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1. Hipertensão Arterial uma Doença Silenciosa

1.7. Tratamento da HTA

O tratamento da HTA pode passar pela inicialização de uma terapêutica adequada, e/ou promoção de determinados hábitos de vida, consoante a condição da patologia. Para o trabalho realizado neste âmbito, foi necessário realizar uma maior pesquisa bibliográfica referente às medidas não-farmacológicas.

1.7.1. Medidas não farmacológicas

Alterações no estilo de vida podem atrasar ou prevenir, com segurança e eficácia, a hipertensão em indivíduos não-hipertensos, mas também atrasar ou evitar o tratamento terapêutico em doentes hipertensos de grau 1. Pode ainda contribuir para diminuição dos valores de PA em doentes hipertensos já medicamentados, permitindo assim a diminuição do número e doses dos medicamentos28. Este tipo de modificações pode ter ainda um efeito positivo no controlo de outros fatores de risco CV e outras situações clínicas17.

As modificações do estilo de vida recomendadas, e que apresentam resultados na redução da PA são a restrição de sal, moderação de consumo de álcool, dietas específicas, redução do peso e respetiva manutenção, e exercício físico moderado e regular. A interrupção do tabagismo é fundamental, dado o efeito vasoconstritor profundo provocado pelo cigarro, que pode levar ao incremento da PA diurna17.

Restrição de Sal

Os mecanismos de ação que justificam a relação da ingestão de sal com a subida dos valores de PA, assentam no aumento do volume extracelular, mas também estão relacionados com o aumento da resistência vascular periférica, devido à ativação simpática29.

Segundo as recomendações da OMS30, um adulto deve ingerir, no máximo, 2 gramas de sódio por dia, o que corresponde, aproximadamente, a 5 gramas de sal (cloreto de sódio). No entanto, de acordo com os estudos efetuados31, em média, os portugueses consomem 10,7 gramas de sal por dia. O efeito positivo na restrição de sódio é ainda maior em indivíduos de raça negra, idosos e indivíduos com diabetes, síndrome metabólica e doença crónica renal19.

Dieta

Umas das dietas recomendadas pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão é a Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH)32. Neste tipo de dieta, é incentivada a ingestão de legumes, produtos lácteos de diminuto conteúdo lipídico, alimentos com

fibras alimentares solúveis, grãos integrais, peixe e carnes brancas. O consumo de frutas está indicado, mas, para pessoas com excesso de peso, pode não se revelar assim tão benéfico, dado o elevado conteúdo em hidratos de carbono19. Carnes vermelhas, doces e bebidas açucaradas não devem ser uma opção. Sendo assim, a nível nutritivo, a dieta DASH é rica em potássio, cálcio, magnésio, fibra e proteínas, e reduzida em gordura total, gordura saturada e colesterol19,33.

Estudos revelaram que doentes hipertensos que realizavam a dieta DASH reduziam significativamente os valores da PA (em média, menos 5,5/3mmHg), mas que, em doentes que realizam uma dieta que apenas privilegiava o consumo de frutas e vegetais, esta diminuição era menor. Poderemos assim deduzir que os efeitos positivos nos valores da PA em doentes hipertensos se devem à dieta de uma forma geral, e não apenas a um nutriente ou alimento33.

Perda de peso e manutenção do mesmo

A relação entre obesidade e HTA é bastante relevante, uma vez que a perda de peso pode levar a uma diminuição significativa na PA sistémica34. Estudos indicam que dietas que levam a uma redução do peso causam uma diminuição da PA de 6,3/3,4mmHg (diferença da média ponderada)35. Um facto interessante é que determinados medicamentos que não estão indicados para a HTA, mas que levam à perda de peso podem também provocar uma diminuição dos valores de PA, como é o caso do orlistato, embora o efeito não seja tão positivo como a perda de peso derivada de dietas. O mecanismo de ação que pode justificar a relação da perda de peso com a diminuição da PA, parece estar relacionado com a redução da rigidez arterial, sendo que as magnitudes dessas melhorias estão associadas à perda de adiposidade total e abdominal36.

Outro fator igualmente importante é a manutenção do peso ideal, uma vez que apresenta efeitos significativamente benéficos a nível do controlo HTA a longo prazo. Sendo assim, deve ser efetuada uma dieta equilibrada, associada a exercício físico, de forma a evitar possíveis recuperações de peso37.

Exercício Físico

Para além do exercício físico ser um importante aliado para a perda de peso e respetiva manutenção, estudos demonstram que o exercício aeróbio pode levar à diminuição da PA, tendo assim um efeito benéfico no controlo da HTA38.

Além do exercício aeróbio, o treino de resistência isométrica (desenvolvimento de força muscular sem movimento) e exercícios de resistência dinâmica (desenvolvimento de força associada ao movimento) também têm demonstrado um efeito benéfico na

redução da PA em doentes hipertensos39, para além de permitir uma melhoria de outros parâmetros metabólicos17.

Sendo assim, os doentes hipertensos são aconselhados a realizar pelo menos 30 minutos de exercício aeróbico dinâmico, de intensidade moderada, como caminhada, corrida, ciclismo ou natação, 5 a 7 dias por semana. Relativamente a exercícios de resistência, estes poderão ser aconselhados 2 a 3 dias por semana17.

Moderação da Ingestão de Álcool

A ingestão de álcool pode ser bastante benéfica para o controlo da PA em doentes hipertensos40, mas apenas em quantidades moderadas, uma vez que o alcoolismo parece ser um fator que leva ao aumento dos valores da PA17.

Sendo assim, o aconselhamento dado a doentes hipertensos deve passar por uma ingestão moderada de álcool, ou seja, não mais do que 20-30 g, para homens, sendo que as mulheres hipertensas não devem beber mais de 10-20 g de etanol por dia. No total, o álcool consumido não deve exceder 140 g por semana para os homens e 80 g por semana para as mulheres17. Traduzindo estes valores para o quotidiano, deve ser aconselhada a ingestão de dois copos de vinho, por dia, para os homens e um copo, para as mulheres41.

O consumo ideal de álcool permite, para além do controlo da PA, reduzir o risco CV, doença coronária, falência cardíaca e risco de enfarte. Estes efeitos são provocados pelo etanol presente nas bebidas alcoólicas e o seu mecanismo de ação parece estar relacionado com a melhoria da sensibilidade à insulina, com a elevação de HDL, aumento da adiponectina (controlo da glicemia e catabolismo dos ácidos gordos), melhoria da função endotelial e ainda através de um mecanismo anti-inflamatório41.

Interrupção do Tabagismo

Segundo as guidelines17, o tabagismo é considerado um importante fator de risco CV global. Embora a tendência seja para o tabagismo diminuir na Europa, com a introdução de legislação da proibição de fumar em determinados locais, em Portugal cerca de um quarto da população portuguesa fuma tabaco42.

Os efeitos devem-se, na sua maioria, à nicotina presente no cigarro, que desencadeia um aumento da PA e da FC, que persiste por mais de 15 minutos, como consequência da estimulação do sistema nervoso simpático17.

O hábito da cessação tabágica deve ser incutido não só a doentes hipertensos, mas também a pessoas normotensas, de forma a prevenir HTA, uma vez que resultados obtidos em estudos que usaram MAPA, indicam que fumadores (normotensos e

hipertensos não tratados) apresentam valores de PA superiores a de indivíduos que não fumam17.

Sendo assim, a interrupção do tabagismo deve ser incentivada por todos os profissionais de saúde, como os farmacêuticos. Atualmente já existem programas e terapias para a cessação tabágica que mostram efeitos bastante positivos43.

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