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Capítulo II Prisões Cautelares

2.9 Lei Processual Penal no Espaço e Prisões Cautelares

2.9.2 Tratados de Direitos Humanos

Os tratados internacionais de direitos humanos têm grande influência nos sis- temas jurídicos penais dos países signatários, como ocorre com o Brasil, que assi- nou e ratificou a maioria deles.

Dentre os tratados e convenções aos quais o Brasil aderiu destacamos a De- claração Americana dos Diretos e Deveres do Homem, de 1948; a Convenção Ame- ricana dos Direitos Humanos, de 1969, Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, de 1994.

A Convenção Americana dos Direitos Humanos, de 1969, ficou conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, é um diploma jurídico com significativos reflexos no processo penal brasileiro, ao dispor sobre: o direito à liberdade e à segu- rança pessoais (art. 7º.1); o direito de não ser preso salvo nas hipóteses previamen- te fixadas nas constituições dos Estados-Partes (art. 7º.2); proibição de prisão arbi- trária (art. 7.3); direito de informação sobre as razões da prisão, bem como da impu- tação que lhe é feita (art. 7.4); direito de o preso ser conduzido à presença da auto- ridade competente, direito a um julgamento em tempo razoável, bem como à liber- dade provisória (art. 7.5); direito ao controle judicial da legalidade da prisão (art. 7.6); garantia de acesso à justiça (art. 8º.1); presunção de inocência dos acusados (art. 8º.2); o direito à liberdade provisória (art. 8.2).

126 Direito Internacional Público, pgs. 14 e 15. 127 Idem, pgs. 122-146.

Tais normas integram o sistema jurídico como garantias processuais, aplicá- veis ao processo penal vigente, eis que ratificadas desde 25 de setembro de 1992 (Dec. 678).

2.9.2.1 Conflito entre tratados e direito interno.

Duas são as teorias pertinentes ao eventual conflito entre tratados e direito in- terno:

a) dualista – de aplicação minoritária, adota duas ordens jurídicas diversas: a internacional e a interna. Preconiza o entendimento no sentido da necessidade, para a aceitação do tratado como lei interna, de sua “transformação” em direito interno.

b) monista – hoje majoritária, defende a existência de apenas uma ordem ju- rídica havendo divergêncicas quanto à primazia do dieito internacional sobre o direi- to interno: há quem defenda que o tratado jamais poderá contrariar a lei interna do país, máxime a Constituição, em homenagem à soberania nacional; há quem defen- da a primazia absoluta da ordem jurídica internacional, inclusive, sobrepondo-se à Constituição. Há, ainda, alguns posicionamentos conciliadoores buscando, ora a primazia dodireito internacional, ora a do direito interno.

No Brasil, embora adote a teoria monista, é clara a preferencia pelo direito in- terno sobre o direito internacional, máxime após o posicionamento do Supremo Tri- bunal Federal, adotado em 1978, em decisão pioneira quando afirmou que a lei fe- deral posterior afasta a aplicação de tratado anterior128. Atualmente esse é o enten- dimento jurisprudencial dominante: o tratado jamais atenta contra a Constituição Fe- deral e pode ser afastado por lei federal mais recente, exceto quando o tratado for o mais novo, quando, então, afetará a aplicação da lei federal.

Guilherme Nucci129 aponta a competência do Supremo Tribunal Federal para julgar, em recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância quando a decisão declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (art. 102,III,b), para sustentar a equiparação de um e outro, ambos submetidos ao texto

constitucional.

128 RE 80.004/SE. Relator para o acórdão Ministro Cunha Peixoto, in RTJ 83/809. 129 Código de Processo Penal comentado, p. 63.

Francisco Resek130 afirma a inexistência de norma alguma de direito interna- cional positivo assegurando a primazia do tratado sob re o direitio interno, para con- cluir que somente leis anteiores podem ser afastadas por tratados mais recentes.

