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Tratamento dos dados: as dimensões de pesquisa e a triangulação das análises

1.1 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA CONSECUÇÃO DA EMPIRIA: TÉCNICAS

1.1.6 Tratamento dos dados: as dimensões de pesquisa e a triangulação das análises

Corrobora-se com a ideia de que as análises em um trabalho investigativo de cunho científico é um exercício complexo e não pode desenvolver-se de forma superficial e aleatória. Em seu sentido amplo, esse tratamento é um processo que resulta da

[...] articulação do lógico com o real, da teoria com a realidade. Por isso, está inclusa numa pesquisa geradora de conhecimento científico e, consequentemente, uma tese destinada a relatá-la, deve superar, necessariamente, o simples levantamento de fatos e coleção de dados, buscando articulá-los no nível de uma interpretação teórica (SEVERINO, 2004, p. 149).

Nessa perspectiva, as análises dos dados, além de requerer maturidade intelectual do pesquisador frente ao seu objeto e com os meandros de sua pesquisa, depende de uma visão crítica de mundo, que se processa, acima de tudo, no exercício da academia. Estudos de Leite (1994, p. 11) mostram que

O conhecimento acadêmico não constitui um produto estático, realidade tão simples quanto possa parecer de imediato. Não é um conjunto isolado de informações, mas um conjunto comprometido com uma determinada visão de mundo, que se manifesta no próprio processo de investigação do real.

Partindo do pressuposto de não se constituir em algo estático, mas dinâmico, nem em um conjunto isolado de informações, a pesquisa desenvolvida no espaço acadêmico e, por consequência, o tratamento dado às informações coletadas, permite que o pesquisador reflita sobre determinadas aspirações, indagações pessoais e profissionais ante a realidade, com base nas múltiplas relações que estabelece com as esferas social, econômica, política e cultural de seu convívio. A cuidada ponderação sobre os dados coletados implica um olhar questionador e crítico que vai além das aparências.

Para Minayo (2003), os estudos de natureza científica pressupõem mobilizar um conjunto de esforços individuais, no sentido de submeter o objeto do conhecimento pesquisado às diversas provocações e aos diferentes enfoques. Supõe questioná-lo sob as mais variadas nuances, a fim de possibilitar que as constatações resultem da confluência de olhares variados do sujeito da pesquisa.

A despeito desse processo, Gomes (2003, p. 68) pondera que,

Na medida em que estamos tratando de análise em pesquisa qualitativa, não devemos nos esquecer de que, apesar de mencionarmos uma fase distinta com a denominação ‘análise’, durante a fase de coleta de dados a análise já poderá estar ocorrendo.

Nessa mesma linha de raciocínio, o autor citado assevera ser imprescindível ter a clareza de que não podemos julgar cristalinas todas as conclusões imediatas, cindidas das análises, no sentido de perseguir que esse processo se desenvolva de maneira coerente. Faz-se necessário que o pesquisador seja criativo e conheça, objetiva e subjetivamente, o universo investigado.

Laville e Dionne (1999, p. 228-229) enfatizam que

A análise dos dados e a interpretação que a segue ou acompanha não vêm concluir o procedimento de pesquisa. Deve-se ainda tirar conclusões: pronunciar-se sobre o valor da hipótese, elaborar um esquema de explicação significativo, precisar-lhe o alcance bem como os limites e ver que horizontes novos se abrem à curiosidade dos pesquisadores. Este é o propósito da última etapa a aparecer no quadro que nos guia desde o começo.

Os autores sublinham, ainda, que as análises devem propiciar um retorno crítico quanto às escolhas e à operacionalização teórico-metodológicas. Nesse particular, percebemos que se trata do momento de questionar se essas opções se revelaram adequadas, determinando, assim, o alcance e os limites do estudo.

Um dos caminhos escolhidos para conduzir as análises foi a triangulação. Consiste, segundo Denzin (1984), em uma estratégia de entrecruzamento das informações coletadas. Essa triangulação pode ser realizada de três maneiras, a saber: de técnicas, de instrumentos e de sujeitos de pesquisa. Um fator relevante no tratamento das análises se refere à triangulação entre sujeitos. Dentro do leque de possibilidades disponíveis no campo científico para o tratamento das informações coletadas, a triangulação de sujeitos se configura em um mecanismo importante para o entrecruzamento, a combinação e a comparação das informações dadas pelos sujeitos de pesquisa (DENZIN, 1984).

Primeiro, as informações coletadas foram transcritas e tabuladas separadamente. As respostas ao questionário foram reescritas na íntegra, catalogadas em tabela (Apêndice IV), de modo a compilar as falas, agrupando-os por pergunta. Os dados coletados em áudio nos dois encontros do grupo focal foram transcritos e catalogado. O conteúdo das observações, contidas no Apêndice VI foi digitalizado como registros do diário de campo da pesquisadora, referenciado como informações verbais.

Assim catalogadas, procederam-se com as análises, utilizando-se, sempre que necessário, com a triangulação entre sujeitos, seguindo três dimensões de pesquisa:

a) As intenções declaradas em documentos oficiais para o PROEJA FIC/FUNDAMENTAL;

b) O projeto Pedagógico de Curso - PPC;

c) A gestão dos processos pedagógicos e administrativos no funcionamento do Curso investigado.

A escolha dessas dimensões se justifica em razão de possibilitar reflexões acerca das intenções que permeiam a medida governamental em questão e de avaliar alternativas didático-pedagógicas e de gestão que guardem relação direta com esse modelo de desenvolvimento, sobretudo no tocante a experiências formativas de educação em prisões, na tentativa de contribuir com a práxis dos diversos atores/profissionais que atuam nos mais diferentes âmbitos em que se desenvolve o PROEJA FIC/FUNDAMENTAL. Assim divididas, essas dimensões se desdobram nas quatro seções deste capítulo, compostas por cada um dos blocos de discussão que se apresenta.

A partir dessas três dimensões de pesquisa, as análises redundaram em reflexões e apreensões concatenadas com o referencial teórico, seguindo as etapas abaixo:

a) Agrupamento das falas por dimensão de pesquisa;

b) Aproximações falas dos sujeitos por tema abordado dentro da mesma dimensão – convergências e divergências de ideias.

c) Análise comparativa com alternância das falas entre os segmentos e com construção de paráfrases;

d) Elaboração de síntese analítica, por dimensão e por tema, entrecruzando teoria, empiria e aparato legal.

Na escritura do texto, as dimensões de pesquisa foram distribuídas ao longo dos capítulos 3 e 4, o que corresponde aos dois objetivos específicos de pesquisa.