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9. FARMACOVIGILÂNCIA

11.5 Tratamento da queda de cabelo

Cada tipo de alopecia possui características específicas necessitando de um diagnóstico clínico para avaliação das causas que desencadeiam o problema, com o objetivo de tratar a causa com o tratamento adequado, sendo que quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento, melhores serão os resultados.

Em algumas situações, não é necessário fazer um tratamento farmacológico para eliminar a origem da queda de cabelo, pois são situações autolimitadas. Ou seja, em situações de stress emocional, a pessoa deve procurar actividades que ajudem a relaxar, como por exemplo o exercício físico, deverá adotar uma alimentação saudável, aumentar os cuidados com os cabelos e a qualidade dos produtos, limitando a exposição a substâncias químicas (como a utilização de secador de cabelo, alisamentos, colorações ou permanentes) podendo, assim, limitar ou interromper a queda de cabelo.

O tratamento do eflúvio telogénico baseia-se na identificação e tratamento ou correção da causa subjacente. Ou seja, no caso de haver uma patologia subjacente, o tratamento da mesma poderá atenuar a queda do cabelo, e em situações cuja queda poderá ser provocada por certos medicamentos, poderá ser possível substituir ou suspender os mesmos. Em outros casos é necessário proceder a um tratamento tópico ou oral, ou mesmo a outro tipo de técnicas, sob vigilância de um médico especialista. No entanto, a queda do cabelo provocada pela doença do couro cabeludo, relacionada com o Lupus Eritematoso Disseminado, não é reversível.34

Assim sendo, o médico especialista, após o diagnóstico, decidirá qual o tratamento mais adequado a cada um dos casos:

Minoxidil a 2%: aprovado e indicado pelo Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de AAG, demonstrou que estabiliza a queda de cabelo na maioria dos indivíduos, aumentando o tempo do fio de cabelo em fase anágena, apesar do mecanismo de ação ainda não ser conhecido. Esta solução cutânea deverá ser aplicada no cabelo e couro cabeludo secos duas vezes por dia, durante quatro a oito meses ou mais para a observação de crescimento de cabelo. Destaca-se o cuidado no manuseamento e aplicação do Minoxidil, uma vez que pode promover o crescimento de pelos nas sobrancelhas, zona malar, queixo e lábio superior. Apesar de ter apresentado eficácia, há alguns relatos que referem a paragem do crescimento capilar e, por vezes, o regresso à aparência anterior nos três a quatro meses após interrupção do tratamento. É importante realçar que mulheres em

23 idade fértil com AAG, que solicitem contracepção oral, devem optar por pílulas com menor quantidade de androgénios. 41,33

Finasterida: aprovado pelo FDA no tratamento da AAG. O seu mecanismo de ação é inibir a 5α-redutase tipo 2 humana (presente nos folículos pilosos) e bloquear a conversão periférica da testosterona em DHT. Nos homens com queda de cabelo de padrão masculino, o couro cabeludo calvo contém folículos pilosos miniaturizados e níveis elevados de DHT, desta forma a finasterida inibe a miniaturização dos folículos pilosos revertendo o processo da calvície. O médico prescritor avalia a eficácia e duração do tratamento, mas normalmente é necessário uma toma diária durante três a seis meses para se visualizarem resultados, sendo que a interrupção do tratamento poderá reverter o processo.O uso da finasterida não é recomendado nem a mulheres em idade fértil nem a mulheres grávidas, pois a absorção do fármaco pode provocar a malformação no feto do sexo masculino (anormalidades na genitália externa, feminização). Em mulheres que estejam a amamentar o risco permanece, já que a finasterida pode estar presente no leite materno. Especial atenção para os parceiros sexuais, de mulheres (grávidas ou em idade fértil), que estejam a utilizar finasterida, pois poderão haver quantidades de finasterida no sémen, mesmo que mínimas.41,42

Espironolactona: é um inibidor competitivo fraco da ligação dos androgénios aos seus recetores e diminui a síntese de testosterona, no entanto a FDA não considera que possa ser usada no tratamento da AAG.33

Corticosteróides: pode ser usado em situações cuja queda de cabelo é provocado por inflamações, nomeadamente na AA, pois acredita-se que o próprio sistema imunitário danifica o folículo piloso. As injeções de corticosteróides são aplicadas pelo dermatologista nas áreas sem cabelo, no entanto não impede a formação de outras. O crescimento do cabelo, geralmente, manifesta- se em quatro semanas. O paciente também pode usar corticosteróides em creme ou loções, sob vigilância do médico, em simultâneo com as injeções ou antes da administração destas.43