Sob o mesmo prisma, depois de minucioso exame da questão, Eloisa de Souza Arruda, dissertando sobre O papel do Ministério Públco na efetivação dos

tratados internacionais de direitos humanos, em tese com a qual obteve o título de

Doutora em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, conclui, verbis:

A par dessas consderações, o fato é que, desde o julgmanto do indigita- do RE n. 80.004, orienta-se a Suprema Corte pela paridade normativa entre os tratados e as leis, estando eles, conseqüentemente, subordina- doos à autoridade normativa da Constituição, por ser ela a expressão máxima da soberania estatal.

Destarte, em caso de conflito entre a norma internacional e a lei interna, por situarem-se ambas no mesmo patamar hierárquico, aplica-se o prin- cípio segundo o qual a norma anterior é revogada quando conflite com a posterior. É a aplicação do clássico princípo lex posterior derogat priori.

Assim, em conclusão, segundo o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, o tratado somente terá primazia sobre leis federais quando for mais recente, sem, entretanto, jamais entrar em conflito com a Constituição Federal.

2.9.2.2 Normas internacionais sobre direitos humanos fundamentais.

As normas de proteção de didreitos humanos que constarem de tratados fir- mados pelo Brasil deverão ingressar, no direito interno com status de norma constitu- cional, ex vi do disposto no art. 5º, § 2º da Constituição Federal131.

Neste sentido é o magistério de Sylvia Steiner132, verbis:

Exatamente em razão do fato de as normas de proteção e garantia de direitos fundamentais terem ‘status’ constitucional, devem a doutrina e, principalmente, a jurisprudência cuidar de resolver eventuais conflitos ou antinomias eu possam surgir entre normas decorrentes da incorporação dos tratados e dispositivos elencados no texto constitucional. Assim, re- levando-se a fonte, deve a solução atender aos princípios da eqüidade, interpretado-se as normas em conflito de forma a prevalecer no caso conncreto a que for mais favorável ao indivíduo, a que decorra de prin- cípios, ou a que amplie os direitos, tudo para se preservar o próprio sis- tema de proteção aos seres humanos.

130 Direito internacional público, p. 103-104.

131 “Os direitos e garantias expressos nesta Constituuição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

Outro não é o entendimento de Pedro Dallari133, verbis:

parece lógico, portanto, nos marcos de uma hermenêutica clássica, o entendimento de que, se a Constituição distinguiu os tratados de direiti- os humanos, o fez para assegurar-lhe uma condição mais relevante no quadro da hierarquia das normas jurídicas vigentes no Brasil do que a- quela reconheida para o restante das normas cocnvenciconais interna- cionais, sendo plenamente defensável, portanto a tese da equiparação cocnstiitucional dos primeiros.

Sobre o tema, Guilherme Nucci134 expõe que os entendimentos acima epos- tos são reforçados pela introdução do § 3º, ao art. 5º da Constituição Federal135, pela Emenda Constitucional n. 45, de 08/12/2004, sustenta que “... é pssível que o Su-

premo Trirbunal Federal somente venha a conhecê-los om tal amplitude se cumprido o disposto no § 3º, do art. 5º”, concluindo, verbis:

Em suma, os tratados e convenções sob re direitos humanos em vigor no Grasil continuam a fomentar o debate (tem ou não ‘status’ coconsti- tucional?), mas certamente os próximos deverão ser submetiidos à vo- tação qualifficada nas duas Casas do Congresso e terão, com certeza, força de norma constitucional.

Vale ressaltar pela sua pertinência, a judiciosa observação de Eloisa de Souza Arruda que, em sua tese de doutorado citada, após bem examinar o tema e afirmar que o Supremo Tribunal Federal “... nunca aceitou outra posição que não a de que os

tratados internacionais, quaisquer que sejam, têm paridade normativa com as leis orginárias em geral”, conclui, verbis:

Nesse aspecto, é preciso observar que o entendimento do STF também é pacífico no sentido de não admitir preceito constitucional fora do texto formal da Constituição. Agora, esse posicionamento deverá ser revisto, na medida em que, caso aprovadas, nos termos do § 3 do art. 5º, as normas provenientes de tratados internacionais de direitos humanos se- rão equivalentes às emendas constitucionais, ficando, porém, no exterior do texto constitucional.

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