• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3. Metodologia de Investigação

3.7. Tratamento de Dados – A Análise de Conteúdo

De acordo com Lessard – Hérbert et al., (2005), o “tratamento de dados está

relativamente formalizado, quer se trate de dados qualitativos, quer de quantitativos”.

Trata-se sempre de condensar ou resumir de seguida, estruturar ou decompor em fatores e por último, apresentar as relações ou estruturas daí resultantes.

Assim, para o tratamento das entrevistas realizadas foi utilizada a análise de conteúdo (Bardin, 1977), pois consideramos ser a técnica de tratamento de informação que melhor se adequa aos objetivos definidos e á técnica de recolha de informação. Estrela (1990) define análise de conteúdo como “uma técnica de investigação que visa a

descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação.” Ghiglione & Matalon (1993) referem a vários conceitos de autores

consagrados, como “a análise de conteúdo é uma técnica de investigação para a

descrição objetiva, sistemática, e qualitativa do conteúdo manifesto da comunicação”

(Berelson,1952), “por análise de conteúdo referem-se todos os procedimentos

utilizados para especificar referentes, atitudes ou temas contidos numa mensagem ou num documento, determinado a sua frequência relativa.” (Stone, 1964).

Ainda na mesma linha de pensamento Vala (1986), refere que a análise de conteúdo permite “efetuar inferências com base numa lógica explicitada sobre as mensagens

cujas características foram inventariadas e sistematizadas.” Bardin (1977) definiu

análise de conteúdo como um conjunto de “técnicas de análise das comunicações

112

mensagens.” A mesma autora defende que este conjunto de “técnicas parciais mas complementares, consistam na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo, com o contributo de índices passiveis ou não de quantificação.”

Tanto Vala (1986) como Bardin (1977) consideram a existência de algumas condições para a realização de uma análise de conteúdo: a dissociação dos dados em relação á sua fonte e as condições onde foram obtidos; a construção de um novo contexto á luz das finalidades da pesquisa e a criação de condições de inferência através da colaboração de um modelo.

A análise de conteúdo é uma técnica de tratamento de informação, onde se procede á

“desmontagem de um discurso e da produção de um novo discurso através de um processo de localização – atribuição de traços de significação resultantes de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso a analisar e as condições de produção da análise” (Vala, 1986).

Com o objetivo de analisarmos o conteúdo do discurso havido ao longo das entrevistas e obtermos uma descrição analítica que funcione segundo procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens, tivemos em conta a sua organização em torno de três polos cronológicos “a pré/análise; exploração do

material; tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.” Bardin (1977).

A fase de pré/análise assenta em atividades pouco estruturadas com a seleção dos documentos a serem analisados, a elaboração dos indicadores e a formulação das hipóteses, apesar destas nem sempre serem estabelecidas, como acontece no caso deste estudo.

A primeira atividade realizada foi a leitura flutuante do material, apreender as regularidades e as singularidades do discurso, os aspetos mais significantes, ou seja, estabelecer contacto dom os documentos em análise.

Um dos passos desta fase envolve uma tarefa relativamente simples: rever todas as páginas e numera-las sequencialmente, no fundo, reunir e preparar o material de forma

113

formal (Bogdan & Bikin, 1994). Nesta fase, foi feita a transcrição das entrevistas bem com a sua codificação em 1, 2, 3…, conservando as entrevistas em papel.

Após a leitura das entrevistas transcritas, passámos á construção do corpus de análise, que como refere Vala (1986) é todo “o material (…) produzido com vista á pesquisa

que o analista se propõe realizar (…).” O nosso corpus de análise decorreu da

transcrição das entrevistas, retirando-se do total das mesmas o que não dizia respeito ao objeto de estudo.

A segunda fase do trabalho de análise constituiu na exploração do material, ou seja, no tratamento do corpus por operações de codificação que obedecem “a determinadas

regras precisas dos dados brutos do texto, a agregação e a enumeração, permitindo atingir uma representação do conteúdo ou a sua expressão, suscetível de esclarecer o analista acerca das características do texto e que podem servir índices.” (Bardin,

1977).

Importa referir que na organização da codificação, tornou se fundamental efetuar o recorte (escolhas das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem) e a classificação e agregação (escolha das categorias).

Neste processo a unidade pode ser de registo ou de contexto, correspondendo as primeiras ao “segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando a

categorização e a contagem frequêncial.” (Bardin, 1977).

O autor supracitado define a unidade de contexto como uma “unidade de compreensão

para codificar a unidade de registo e corresponde ao segmento da mensagem, cujas dimensões (superiores á unidade de registo) são ótimas para que se possa compreender a significação exata da unidade de registo.” As unidades de contexto

dão ideia da principal informação fornecida pelas unidades de registo, agrupando-as. Assim, definimos como unidade de contexto cada uma das entrevistas, uma vez que ao assumirem um carácter semi/ diretivo, e ao solicitarmos o relato de situações reias, as afirmações só ganham sentido se tivermos em consideração a globalidade da entrevista.

114

No caso deste estudo, decidimos optar pela nomenclatura de Bardin (1977) e Vala (1986) Ghiglione & Matalon (1993), que definem unidade de registo como a unidade de significação “a codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar

como unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial” (Bardin,

1977) e como “o segmento determinado do conteúdo que se caracteriza, colocando-o

numa determinada categoria” (Vala, 1986).

Deste modo, codificamos o material em “Entrevista A – Unidade de Significância; Entrevista B – Unidade de Significância, …” e cada unidade de significação ou de registo foi codificada em como “EA1, EA2, EA3, …; EB1, EB2, EB3, …”.

Uma das etapas fundamentais da análise de conteúdo- é o processo de categorização que, como afirma Bardin (1977), é uma “operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação e seguidamente, por (re) agrupamento, segundo critérios previamente definidos. ”

Ainda de acordo com a mesma autora, a codificação corresponde a um “um processo

pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo.”

A regra de enumeração é a unidade em função da qual procedemos ao “modo de

contagem” (Bardin, 1977). Neste estudo, utilizamos a medida frequencial simples que

assenta no pressuposto de que “a aparição de um item de sentido ou de expressão,

será tanto mais significativa – relação ao que procura atingir na descrição ou na interpretação da realidade visada – quando mais esta a frequência se repetir”

(Bardin, 1977). Na mesma linha de abordagem, Ghiglione & Matalon (1993) definem contagem frequencial como “uma espécie de inventário das diversas opiniões, ou de

argumentos utilizados.” Para os mesmos autores, uma espécie de inventário significa,

que a nova informação produzida pela análise de conteúdo de um dado texto reside na constatação da frequência ou na sua comparação com outras frequências, sendo possível observar este facto neste estudo.

115

Este processo conduziu-nos á análise, a cada unidade de registo foi atribuído um significado, indo ao encontro do que defende Bardin (1977) ao afirmar que “na

verdade, o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos á teoria que serve de guia á leitura.”

Vala (1986) refere que a construção de categorias pode ser feita á priori ou á posterior ou ainda pela combinação destes dois procedimentos. No nosso estudo, optámos por uma análise em que o quadro foi construído a posterior. Para tal, fizemos uma primeira leitura de todo o material, onde sobressaíram a unidades ou categorias conjugadas ao mesmo tema, construindo a partir daqui a grelha de análises das entrevistas (vide em anexo – grelha de análise das entrevistas).

O tratamento dos resultados obtidos e a sua interpretação foi a terceira fase desde processo de análise de conteúdo. Todo o anterior processo foi desenvolvido no sentido de se transformar os dados brutos “de maneira a serem significativos (falantes) e

116

Documentos relacionados