Antralina: é um imunomodulador não específico, seguro e eficaz no tratamento da AA. Os cremes com antralina, em várias concentrações, podem ser aplicados diariamente e por longos períodos. Se ocorrer crescimento do cabelo, será percebido entre oito e doze semanas.33,43

Num quadro de AA, a escolha do tratamento depende da extensão da perda de cabelo, ou seja, se menos de 50% do couro cabelo estiver afetado opta-se pelas injeções de corticosteróides, associadas ou não a corticoterapia oral, se estiver envolvido mais de 50% é necessário uma multiterapia. Pode ser necessário que estes tratamentos se prolonguem por meses ou anos.33

Terbinafina ou itraconazol: administração oral, durante seis a doze semanas, no tratamento da

Tinea capitis.34

A FDA não aprova nenhuma medicação para tratar especificamente a tricotilomania, no entanto alguns medicamentos podem ajudar a controlar os sintomas, como é o caso da clomipramina (antidepressivo), N-acetilcisteina (aminoácido que influencia os neurotransmissores do humor) e olanzapina (antipsicótico).44

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Figura 4: Transplante em ratos de

células da papila dérmica

derivadas de hPSCs e que

induziram crecimento de cabelo.

Adaptado de 46

11.5.1 Outras técnicas

No sentido de resolver a queda de cabelo, assunto que preocupa e afeta homens e mulheres, novos tratamentos tem surgido no mercado. A técnica FUE (Folicular Unit Extration) é o mais recente processo de transplante capilar, recomendado no tratamento da calvície. Esta intervenção é indolor, após anestesia local, e consiste na extracção de folículos capilares viáveis, do couro cabeludo do próprio paciente, seguida de implantação nas áreas afectadas pela calvície, desta forma o risco de rejeição é mínimo ou inexistente.45

Um estudo recente de Alexey Terskikh, e seus colaboradores, propõe a estimulação de células estaminais humanas pluripotentes (hPSCs) que se transformam em células da papila dérmica e, assim, iniciam o crescimento do cabelo. Estes investigadores defendem que esta técnica tem potencial para ser mais eficaz que os atuais transplantes capilares pois as células estaminais fornecem uma fonte ilimitada de células ao doente. O estudo foi realizado em ratos (Figura 4), o próximo passo é testar a técnica em humanos.46

11.6 A importância da nutrição

Durante o aconselhamento, o farmacêutico tem a oportunidade de transmitir a importância de adquirir uma alimentação saudável e equilibrada, pois a nutrição do cabelo e couro cabeludo é uma parte fundamental de qualquer tratamento.

O cabelo reflete o estado geral do organismo, pois quando há um problema de saúde ou uma deficiência nutricional o cabelo pode parar de crescer e tornar-se frágil e quebradiço.

11.6.1 Água

A água é importante para a saúde do corpo em geral e potencialmente boa saúde do cabelo.47

11.6.2 Vitaminas

 Vitamina C ajuda a produzir e manter o colagénio saudável, o tipo de tecido conjuntivo encontrado dentro de folículos pilosos. Os alimentos ricos nesta vitamina são os pimentos crus, vegetais verde escuro como brócolos, morangos, papaia, kiwi e laranja, em geral todos os citrinos.47

 Vitamina E ajuda a manter a integridade das membranas celulares dos folículos pilosos e atua como um antioxidante, promovendo simultaneamente a pele e cabelos saudáveis, e pode ser encontrada no óleo de gérmen de trigo, óleo de girassol e frutos secos como avelãs, amendoim, amêndoa, castanha do pará, bem como no kiwi, vegetais verdes e abacate.47

 Betacaroteno é convertido em vitamina A, sempre que necessário, mantendo o crescimento normal e desenvolvimento ósseo, invólucro de protecção em torno das fibras nervosas, bem como

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Figura 5: Alimentos onde se podem encontrar cada uma das vitaminas. A melhor maneira de obter quantidades suficientes de vitaminas é seguir uma dieta saudável, que inclui uma grande variedade de frutas e legumes. Adaptado de 48

promover a pele saudável, cabelo e unhas. O melão, pêssego, brócolos, abóbora, espinafre são alguns dos alimentos ricos em betacaroteno.47

11.6.2.1 Vitaminas do Complexo B

 Vitamina B5 (Ácido Pantoténico) dá flexibilidade, força e brilho e ajuda a prevenir a perda de cabelo e grisalhos. Esta vitamina está presente em carnes, grãos integrais (moagem pode removê- lo), brócolos, abacate, geleia real, ovários de peixes. 47,48

 Vitamina B7 (Biotina) participa em inúmeras reações enzimáticas no organismo e no metabolismo de proteínas, gorduras e açúcares. Apesar da deficiência em biotina ser rara, pode provocar erupções na pele e perda de cabelo. Um estudo da Universidade de Harvard considera-a importante para preservar a força e textura do cabelo. Boas fontes alimentares de biotina são ovos, fígado e soja.47,48

