, frequência e forma que a pessoa com autismo reage às situações. Podem piorar quando esses sujeitos são contrariados, excitados ou isolados. Normalmente as pessoas com autismo apresentam comportamentos de

[...] apego extremo a rotinas e demonstram resistência quando esta precisa ser modificada; fala ou movimentos repetitivos; atenção focada a somente alguma parte de um objeto, dificuldade de coordenação motora fina ou grossa; interesses intensos e restritivos por alguma coisa e, ainda, alterações na percepção de estímulos sensoriais, podendo ser sensíveis demais ou de menos a estímulos como ruídos no ambiente (como barulho de liquidificadores, por exemplo), odores, sabores, ou ao toque de outras pessoas na sua pele. Podem também ser muito seletivos à textura dos alimentos (BORBA; BARROS, 2018, p. 5).

A Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program (VB-MAPP), guia e protocolo de avaliação comportamental para crianças com autismo ou com atrasos similares, apresenta “[...] 24 tipos de comportamento que frequentemente atrapalham ou impedem o aprendizado [desses sujeitos], como por exemplo, presença de comportamentos agressivos, auto estimulatórios e dificuldade para alcançar generalização” (SUNDBERG, 2008, p. 17). O Quadro 06 apresenta as 24 (vinte quatro) barreiras de aprendizagem que as pessoas com autismo podem enfrentar no ambiente escolar ou na sua vida diária.

Quadro 06: As 24 barreiras de aprendizagem das pessoas com autismo

BARREIRAS DE APRENDIZAGEM

1. Comportamentos problema 13. Rastreamento comprometido 2. Falta de controle instrucional 14. Descriminação condicional falha 3. Mandos comprometidos 15. Falha em generalizar

39 4. Tatos comprometidos 16. Motivadores fracos

5. Ecóicos comprometidos 17. Custo da resposta x Oms [operação motivadora]

6. Imitação comprometida 18. Dependente de reforçamento 7. Emparelhamento com o Modelo

comprometido

19. Auto-estimulação

8. Habilidades de ouvinte comprometidas

20. Dificuldades articulatórias

9. Intraverbais comprometidos 21. Comportamentos obsessivos compulsivo

10. Habilidades sociais comprometidas 22. Hiperatividade

11. Dependente de dica 23. Falha em manter contato visual 12. Scrolling (advinhação) 24. Defesa sensorial

Fonte: Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program/VB-MAPP (SUNDBERG, 2008, p. 18).

As barreiras de aprendizagem apresentadas por Sundberger (2008) são reforçadas com algumas identificadas por Borba e Barros (2018), quando, por exemplo, confirmam que as pessoas com autismo possuem dificuldades em desenvolver habilidades de imitação motora e vocal, em nomear, identificar ou caracterizar objetos, em seguir instruções ou atender a ordens e orientações, saber solicitar por aquilo que necessitam, e estabelecer diálogos (BORBA; BARROS, 2018).

As dificuldades no desenvolvimento de habilidades apontadas por Borba e Barros (2018) são descritas por Skinner como “operantes verbais” ou unidades funcionais da linguagem e, cada uma possui “[...] uma função diferente. Skinner acreditava que a unidade funcional da linguagem não era a palavra em si mesma, mas a combinação da palavra e das circunstâncias sob as quais a palavra é apresentada” (LEAR, 2004, p. 61). Skinner identificou vários operantes verbais, dentre eles: o ecóico (repetir o que foi ouvido), a imitação motora (copiar os movimentos de alguém), o tato (nomear ou identificar objetos, ações, propriedades, etc.), o mando (solicitar por itens), linguagem receptiva (seguir instruções ou atender ao pedido de outras pessoas), a intraverbal (responder a perguntas), textual (ler palavras em voz alta) e o transcritivo (escrever e soletrar palavras) (LEAR, 2004).