 Vitamina B9 (Ácido Fólico) participa na divisão das células do folículo piloso e no crescimento do cabelo. Vegetais folhosos, legumes, fígado, fermento de padeiro, alguns produtos de cereais enriquecidos, sementes de girassol.47,48

 Vitamina B12 (Cianocobalamina) ajuda a prevenir a perda de cabelo e pode ser encontrada em peixes, ovos, frango e leite.47,48

Níveis deficientes de Vitamina B1 (Tiamina), B2 (Riboflavina) e B3 (Niacina) também podem contribuir para a desnutrição das células foliculares.47

11.6.3 Antioxidantes

O selénio é necessário para o metabolismo de iodo. Os estudos de caso têm indicado que a deficiência de selénio pode levar ao desenvolvimento de cancro, doença cardíaca, e alterar o crescimento do cabelo. A castanha do Pará, farinha de trigo e gema de ovo são alguns dos alimentos ricos em selénio.47,49

26 As vitaminas A, C e E são também antioxidantes que renovam o turnover da pele e a síntese de colagénio.47

11.6.4 Oligoelementos

Os alimentos ricos em cálcio, nomeadamente laticínios, espinafres, leguminosas, nozes e sementes ajudam a melhorar a estrutura dos ossos e dentes, e uma fração de cálcio do corpo estimula mediadores celulares que atuam sobre os fosfolípidos da membrana celular em células foliculares de cabelo. 50,47

A deficiência de ferro provoca anemia microcitica e hipocrómica, mas afeta outros órgãos, incluindo a pele e os folículos pilosos. Alimentos ricos em ferro de origem animal são as carnes e os frutos do mar, e os de origem vegetal são nozes, castanhas, feijão e legumes. É muito importante referir que os alimentos ricos em Ferro para anemia, de origem vegetal, devem ser consumidos sempre com uma fonte de vitamina C para melhorar a absorção de Ferro.47,51

O zinco é essencial para a produção de DNA e RNA, que por sua vez leva à divisão normal da célula folicular. O zinco é encontrado na carne, peixe e frutos do mar, feijão, nozes, cereais integrais e laticinios.47,52

O iodo é imprescindível para o correto funcionamento da tiróide, logo o seu mau funcionamento pode contribuir para o crescimento anormal dos pêlos. Os alimentos mais ricos em iodo são frutos do mar e os peixes de água salgada. O sal iodado também pode prevenir carências de iodo.47,53

11.6.5 Ácidos Gordos Polinsaturados

Os Ácidos Gordos Polinsaturados desempenham um papel importante na estrutura celular, na função de barreira, na síntese lipídica, na inflamação e na imunidade. A deficiência de ácidos gordos essenciais provoca uma secagem do couro cabeludo e na pele. Estes nutrientes ajudam a reduzir a pele seca e escamosa. Entre os ácidos gordos polinsaturados, existem os ácidos gordos da série ómega 6 e os ácidos gordos da série ómega 3, que se distinguem com base na sua estrutura química e nas diferentes funções que cada um desempenha.47,54

Fontes de Ómega 6: óleos vegetais (amendoim, soja, girassol, milho, etc.), frutos oleaginosos, cereais integrais e sementes.54

Fontes de Ómega 3: gordura e óleo de fígado de peixes (ex.: salmão, sardinha, enguia, óleo de fígado de bacalhau) e hortícolas de cor escura (ex.: brócolos, espinafres).54

11.6.6 Aminoácidos

O organismo precisa de determinados aminoácidos para produzir o colagénio (lisina, metionina, glicina e prolina) e queratina (cisteína, lisina, arginina e metionina), proteínas que estimulam o crescimento do cabelo e combatem a queda do mesmo.

27  Arginina - lacticínios, peixe, carne, aves, farinha de aveia, grão de bico, soja, sementes de abóbora, sementes de girassol e nozes.

 Cisteína - aves, suínos, leite, legumes, brócolos e cereais integrais

 Metionina - peixe, ovos, sementes, folhas verdes, brócolos, abóbora e nozes

 Lisina - peixe (especialmente o salmão, sardinha e bacalhau), lacticínios, aves, carne vermelha, carne de porco, legumes, nozes, spirulina e leguminosas.

 Glicina - peixe, carne, leite, soja, espinafre, couve, feijão, couve, banana e kiwi.

 Prolina - carne, lacticínios, ovos, espargos, abacate, feijão, brócolos, espinafre, legumes e soja

É importante referir que a lisina e a metionina são aminoácidos essenciais, ou seja, o organismo não os produz e só consegue obtê-los a partir da dieta.55

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