40 A identificação dos operantes verbais que se configuram como barreiras de aprendizagem para o aluno com autismo, permite que o professor elabore estratégias de intervenção que ajudem a diminuir ou superar os problemas de aprendizagem e resultem em um aprendizado efetivo. Em razão disso, Camargo e Rispoli (2013) asseveram que a proposta de ensino para esses alunos deve buscar o desenvolvimento de habilidades escolares, de linguagem, sociais, de cuidados pessoais, motoras e de brincar que tenham intrínsecos os operantes verbais prejudicados.

Diante da ampla variedade das barreiras de aprendizagem bem como do quadro sintomático que caracteriza o Transtorno do Espectro Autista, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V (APA, 2014) passou a utilizar o termo “espectro” na sua nomenclatura para indicar que o autismo se manifesta em graus ou níveis diferentes para cada sujeito. Nesse sentido, existem dificuldades maiores ou menores para o indivíduo dependendo do grau do transtorno manifestado. O DSM V (APA, 2014) designa para cada caso de autismo a classificação quanto ao nível de gravidade, podendo ser:

 Nível 1 – crianças bastante funcionais que necessitam de pouca intervenção;  Nível 2 – crianças relativamente funcionais que necessitam de muita intervenção;

 Nível 3 – crianças muito pouco funcionais apesar de muita intervenção (GADIA; ROTTA, 2016, p. 373).

Os níveis de gravidade estão baseados no grau de comprometimento e/ou prejuízos que o sujeito possui na interação social, comportamento e comunicação.

A datar da sua descoberta, em 1908, pelo psiquiatra suíço Bleuler, as causas do autismo têm sido motivo de inúmeras discussões e controvérsias, mas, o que se sabe é que sua origem é determinada por fatores multicausais, visto que não há respostas definitivas ou suficientes que o determine (SCHWARTZMAN, 2011). Identifica-se a partir de Guedes (2015, p. 303) que na literatura científica

[...] existem, por um lado, hipóteses de causas psicoafetivas, em que o autismo decorreria de impasses na constituição subjetiva do sujeito (Campanário & Pinto, 2011; Rabello, 2004) ou de perturbações profundas na relação da criança com o meio (Hall, Nicholson, & Adilof, 2006; Volk, Lurmann, Penfold, Hertz- Picciotto, & McConnell, 2013). Por outro lado, existem hipóteses de causas neurobiológicas ou geneticamente determinadas, as quais priorizam proposições em que o autismo seria ocasionado por condições genéticas (Mecca et al., 2011), anormalidades cerebrais (Bolton, Griffiths, & Pickles, 2002), alterações

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neuronais (Kooten et al., 2008; Wang et al., 2009) ou translocações cromossômicas (Tarelho & Assumpção, 2007).

Tais vertentes científicas, muitas contraditórias entre si, formam a complexa conjuntura na qual o autismo está inserido, contribuindo para que muitas questões continuem na obscuridade.

No que se refere ao diagnóstico das pessoas com autismo as discussões são menos complexas, uma vez que na atual edição do Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais - DSM V (APA, 2014) são apresentados critérios padrões que facilitam na identificação e diagnóstico das pessoas que possuem este transtorno. Para ser diagnosticado, o indivíduo deve apresentar sinais que iniciaram nos primeiros anos de vida e que, desde então, comprometem a sua capacidade de se relacionar com o ambiente em que vive.

É necessário destacar que a manifestação pontual ou isolada de algum sintoma do autismo não significa que a pessoa tenha o transtorno. Para que um sintoma seja atribuído ao autismo, é necessário que ele se apresente em combinação com outras manifestações e que traga prejuízos para a pessoa em diferentes ambientes de convivência (KHOURY et al., 2014; AZEVEDO, 2017).

A seguir apresentam-se as estratégias necessárias para facilitar a aprendizagem dos alunos com autismo e a relevância da Geografia Escolar para o desenvolvimento de habilidades que são indispensáveis para a sua vida social e pessoal.